RAUL SEIXAS CANTANDO "CARIMBADOR MALUCO" NO ESPECIAL 'PLUNCT, PLACT ZUM' DA REDE GLOBO.
Observando o teor das supostas mensagens de Raul Seixas, que, segundo o "médium" e radialista Nelson Moraes, teria adotado, no mundo espiritual, o pseudônimo Zílio, concluímos que a atribuição não é verdadeira, ao verificarmos análises de conteúdo e pesquisarmos os contextos relacionados com seus últimos anos de vida e a natureza da personalidade do roqueiro baiano.
O que se vê, em tais mensagens, narradas num tom infantilizado e com um apelo igrejeiro que nunca seria próprio de Raul, é um apelo moralista que contraria severamente o pensamento pessoal consagrado pelo músico, que, se vivo estivesse, iria divergir até dos "ventos direitistas" que atingem uma parcela do Rock Brasil, principalmente da parte dos músicos Lobão e Roger Rocha Moreira (Ultraje a Rigor, banda de apoio do programa The Noite, do reacionário comediante Danilo Gentili).
Reproduzimos a imagem abaixo, que com certeza destoa do recente ceticismo cáustico que Raul Seixas teve no final de sua vida. Em suas últimas entrevistas, Raul Seixas combinava lucidez e senso crítico, desconfiado dos rumos do Brasil que se preparava para eleger Fernando Collor de Mello. Raul questionava a hipocrisia da vida política, da mídia e do show business, fato comprovado em registros lançados pela imprensa entre 1987 e 1989.
O "Raul Seixas" construído pela mente de Nelson Moraes se revela moralista, conservador e expressa uma linguagem mais ingênua e até tola em relação ao que Raul realmente foi. E o trecho final da mensagem - que até o portal de rock Whiplash publicou - , que fala no "inimigo de si mesmo", derruba de vez qualquer tese, por mais condescendente e relativizadora que fosse, de que o suposto espírito Zílio era realmente Raul Seixas.
Raul nunca falaria coisas como "inimigo de si mesmo", um conceito oriundo da Teologia do Sofrimento, corrente medieval da Igreja Católica que foi assimilada pelo "espiritismo" brasileiro. Isso em si já é uma ofensa ao legado de Raul, pensar numa leviandade medieval dessas, que em nada ajuda no desenvolvimento da autoestima humana.
A mensagem abaixo causa desconfiança pela construção de trocadilhos fáceis, pela citação aleatória e fora de contexto dos sucessos de Raul e pelo apelo igrejeiro que o faz mais próximo de um católico (seria relação com a paródia brega de Raul, o cantor Sílvio Brito, mais tarde militante católico?) do que de um roqueiro rebelde que chegou a romper com a idolatria a Elvis Presley ao saber que ele se inscreveu no serviço militar dos EUA.
A impressão que se tem é que Nelson Moraes "construiu" um Raul Seixas fictício, a partir das impressões que o "médium" teve ao ver as coberturas da morte do músico baiano em programas como Fantástico, da Rede Globo de Televisão, da divulgação banalizada de seus sucessos e da abordagem um tanto preconceituosa dada por revistas como Contigo e Amiga. Portanto, Zílio se mostra muito falso como uma suposta representação espiritual de Raul Seixas.
Leiam a mensagem com atenção e com muito cuidado para não sucumbir às tentações das paixões religiosas, que entorpecem os instintos emotivos e bloqueiam o raciocínio. A mensagem deixa claro que foge completamente da natureza pessoal de Raul Seixas, parecendo mais um pastiche igrejeiro e moralista sem qualquer relação sequer com a superada aventura mística que o roqueiro baiano teve em vida.
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Mensagem atribuída ao espírito Zílio
Por Nelson Moraes
“Frente à realidade que me surpreendeu, a metamorfose agora é outra! A Sociedade Alternativa não acontece no embalo dos sonhos mal sonhados, nasce na individualidade daqueles que vivem na real.
Vivi como um cometa que passa e causa espanto, não consegui ajustar-me na órbita que poderia sustentar-me na trajetória rumo a felicidade que sonhei para mim e para os outros. Porém, ainda não apaguei, vou continuar entre a luz e a sombra, procurando minha própria luz em constante metamorfose.
Voltei sem alarde, faço da mente do médium o meu telégrafo para revelar ao mundo das ilusões a verdadeira Sociedade Alternativa, que nos aguarda no universo infinito e que deve ser construída no universo íntimo de cada um, aí e agora.
Depois de atravessar os vales escuros da dor e do sofrimento, minha visão ampliou-se e pude compreender que aqueles que buscam afogar suas ansiedades e frustrações nas drogas químicas e alcoólicas são como epiléticos criados artificialmente, os quais sofrem e fazem sofrer. Por isso, vejo-me na obrigação consciencial de informar aos companheiros que estão a caminho que o sofrimento não pára aí, ele se estende pelos vales espirituais, onde a epilepsia se torna real, processando a duras penas os elementos venenosos inseridos no corpo perispiritual.
Muitas vezes, embalados pelo sonho e pelo lirismo dos poetas e pelo modismo estimulado pela sociedade de consumo, deixamos de enxergar a realidade à nossa volta e buscamos distrair a nossa consciência das responsabilidades inerentes à verdadeira finalidade da vida. Conseqüentemente, alteramos o valor das coisas e os conceitos sobre juventude, lar, família e objetivos, deixando cair vertiginosamente o nosso amor próprio e o amor por aqueles que nos são caros.
Nesse conceito equivocado, tudo se torna lícito, até mesmo o que não convém. Os que viveram esse tipo de liberdade na Terra, como eu, hoje superlotam os vales das sombras à semelhança de larvas, arrastando-se entre o limo e as escarpas dos abismos espirituais, situação que, em alguns casos, pode se prolongar por longos séculos.
Antes de questionar a vida, questione a si mesmo, analise seus conceitos, seus sentimentos, sua gratidão por aqueles que o ajudaram a renascer na Terra e, com certeza, você encontrará uma grande razão para viver e lutar contra o único inimigo que pode derrotá-lo: você mesmo!”
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