segunda-feira, 20 de julho de 2015

"Espiritismo" está ficando velho e ultrapassado

ATÉ O ANTI-MÉDIUM BAIANO, JOSÉ MEDRADO, JÁ TEM 54 ANOS.

O "movimento espírita" está ficando velho, perecendo como uma doutrina antiquada, que preferiu se fundamentar no repertório moralista do Catolicismo português que prevalecia no Segundo Império brasileiro (época de fundação da FEB) e de uma suposta mediunidade inspirada em práticas duvidosas de movimentos heréticos também medievais.

Completamente divorciado do pensamento de Allan Kardec, apesar de todas as declarações que tentem desmentir isso, o "movimento espírita" parou no tempo e vê perder, aos poucos, seus membros veteranos, vinculados ou não a ele.

Recentemente, faleceu o antigo parceiro de Francisco Cândido Xavier, Waldo Vieira, depois de internado com acidente vascular cerebral. O próprio Chico Xavier já está morto há 13 anos. Roustanguistas como Luciano dos Anjos e Antônio Wantuil de Freitas também, da mesma forma que Nilton Pereira, o "Tio Nilton", parceiro de Divaldo Franco na Mansão do Caminho.

Sem poder acompanhar as transformações do tempo e confuso nas orientações que escolheu, preferindo o moralismo religioso e o misticismo improvisado de uma falsa mediunidade, o "espiritismo" que produziu uma literatura irregular em que praticamente tudo é destinado ao lixo (inclusive livros de Chico Xavier e Divaldo Franco) vive a mais grave crise de sua história.

A religião que pretendia renovar a espiritualidade dos brasileiros não conseguiu crescer em popularidade, e se alimenta através do sensacionalismo místico-religioso que promove em parceria com a grande mídia.

Mesmo assim, nota-se a explícita exploração das tragédias familiares, ostentando dramas que poderiam ser melhor resolvidos no íntimo da privacidade. A ostentação das mesmas acaba mais prejudicando do que beneficiando e as mensagens de "consolo", além de causarem um falso alívio que a publicidade do caso só atrapalha, elas ainda são feitas de forma fraudulenta.

A postura dúbia da suposta fidelidade ao cientificismo de Allan Kardec e do apego à religiosidade conservadora de Chico Xavier, postura que substituiu, em 1975, o roustanguismo abertamente assumido dos primórdios da FEB, já se mostra repetitiva e seus apelos para contornar a crise cada vez mais infrutíferos.

Na melhor das hipóteses, o "espiritismo" só está atraindo dissidentes das religiões neopentecostais desiludidos com as denúncias envolvendo figuras como Marco Feliciano, Silas Malafaia e o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, que não conseguem esconder seus surtos de profunda intolerância social.

Essa postura se assemelha com a antiga migração de católicos desiludidos - então descontentes com figuras como o ultraconservador Gustavo Corção e com a repetitividade dos ritos e dogmas religiosos - para o "espiritismo", o qual entendiam como umas espécie de "catolicismo" mais flexível, sem batina e sem a obrigatoriedade do senta-e-levanta das missas.

O que se observa é que o "espiritismo" está atraindo não-espíritas, que se tornam espiritualistas de primeira viagem, ao passo que os espíritas autênticos cada vez mais se afastam da doutrina, embora tenha alguns com vontade débil que ainda "sentem peninha" de Chico Xavier e acreditam na vã fantasia de buscar as bases kardecianas sem romper com o chiquismo.

Não há renovação de ideias e mesmo o relativo acompanhamento do "espiritismo" com os fatos e tendências da atualidade soa pedante, distanciado, oportunista, tendencioso e equivocado. No caso da migração de africanos para a Europa, o jornal Correio Espírita preferiu acusá-los de terem sido tiranos no passado e acusou a negritude como um "castigo".

Não há renovação de pessoas. Os mais carismáticos são muito idosos. e restam poucos como Divaldo Franco, que já está em idade avançada e se aposentou como "médium". Figuras como Geraldo Lemos Neto e Carlos Baccelli já são idosas, mas não possuem grande carisma. José Medrado é carismático, mas já tem 54 anos.

Além disso, a média de palestrantes regionais com algum carisma que seja considerado significativo, ainda que em âmbito local, é de cerca de 50 anos. Quanto aos jovens, não ocorreu a chegada do suposto "novo Emmanuel", provavelmente um rapaz de cerca de 15 anos de idade.

CAMINHO SEM VOLTA

Do contrário que o Catolicismo e o Protestantismo, que mesmo dentro de seus limites conseguiram se renovar, sobretudo através, do lado católico, do exemplo do Papa Francisco, o "espiritismo" parece ter um caminho sem volta no seu desgaste, porque ele foi o mal que esteve em sua raiz, um roustanguismo que, por mais enrustido que fosse hoje, nunca desapareceu nem desaparecerá.

Isso se deve nas atividades "espíritas" que se limitam a ser meros receituários moralistas, abordagens já retrógradas que mal conseguem esconder um ranço católico-medieval, uma falsa mediunidade que mais parece uma chorosa propaganda religiosa e outras coisas que se repetem e se desgastam, embora parecessem "novas" para quem tornou-se "espírita" de primeira viagem.

Nem mesmo a inclusão de roqueiros brasileiros em supostas psicografias, a divulgação de "mensagens espirituais" mais descontraídas ou o fato de José Medrado contar piadas e fazer propaganda do Kibe Loco nas palestras da Cidade da Luz, em Salvador, conseguem renovar o "espiritismo" brasileiro, até porque tudo isso é apenas nova embalagem para conteúdo velho.

O apego a Chico Xavier torna-se irracional e, por incrível que pareça, não rigorosamente através de suas obras, porque seus seguidores seguem a linha das pessoas ao mesmo tempo conservadoras, de fraco hábito de leitura e completamente acomodadas e submissas às convenções sociais e ao poder do mercado, da mídia e da tecnocracia.

Um dado a observar é que os seguidores de Chico Xavier, em maioria, não são pessoas de profundo ativismo social e preguiçosas o bastante para preferirem buscar "bons exemplos" nas frases adocicadas do anti-médium, mesmo quando ele faz apologia ao sofrimento humano.

O apego viciado ao anti-médium é uma forma dessas pessoas de esconderem seus defeitos pessoais, suas debilidades e omissões, através de um pretenso símbolo de bondade, um "bom velhinho" cuja adoração dá a impressão aos outros de que muitos chiquistas, capazes de desprezar os velhos que com eles vivem (pais, tios, avós, sogros, patrões etc), são "muito bonzinhos".

Nada se justifica tamanha adoração e a viscosa emotividade em torno do figurão de Pedro Leopoldo, depois "exilado" em Uberaba até o fim da vida. Até porque as pessoas nem chegam a prestar muito atenção às frases de Chico Xavier, tão seduzidas e hipnotizadas por seu mito e pelo sedutor estereótipo de amor, bondade, humildade e compaixão a ele vinculado.

Não é essa adoração que irá renovar o "espiritismo". Pelo contrário, ele reflete também que seus seguidores andam antiquados. O Brasil vive um surto de provincianismo desde os anos 90, que se acentuou quando escândalos recentes, que vão da corrupção da FIFA até o caso Eduardo Cunha, passando pela mídia policialesca e pela bregalização musical, tornaram-se mais explícitos.

Afinal, não foi Chico Xavier que se tornou, mesmo postumamente, "progressista", "avançado", "renovador" ou "transformador". Os chiquistas é que se tornaram mais antiquados ou, se eram pessoas modernas, mostraram esse lado conservador de louvar o homem que queria que "sofrêssemos em silêncio", como num taylorismo espiritualista com prêmios a serem ganhos no além-túmulo.

Tudo no "espiritismo" tornou-se velho, antiquado, mofado. E, ao que tudo indica, não existe saída. O verdadeiro Espiritismo, de Allan Kardec, verdadeiramente renovador e progressista, quase não é apreciado no Brasil.

Querer que a Doutrina Espírita autêntica seja apreciada sem o rompimento com os totens "espíritas" brasileiros, sobretudo Chico Xavier, corresponde a colocar uma laranja nova ao lado das laranjas podres de tanto bolor. Colocar o renovador Kardec na estrutura podre do "espiritismo" brasileiro só vai manter a podridão e contagiar a podridão na fruta nova.

É assim que tornou-se inútil associar Chico Xavier a "profecias" supostamente científicas, como a tal da "Data-Limite", tentar criar um braço "acadêmico-cientista" ligado ao "movimento espírita" ou usar roqueiros brasileiros mortos para supostas psicografias. Mesmo o novo "apodrece" se associado ao contexto ultrapassado do "espiritismo" brasileiro.

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