terça-feira, 4 de fevereiro de 2014
Espiritolicismo despreza cientista Franz Anton Mesmer
O "espiritismo" brasileiro distorce tão grosseiramente a Doutrina Espírita original que chega mesmo a desprezar uma das figuras-chave da doutrina kardeciana, o cientista Franz Anton Mesmer (1734-1815).
Mesmer foi um médico que estudou Teologia e Filosofia, além de ser muito interessado por música e ter conhecido o compositor e pianista Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791) ainda criança, quando o famoso artista clássico era um prodígio de doze anos.
Natural da Suábia, antigo território correspondente hoje à Alemanha, Mesmer foi conhecido pelos estudos que fez sobre o magnetismo animal e que se tornou popularmente conhecido como "mesmerismo". Até mesmo no idioma inglês, existe a expressão mesmerize, que significa hipnotizar.
Os estudos de Mesmer que correspondem ao magnetismo animal consistem na relação entre energias fluídicas e a energia material dos seres humanos. O magnetismo é uma prática antiga, identificada já desde as antigas civilizações egípcias, e a prática do magnetismo pode ser não apenas animal, mas também relacionada a outros tipos de matérias.
O magnetismo é observado sobretudo no processo de hipnotismo, e era um dos temas de maior interesse do professor Rivail, o nosso conhecido Allan Kardec da Doutrina Espírita. Muito antes dele receber dos médiuns as mensagens de espíritos coordenados pelo Espírito da Verdade, Kardec fazia diversas pesquisas sobre o magnetismo animal.
O professor lionês observava, não sem um questionamento bastante crítico e apurado, desde os rituais de hipnose até os espetáculos das mesas girantes. Tinha muitas dúvidas a respeito, e Kardec levou tempo para aprender as ideias que hoje estão registradas nas suas obras em prol do Espiritismo.
No Brasil, o maior problema é que o magnetismo tornou-se uma área do conhecimento desprezada, e até agora não existe uma obra de Franz Mesmer que tivesse uma tradução - e muito menos uma BOA tradução - em português.
Mesmer estudava as relações entre vibrações fluídicas, mentes humanas e energias materiais adotando critérios de cunho científico, embora o Magnetismo, até pelas questões controversas que lançou, ainda se encontra num estágio imaturo para ser considerado precisamente uma "ciência".
Daí o sério equívoco do desprezo à sua teoria. Em vez disso, o uso de vibrações fluídicas é feito de forma aleatória, sem qualquer tipo de pesquisa, e isso se observa sobretudo nos procedimentos de passes nos chamados "centros espíritas".
Pois esses rituais de "efeitos PASSEBOS" se reduzem, muitas vezes, aos seus praticantes ficarem em sensação de transe e abanarem as mãos nas cabeças das pessoas, aparentemente por alguma intenção de trazer um efeito benéfico para o paciente, no caso o frequentador de tais "centros".
O "efeito placebo" se consiste mais no conforto que o paciente que recebe o passe cria em si mesmo, talvez pela crença ingênua de que o processo tem "eficiência certa", do que pelo "passista" - não seria melhor "passeiro", para não confundir com uma função carnavalesca? - , que apenas entra em transe e decide abanar suas mãos nas cabeças de cada paciente.
Portanto, o magnetismo é usado sem qualquer conhecimento, sem qualquer análise. Isso é lamentável, porque Allan Kardec era muitíssimo interessado pelo assunto e chegou a cogitar um livro relacionando Espiritismo e Magnetismo, que a grave doença o impediu de fazer, a não ser por algumas anotações.
Com isso, o "nosso espiritismo" usa as vibrações energéticas sem muito critério, apenas se apoiando numa frágil espiritualidade e num misticismo qualquer nota, apoiado em um severo moralismo religioso.
Nada de ciência, e nem mesmo de quase ciência: é uma questão apenas de sacudir as mãos no ar e sobre as cabeças de qualquer um e fazer as pessoas voltarem para casa alegrinhas. Mas, com toda certeza, sem qualquer acréscimo essencial às suas vidas mortais e rotineiras.
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