quinta-feira, 17 de julho de 2014
Fernando Collor "teria sido" o Marechal Deodoro. E agora?
O "Bovespírita", a bolsa de apostas de reencarnações espíritas, volta e meia nos assombra com novos casos ou com a relembrança de casos mais antigos. Desta vez, é este último que chega à tona para bagunçar a festa.
Pois, 16 anos antes de Divaldo Franco divulgar uma mensagem atribuída ao Marechal Deodoro, Chico Xavier teria difundido uma mensagem dizendo, em 1989, que o então presidente eleito Fernando Collor de Mello teria sido reencarnação do militar que inaugurou a República no Brasil.
Para os desavisados, é bom lembrar que Chico Xavier apoiou Fernando Collor para a presidência da República, o que diz muito dessa postura conservadora que a roustanguista Federação "Espírita" Brasileira quase sempre adota no âmbito político-partidário.
Segundo Xavier, Deodoro teria voltado na figura de Collor - que, apesar de nascido no Rio de Janeiro, vive na Alagoas onde nasceu o outro - para "resgatar dívida no mandato anterior". Deodoro teria abandonado o cargo, depois de tantas crises políticas - ele teria fechado o Congresso depois que decidiu pela concentração de seu poder - e econômicas, como a onda "especulativa" do Encilhamento.
Deodoro não era um entusiasta da República. Ele foi monarquista até a véspera do 15 de novembro de 1889, data em que Deodoro, doente e cansado, era chamado pelos rebeldes antimonarquistas para dar fim ao Segundo Império, depois que a assinatura da Lei Áurea, que aboliu a escravidão no país, deixou muitos senhores de engenho na falência.
Sem querer aqui defender o regime escravista, e até por reafirmar a mentalidade tosca e provinciana dos senhores de engenho, eles faliram depois que houve a abolição porque eles não tiveram uma mentalidade que pudesse desenvolver atividades econômicas fora do regime escravo, apesar de ser conhecido o êxito do trabalho industrial nos países europeus, naquele fim do século XIX.
Deodoro era um defensor do Império brasileiro, e tinha simpatia por Dom Pedro II. Talvez por isso mesmo o Espiritolicismo, que sempre manteve o Segundo Império em boa conta, endeusando seus governantes e consortes, sobretudo a Princesa Isabel e seu ato, hoje considerado inócuo, de abolir a escravidão sem realizar políticas sociais em prol dos negros libertos.
Com todos os defeitos que Deodoro teve, como seu autoritarismo, ele não teria sido Fernando Collor, já que este tornou-se famoso pelo cafajestismo político, que o dito "caçador de marajás" dá continuidade agora como senador, num claro retrocesso de conduta em relação a Deodoro, por mais defeitos que este tivesse em sua vida.
Para complicar as coisas, Chico e Divaldo se envolveram em mais esta "saia justa", já que o primeiro atribuiu o espírito de Deodoro a Collor, que está vivo (e mesmo seus hoje falecidos irmãos Pedro e Leopoldo eram vivos em 1989), e o segundo divulgou uma mensagem atribuída a Deodoro, em 2005.
Assim a gente não consegue entender. Afinal, Chico e Divaldo, dois astros do "espiritismo" brasileiro, igualmente tidos como "espíritos superiores", dotados de "muita luz" e considerados figuras "insuspeitas" e de alta confiabilidade, adotaram essa gritante divergência entre um e outro.
Como é que pessoas assim consideradas acima de qualquer suspeita e dotadas da mais absoluta credibilidade podem se contradizer assim de forma tão vergonhosa? E, ao sabermos dos "mecanismos" que a chamada "máquina espírita" apronta para as pessoas, se tratam de concepções igualmente fraudulentas?
Isso já põe em xeque a credibilidade do "espiritismo" brasileiro, esse verdadeiro "mercado da fé e da espiritualidade" que engana as pessoas e, a pretexto de se situar na vanguarda da religiosidade, adota posturas bastante sombrias, procedimentos duvidosos e valores retrógrados. Que "luz" se espera de tudo isso diante de tantas trevas?
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