NO BRASIL, CÂNDIDO PORTINARI É UM DOS PINTORES MAIS ATINGIDOS PELA FALSIFICAÇÃO. JOSÉ MEDRADO É APENAS UM EXEMPLO MAIS TOSCO.
Pode ser uma simples coincidência. Mas o New York Times, numa época próxima a quando este blogue publicou textos sobre a falsificação de pinturas a pretexto da mediunidade, havia publicado uma reportagem sobre o silêncio que é marcado no mercado de artes plásticas quanto ao comércio de obras falsificadas.
Sim, porque se preocupa bastante o silêncio que existe em torno de obras falsificadas, atribuídas supostamente a espíritos de pintores famosos falecidos, tudo a pretexto da "caridade" e da "assistência aos necessitados", da mesma forma é gravíssima a pouca preocupação em combater a falsificação e o comércio dessas obras.
A reportagem do New York Times, de autoria de Patricia Cohen e intitulada "Selling a Fake Painting Takes More Than a Good Artist" - que a Folha de São Paulo traduziu sob o título "Silêncio no mercado contribui para falsificação de pinturas" - , foi publicada no dia 02 de maio último, quando já começávamos a questionar as pinturas ditas "mediúnicas" de José Medrado.
Segundo a reportagem, o escândalo do mercado de falsificação, incluindo a conivência de especialistas, se deu a partir da prisão de dois irmãos espanhóis envolvidos na comercialização de obras falsas como se fossem originais, que revelou um esquema que existe há cerca de 15 anos e desmoralizou a antes conceituada Knoedler & Company, a mais antiga galeria de artes de Nova York.
De acordo com documentos judiciais relacionados com o caso, esse ambicioso esquema de corrupção se desenvolve não apenas por uma operação conjunta ou imitadores talentosos, mas também pelo apoio de especialistas que deem credibilidade a essas falsificações.
Esses especialistas foram pagos pela galeria para legitimar tais obras. Mas a coisa não ficou por aí. Outros especialistas, que identificavam a falsidade dessas obras eram pressionados para não darem qualquer opinião, sob pena de serem processados.
O problema não é novo. Segundo o professor Stephen Urice, da Faculdade de Direito da Universidade de Miami, nos EUA, esquemas como este acontecem há muitas décadas, e citou um despacho judicial de um escândalo que derrubou a reputação de especialistas em obras de arte, em 1978.
No caso da Knoedler & Company, o escândalo envolveu os irmãos José Carlos e Jesus Angel Bergantiños Diaz, que depois de presos foram soltos sob fiança, a marchand de Long Island Glafira Rosales e o imitador Pen-Sien Qian. Somente Glafira (namorada de José Carlos) foi condenada, declarando-se culpada de fraude no fim de 2013.
Por sua vez, a ex-presidente da Knoedler, Ann Freedman e Julian Weissman, especialista em obras de arte, que estavam envolvidos na comercialização das obras, continuaram declarando que acreditavam na veracidade das mesmas.
Jack Flam, presidente da Fundação Dedalus, instituição fundada em 1981 por Robert Motherwell (1915-1991), um dos pintores cujas obras foram falsificadas sob o respaldo da Knoedler (outros foram Jackson Pollock e Mark Rothko), foi um dos que desconfiaram das fraudes nas obras comercializadas por Rosales e denunciou o esquema de silêncio entre os especialistas.
"Se você me pergunta quais são os maiores fatores por trás de algo que aconteceu durante muito tempo, digo em primeiro lugar que todos têm medo de serem processados. Pessoas dão credibilidade a esses trabalhos inadvertidamente mantendo o silêncio", disse Flam.
Coleções pessoais são montadas com várias dessas obras falsificadas e vários colecionadores nem têm ideia dessas falsificações, porque, além do próprio acervo, de obras verdadeiras ou falsas, galerias como a Knoedler intermediam a venda de obras de outras galerias.
BRASILEIROS
No caso do Brasil, o pintor mais atingido pelas falsificações de obras é Cândido Portinari, com 672 falsificações identificadas em 2010. Depois dele, Tarsila do Amaral, Alfredo Volpi e Eliseu Visconti estão entre os autores com obras falsificadas.
Mas, do contrário que no exterior, muitas dessas obras pecam pela falta de sutileza nas imitações, sendo reproduções de baixa qualidade, dotadas de falhas bastante grotescas. Há falta de perspectivas e de proporções nos desenhos copiados, e mesmo assim várias dessas obras são tidas como "verdadeiras", estando em circulação no mercado de obras de arte.
Portinari e Tarsila estão entre os pintores supostamente psicografados por José Medrado e outros médiuns ou ditos médiuns. Mesmo quando são obras inéditas, que não reproduzem obras originais publicadas em vida, a falsidade ideológica confrontada com aspectos estilísticos dos trabalhos originais já é uma fraude, se equiparando às imitações feitas por falsários.
Isso porque de uma certa forma ocorre a fraude, uma vez que é, em todo caso, um trabalho de terceiros que se passam pelos pintores originais falecidos, supostamente enviados para o trabalho espiritual. Se são trabalhos inéditos ou reprodução de obras originais - o São Francisco de Assis do "Portinari" de José Medrado é um exemplo, e por sinal tosco e malfeito - , a falsidade ocorre de qualquer maneira.
Os especialistas já começam a se preocupar com esse mercado movido pela impunidade. Sejam as falsificações feitas no contexto da vida terrena, sejam aquelas cometidas sob o verniz da "espiritualidade" e sob o pretexto da "caridade". De todo modo, são crimes e merecem a atenção de juristas e advogados, para que se elaborem leis que prevejam condenações justas a esses crimes.
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