OTÍLIA DIOGO NA PRISÃO - Desta vez, ela não pretende forjar o espetáculo de "atravessar a jaula".
Denunciada por fraude em 1970, depois que se descobriu uma mala com roupas usadas para forjar a "Irmã Josefa" na suposta materialização apoiada por Chico Xavier, a pretensa médium Otília Diogo havia dito que forjou a materialização porque sua mediunidade "havia falhado".
Segundo sua declaração, ela "teria sido médium" antes, mas em 1963 havia "perdido o dom" e por isso resolveu forjar a aparição de "Irmã Josefa" para compensar o dom "perdido". Com certeza a declaração é uma desculpa para ela atenuar as acusações de fraude feitas contra ela.
No entanto, esta declaração, por mais hipócrita que possa parecer, tem um fundo de verdade, se percebermos as falhas mediúnicas num contexto em que o "espiritismo" feito no Brasil praticamente desprezou toda necessidade de estudos sobre os contatos com o mundo espiritual.
A mediunidade acaba se tornando um dom parcial, iniciante, precário, e mesmo os mais festejados "médiuns", como Chico Xavier, Divaldo Franco e José Medrado, para não dizer outros como Robson Pinheiro, Zíbia Gasparetto e Nelson Moraes, esse dom costuma falhar e é muito mais subdesenvolvido que muitos possam imaginar ou mesmo considerar.
Em muitos casos, essa mediunidade ocorre no foro íntimo. O indivíduo às vezes vê a imagem de um espectro de pessoa, supõe estar em contato com ela e aí se inicia a relação. Algo como, na ufologia, se observa nos contatos com extraterrestres.
Suponhamos que essa mediunidade exista. Mas ela tem limites, ela não traz habilidades tão extraordinárias como se imagina haver. Ela muitas vezes se limita ao contato íntimo com uma ou poucas pessoas, e nem chega a se expandir para a produção de livros, mensagens sonoras ou pinturas.
Muito pelo contrário. Não obstante, a mediunidade falha aí, sobretudo pela pressão da presença de um público, de outras pessoas cobrando o "espetáculo" do contato de alguém. Aí, o suposto médium, em vez de se preparar melhor, prefere inventar, falsificar, e isso se observa mesmo em figuras tidas como "tarimbadas" como Divaldo, Chico e Medrado.
Aí ele prefere falsificar e fingir do que "melar" e dizer que "não houve contato". E por isso é que o chamado "espiritismo" brasileiro virou um vale-tudo, e seus líderes até usaram um meio para que toda essa mentiralhada tivesse alguma validade: as "palavras de amor", a "caridade", o panfletarismo religioso.
Assim, o "médium" não tem receio de falsificar as mensagens, criando qualquer coisa de sua fértil imaginação, desde que se leve em conta as "palavras de amor" e o pretexto de "caridade". Aí ele pode até trair os estilos e personalidades dos mortos que "incorpora" porque basta o "amor", basta os recados de "luz" e "caridade".
Otília Diogo foi uma das poucas realmente desmascaradas. Mas ninguém pense que Chico Xavier, Divaldo Franco e José Medrado não fizeram das suas. Fizeram, e fizeram coisas tão deploráveis. Sem falar que Chico passou mais de um ano apoiando Otília na sua farsa, além do mineiro ter também estado associado a outras farsas de "materialização" e falsas psicografias.
Divaldo Franco também foi denunciado de práticas de plágios, boa parte dos seus livros incluem plágios de diversas obras literárias, algumas de autores consagrados. E José Medrado é notável pelos casos gritantes de pinturas grotescamente falsificadas, em que um mesmo padrão de assinatura é feito, sempre destoando das assinaturas que os pintores atribuídos deixaram em seus quadros originais.
Zíbia Gasparetto fortaleceu essa indústria "mediúnica", mas depois brigou com a FEB e largou o Espiritolicismo. Robson Pinheiro, "médium independente", torna-se o queridinho da temporada. E Nelson Moraes puxando o saco de Raul Seixas, mas sendo obrigado a associá-lo a Zílio só entre seus pares "espíritas", para evitar complicações judiciais com os herdeiros do artista baiano.
O problema é que essas pessoas têm sua legião de fiéis, esses supostos médiuns - anti-médiuns por não exercerem a função intermediária (médium = intermediador) - passam incólumes e até a Justiça se desencoraja em puni-los, seja pela "liberdade religiosa", seja pelo "prestígio" que eles acumulam para si mesmos.
Otília foi culpada por planejar o embuste da "Irmã Josefa", mas ela não pode ser a única culpada. A corrupção no "espiritismo" brasileiro é algo tão gritante, com suas mentiras nem tão habilidosas assim - as "psicografias" falhas em estilo, as "psicopictografias" que mal conseguem falsificar estilos de pintores originais e as "materializações" com "cabeças-de-papel", que a gente pergunta por que sua reputação ainda é alta.
A desculpa do "amor e caridade" só serve para manter tudo isso na impunidade. E dá para perceber que, no país do "jeitinho" que é o Brasil, sempre se arruma um meio para punir apenas aqueles que "vão longe demais", deixando outros que cometem a mesma corrupção impunes e intocáveis, devido ao prestígio e poder que acumularam em suas vidas.
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