O Espiritolicismo, ou seja, o dito "espiritismo" brasileiro, tem seus absurdos, muitos deles constrangedores e até risíveis. Todos consentidos por seus adeptos por conta das "lições de amor de caridade" que a verborragia de seus livros espalha por páginas e páginas de seus best sellers.
Mas nenhum desses absurdos se equipara com uma corrente, que nem chega a ser unânime assim, de que o médium Chico Xavier teria sido reencarnação do professor Allan Kardec, conhecido codificador do Espiritismo francês.
A hipótese é controversa até entre os espiritólicos, mas os que a defendem, além de não serem poucos, tentam justificar pela "semelhança" entre as missões de "bondade" de um e de outro, sobretudo em favor do médium mineiro, supostamente enobrecido com tal "missão".
Mas essa hipótese é absurda, se observarmos tão somente a índole comportamental entre os dois, que mesmo levando em conta a "afinidade" de intenções - se pudermos levar em conta o que o Espiritolicismo acredita - , indica diferenças evidentes entre um e outro.
Allan Kardec era até mais descontraído e bem humorado do que sugerem as fotos aparentemente sisudas do professor. Isso porque era costume, nos serviços de fotografia do século XIX, que seus fotografados apresentem posições sérias, devido às regras formais da época, e mesmo crianças tinham que adotar uma postura quase tristonha nas suas poses.
No entanto, Kardec tinha uma índole ao mesmo tempo tranquila e enérgica no modo de falar. Tinha uma firmeza que se notava até mesmo nas serenas mas decididas exposições de suas ideias. Era um estilo de comportamento, de uma personalidade descontraída, mas bastante metódica e observadora.
Já Chico Xavier tinha uma índole típica de um caipira mineiro. Um tanto ingênuo, de fala mansa e quase efeminada, uma personalidade sem muita firmeza, às vezes tomada de credulidade e em outras de algum senso de oportunismo. Não era um observador no sentido científico do termo e era mais culto do que intelectualizado. Não tinha um comportamento decidido nem firme.
Portanto, mesmo quando se considera válidos os méritos de Xavier, nem de longe ele deve ser visto como o Kardec reencarnado. Isso é forçar a barra demais, e seus defensores só estão preocupados com algum ufanismo brasilocêntrico de creditar o Brasil como "nova terra prometida" e "pátria escolhida" como "guia mundial" pelo chauvinismo espiritólico.
Que vá lá que alguns incautos acreditem que Chico Xavier tenha sido "discípulo de Kardec", embora isso seja absurdo o bastante, já que o mineiro mais distorceu do que honrou as lições preciosas do professor lionês, corrompidas sobretudo por ideias retrógradas do catolicismo do Brasil colonial, de influência jesuítica medieval, ainda vinculada à Inquisição portuguesa.
Fora do Espiritolicismo, mas dentro de uma visão mais coerente com as lições originais de Kardec, o próprio fato de Xavier ter saído da rota das lições kardequianas já elimina de vez qualquer hipótese, por mais verossímil que possa parecer, de que ele seja Kardec reencarnado.
Kardec, provavelmente, não teria reencarnado no Brasil. Talvez nem tivesse reencarnado na Terra, por ter sido espírito evoluído, vendo que o planeta ainda se encontra retrógrado nas suas paixões impulsivas e materialistas.
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