quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Chico Xavier era mesmo médium?


Chico Xavier teria sido mesmo um médium? As controvérsias vinham desde os tempos em que os céticos jornalistas de O Cruzeiro, David Nasser e Jean Manzon - este notável fotógrafo francês que viveu muitos anos no Brasil - indagavam se Chico era impostor ou não, e isso há exatos 70 anos.

O mineiro de Pedro Leopoldo, sabemos, foi o meio da roustanguista Federação "Espírita" Brasileira de promover a popularização de uma concepção de "espiritismo" carregada de sensacionalismo e pieguice e apoiada em valores derivados do Catolicismo medieval que a própria Igreja Católica havia descartado ao longo dos tempos.

Na prática, foi Chico Xavier que abrasileirou o roustanguismo, através de obras como Há 2000 Anos, ditada pelo espírito Emmanuel, e Nosso Lar, atribuída a André Luiz, em que mesmo aspectos polêmicos como a reencarnação em lesmas foi substituída pela fabulosa "existência" de animais no mundo espiritual.

E como é que se deu sua popularização? Há um clichê do jovem interiorano, ao mesmo tempo ingênuo e generoso, transformado ao longo dos anos no estereótipo do velhinho humilde e caridoso, que rendeu muito lucro para a FEB, embora o "espiritismo" brasileiro ganhou mais em visibilidade do que em popularidade.

Chico Xavier até se tornou relativamente popular e transformou-se num estigma de caridade, encaixando nos mitos brasileiros há muito conhecidos sobre velhice, humildade e bondade. Até as frases ditas por Xavier causavam deleite até nos leigos desse pretenso espiritismo, pela aparente humildade e pela suposta modéstia que elas expressavam.

Observando os bastidores desse pseudo-espiritismo, sabemos todavia que Chico Xavier nem de longe era a figura iluminada que a propaganda espiritólica fez desenvolver em sete décadas, depois que ele saiu "ileso" de um processo judicial movido por herdeiros de Humberto de Campos por causa do uso de seu nome para o livro Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho.

Primeiro, porque Chico pode ter seus momentos de caipira ingênuo, mas em outros assumiu uma astúcia assustadora. Os primeiros livros, Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho e Parnaso de Além-Túmulo, segundo investigações diversas, demonstraram nada terem de trabalhos mediúnicos, envolvendo desde indícios de plágios e pastiches até acordos para reparos nas reedições.

Segundo, porque em dados momentos Chico foi inferior a outras pessoas "laicas" que aparentemente não poderiam superar o anti-médium em caridade, mas superaram. O educador Paulo Freire, por exemplo, tinha um método de ensino para adultos que juntava compreensão analítica do mundo à volta, solidariedade e assimilação e transmissão de conhecimento.

Dessa forma, Freire fez caridade maior que a de Chico, com seu método de ensino que só não se ampliou porque em seguida veio a ditadura militar patrocinada pelo capitalismo dos EUA, instaurada para conter os avanços sociais desejados no Brasil. Chico, que defendeu a ditadura, limitava sua caridade a ações pontuais de paternalismo inócuo e divulgação de mensagens de consolo.

Mas em dado momento Chico Xavier, o "amor" em pessoa, o "enxugador de lágrimas", perde até mesmo nesses atributos quando, em relação à tragédia num circo em Niterói, no fim de 1961, preferiu acusar as vítimas do incêndio de terem sido patrícios de uma região do Império Romano que aplaudiram ao ver as autoridades colhendo hereges aqui e ali para serem queimados num estádio em chamas.

Tido como "maluco", o ex-empresário José Datrino, o Profeta Gentileza, ao socorrer as vítimas da tragédia niteroiense, tornou-se amigo de suas famílias, e há relatos de que, nos anos 70, ele ainda estava apoiando esses familiares.

"Louco", o Profeta Gentileza não teve a preocupação de pensar como o "lúcido" Chico Xavier, pois para o ex-empresário não havia necessidade de imaginar se fulano ou sicrano foi algum sanguinário no Império Romano. Ele simplesmente viu o sofrimento das pessoas e prestou seu socorro incondicional, abrindo mão de sua atividade econômica para promover a solidariedade que Chico se esqueceu de dar.

MEDIUNIDADE

Chico Xavier também tornou-se conhecido por sua mediunidade. No entanto, ele nunca foi realmente vinculado à Doutrina Espírita, à qual tinha uma compreensão bastante superficial e "orientada" pelos patrícios da FEB. Era um católico que tinha o dom de falar com os mortos, e supostamente divulgava mensagens do além para promover o "amor e a caridade".

O que podemos inferir, com a observação cautelosa de várias atividades e situações de Xavier, é que ele teria sido médium, sim. Mas não exercia a mediunidade 24 horas por dia ou, pelo menos, não fazia absolutamente tudo que oficialmente se entende como sua atividade mediúnica.

A única certeza que poderemos ter, quanto a isso, é que pelo menos ele foi médium de uma só pessoa, neste caso o espírito do padre jesuíta Manoel da Nóbrega, que adotou o codinome Emmanuel por causa de sua antiga assinatura "E. Manuel" para "Ermano Manuel" em suas correspondências.

Este caso de mediunidade pode ter sido autêntico porque Emmanuel apresenta as mesmas caraterísticas históricas conhecidas do padre Nóbrega, o que nos faz considerar isso pertinente, já que a identidade do espírito se manifesta pelas suas obras e por sua personalidade.

Mas sabe-se, todavia, que Chico não praticou mediunidade nos dois primeiros livros, Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho e Parnaso de Alem-Túmulo. Tomando como base o fato de que a qualidade intelectual do espírito se torna mais nítida após o falecimento, é de se estranhar que os dois livros representem queda de qualidade em relação ao legado dos autores espirituais a eles atribuídos.

Os compromissos pessoais de Chico Xavier também põem em xeque sua atividade mediúnica em boa parte de seus livros. Como um misto de pregador religioso e verdadeira celebridade pop, Chico teria que atender um número muito grande de pessoas, fazer viagens e dar entrevistas, o que seria impossível que ele realmente esteja por trás dos cerca de 15 livros que ele publicava por ano.

Chico também deixou transparecer, em cartas para os dirigentes da FEB, que fazia acordos para reedição ou elaboração de livros, pedindo ajuda na colaboração editorial, deixando praticamente explícito que obras como Parnaso de Além-Túmulo teria tido ajuda de um conselho editorial, confirmando uma tese que os ditos "espíritas" brasileiros consideram "impossível".

Além disso, já correu uma denúncia de que supostos processos de materialização de espíritos, dos quais ainda falaremos em breve, teriam sido fraudulentos, numa combinação de algodões, gazes, panos de renda e cobertores brancos, às vezes colando fotos mimeografadas de personalidades já falecidas. Chico aparece feliz ao lado de um dos envolvidos.

Em muitos momentos, Chico provavelmente não conseguia exercer seus dons mediúnicos. Possivelmente por alguma falha na concentração ou mesmo porque a vaidade afastava os espíritos benfeitores. A própria participação do mineiro em muitos embustes feitos em nome do "espiritismo" já fazia a "mediunidade" se apagar, dando um "branco" na sua mente.

Casos de vaidades mediúnicas não são únicos de Xavier. Mas ele tornou-se o caso menos típico, devido ao seu estereótipo de humildade, caridade e, nos últimos anos, velhice, que glamourizaram sua imagem pública. Mas ele demonstrou tais vaidades, não raro da pior maneira, e isso comprometeu sua missão mediúnica, deturpando a Doutrina Espírita e corrompendo os princípios verdadeiros de amor e caridade.

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