domingo, 25 de junho de 2017

"Caridade espírita" quase nada ajudou o Brasil


Principal argumento para blindar a deturpação da Doutrina Espírita e proteger a reputação dos "médiuns" que vivem do culto à personalidade, a "caridade espírita" não faz jus a sua fama de "transformadora" e "revolucionária" que seus adeptos tanto alardeiam por aí.

A "caridade" praticada pelo "espiritismo" brasileiro se limita a tarefas pontuais, dentro das definições do Assistencialismo. Até aí, nada demais, diante de "casas espíritas" que fazem projetos assistenciais e acolhem um grupo de pessoas pobres. O problema é o fato de que a medida é usada para proteger os deturpadores e tentar abafar qualquer questionamento, além de servir para a propaganda e promoção pessoal de seus ídolos religiosos, sobretudo "médiuns".

Para começar, nem tudo que é considerado oficialmente "caridade" no "espiritismo" brasileiro deve ser considerada como tal. As "cartas dos mortos" de Francisco Cândido Xavier, por exemplo, foram um processo pernicioso e perigoso que mistura fraudes com obsessão, além de alimentar o sensacionalismo através da divulgação da grande mídia.

Em primeiro lugar, isto é um ato de obsessão, na qual se evoca o nome do falecido sem muita necessidade, dentro de um clima de emotividade ao mesmo tempo piegas e mórbida, e ignorando se o espírito do falecido realmente está ou não disponível para trazer tal mensagem. Em certos casos, mas poucos, talvez estivesse disponível, não fosse o fato do "médium" Chico Xavier produzir mensagens fake, da mente do próprio mineiro.

A fraude foi diagnosticada por diversas fontes, e se torna, para desespero dos chiquistas, verídica. Há o estranho aspecto de muitas mensagens começarem com "Querida mamãe" e apresentarem propagandismo religioso explícito. Além do mais, muitas das mensagens apresentam claramente problemas de caráter pessoal do respectivo autor, como assinaturas diferentes das originais e aspectos de personalidade que contradizem com o que a respectiva pessoa foi em vida.

É a mesma queixa que se dá em relação aos autores famosos, quando Humberto de Campos, Olavo Bilac, Auta de Souza, Casimiro de Abreu, Augusto dos Anjos e outros "aparecem" nos livros de Chico Xavier com graves falhas quanto aos respectivos estilos e personalidades, praticamente refletindo, invariavelmente, a mesma linguagem e o mesmo pensamento pessoal do "médium", trazendo fortes indícios de terem sido obras fake.

As "mensagens dos mortos" não podem ser consideradas "caridade" porque acabam prolongando as tragédias humanas. Em vez das pessoas poderem encarar as tragédias de seus entes queridos no sossego da privacidade e num luto que poderia ser mais curto, a situação se prolonga e se complica com a exploração pitoresca e sensacionalista dessas supostas mensagens e pelo fato delas apresentarem indícios de fraudes, alimentados pela "leitura fria".

Para quem não sabe, a "leitura fria" é um método psicológico no qual o entrevistador colhe informações do entrevistado por meio de uma conversa em tom intimista. Com isso, o entrevistador não colhe apenas as informações que são ditadas pelo entrevistado, mas colhe também outras, mais sutis ou subliminares, que são trazidas pelo modo com que as pessoas falam ou reagem a respeito de alguma ideia.

Além disso, há várias denúncias de que as supostas mensagens espirituais seriam compostas de diversas informações colhidas não só da "leitura fria" ou das fontes diversas (imprensa, diários pessoais, conversas informais durante eventos "espíritas"), mas até mesmo dos formulários preenchidos pelos pacientes quando recorrem ao "auxílio fraterno".

Foi aí que veio uma pegadinha, num "centro espírita" em Campo Grande, Rio de Janeiro, em que a atriz Márcia Brito - que foi a Flora Própolis da Escolinha do Professor Raimundo - afirmou ter se impressionado quando a suposta mensagem atribuída ao falecido filho Ryan Brito citou o celular e RG da mãe. Ela se esqueceu que forneceu essas informações quando preencheu o formulário que sempre se faz num "auxílio fraterno".

Há muitas estranhezas nisso, não bastasse o fato do Brasil ter mais "médiuns" do que naturalmente se poderia ter. E também pelo fato dos "médiuns" não terem o caráter intermediário, mas serem sempre as atrações principais, com direito ao culto à personalidade, apesar de toda a roupagem de pretensa humildade. Além disso, os "médiuns", no Brasil, viram dublês de pensadores e de filantropos, garantindo assim seu estrelato.

E isso se reflete também na forma como os "espíritas" veem a "caridade", mais preocupados com o prestígio religioso do "benfeitor espírita", quase sempre um "médium", do que com os resultados alcançados, que, através de minuciosas pesquisas, se revelam bastante medíocres.

As próprias ações apresentam caraterísticas de Assistencialismo e não de Assistência Social. Só para entender a diferença dos dois, Assistência Social é uma caridade que transforma e o Assistencialismo é apenas uma caridade paliativa, que minimiza efeitos drásticos. Numa comparação mais metafórica, a Assistência Social elimina a doença da pobreza, o Assistencialismo apenas alivia suas dores e seus sintomas, sem no entanto trazer a cura.

O que vemos é o aspecto constrangedor de todo o estardalhaço que se faz com a "caridade espírita" diante de tão pouca coisa. As "caravanas" de Chico Xavier foram um espetáculo bastante ostensivo, exibicionista, mas cujo objetivo é muito frouxo: doar roupas e cestas básicas e oferecer sopas, um ato meramente paliativo, só considerado urgente em situações de calamidade pública.

Há muita diferença entre calamidade pública e pobreza extrema, porque na calamidade pública - recentemente houve um trágico incêndio num edifício residencial em Londres, mas a História registra o drama da Segunda Guerra Mundial - as perdas são inevitáveis em situações drásticas, de graves conflitos e catástrofes naturais.

Na pobreza extrema, o que ocorre são distorções sociais consequentes do descaso político, mas próprias de situações de aparente paz social e que podem ser resolvidas não pela caridade paliativa, mas por políticas profundas de emprego, educação e assistência social que instituições não-religiosas, envolvendo sindicatos e entidades de trabalhadores rurais, estão mais preparadas para fazer.

O grande problema dessa "caridade espírita" é que os mantimentos que a população recebe se esgotam em três semanas, se levarmos em conta que muitos pobres compõem famílias numerosas. Enquanto os "espíritas" saem comemorando por meses uma "caridade" feita num fim de semana ou numa efeméride, seus "beneficiados" voltaram à mesma situação carente de antes.

Há também outro problema, que se refere ao estrelato dos "médiuns". Enquanto a Mansão do Caminho não consegue ajudar, ao longo de seus 65 anos de existência, sequer 1% da população de Salvador (em índices nacionais, a coisa seria pior), Divaldo Franco faz turismo para fazer palestras para ricos e poderosos no Primeiro Mundo, promovendo a deturpação e espalhando as traições doutrinárias que o baiano fez ao legado kardeciano.

A realidade em que vive o Brasil não conseguiu superar a pobreza extrema e os moradores de rua só crescem, diante desse quadro político neoconservador que promove a exclusão social através das reformas trabalhista e previdenciária do governo Michel Temer.

Por sua pretensão de grandeza e pelo alto prestígio dos "médiuns", que se autoproclamam "os maiores ativistas sociais" do Brasil, se a "caridade espírita" tivesse realmente funcionado, o Brasil teria atingido níveis impressionantes de desenvolvimento social.

Não adianta os "espíritas" dizerem que a "tarefa é complexa", ou que "houve obstáculos no caminho", "os espíritos inferiores não deixaram" ou coisa parecida, porque a pretensão de grandeza faz com que muitos palestrantes "espíritas" digam, num dia, que "estão vencendo os obstáculos", mas, no dia seguinte, desmentem dizendo que "não foi possível realizar a tarefa".

O que concluímos é que a "caridade espírita", seja de forma quantitativa e qualitativa, só trouxe resultados medíocres. Houve ajuda, mas ela está bem abaixo das expectativas e ela não traz mérito algum à doutrina deturpadora, porque não se pode usar a "caridade" como escudo para trair Allan Kardec, porque usar o "pão dos pobres" como justificativa para a deturpação é rebaixar a "bondade" como um ato permissivo a qualquer leviandade. Isso não é "bondade" verdadeira.

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