segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014
Allan Kardec preferia o debate do que a fé em sua doutrina
Allan Kardec tinha em mãos uma descoberta nova, a realidade do mundo espiritual. Como cientista que ele era, além de um dedicado intelectual, Kardec não desejaria que as ideias que ele lançou virassem dogmas religiosos, mas que fossem lançadas ao debate, sem medo do questionamento mais severo, porém honesto e edificante.
Como em qualquer nova descoberta, Kardec não tinha certeza até que ponto se desenvolveriam os debates sobre a realidade espiritual. Paciência. Kardec viveu no século XIX, e os meios de Comunicação mal começavam a se evoluir através da fotografia, uma tecnologia que era um luxo na época, e hoje qualquer um pode ser fotógrafo com seu celular...
Naquela época não havia rádio, nem televisão, nem fonógrafos, nem cinema, nem satélites, nem Internet. O cinema só viria em 1895, com Kardec morto há três décadas. E a comunicação dos espíritos não tinha qualquer respaldo tecnológico, e hoje se experimenta a TCI (Transcomunicação Instrumental).
Não que Kardec não conseguisse imaginar o futuro. Mas havia, também, o livre arbítrio das pessoas, e os rumos do debate sobre sua doutrina lhe escapariam do seu controle e participação, até porque Kardec não chegou a completar 65 anos de vida.
E muita coisa ocorreu na França e no mundo após 1869. Uma França iluminista e que teria sua "bela época", mas que quase se tornou uma sub-unidade do império alemão por causa da tirania nazista. E um Espiritismo que, infelizmente, se desviou sequer das diretrizes deixadas pelo professor lionês.
Kardec fez de tudo para atualizar e ampliar ideias. Acatou todo tipo de questionamento, avaliando com paciência e dedicação, fazendo-o reformular ou reforçar suas análises conforme o sentido do questionamento.
Isso tanto é verdade que seu primeiro Livro dos Espíritos teve que ser revisto e ampliado, e a edição definitiva não é a primeira de 18 de abril de 1857 - apesar dela ter se tornado um marco - mas a de 1860, que vale para os nossos dias.
Não foi tarefa fácil, pois Kardec tirava de seu próprio bolso o dinheiro para viajar onde o chamassem para verificar fenômenos espirituais ou fazer alguma palestra ou pesquisa a respeito. Em seus últimos quinze anos de vida, Kardec procurou se aproximar o máximo possível a precisão do conhecimento científico e tentar prever a evolução das ideias.
Kardec se desgastou fisicamente, por conta das pressões emocionais que teve, porque ele também foi atacado e ridicularizado por religiosos fanáticos, os mesmos que, depois, tentaram influenciar formas diluídas da Doutrina Espírita, sobretudo a que temos no Brasil.
Por isso, pode-se inferir que, para Allan Kardec, acreditar simplesmente nas suas ideias soa uma postura bastante estéril, embora simpática. Ele prefere que suas ideias sejam discutidas e questionadas, por serem ideias bastante novas e muitas questões ainda estarem sem respostas.
Pena que as hipóteses e ideias lançadas por Allan Kardec tenham parado na fé (ir)raciocinada a ponto de muitos "espíritas" de hoje tomarem como certezas apenas meras suposições. E isso, infelizmente, permitiu a série de delírios, fraudes e alucinações que consistem nas supostas mensagens espíritas que confortam mentes desavisadas das armadilhas que se escondem por trás.
Pelo menos, Allan Kardec pôde prever e advertir tais deturpações. Mas até este aviso foi encarado com vista grossa pelos "espíritas" brasileiros, que fizeram uma verdadeira farra com as ideias do professor lionês. Eles ignoraram as lições mais preciosas e eliminaram o debate, lançando mão de tantos abusos que comprometeram a reputação da Doutrina Espírita no Brasil.
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