quarta-feira, 11 de junho de 2014

Espíritismo e direita brasileira

CARLOS VEREZA INTERPRETANDO O DR. BEZERRA DE MENEZES...

Os críticos das distorções causadas pelo "espiritismo" brasileiro devem prestar muita atenção nos valores ideológicos que professam fora do tema. Vários críticos das deturpações promovidas pela FEB professam sua (boa) fé na doutrina capitalista, sendo hostis ao mais moderado progressismo de esquerda.

Há quem cometa a contradição de reclamar, dos "espíritas" brasileiros, a maior fidelidade possível às ideias de Allan Kardec, mas se rende ao materialismo mais rasteiro do capitalismo neoliberal, num extremo ao stalinismo que realmente foi lamentável no âmbito das esquerdas, mas virou pretexto para condenar qualquer projeto que se volte para a justiça social autêntica.

Virou moda ser de direita, até pela oposição a mais de dez anos de governo petista. Até certo ponto, é salutar criticar e se opor ao PT, é opção garantida pela democracia. Mas a onda da oposição ao chamado "lulo-petismo" chega aos níveis de uma direita conservadora, cega e histérica, indiferente aos verdadeiros problemas que cercam a nossa sociedade.

São vistos até mesmo capitalistas fanáticos, intransigentes, que no âmbito da análise espírita defendem visões de justiça social que lhes causam alergia quando o aspecto vai ao lado político. Reclamam das desigualdades sociais que o Espiritolicismo não consegue combater, mas se incomodam quando se fala, por exemplo, em reforma agrária para melhor distribuir terras para os necessitados.

É uma contradição muito séria e que causa sérios equívocos no bem-intencionado manifestante, porque uma observação muito apurada constata que o Espiritolicismo apoiou a ditadura militar, defendida até por Chico Xavier, e já havia enviado representantes para as Marchas da Família realizadas em 1964.

...E COM PERFIL NO PORTAL DO REACIONÁRIO INSTITUTO MILLENIUM.

O que a direita burra e estúpida, capaz de atribuir ao judeu Karl Marx a "paternidade" de um movimento político alemão e antissemita, de triste memória, ignora é que um dos principais militantes do Espiritolicismo, o ator Carlos Vereza, que encarnou (no sentido da dramaturgia) o médico Adolfo Bezerra de Menezes, é membro atuante do Instituto Millenium.

Para quem não sabe, o Instituto Millenium foi criado em 2005 nos mesmos moldes dos antigos IBAD (Instituto Brasileiro de Ação Democrática) e IPES (Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais), surgidos na virada dos anos 50 e 60. São institutos de fachada, financiados pelo capital estrangeiro, que pregam uma ideologia conservadora que defende os privilégios das chamadas "classes dirigentes".

A própria FEB esteve ao lado do IPES na campanha contra João Goulart. A própria presença da FEB nas Marchas da Família dá o tom do conservadorismo espiritólico, que prefere se limitar a "pedir paz", uma paz nunca devidamente esclarecida, do que defender os movimentos sociais que possam, mesmo com algum conflito, combater as injustiças sociais.

Em contrapartida, sabe-se que Allan Kardec tinha uma visão bastante progressista da justiça social, defendendo causas como a Educação gratuita de qualidade e a luta pela emancipação das mulheres. Altruísta, ele estava sintonizado com os debates filosóficos de seu tempo.

Portanto, é estranho que boa parte das pessoas no Brasil defenda uma espiritualidade autêntica, enquanto se contenta em admirar ideologias que só servem para atender a interesses materiais de uma minoria de pessoas. Assim, a visão de caridade e justiça humana fica só pela metade.

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