CICLISTA FOI ASSASSINADA POR LADRÕES QUANDO PASSEAVA COM O MARIDO NUMA CICLOVIA DA RODOVIA FERNÃO DIAS, EM SÃO PAULO.
O Brasil tem mais mulheres que homens na sua população? Oficialmente, sim, e isso aparentemente alivia tanto os machistas quanto as feministas, porque os primeiros têm a "mulherada" em fartura para escolherem para o ato sexual e as segundas porque ganham mais "quórum" para sua mobilização política.
Mas um dado estranhíssimo põe em xeque a questão. Segundo dados do CENSO do IBGE de 1960, portanto, 55 anos atrás, do total de 70.070.457 brasileiros, 35.055.457 eram homens e 35.015.000 mulheres. Era uma proporção de cerca de 102 homens para cada grupo de 100 mulheres.
De acordo com o Censo 2010, a população hoje é estimada em 190.755.799 habitantes. sendo 93.406.990 homens e 97.348.809 mulheres. Ou seja, uma proporção de 96 homens para 100 mulheres, de acordo com os dados oficiais.
Só que existe um grande problema. Em 1960, as mulheres praticamente viviam "reclusas". Hoje em dia, é certo que as mulheres têm maior liberdade do que há 55 anos, mas elas também se tornaram mais vulneráveis a tragédias das mais diversas.
Os noticiários mostram uma altíssima mortalidade de mulheres, seja por feminicídio, acidentes de trânsito, erros médicos, latrocínio, balas perdidas e outras tragédias, que desde os anos 1970 são intensas e constantes. Só pelo feminicídio, entre 2000 e 2010, 43 mil mulheres foram vítimas, segundo dados divulgados pela Comissão Mista Parlamentar de Inquérito da Câmara dos Deputados sobre a violência contra a mulher.
É verdade que também muitos homens acabam sendo mortos em maior quantidade que em 1960, mas não chega a ser com diferença "estratosférica" do que antes. Além do mais, na vida social, observa-se mais homens solteiros do que mulheres solteiras, e a carência amorosa dos homens é mais frequente, como se observa nas mídias sociais.
Por outro lado, as mulheres, quando reclamam que "está faltando homem", estão cometendo um eufemismo, já que, na vida noturna - que o "dialeto" dos barões da grande mídia define como "balada" - elas costumam ser assediadas por uma média de três homens a cada noite.
"Não haver homem", neste caso, é apenas um eufemismo correspondente a "não bebo" em relação a "não consumir bebidas alcoólicas". Há uma elipse, pois, da mesma forma que certas pessoas "não bebem (bebida alcoólica)", "não existem homens (atraentes)" nas casas noturnas. "Atraente" e "bonito" são os termos ocultos da elipse.
CRITÉRIOS DA DITADURA
A grande queixa que se faz do Censo do IBGE é que, a partir de 1970, começaram a valer critérios de avaliação estatística duvidosos, que naquele tempo atendiam a interesses turísticos e econômicos estratégicos, afinal, era a época do "milagre brasileiro" e dos arbítrios surreais do AI-5.
Era o auge da ditadura militar e o Brasil, apesar dos reflexos da Contracultura mundial, ainda se mantinha "careta". Naqueles tempos, ainda resistiam valores voltados ao machismo e ao racismo, e os dados estatísticos eram manipulados assim como se manipulavam, por meio da censura, as pautas a serem publicadas pela imprensa ou pelo entretenimento em geral, sobretudo de rádio e TV.
A partir do Censo de 1970, a ideia de "domicílio" passou a ser confusa. Se você, por exemplo, está lanchando um pastel numa confeitaria e declarar para o recenseador na ocasião, você é "habitante" desta confeitaria.
Outro dado neste sentido é quando, numa casa onde moram uma mulher, seu marido e seus filhos, o marido ainda não chegou em casa, ele "não existe". Ele "não habita" a casa, logo, ele "não existe" porque simplesmente não estava em casa quando o recenseador entrou no recinto para entrevistar a família.
Enquanto isso, nota-se que, quem se desloca daqui e ali de maneira indefinida, à revelia dos recenseadores, simplesmente "não existe" no Censo. Principalmente homens. E aí nota-se um número enorme de homens que, por migrarem de longínquas cidades do interior para morar nas entranhas das favelas ou viver sob as pontes e sobre os calçadões das ruas, "não existem" para o IBGE.
Interesses políticos de coronéis do interior evitam que os emigrantes de suas pequenas cidades, quando passam a viver nas capitais, sejam creditados às populações destas. Por isso é que as capitais nordestinas, por exemplo, são tidas como de população "majoritariamente feminina" quando a realidade aponta o contrário.
Para reforçar o mito das "cidades-mulheres" litorâneas, a "indústria" do censo aliada ao mercado hoteleiro ou mesmo ao entretenimento, apelam até mesmo para visões fora da realidade, como a do homem do interior que "não faz questão" de viver próximo à praia e de mulheres igualmente interioranas que ainda brincam de boneca e vão sozinhas para viver nas capitais.
MACHISMO E RACISMO
Hoje, o Censo do IBGE ainda não superou os critérios vigentes na ditadura militar e não consegue explicar por que, com o aumento de mortes violentas contra mulheres, além de infortúnios como acidentes de trânsito e erros médicos, elas "são maioria" na população.
Por outro lado, é de se surpreender que tantos homens, negros e pobres, vindos sobretudo de cidades perdidas no interior, não chegam sequer a serem números no Censo, e só se tornam a ser estatisticamente identificáveis quando aparecem mortos em alguma ocorrência criminal.
Muitas mulheres que aparecem "vivas" no Censo de 2010 já foram mortas por algum motivo, não raro ainda na tenra idade. Os últimos noticiários apontavam, entre outras coisas, uma menina gaúcha de 11 anos misteriosamente assassinada no Rio Grande do Sul e uma ciclista morta por um ladrão quando ela passeava com o marido numa ciclovia na Rodovia Fernão Dias (SP).
E se as mulheres que hoje são mortas ainda "vivem" nos papéis estatísticos do IBGE, o que significa que, se existem oito mulheres para cada homem, só mesmo sendo médium para se relacionar com metade delas, homens que nem números estatísticos puderam ser só são "alguém na vida" (ou melhor, na morte) através dos boletins policiais.
Há que se destacar também os homens que viajam a negócios, que, por estarem virtualmente em aviões ou outros meios de transporte, também "não existem" no Censo. Tidos como "cidadãos do mundo", eles nem "fazem falta" para os dados estatísticos, apesar de vários deles serem brasileiros ou residentes no país e serem muito bem casados por mulheres que acabam tendo status de "solteiras" nos papéis estatísticos.
A herança ditatorial do método de recensear o Brasil, reflexo dos interesses políticos aliados ao mercado turístico e à geração de empregos criou essas manobras que impedem que se registre a população "no fundo" das favelas.
Esta omissão seria uma forma de evitar o aumento da dívida social, já que, se creditarem as centenas de milhares de homens que moram em áreas pobres e de difícil acesso, denunciaria um quadro que obrigaria os governantes a investirem mais para reduzir casos de desemprego e miséria a aparecerem nestes casos.
Só que, sendo a maioria deles negros, índios ou mestiços de qualquer tipo, há um aspecto racista promovido pelo método ditatorial. A intenção racista pode ter desaparecido nos censos mais recentes, mas o método não, já que os critérios de 1970 continuam valendo até hoje.
A ideia machista marcada pelo mercado turístico - vamos deixar de ser politicamente corretos, já que a erotização, desde que seja mais sutil e implícita, é estimulada pelo turismo, assim como existem manifestações machistas na publicidade e na "cultura popular" difundida pela grande mídia - também é um dado a se refletir.
Afinal, a ênfase da ideia fantasiosa das "cidades sensuais", como se atribui a capitais como Rio de Janeiro, Recife e Salvador, à maneira do que se faz com o Caribe e com Miami, nos EUA, é uma forma de atrair investidores e empregados (sobretudo da construção civil), majoritariamente masculinos.
Esconde-se uma multidão surpreendentemente enorme de homens pobres, vindos do interior mas estatisticamente a ele vinculados, por debaixo do tapete suburbano que não cabe ser mostrado nos releases turísticos, embora seja de gente com iguais condições de trabalhar pelo turismo em relação aos forasteiros que o turismo quer atrair.
Na verdade, os interesses do mercado hoteleiro e da especulação imobiliária fazem com que se manipulem os dados estatísticos que garantem o sono tranquilo de machistas sexualmente afoitos e feministas sedentas de engajamento político.
Mas, em compensação, um preocupantemente grande número de mulheres, muitas delas ainda jovens, preenche os obituários juntamente com homens, sobretudo negros e pobres, surgidos do "nada" estatístico para os boletins policiais, escondidos por debaixo do tapete do fantasioso "Brasil-mulher" que o Censo do IBGE acaba impondo como pretensa realidade.
O Brasil estatisticamente varonil é muito indigesto para os interesses do mercado e da especulação imobiliária.
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