sexta-feira, 4 de julho de 2014

FEB e CBF, Espiritolicismo e futebol


O "espiritismo" brasileiro exalta o futebol brasileiro. Oficialmente, sua visão sobre a Copa do Mundo Fifa 2014, ao ser realizada no Brasil, estabeleceu uma missão no país de cumprimento das profecias anunciadas pelo anjo Ismael de que o país seria o guia futuro do progresso da humanidade.

Esse geocentrismo brasileiro, aliado à conhecida badalação do nosso futebol que, do contrário que muitos acreditam, passa há mais de 25 anos por uma má fase - a última melhor fase foi a da geração que jogou as copas de 1982 e 1986, sem ganhá-las, mas mostrando jogadas e entrosamento admiráveis - e suas vitórias estão associadas ao jogo de interesses de dirigentes esportivos.

Recentemente, foi lançado o livro O Lado Sujo do Futebol, de Amaury Ribeiro Jr., Luiz Carlos Azenha, Leandro Cipoloni e Tony Chastinet. É um trabalho investigativo que soaria indigesto e extremamente desagradável à maioria dos torcedores do futebol brasileiro.

Afinal, o livro não é apenas um mero documento iconoclasta contra a "magia do futebol", mas um trabalho jornalístico baseado em entrevistas e pesquisas, inclusive de documentos reproduzidos no próprio livro, que comprovam todo o esquema de corrupção nos bastidores do futebol, criado primeiro por João Havelange e seu ex-genro Ricardo Teixeira.

Havelange havia sido durante muitos anos presidente da FIFA (Federação Internacional de Football Association - sigla originária dos tempos em que não tínhamos ainda a grafia brasileira "futebol", que os portugueses reproduzem sem a letra "e") e Ricardo Teixeira foi durante anos o presidente da CBF, Confederação Brasileira de Futebol.

Segundo o livro, a ascensão da Seleção Brasileira do Futebol através da vitória nesses torneios internacionais - as copas do mundo - teria sido feita por arranjos políticos, atendendo a interesses de fabricantes de vestuário esportivo, primeiro a alemã Adidas, depois a estadunidense Nike, que "comandou" as conquistas do "tetra", do "penta" e busca conquistar o "hexa".

Da parte de Ricardo Teixeira, ocorrem situações escandalosas como a sucessiva criação e extinção de "empresas de papel" - empresas de fachada, praticamente fictícias, que só servem para favorecer enriquecimentos ilícitos e que nunca existiram na prática, não tendo sequer estrutura nem sede definida - e as articulações com o ex-executivo da Nike, Sandro Rosell, para obter privilégios.

Rosell foi executivo da filial espanhola da Nike, depois representando a empresa no Brasil. Natural de Barcelona, Rosell hoje é um dos "cartolas" do Barcelona Futebol Clube e sob sua influência dois jogadores brasileiros foram contratados, Adriano Correia (não confundir com o carioca "imperador") e Neymar dos Santos Jr., principal astro da Seleção Brasileira de Futebol.

FANATISMO

O aspecto comum que une os interesses da CBF e os da FEB é a promoção do fanatismo. No futebol, esse fanatismo, do qual a Rede Globo de Televisão é seu maior veículo de propaganda, é trabalhado de forma que a modalidade esportiva se torna a medida de todas as coisas, à qual se associam desejos e expectativas de supostas melhorias sociais para o país.

O fanatismo do futebol, dessa maneira, é expresso num desejo obsessivo de vitórias para a Seleção Brasileira de Futebol, sob o pretexto de ser a "única" ou "maior alegria do povo brasileiro". Tudo passa a depender, simbolicamente, do futebol, como se ele pudesse resolver os problemas de todos os brasileiros.

Pouco importa se o Brasil, vencedor no futebol, sofre derrotas diversas no âmbito social. O futebol, esse "mundo da fantasia", tem que ser vitorioso sob diversas desculpas, seja para "diminuir o sofrimento da população", seja para "gerar mais ânimo" e, "quem sabe, mais empregos e renda". Isso não tem a menor serventia na realidade, mas ideologicamente é visto como se tivesse, sim.

E, no Espiritolicismo, essa "vitória" se apoia no fanatismo da própria doutrina, de toda a pieguice alimentada por palavras dóceis como "amor, luz e caridade", e suas respectivas fantasias. Não por acaso, o logotipo da Copa de 2014 lembra Chico Xavier em trabalho mediúnico, a fantasia do futebol se apoia na fantasia espiritólica, nos seus mitos, fantasias, dogmas e ilusões.

E O "CORAÇÃO DO MUNDO"?

Se observarmos como é, na verdade, a "profética missão" do Brasil com o futebol "pentacampeão", a gente fica perguntando que "coração do mundo" é esse e que "missão" é essa de um país marcado pela corrupção em vários sentidos - e, neste caso, enfatiza-se o futebol - ser considerado "guia máximo" da evolução da humanidade no futuro?

Na Economia, já vemos que, dos chamados BRICS - grupo dos chamados países "emergentes", que inclui Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul ("S" de South Africa, em inglês) - , a China já passou a dianteira em relação ao nosso país, ainda socialmente problemático.

O Brasil é um país tão problemático que até mesmo a cultura brasileira começa a ser largamente empastelada pela articulação entre o poderio midiático, a classe empresarial e as elites intelectuais, que se esforçam em deixar à margem e ao segundo plano o nosso patrimônio cultural, enquanto criam-se arremedos de "comercialismo", aos moldes do que há nos EUA, sob o rótulo de "popular", que estabelecem supremacia quase absoluta no gosto popular.

E tudo isso tem a ver com o contexto em que são envolvidos tanto dirigentes esportivos quanto os chamados "líderes espíritas", que se aliam com todo o establishment que envolve mídia, mercado e entretenimento.

Cria-se um Brasil de mentira, um "país de plástico" da mediocridade sócio-cultural, da bregalização que transforma até mesmo nossas capitais em verdadeiras roças com arranha-céus, em províncias travestidas de metrópoles em que a "cultura de cabresto" é defendida até mesmo por monografias universitárias e documentários de cinema dentro de uma retórica pseudo-modernista.

Se essa "cultura" já contribui para a estagnação do povo brasileiro, através de uma visão glamourizada de miséria, ignorância ou mesmo imoralidade - desde que nossos intelectuais se dediquem a fortificar seus apartamentos, já que seu ufanismo "pós-tropicalista" aumenta a arrogância narcisista de assaltantes escondidos nas favelas - , que "reino de luz" se espera de um país como o nosso?

Nenhum, é o que somos forçados pela realidade a admitir. Principalmente porque há corrupção e interesses elitistas em tudo quanto é ramo nas atividades feitas no Brasil. Se as decisões do país se limitam a uma meia-dúzia de endinheirados e diplomados, em detrimento da realidade da humanidade no país e no mundo, não há como prever o Brasil como nação-guia de nosso planeta.

Um país que é posicionado abaixo de mais de oitenta países na avaliação do Índice de Desenvolvimento Humano - isso com base em critérios mais flexíveis - não pode se arrogar de tal missão.

Se as vitórias do futebol brasileiro em copas - com o disparate que a mesma Seleção Brasileira de Futebol não conseguiu até agora ganhar um ouro olímpico - são mais fruto de politicagem "cartoleira" do que de talento de uma equipe notável por sua mediocridade (não são raros os momentos em que os brasileiros reclamam das jogadas inseguras da "seleção"), imagine então a mediocridade restante!

Isso tudo só transforma o Brasil num país refém de seu atraso, confundido por seus ideólogos como "peculiaridade brasileira". Se culturalmente as elites se empenham em manter o povo pobre na sua pobreza ideológica, preservando até a prostituição para o recreio turístico das elites, o país não progride e, não havendo progresso, não há como ver o país como guia maior da humanidade futura.

O país, desse modo, com a corrupção e a mediocridade hegemônicas, não irá, no âmbito material, se tornar potência do Primeiro Mundo e, no âmbito espiritual, estará ainda muitíssimo longe de ser a nação-guia da humanidade dos próximos tempos. Com muitos problemas a resolver, o Brasil tem muito mais a aprender do que a ensinar. Muito, muito mais.

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