sábado, 12 de julho de 2014

E a derrota do "coração do mundo" na Copa?


Nesta semana, a seleção brasileira de futebol sofreu a maior derrota de sua história, obtendo uma pontuação de 1 X 7, por causa da goleada feita pelos jogadores alemães, no jogo realizado na última terça-feira em Belo Horizonte, durante a Copa do Mundo FIFA Brasil 2014.

A derrota representou um violento choque nas expectativas dos brasileiros, que nunca acreditariam que a derrota fosse tão grande e muitos ainda tinham esperança de ver os alemães derrotados em mais uma vitória da seleção em busca do hexacampeonato, que foi adiado mais uma vez.

A decepção foi enorme e de grandes proporções, já que a expectativa somava uma série de aspectos que se apoiavam nas ilusões que cercavam o Brasil como suposta nação-guia da humanidade, conforme anunciava o "anjo" Ismael em Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho.

Junta-se a essa missão "espiritualista" a perspectiva material, trazida sobretudo pelo cenário político nacional, de que o Brasil se tornaria potência mundial, na medida em que ele é um dos cinco integrantes dos BRICS, bloco de países emergentes que inclui também Rússia, Índia, China e África do Sul (o "S" corresponde ao nome em inglês South Africa).

Ou seja, se juntarmos as peças, vemos que os "espiritualistas" querem ver o Brasil como uma nação-líder da humanidade futura, enquanto os "desenvolvimentistas" querem ver o Brasil como um dos futuros países do Primeiro Mundo, de preferência em posição bastante avantajada.

Só que as coisas não são tão simples assim. Observando o que acontece no Brasil, o país está muito longe tanto de ser uma potência sócio-econômica quanto o "reino de luz" da humanidade planetária. Seus aspectos de profundo atraso sócio-cultural, as irregularidades políticas, a precariedade da Justiça e as desigualdades sociais são bastante conhecidos e travam o progresso do país.

Só a trilha-sonora do "funk", ritmo marcado pela degradação de valores sócio-culturais e pela forte apologia à miséria, ignorância e imoralidade, glamourizadas até no discurso de intelectuais simpáticos ao gênero, já põe por terra abaixo qualquer esperança do Brasil ser a nação de vanguarda no progresso da humanidade.

E a corrupção política, a frouxidão das leis, a política salarial ainda precária, os desméritos diversos que fazem com que os beneficiados de qualquer coisa não sejam necessariamente aqueles que precisam ou merecem tais benefícios, tudo isso compromete o avanço do país e o coloca essencialmente ainda numa posição que antes era conhecida como terceiromundismo.

A própria posição do Brasil no Índice de Desenvolvimento Humano das Nações Unidas é vergonhoso: em torno de 85º lugar, segundo dados recentes. É também um dos países onde ocorrem mais assassinatos e a presença de favelas também marca o profundo atraso das estruturas urbanas das cidades do país, mesmo as metrópoles.

Além disso, observa-se que o futebol que tanto anima a Federação "Espírita" Brasileira a ponto de apostar nele para o cumprimento das "profecias" de Ismael é, na verdade, um antro de corrupção política e empresarial armado pelos dirigentes esportivos João Havelange e Ricardo Teixeira.

Será que o "hexa" que, na verdade, representaria mais fortuna e permanência no poder de Ricardo Teixeira - Havelange está doente, nos seus 98 anos de idade - , iria fazer o Brasil virar potência econômica mundial e nação-guia da espiritualidade futura? De jeito nenhum!

Os problemas bastante complicados e graves, em muitos casos crescidos em doses surreais, fazem com que o Brasil tenha muito o que fazer. E não serão políticas neoliberais, ações tecnocráticas e fisiologismo político, e nem mesmo o misticismo moralista-religioso, que farão resolver tais problemas com facilidade ou perseverança.

Por isso a derrota da seleção brasileira, goleada sem dó pela seleção alemã, foi uma grande lição para os brasileiros. E mostrou um possível caminho para o Brasil pensar em superar o atraso: a desilusão. Pois é a desilusão que educa as pessoas e faz elas verem os limites de suas potencialidades e os erros e abusos cometidos, que cedo ou tarde trazem efeitos nocivos para as pessoas.

Portanto, o fim da ilusão do hexa que seria conquistado em solo brasileiro pode ter chocado muita gente e levado muitos às lágrimas, à raiva e até ao suicídio. Até mesmo atos de vandalismo foram feitos em reação à derrota imprevista. Mas a frustração é um remédio amargo que pode educar as pessoas no futuro, para prevenir contra sofrimentos piores e prolongados que a longa ilusão reserva.

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