segunda-feira, 5 de dezembro de 2016
O preocupante complexo de superioridade de alguns "iniciados"
A passeata de ontem, sob o propósito surreal de pedir para que se permita que juízes, promotores e procuradores atuem "acima da lei", protestando contra um artigo do pacote anticorrupção que prevê punições a abusos por eles cometidos, mostra o quanto as pessoas se apegam ao status quo de maneira desesperada.
O Brasil vive um desequilíbrio ético no qual determinadas pessoas são dotadas de privilégios aparentemente inabaláveis. O dinheiro, a fama, o prestígio religioso, o poder econômico e empresarial, tudo isso faz com que um seleto grupo de pessoas, não necessariamente portador de virtudes admiráveis e íntegras, seja dotado da mais absoluta imunidade social.
Ver que pessoas estão se mobilizando contra um esforço do Legislativo que, com todas as suas imperfeições e um pacote anticorrupção longe de ser satisfatório para a população, pelo menos tentou determinar limites para o Judiciário e o Ministério Público. Nada mais democrático do que determinar freios legais para todos os segmentos da sociedade. É questão de buscar um mínimo de equilíbrio social possível.
Só que, em vez de haver um apoio a essa iniciativa, houve uma revolta e uma indignação que resultou num manifesto de panelaços, com moradores batendo panelas no horário nobre noturno. A desculpa ao repúdio à lei que limita e pune abusos de magistrados foi que ela prejudicaria processos como o da Operação Lava Jato.
O Brasil é um país ainda muitíssimo atrasado. Juízes podem estar acima das leis. Ídolos religiosos não podem ser desmascarados. Assassinos de elite "nunca morrem" (pois, se morrem, a imprensa não dá uma nota). A Rede Globo não pode falir. E há uma falsa impressão de invulnerabilidade em tudo isso.
Se não observarmos os equívocos que ocorrem nesses setores da sociedade, imaginaremos que os indivíduos que detém poder e privilégios são os mais "iluminados" do planeta. Ver que juízes, procuradores, promotores e similares podem agir sob o arrepio das leis, já que seu complexo de superioridade os permite cometer arbítrios indevidos sob o pretexto da excepcionalidade.
É um país surreal que faz com que um assassino rico e impune, se for diagnosticado com câncer por um médico, prefira processá-lo por danos morais em vez de iniciar qualquer quimioterapia. O homicida rico, consciente, em tese, dos riscos desse ato, pouco está ligando se sua vítima será morta antes dos 30 ou 40 anos de idade. Mas o mesmo homicida se inquieta quando alguma circunstância o faz ter risco de morte antes dos 60 anos, mesmo descuidando da saúde ou da direção de um veículo.
Isso faz com que a sociedade tenha uma ética seletiva, para a qual quem está dotado de algum privilégio social, como a riqueza e o prestigio político, jurídico ou religioso, sempre está com alguma vantagem. Nem que seja para juízes usarem o "combate à corrupção" para rasgar as leis, agindo com prepotência.
O "ESPIRITISMO" E SUA BLINDAGEM INTOCÁVEL
Quantos erros gravíssimos se observa nas práticas do "movimento espírita", sobretudo de parte de seus maiores ídolos, os anti-médiuns Francisco Cândido Xavier e Divaldo Pereira Franco, os maiores e mais traiçoeiros deturpadores do legado kardeciano. De longe, os dois são inimigos internos da Doutrina Espírita, pelo conjunto da obra.
Juntos, Chico Xavier e Divaldo Franco fizeram uma escola tenebrosa de suposto Espiritismo. Como supostos médiuns, desenvolveram o culto à personalidade que não deveria ser para um médium de verdade. Mas se as pessoas se deslumbram com o culto à personalidade de um Sérgio Moro, em âmbito nacional, ou, na Bahia, de um Mário Kertèsz no rádio, então a presunção e a arrogância podem compensar, dependendo de algum privilégio.
Chico Xavier foi um dos primeiros a fazer erros aberrantes que desmoralizaram a Doutrina Espírita. O mais preocupante é que ele cometeu erros graves e seus seguidores querem que ele seja inocentado por isso. Enquanto isso, a suposta bondade dele foi vaga, fraca e ilimitada, uma "caridade" que mais parece jogada de marketing, por causar mais deslumbramento do que benefícios, e comprovadamente nenhum progresso concreto, definitivo e exato se viu nessa "admirável filantropia".
Em muitos casos, certas "bondades" até geraram atos perversos. A exposição ostensiva das tragédias familiares, prolongando a dor e sendo exploradas de forma sensacionalista pela mídia, como se fosse insuficiente a fraude nas psicografias que não condizem a nuances pessoais dos supostos autores mortos, enganando as pessoas que acham que foram os mortos que mandaram mensagem.
Essa fraude se compara a de um sequestrador que se passa pelo refém e passa um trote telefônico. Alguém imaginaria que esse sequestrador, se caprichasse em palavras de amor e afeto e num tom melífluo e fraternal, seria denunciado por isso?
O aberrante desfecho do caso Humberto de Campos é um verdadeiro espetáculo de encontro de duas gigantescas ilusões: a do prestígio jurídico e do prestígio religioso. No primeiro caso, juristas dotados de suposta superioridade com as leis não entenderam a natureza do processo e permitiram encerrá-lo com um empate em favor da FEB e de Chico Xavier.
A suposta obra espiritual de Humberto de Campos demonstra claramente uma grande farsa. É só comparar os livros que Humberto escreveu em vida e as supostas psicografias para ver que existem diferenças e irregularidades aberrantes, que fazem soar uma irresponsabilidade complacente qualquer aceitação da "obra mediúnica", sob a desculpa das "mensagens de amor" e "lições de vida".
Isso porque a desonestidade, não apenas doutrinária, mas desonestidade de enganar as pessoas, mesmo, foi feita por Chico Xavier e o caso Humberto de Campos é dos mais deploráveis. E as pessoas deixaram passar quando o processo resultou em empate, com juízes e "espíritas" tomados de suas paixões particulares e terrenas, que os fazem adotar as posturas que acabaram adotando.
Quantas ilusões! Quantas presunções e quantas fantasias! O prestígio religioso é o mais traiçoeiro, é a armadilha que pega seus maiores privilegiados, que, preocupados com a posse da verdade, com palavras belas, alegres e bem articuladas, criticam a "razão" dos outros enquanto se acham com toda a razão de suas teses confusas e contraditórias, mas protegidas por palavras soltas como "amor" e "caridade".
Quantas superioridades de alguns deixam a humanidade inferiorizada e prisioneira do atraso e dos sofrimentos excessivos e desnecessários. Quantos remédios são sonegados para as doenças arrivistas dos privilegiados e quanta overdose de remediação amarga é imposta àqueles que já conhecem o sofrimento mas terão que acumular desgraças, ferindo a alma e criando o ódio em vez da resignação e do aprendizado!
O maior desafio no Brasil é se desapegar de tamanhas reputações. Ver que juízes não estão acima das leis, banqueiros e empresários não têm privilégios inabaláveis, assassinos não estão acima da vida, religiosos não estão acima da ética e da razão, é algo bastante doloroso para muitos, mas é uma constatação que deve ser encarada com coragem e bom senso.
As pessoas têm que abandonar as paixões que colocam os privilegiados nem tão bons e íntegros como se imagina em seus pedestais, às custas do prejuízo alheio ou, na mais amena das hipóteses, através de sérias restrições ou do engano e da ilusão traiçoeira da exploração de esperanças vãs que nunca se concretizam. É preciso que uns poucos caiam de seus olimpos pessoais, para que um número maior de pessoas não seja gravemente lesado de uma forma ou de outra.
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