quarta-feira, 9 de julho de 2014
Espíritos do além podem abrir mão de personalidade e estilo?
Uma situação insólita é bastante conhecida na aparente mediunidade no "espiritismo" brasileiro. Mensagens atribuídas a conhecidos espíritos do além, que haviam se tornado famosos ou reconhecidos entre nós, que destoam, em muitas caraterísticas, daquilo que eles faziam, pensavam e acreditavam em vida.
São mensagens que valem mais pela pregação religiosa, pelo panfletarismo de "amor e caridade", "luz e fraternidade", seja apenas por alguns clichês que guardam semelhanças superficiais com o que os espíritos atribuídos eram em vida.
Sabe-se que muita fraude é feita através dessas atividades, mas vamos aqui, a título de análise, admitir que tais mensagens seriam verdadeiras, assim como as expressões artísticas atribuídas aos nossos ilustres figurões do além.
Argumentações possíveis não faltam para irregularidades de estilo e personalidade notadas nas supostas mensagens espirituais. Podemos mesmo identificar prováveis desculpas, fora aquelas já conhecidas da "coincidência de pensamento", no que diz às acusações de plágio.
Citemos um exemplo com base no caso real da suposta psicografia de Olavo Bilac em Parnaso de Além-Túmulo, por Chico Xavier, em que se observa a falta da métrica (rigoroso cuidado na criação de versos visando a combinação sonora das sílabas) típica da poesia do movimento do Parnasianismo.
Uma argumentação hipotética que podemos prever dos dirigentes "espíritas" é que o espírito de Olavo Bilac teria ficado nervoso na ânsia de transmitir, do além, as mensagens fraternais que, com o impacto da vida carnal encerrada relativamente cedo (aos 53 anos, em 1918), teria tido necessidade de transmitir. Daí a "perda" da métrica diante da "urgência" de escrever um poema fraternal.
Outra argumentação hipotética seria a "universalidade de linguagem". Segundo essa hipótese, a linguagem espiritual é "tão universal" que questões referentes à personalidade e estilo se tornariam "supérfluas" diante do apelo "urgente" da "fraternidade", do "amor", da "caridade" e da "luz".
O QUE DIZ A DOUTRINA DE ALLAN KARDEC
Se levarmos em conta as ideias lançadas por Allan Kardec em seus livros, a bonita tese de "universalidade de linguagem" que permite que se abram mão de aspectos de personalidade e de estilo em prol das mensagens espirituais de "amor e caridade".
Pois as pesquisas do professor lionês e as ideias lançadas pelo Espírito de Verdade e outros espíritos divulgados nas obras kardecianas sugerem que, na vida espiritual, o espírito, despojado das limitações orgânicas do corpo físico, amplia sua capacidade de raciocínio e traz mais acentuados seus traços pessoais.
Isso porque o espírito não tem as limitações de ordem material que estabelecem restrições à memória - a lembrança de vidas passadas, por exemplo, se torna atrofiada - e, livre no seu estado perispiritual, teria seus aspectos pessoais ainda mais dinâmicos e ampliados.
Aqui na vida material, ainda não conseguimos desenvolver as técnicas seguras de comunicação com o além e nossa compreensão a respeito do mundo espiritual ainda carece de pesquisas mais aprofundadas.
Para piorar, o "espiritismo" brasileiro, apegado na sua pregação religiosa, toma o incerto como certo, e permite até mesmo que manifestações duvidosas sejam legitimadas, usando como critério exclusivo as "palavras de amor".
As desculpas de "nervosismo" ou de "universalidade de linguagem", assim como a "comunhão de ideias", são facilmente contestadas se tomarmos a linha de raciocínio de Kardec, já que a imprecisão de personalidade e estilo contradizem à realidade de que o espírito liberto do corpo físico acentua suas caraterísticas pessoais, com a mente livre.
Por outro lado, a "universalidade" das "palavras de amor" dá indícios de uma padronização de discurso, o que denuncia a semelhança suspeita de muitas mensagens, que parecem repetir o mesmo estilo difundido pelo suposto médium, o que indica prováveis fraudes, não obstante passíveis de comprovação.
Abrir mão da personalidade e do estilo, tesouros ESPIRITUAIS que permanecem no além-túmulo, seria uma coisa absurda, uma vez que se abre mão não de um tesouro material, mas de um patrimônio não-material, como se fossem moedas a serem deixadas de lado em prol do "serviço ao próximo".
Não há lógica alguma em abrir mão de personalidade e estilo como quem abre mão de fortunas, só para servir a missões de caridade em mensagens aparentemente espirituais. Acobertar as fraudes "mediúnicas" com essa argumentação cai por terra diante de tamanhas contradições.
Em muitos casos, as fraudes espirituais se notam quando os falecidos a que estão atribuídas as mensagens espirituais se revelam caricatos e estereotipados demais. Ou que passam a defender ou fazer coisas estranhas ao que eram em vida.
As desculpas diversas, como "unidade de pensamento" - dada por Divaldo Franco diante de acusações de plágio - ou de "mudança de postura", referente à defesa espiritólica ao suposto José do Patrocínio (que em mensagem da FEB falou como padre católico e destoou do ativismo social que o abolicionista defendeu em vida), são facilmente desmentidas pela análise lógica e pela pesquisa.
Da mesma maneira, o "nervosismo" do suposto espírito para se expressar para nós na terra ou a "universalidade de linguagem" que abre mão do "materialismo" (?!) da personalidade e do estilo em prol da "caridade" seriam também facilmente contraditas pelo raciocínio questionativo.
O espírito nunca abriria mão da personalidade e do estilo - o seu "saber fazer" e "como fazer" - por causa da caridade. A personalidade é a marca do espírito, ele a mantém como sua identidade. Se o "espiritismo" brasileiro ignora tudo isso, ele acaba "coisificando" o espírito, já que o que importa não é mais a sua presença, mas tão somente o tom "amoroso" das supostas mensagens espirituais.
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