A CAPA DO CD, QUE CONTÉM TRÊS FAIXAS QUE PODERIAM TER SIDO GRAVADAS POR UM IMITADOR, E NÃO POR MICHAEL.
Só recentemente foi lançado o verdadeiro álbum póstumo do ídolo pop Michael Jackson, falecido há cinco anos. Intitulado XScape, o disco é uma síntese dos vários álbuns que Michael havia gravado em sua carreira solo pela Epic Records (Sony Music), indo das influências disco ao hip hop.
Já o anterior, Michael, lançado em 2010, embora tenha também faixas inéditas gravadas pelo cantor, incluiu três que são consideradas suspeitas, de acordo com um processo movido por uma fã, que disse que elas não haviam sido gravadas pelo finado cantor.
A ação judicial é respaldada pela filha do cantor, Paris Jackson, que declarou em uma entrevista realizada em 2012 que as músicas "Breaking News", "Monster" e "Keep Your Head Up" teriam sido, na verdade, gravadas por um imitador, Jason Malachi.
Paris declarou, a respeito da situação, que se sente capaz de afirmar que a voz nas três canções não é a de seu pai, porque ele sempre cantava para ela as canções que ele criava, e nenhuma das três músicas lhe foi apresentada. Paris também estranhou a voz que foi registrada nas três canções.
Outros familiares de Jackson, incluindo o irmão Randy, colega do cantor na banda The Jacksons, além de gente que trabalhou com ele, como o rapper will.i.am, do grupo Black Eyed Peas, também disseram que a voz cantada nas três faixas não é de Michael. No entanto, advogados dos produtores relacionados às faixas juram que a voz gravada nas três músicas é do falecido cantor.
Malachi, que numa entrevista assumiu ter gravado a voz para as três canções, é surpreendentemente um habilidoso imitador de Michael. Ouvindo, por exemplo, uma canção como "Mamacita" - sucesso de 2007 disponível no YouTube - , Jason, norte-americano de ascendência italiana, tenta imitar o timbre e os maneirismos vocais do falecido astro pop.
A fã entrou em processo contra os produtores das três faixas, conforme noticiou o New Musical Express. Se a ação obtiver êxito, os fãs poderão processar a Sony Music e receber a indenização pelo dano causado com a possível fraude.
PARECE ESPIRITOLICISMO
Como comparar a possível fraude, acima descrita, com a que observamos no que acontece no "espiritismo" brasileiro, em que todos os principais "médiuns" - ou anti-médiuns, porque fogem da função intermediária que o termo "médium" indica e são as atrações principais do espetáculo "espírita" - foram envolvidos em fraudes tremendas?
Chico Xavier, Divaldo Franco e José Medrado, além de gente menos badalada como Nelson Moraes, investiram em graves delitos, uns envolvendo com plágios de obras literárias, outros com falsificação grotesca de pinturas e outros ainda evocando famosos falecidos expressos de forma caricatural e estereotipada.
Até determinado ponto, eles tentam enganar, sobretudo aqueles que não conhecem profundamente a personalidade e o estilo dos respectivos falecidos. Isso porque o que eles investem é o que a teoria da linguagem mais básica define como "imitação".
Na imitação, alguém imita outra pessoa, seja no comportamento ou em alguma atividade marcada por esta, copiando o maior número possível de caraterísticas. Mas, como em toda imitação, tudo tem limites e mesmo a imitação mais perfeita não consegue substituir totalmente a fonte de imitação, que é única, é de cada pessoa.
Muitas vezes as diferenças entre imitação e fonte não parecem perceptíveis à primeira vista, e no próprio "espiritismo" brasileiro seus astros primeiro deixam o público se envolver numa aura de emotividade e compaixão para que assim possam enganar sem poderem ser denunciados.
No entanto, quem conhece a fundo a obra de alguém sabe bem dessas diferenças, não raro sutis, mas que, uma vez descobertas, derrubam de vez a suposta manifestação espiritual atribuída ao falecido, coisa que nem "palavras de amor" ou "ações de caridade" conseguem resolver ou justificar.
Seja na poesia do suposto Olavo Bilac de Parnaso de Além-Túmulo, desprovido da métrica poética utilizada pelo intelectual parnasiano, seja o suposto Raul Seixas travestido de Zílio e provido de um misticismo que o cantor baiano havia abandonado no final da vida, também não é difícil notar que muitas manifestações supostamente espirituais não são mais do que uma farsa.
Em outras, nem sutileza acontece, como nas pinturas do suposto Cândido Portinari feitas por José Medrado, que causam constrangimento se comparadas com a obra que o saudoso pintor deixou em vida, já que até como imitação soam grosseiras, malfeitas e não conseguem, mesmo de leve, imitar sequer o estilo do autor original.
Portanto, o "espiritismo" brasileiro se serve de gente tão esperta quanto Jason Malachi. Eu mesmo ouvi as três faixas e também notei a estranheza, já que elas estão mais próximas do imitador do que do próprio Michael. Da mesma forma, as distorções das mensagens supostamente espirituais também indicam que dificilmente os próprios espíritos tenham sido seus autores.
Ninguém, na plenitude do mundo espiritual, da recuperação da memória das vidas passadas e do fim das limitações mentais da estrutura do corpo físico, iria regredir de tal forma a trair seu estilo e sua personalidade para divulgar uma mensagem para nós aqui na Terra. Isso seria impossível, porque foge completamente à lógica.
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