sábado, 17 de junho de 2017
Confusão no "espiritismo" não é diversidade
De alguma forma, o governo Michel Temer serviu para trazer as pessoas a gravidade de muitas confusões e erros que eram consentidos por serem associados a elites antes associadas à qualidades positivas referentes à administração, moderação política, austeridade e transparência.
Neste caso, o atual cenário político, manchado por uma série de gravíssimos escândalos que deixam o Brasil numa posição vulnerável, é revelada a podridão que o topo da pirâmide social tanto escondeu e que era fruto de um método ilícito de ascensão social, que ia do clientelismo ás propinas.
Isso ensina às pessoas o fato de que os erros não se medem pela posição social de quem pratica. Graves erros não recebem como atenuantes o prestígio social de seu praticante e as pessoas comuns também não podem ficar indiferentes a eles, porque em muitos casos os erros podem afetar a vida das pessoas.
No "espiritismo", há um monte de aspectos bastante sombrios e extremamente negativos. O pecado original do "movimento espírita" foi a preferência dada ao igrejismo de Jean-Baptiste Roustaing, que criou uma série de problemas, confusões, dissimulações. Ele criou as bases catolicizadas das quais o "espiritismo" brasileiro finge ter superado, mas que pratica até com maior intensidade do que antes.
Os arrivismos e jogos de interesses aqui e ali passaram a ser ainda mais perniciosos e levianos do que antes, há cem anos. Pelo menos a catolicização do Espiritismo no Brasil tinha como justificativa atrair o apoio da Igreja Católica para proteger a outra doutrina da repressão policial que sofreu naqueles tempos.
Hoje, porém, nada justifica o "outro Catolicismo" a que se rebaixou o legado de Kardec no Brasil. E o mais grave é que uma parcela de igrejeiros, incluindo influentes palestrantes e, em parte, "médiuns espíritas", se diz "rigorosamente fiel" a Allan Kardec, mesmo traindo com seus postulados.
Tem gente que fala mal da "vaticanização da Doutrina Espírita" mas elogia todo tipo de igrejeiro. Elogia até a Legião da Boa Vontade, uma espécie de neo-catolicismo enrustido e "eclético". Elogia até Roustaing, mas depois pede para que "se valorizem" os espíritas autênticos como José Herculano Pires e Deolindo Amorim.
É tanta confusão no "movimento espírita" que mesmo os adeptos de Francisco Cândido Xavier não se entendem completamente. Uns acreditam que Chico Xavier fez a "profecia da Data-Limite", outros dizem que isso é absurdo, uns dizem que Chico foi reencarnação de Kardec, outros acham isso improcedente etc.
Divaldo Franco havia feito um falsete, tido como psicofonia, atribuído ao marechal Deodoro da Fonseca, primeiro presidente da República no Brasil. Mas Chico Xavier havia dito que Deodoro havia se reencarnado na pessoa do hoje senador Fernando Collor de Mello.
Chico Xavier era defensor explícito da Teologia do Sofrimento, embora não assumisse essa denominação. Divaldo era mais sutil na defesa dessa corrente medieval. Já o conterrâneo e amigo de Divaldo, José Medrado, se aproxima mais da Teologia da Prosperidade dos neopentecostais, até porque a Cidade da Luz é vizinha a uma filial da Igreja Universal do Reino de Deus, em Pituaçu, em Salvador.
Confusão não é diversidade e contradição não é equilíbrio. Os bastidores do "espiritismo" brasileiro ocorrem de forma que poderia chocar os seguidores que forem informados de tais deslizes. Mas a postura do "deixa pra lá", movida pelo prestígio social dos "espíritas" - o prestígio religioso, que, apesar do verniz de "humildade", os coloca no "alto da pirâmide", como braço religioso da plutocracia - , sempre consente com esse engodo doutrinário.
Essa confusão até poderia fazer sentido se não fosse a pretensão dos deturpadores da Doutrina Espírita em geral de defender "não vários espiritismos, mas um único Espiritismo, o de Allan Kardec". Essa pretensão invalida qualquer consentimento com os erros cometidos pelos "espíritas", porque no discurso se pede "respeitar" o Espiritismo original, mas na prática comete-se traições de arrancar os cabelos.
Ter coerência não é questão de estufar o peito, falar grosso e firme e escrever com aparato de erudição em belas palavras. Quantas terríveis incoerências, omissões, fraudes, dissimulações foram feitas pelos "espíritas", da literatura fake das pretensas psicografias de Chico Xavier - que mostraram um suposto Olavo Bilac que perdeu seu talento poético - , de fantasias materialistas (colônias espirituais) feitas para justificar o sofrimento na Terra, e tantas coisas aberrantes?
Esse é o problema que faz o "espiritismo" brasileiro entrar numa aguda crise e que pode fazer os "espíritas" terem que assumir que romperam com Allan Kardec. Eles poderiam se assumir neo-católicos, roustanguistas, se associar à Legião da Boa Vontade, só não podem mais dizer que "defendem totalmente Kardec" porque isso já causou muito vexame e pode piorar as coisas.
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