terça-feira, 7 de julho de 2015

Robson Pinheiro usou Cazuza em livro de 1995, com ajuda de Chico Xavier

CAZUZA REDUZIU-SE A UM SUBPRODUTO DA FALSA MEDIUNIDADE.

O roqueiro Cazuza, falecido há 25 anos, depois de muita luta contra a AIDS, é um dos artistas levianamente explorados por pretensos seguidores, a exemplo de Raul Seixas e Renato Russo, só para citar nomes roqueiros como ele.

Há até mesmo a iniciativa duvidosa dos hologramas, que são na verdade animações feitas por computação gráfica que forjam a "presença" do falecido em uma apresentação ao vivo, que serve apenas como um espetáculo caça-níqueis feito para promover sensacionalismo e, por conseguinte, lucros.

Mas no "espiritismo" brasileiro, marcado pela falsa mediunidade - que podemos denominar de "mentiunidade" - , em que os supostos médiuns usam o nome de algum falecido e escrevem como bem entendem (de preferência sem entender a natureza original de cada falecido), Cazuza tornou-se seu subproduto.

Sim, porque o suposto espírito de Cazuza torna-se um propagandista religioso a mais, sendo mais um que "sofreu depois de morrer, foi atendido pelas colônias espirituais, conheceu o Evangelho e voltou para pedir para que nos unamos pela fraternidade em Cristo".

O livro Faz Parte do Meu Show, que o escritor best-seller e suposto médium Robson Pinheiro, sabendo das polêmicas das supostas psicografias, atribuiu não à autoria espiritual de Cazuza mas ao seu suposto parceiro, o "espírito" Ângelo Inácio, "co-autor" de outras obras - como a "umbandista" Aruanda - , foi lançado em 2004.

Nele o suposto Cazuza, reduzindo a um caricato cantor que lembra os canastrões cantores bregas "juvenis" que apareciam no Programa Sílvio Santos, narra sua suposta vida espiritual, depois que desencarnou e, entre outras coisas, conhece um "Cassino do Chacrinha" do além, com o próprio Abelardo Barbosa "ajudando" o roqueiro a continuar sua missão musical.

Mas, antes dessa risível obra, o roqueiro esteve associado a outro livro produzido por Robson Pinheiro em 1995, intitulado Canção da Esperança, cujo enredo não correspondia à suposta vida espiritual do roqueiro, mas a de um anônimo chamado Franklim, que havia morrido de AIDS depois de uma vida desregrada, movida a sexo, drogas etc.

O livro tem narrações típicas de Nosso Lar - ida para hospitais do além, passagem por áreas sombrias (a "Crosta"), descrições tipicamente roustanguistas como a inserção de larvas astrais no perispírito durante uma cirurgia num desses "hospitais" e o mesmo apelo sorridente de religiosidade de sempre.

O uso do nome de Cazuza estaria na publicação de uma mensagem, na época. Na 9 edição, de 2010, outras mensagens atribuídas a ele tiveram, mas na edição original, lançada para "lembrar" os cinco anos de morte do roqueiro, a "colaboração" deste era mais restrita.

Robson Pinheiro contou o seu relato sobre a criação do livro, e contou como a ajuda do anti-médium mineiro Francisco Cândido Xavier, que por sua vez recorreu ao "(Adolfo) Bezerra de Menezes" pseudo-kardeciano (Bezerra era roustanguista) para produzir o prefácio do livro.

Quanto descaramento usar o ultraconservador Chico Xavier para ajudar na procura da "mensagem de Cazuza". A gente fica até refletindo sobre o sensacionalismo de Veja e os hologramas caça-níqueis e confrontando com essa exploração religiosista do roqueiro. Eis o trecho, publicado no próprio Canção da Esperança:

(…) Um ano e meio antes desses fatos eu havia recebido uma mensagem do espírito Cazuza, uma música intitulada Canção da Esperança. Na época, jamais imaginaria que aquela letra seria parte integrante de algum livro — muito menos imaginava que eu haveria de psicografar um livro algum dia. Até então, psicografara apenas mensagens esparsas, orientações espirituais e coisas semelhantes. Mas livros definitivamente não estavam nos meus planos.

Eu não conhecia, porém, os planos dos espíritos. 

Após receber a letra que compunha a canção do espírito Cazuza, entreguei-a a um outro amigo, Rodrigo Almeida, para que pudesse guardá-la. E creio que a guardou tão bem que nem ele sabia mais onde estava a poesia mediúnica. Até aí, apenas mais um texto sem tanta importância desaparecido. 

Meses se passaram, e, após uma série de peripécias junto a Franklim, pude então seguir a sugestão inicial feita pelo amigo Marcos naquela longínqua manhã, em que me recebera na banca de livros espíritas. Dirigi-me a Uberaba, na região do Triângulo Mineiro, e, quando fui recebido por Chico Xavier, disse-me que havia uma mensagem psicografada por mim, presa numa gaveta. Na verdade, na terceira gaveta, contadas de cima para baixo, em uma determinada cômoda na casa de Rodrigo. A tal mensagem deveria ser adicionada ao livro ditado por Franklim, até então sem título. 

Após a conversa recebi a introdução do livro — Bezerra de Menezes a escreveu pelas mãos de Chico Xavier, como fora prometido ao espírito que quisera escrever suas memórias em Uberaba. 

Resultado: Franklim não era nenhum obsessor, e tudo que me havia dito era a mais pura verdade, como Chico pudera atestar. 

Quando voltei para Belo Horizonte resolvi procurar Rodrigo imediatamente, a fim de encontrar a mensagem de Cazuza. Depois de lhe dizer onde ela estaria, dirigimo-nos a sua casa, na região de Venda Nova, na periferia da cidade. Qual nossa surpresa ao verificarmos, um tanto incrédulos, que, debaixo da terceira gaveta da velha cômoda, eis que surge a letra da música Canção da Esperança. Exatamente no local indicado por Chico. Nem mesmo Rodrigo teria a feliz idéia de esconder a mensagem psicografada bem debaixo da gaveta, que deve ter escorregado e ficado presa no fundo. (…) 

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