segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Juntos, PEC do Teto e 'ranking' da ignorância sepultam de vez mito do "Brasil Coração do Mundo"

BRASILEIROS PREFEREM PERDER AS RIQUEZAS NACIONAIS PARA O CAPITAL ESTRANGEIRO A SEREM GOVERNADOS POR POLÍTICOS PROGRESSISTAS.

Se o mito do Brasil como "coração do mundo" foi uma grande bobagem trazida por Francisco Cândido Xavier, e havia razões de sobra para contestá-lo de vez, os fatos recentes ocorridos no Brasil nos últimos meses simplesmente sepultam, em definitivo, essa fantasia delirante e perigosa (colocar um país como "centro do mundo" já rendeu cenários políticos de trágica lembrança).

O Brasil foi listado, em levantamento recente do Instituto Ipsos Mori, em sexto maior país ignorante do planeta, numa lista de 40 pesquisados. Nosso país só perde para os EUA  (5°), África do Sul (4°), Taiwan (3°), China (2°) e Índia (1°). Dos 10 países mais ignorantes do planeta, quatro são do bloco econômico BRICS (Brasil, Índia, China, África do Sul). A Rússia, que completa o bloco, ficou em 14º lugar da lista geral.

O critério de pesquisa adotado foi a relação entre percepção (ter noção das coisas) e a realidade. Nos países pesquisados, o nível de ignorância é maior quando se supõe uma percentagem de pessoas, em determinada condição social ou ponto de vista sobre alguma coisa, apresenta um índice diferente em relação ao número real.

No extremo oposto, o país menos ignorante é a Holanda (40°), seguida da Grã-Bretanha (39°), Coreia do Sul (38º), República Tcheca (37°) e Malásia (36°). É curioso que EUA e Grã-Bretanha, que possuem um mercado comum de cultura pop, estejam em níveis diferentes de ignorância no mundo. Na América do Sul, a Colômbia é o país menos ignorante do mundo (30º), seguido do Chile (25º), Peru (23º) e Argentina (20º). Entre os sul-americanos, portanto, o Brasil é o país mais ignorante.

Um dos critérios analisados é o poder que monopólios ou oligopólios de mídia podem influir nas pessoas. O Brasil foi "beneficiado" por esse quadro, com o poder descomunal da Rede Globo e seus proprietários que acumulam fortunas, sonegam impostos e ainda recebem subsídios estatais.

Um dos exemplos dessa disparidade entre percepção e realidade é a proporção de distribuição de riqueza no Brasil: para os entrevistados, os 70% menos ricos detém 24% da riqueza. A realidade mostra um índice bem menor, 9%, que pode cair ainda mais.

Afinal, o projeto econômico do governo de Michel Temer, ancorado na PEC do Teto, agora uma lei que limita os investimentos em setores públicos, mas que também inclui as reformas trabalhista, previdênciária e educacional, favorecerá os mais ricos - sobretudo o setor financeiro, como os grandes banqueiros, que continuarão recebendo altas taxas de juros da dívida pública - , e irá empobrecer ainda mais a classe média baixa e o povo pobre.

A ignorância dos brasileiros se observa em diversos aspectos. Nas redes sociais, é dominante a tendência de usar justificativas pretensamente lógicas para ideias absurdas ou reacionárias, ou então partir para ataques ofensivos, ainda que por meio de gracejos. A ideia de pessoas que creem em valores "estabelecidos", mas nem sempre benéficos à sociedade, em bancarem as "donas da verdade", atinge níveis preocupantes.

PÓS-VERDADE

A própria onda reacionária revela essa ignorância da maioria dos brasileiros é movida pelo estarrecedor fenômeno da "pós-verdade", já analisada pela Teoria da Comunicação como uma catástrofe social, na qual mentiras passam a ter roupagem de "verdade indiscutível" seja pela divulgação massiva de determinado dado mentiroso, seja pelo status social do emissor da mensagem, ainda que seja o de um simples internauta com alto prestígio entre seus pares.

A pós-verdade - que no Brasil é a base até do "movimento espírita" e teve em Chico Xavier um de seus pioneiros, por suas fraudes literárias serem tidas como "autênticas" pela carteirada religiosa que representam - permitiu que o Brasil substituísse a presidenta Dilma Rousseff, vítima de boatos tidos como "denúncias verídicas", pelo vice Michel Temer, que instituiu uma agenda política retrógrada e antipopular.

No Brasil, a pós-verdade encontra seu "paraíso astral" pela combinação entre uma modernidade de fachada, que mascara gerações que, mesmo jovens ou relativamente jovens, são altamente reacionárias, o apego ao status quo - meras atribuições, materiais, de superioridade social, são erroneamente tidas, por si só, como "confiáveis" - e ao poder de instituições e empresas que vivem da impunidade plena, aliado ainda ao quadro degradado de Educação e ética social.

A ignorância é tanta que, mesmo quando o racismo é considerado crime inafiançável, há ondas de ataques racistas nas redes sociais, que atingiram pessoas famosas e consistiram em ataques coletivos, feitos por vários internautas, que ignoram que poderiam ir depois para as celas das prisões. E, o que é pior, quando alguém lhes avisa isso, eles ainda reagem, com o famoso gracejo "KKKKKKKKK".

Tudo isso é muito grave. Setores sociais retrógrados tentam fazer malabarismo discursivo, usando de argumentos aparentemente lógicos para proteger suas convicções. Isso quando não partem para a "ignorância", xingando, fazendo cyberbullying ou perdendo tempo fazendo blogues ofensivos ou se expor demais perseguindo desafetos, criando tanto problemas para a polícia quanto para as milícias, que começam a se alertar quando veem um "valentão" na rua e pensam ser um rival.

A onda de retrocessos sociais que é permitida pelos deslizes cometidos pelos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, também praticados pela grande mídia, pelo Ministério Público e Polícia Federal, pelos movimentos religiosos, sob um padrão de Justiça desigual que pune demais quem comete delitos leves e livra da cadeia quem comete crimes graves, tudo isso faz com que o Brasil esteja no ranking dos países mais ignorantes.

Se tudo for mantido como está, a coisa tende a se agravar pelas consequências que serão ampliadas pelas conveniências, omissões e jogos de interesses. Ficar na ilusão do endeusamento do status quo, da confiança cega à suposta competência tecnocrática ou à pretensa bondade religiosa podem trazer efeitos danosos, como num sonho dourado durante o sono que, quando interrompido pelo despertar, faz a pessoa cair da cama.

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