domingo, 19 de julho de 2015
"Mobilidade urbana" do autoritário PMDB carioca e seus "reajustes espirituais"
No Rio de Janeiro marcado pelo neo-coronelismo do PMDB local, de Eduardo Paes, Luiz Fernando Pezão, Sérgio Cabral Filho, Carlos Roberto Osório e, sobretudo, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, o direito de ir e vir tornou-se, nos últimos cinco anos, uma aventura muito perigosa.
Pois a "mobilidade urbana" desse grupo político vive nos tempos das diligências. A pintura padronizada nos ônibus segue a lógica do gado bovino que o "coronel" quer botar tudo igualzinho e imprimir em cada boi o carimbo do seu latifúndio. Assim, cada ônibus, espécie de "boi sobre rodas", como imaginariam os antigos indígenas, recebe também o carimbo da Prefeitura do Rio de Janeiro.
A péssima ideia da formação de consórcios mostra o quanto a união forçada não significa necessariamente solidariedade. Se muitos reclamam dos grupos empresariais formados por interesses privados, os consórcios, grupos empresariais comandados pelo Estado e formados por interesses políticos, só tornam a coisa mais complicada e mais perigosa.
Afinal, se as empresas de ônibus não podem mais apresentar a identidade visual, acobertadas pelo manto da pintura padronizada que desmascara o caráter de licitação que vemos, que deveria mostrar as empresas e no entanto as esconde, então o empresariado tem uma compensação: aumenta o poder político junto aos governantes do Estado do Rio de Janeiro.
O perigo é que o jogo eleitoral volte aos parâmetros da República Velha e se volte aos interesses dos detentores do poder, manipulando a máquina eletiva para favorecer sempre seus representantes, em detrimento do interesse do povo. O que mais revolta é que esses políticos ficam sempre jurando defender o povo e a lei, mas na prática agem completamente pelo contrário.
INTERESSES POLÍTICOS
A Transportes Paranapuan mostra o caso de como esse sistema de ônibus marcado pelo autoritarismo e pela tecnocracia mais atrasada - na qual a modernidade da "mobilidade urbana" é apenas desculpa para impor medidas arbitrárias, pseudo-futuristas mas essencialmente retrógradas - esconde uma situação que não é tão simples quanto parece.
A empresa é uma das recordistas em reclamações dos passageiros. Já sofreu um trágico acidente em 2013, quando uma briga entre um passageiro e um motorista-cobrador (a tal dupla função) por causa de troco fez o ônibus perder a direção, cair do viaduto Brigadeiro Trompowsky (que liga Bonsucesso à Ilha do Governador) e matar oito pessoas.
Recentemente, um ônibus da Paranapuan teve uma das rodas soltas que, caindo de outro viaduto, o trecho da Linha Amarela que passa sobre São Cristóvão, atingindo um passageiro, o comerciário Ananias Henriques, de 64 anos, na última segunda-feira. Ferido gravemente, Ananias morreu depois de ficar em coma durante quatro dias.
Mas a Paranapuan não tinha um histórico ruim, como não tinham a Verdun, a Bangu, a Vila Isabel e a Pégaso, outras empresas que hoje são alvo de muitas reclamações. A formação dos consórcios virou uma "torre de babel" de interesses conflitantes e falta de transparência e de autonomia, complicando ainda mais o sistema de ônibus.
Esses consórcios (Internorte, Intersul, Santa Cruz e Transcarioca) são apenas "aglomerações" políticas para o poder estatal exercer sua concentração de poder, mostrando um claro autoritarismo que nada tem a ver com fiscalização e disciplina. Fiscalizar e controlar os abusos é uma coisa, mandar com mãos de ferro é outra.
É um sério caso de interesses políticos usando a desculpa da "mobilidade urbana" e da "moralidade do transporte coletivo". Pois, se o sistema de ônibus carioca não era perfeito antes de 2010, ele perdeu o que tinha de bom e os defeitos que haviam continuaram, se tornaram piores e ainda se somaram a outros defeitos, também calamitosos.
Daí que o PMDB carioca de Eduardo Cunha só poderia gerar secretários de Transporte do porte de Alexandre Sansão e Carlos Roberto Osório, o primeiro com ares de retrógrado tecnocrata, o segundo com ares de chefão policialesco.
E eles agem sob o comando de Eduardo Paes que impôs pintura padronizada contra a vontade da população, à revelia das leis, numa votação às escuras na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro e, não bastando tudo isso, Paes ainda acusou a diversidade visual de "poluição sonora" e ofendeu os portugueses com o adjetivo pejorativo de "embalagem de azeite português". Isso quando adota um leiaute de "embalagem de remédio" na já tenebrosa medida de padronização visual.
Seus defensores louvaram esse projeto de transporte coletivo trazido pela embalagem da pintura padronizada e lançando medidas antipopulares que haviam sido divulgadas em 1998 pelos tecnocratas ligados ao COPPE/UFRJ e fascinados com a tecnocracia do "filhote da ditadura" Jaime Lerner.
Criaram até uma "religião", já que o hábito do Rio de Janeiro, mergulhado numa maré de atraso e provincianismo, de lojas escuras, desabastecimento de produtos, fanatismo no futebol e pessoas demais fumando em excesso, é de "religiosizar" as coisas, tratando as decisões que vêm "de cima" como se equiparassem a uma vontade divina.
OS CONFLITOS
A Paranapuan chamou a atenção para os conflitos existentes nos consórcios. O dono da empresa parece se expressar contra a pintura padronizada, como outros empresários lesados, entre eles o da Novacap. Apenas poucos e mais poderosos empresários é que usam do véu da pintura padronizada para enganar e confundir os passageiros e articular conchavos com as autoridades que "disciplinam" (ou melhor, mandam) no sistema de ônibus carioca.
Mesmo assim, não é difícil ver o quanto empresas de ônibus pioraram o serviço depois que receberam o "uniforme da Prefeitura", vinculando sua imagem ao poder estatal que concede as linhas de ônibus mas, simbolicamente, "fica" com as frotas de ônibus que só podem mostrar a imagem do "poder público".
Tijuca, Real, São Silvestre, Acari, Matias, Alpha, etc, todas rodam com ônibus sucateados, não da forma escancarada que Paranapuan e Pégaso mostram nos noticiários. Uma Matias já mostrou a diferença para pior com seus carros percorrendo lugares como Vila Isabel numa disparada antes impensável e com carros sacudindo como se estivessem com parafusos quase soltos.
A Paranapuan chegou a exigir do consórcio Internorte uma prestação de contas, alegando falta de transparência administrativa. A formação dos consórcios também complicou o sistema de renovação de frotas, que agora é por decisão da secretaria de Transportes, que com sua burocracia e arbitrariedade, faz demorar a substituição dos carros para acumular uma grande quantidade só para fazer propaganda política em cima dos carros novos.
Há falcatruas financeiras, disputas políticas e outras barbaridades que fazem com que linhas de ônibus passem a ser operadas por tantas empresas que, se houver uma irregularidade, os passageiros saem confusos demais para fazer alguma denúncia. Isso sem falar que linhas trocam de empresas, empresas trocam de nome ou são extintas, e outras empresas são criadas, tudo isso à revelia dos passageiros, sempre os últimos a saber.
Se for cumprida a ameaça de cassação da concessão da Paranapuan, o "carnaval" de empresas se dará de forma semelhante ao que já ocorre depois que empresas como Translitorânea (quase extinta), Rio Rotas (extinta), Andorinhas (extinta) e Pégaso perderam linhas. Tudo virou uma disputa de terrenos, como se servir zonas de bairros não fosse uma segmentação operacional e sim uma busca de "currais" viários.
A pintura padronizada eliminou a transparência, agravou a corrupção e ainda aumentou o poder de "especialistas" que só defendem ideias contrárias ao interesse público: dupla função motorista-cobrador, extinção de linhas longas funcionais, substituídas por "alimentadoras" e redução de ônibus em circulação nas ruas (o que aumenta o tempo de espera, um dos maiores sofrimentos dos passageiros).
OS "REAJUSTES ESPIRITUAIS"
Essa "mobilidade urbana" do "coração do mundo", portanto, só está causando dor e transtornos diversos, que as autoridades, sádicas, entendem como "sacrifícios necessários" em nome do espetáculo sensacionalista dos BRTs, que podem parecer "super-ônibus", mas perto do paradigma de trens e metrôs, não passam de "reles micrões".
A pintura padronizada faz pessoas pegarem ônibus errados e se atrasarem ao trabalho ou terem que saltar até em áreas perigosas. A dupla-função do motorista-cobrador está causando acidentes pela sobrecarga que o trabalho representa ao motorista, que não raro sofre ataque cardíaco com o ônibus em movimento.
Não fosse a dupla-função, não haveria a discussão que provocou a tragédia da linha 328 da Paranapuan, em 2013, que matou oito pessoas e refletiu nos noticiários do Brasil e do mundo, divulgando a péssima imagem do sistema de ônibus implantado em 2010, cujo autoritarismo nem o reacionário Carlos Lacerda seria capaz de fazer, pois o antigo líder udenista, como governador da Guanabara, implantou um sistema melhor e mais humano que o de Eduardo Paes.
A mutilação de linhas de ônibus como 332 Castelo / Taquara (via Copacabana), 465 Cascadura / Gávea, 676 Méier / Penha, 689 Méier / Campo Grande, 910 Bananal / Madureira e 952 Penha / Praça Seca, só para citar algumas com itinerários sem similares, substituídas por "alimentadoras" que esquartejaram os percursos originais, só está causando atrasos dos passageiros a seus compromissos e provocando superlotação em BRTs que não cobrem as frotas das antigas linhas.
Além disso, as linhas longas e de trajetos sem similares eram rentáveis e sua mutilação deu prejuízo, porque o transporte envolve custos de manutenção e combustível, que agora ficam pendentes, o que faz aumentarem as pressões para os aumentos das passagens de ônibus. As "alimentadoras", por sua vez, não raro não passam de clones de percursos já existentes, sendo linhas como 332A, 676A e outras meros "tampões" para não deixar as empresas "na mão".
A sobrecarga dos motoristas, que agora também cobram passagens, diante de uma cidade congestionada e a pressão da tirania do tempo, fazem com que os acidentes sejam comuns (apenas uma parte é noticiada pela imprensa), com uma média de 20 passageiros por ônibus e um histórico de mortos de arrepiar.
Até um atleta olímpico e uma produtora da TV Globo morreram atropelados por ônibus, e isso pelas "boas empresas" da Zona Sul. E, nos últimos dias, com acidentes diferentes envolvendo ônibus da Vila Isabel, Bangu e Paranapuan (este matando um homem atingido por um pneu solto), o "moderno" modelo de sistema de ônibus do Rio de Janeiro não consegue esconder sua falência.
Será que se vai argumentar que os passageiros que saem feridos ou mortos, ciclistas que morrem atropelados, transeuntes abatidos por rodas, ônibus que batem em postes ou invadem lojas, ônibus que enguiçam no meio do caminho (às vezes, até na perigosa pista expressa da Av. Brasil), estão sofrendo "reajustes espirituais" e que os políticos que impõem esse sistema são "tão bonzinhos"?
O que se sabe é que esse sistema mostra o quanto pessoas podem ser cruéis e fazer todo um discurso tentando afirmar o contrário. Pessoas que não estão aí se os outros estão sendo prejudicados ou não, apenas criam uma política de mentiras, demagogias e apelos sensacionalistas. Se Eduardo Paes, Carlos Roberto Osório, Pezão e outros andam de BRT, nós sabemos quem é seu motorista: Eduardo Cunha.
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