A VERDADEIRA CRIANÇA-ÍNDIGO - Garoto-propaganda de publicidade de jeans.
O médium-estrela Divaldo Franco divulga o mito das "crianças-índigo" para reforçar suas pregações fantasiosas de que a Terra está evoluindo. Através dessas pregações, somos "convidados" a acreditar que não é preciso que combatamos as injustiças sociais, basta termos o "autoconhecimento" (da forma religiosa do espiritolicismo) para "evoluirmos" e transformar a Terra num "planeta de amor".
As "crianças-índigo" seriam, como Divaldo Franco descreve, supostos espíritos dotados de evolução moral e intelectual, num estágio de quase perfeição em relação às "crianças-cristal", que seriam aquelas no ápice de seu estágio evolutivo. São criaturas especiais que se destinam a guiar as pessoas para a transformação da humanidade terrena em uma multidão iluminada e fraternal.
Muito fácil. Simples assim, com tais fantasias. Não é maravilhoso acreditar em figuras assim tão misticamente predestinadas, dentro de um processo fantasioso, mais místico do que sociológico, de transformação quase imediatista da humanidade?
Quantas falsas esperanças Divaldo Franco, sob inúmeros aplausos e espectadores saindo sorridentes de suas palestras, dá a seus seguidores, anunciando um mundo de felicidade e paz, enquanto o pau come solto no Oriente Médio, nos EUA ou mesmo no Brasil.
Mas a farsa das crianças-índigo não foi lançada por Divaldo Franco. Nem por Joana de Angelis, aquela que não suporta ver pessoas tristes. O mito é estrangeiro e não foi lançado pelo contexto espiritólico, e nem mesmo a FEB necessariamente abraçou a causa, já que a iniciativa tem muito mais a ver com as inclinações "ramatisistas" de Divaldo.
Para quem não sabe, Ramatis é um espírito que criou uma outra corrente de deturpação da Doutrina Espírita, inserindo nela ideias deturpadas de religiões orientais (como as da China e da Índia), e misturando com Astrologia e outros dogmas ocultistas. Detalharemos isso noutra oportunidade.
As crianças-índigo surgiram das ideias trazidas pelo então casal norte-americano Lee Carroll e Jan Tober, depois sistematizadas pela parapsicóloga Nancy Ann Tappe. Em 1989, Carroll disse ter recebido a mensagem de uma entidade extra-terrestre chamada Kryon, que seria "de máxima evolução" e que teria anunciado a vinda de "mensageiros" para a humanidade terrestre.
A partir dessa mensagem, Carroll e sua então esposa, a cantora Jan, criaram uma seita, o Grupo Iluminação Kryon, além de lançar muitos livros que se tornaram sucesso editorial, garantindo fama e fortuna para o então casal. Paralelamente a isso, Nancy havia sistematizado o mito das "crianças-índigo".
Tais crianças seriam "muito inteligentes", e teriam vindo de uma civilização "de plena evolução", uma estrela plêiade chamada Alcyone, considerada a "civilização mais evoluída de todo universo". As "crianças-índigo" seriam de personalidade ágil e arguta sensibilidade, mas, estranhamente, sofrem déficit de atenção e são muito rebeldes.
As "crianças-cristal" seriam, de acordo com essa visão, crianças ainda "mais evoluídas", sendo "crianças-índigo" depuradas de seus vícios e defeitos, tornando-se "guias" da "evolução espiritual" da humanidade terrena.
Embora sejam teses atraentes, elas carecem de comprovação científica, conforme declara a doutora Miriam Ribeiro de Faria Silveira, presidenta do Departamento Científico de Saúde Mental Sociedade de Pediatria de São Paulo:
"Por se tratar de um tema polêmico, fora da área médica-científica, o assunto não é de domínio de vários dos membros da entidade. Realizamos um levantamento em vários sites e, inclusive no Pub Med, e não encontramos evidências científicas ou estudos validados que confirmem a existência de crianças com tais denominações 'índigo' e 'cristal'. O que observamos da pesquisa realizada na internet (Google) é que existe uma crença por parte de grupos esotéricos e alguns grupos de espíritas e espiritualistas que: ‘Crianças com características especiais estariam nascendo em nosso planeta com a finalidade de provocarem uma mudança de paradigma na Terra’. Seriam espíritos diferenciados, com alta capacidade e qualidade humana que escolheram reencarnar, nos diversos países do planeta, nas diversas classes sociais, e que devido ao seu comportamento conseguiriam em longo prazo transformar a Terra em um planeta melhor. Referem que este fenômeno vem ocorrendo desde os anos 1980, no caso dos ‘índigos’ e a partir do ano 2000 no caso dos ‘cristais’.
No que concerne ao comportamento descrito destas crianças, observamos que o quadro é muito semelhante ao observado nos casos de transtorno do déficit de atenção com ou sem hiperatividade, os quais possuem critérios rígidos e específicos para que se faça um diagnóstico correto. Devemos evitar a banalização deste diagnóstico (TDAH), bem como a medicação excessiva, ambos observados ultimamente em nosso meio.
Quanto à Sociedade de Pediatria de São Paulo, que representa a comunidade médica voltada a crianças e adolescentes no Estado de São Paulo, por desenvolver atividade científica e respeitar as diversas formas de manifestação religiosa, cabe aguardar a realização de estudos científicos que comprovem tais fatos, e evidências científicas seriam bem-vindas antes de nos posicionarmos diante de tais crenças."
Embora sinalize receptividade à questão, a médica expressa seu ceticismo, uma vez que a simples exposição de caráter místico, mesmo sob o pretexto "científico" atribuído ao "espiritismo" brasileiro - o assunto se popularizou através das paletras de Divaldo Franco - , não garante a relevância científica necessária para legitimar o assunto.
Além disso, a questão das "crianças-índigo" cai na mesma armadilha das "mulheres-alfa", de mulheres "especiais" dotadas de muita inteligência e sensibilidade. E torna-se uma forma sutil de discriminação social, separando pessoas "especiais" das outras, criando uma elite de pessoas "predestinadas" em detrimento de outras.
O assunto tornou-se bastante confuso, aliás, uma vez que as "evoluidíssimas crianças-índigo" sofrem lapsos de atenção e são muito agitadas e temperamentais. Em certo momento, seus pregadores são incapazes de dizer se elas são moralmente evoluídas ou não.
De outra forma, também os pregadores não conseguem definir quem realmente são as "crianças-índigo". São aquelas que usam Internet desde os quatro anos de idade ou menos? Eles se incluem entre os blogueiros esclarecedores ou são troleiros a bagunçar as mídias sociais? São pessoas que apenas são superinformadas ou aquelas que conseguem processar melhor o conhecimento?
Daí, a "maravilhosa novidade" trazida pelo "sempre sábio" Divaldo Franco perde totalmente seu sentido válido como novo conhecimento científico para entendermos a humanidade. Tudo vira um mero sensacionalismo místico para boi e espiritólico dormirem.
Sem uma explicação coerente, e sem qualquer tipo de comprovação científica, o mito das "crianças-índigo" se mostra uma grande farsa, que passa por cima dos verdadeiros problemas sociais, sobretudo de ordem educacional, que atingem nossas crianças, e que são o verdadeiro motivo de que poucas se tornem mais inteligentes que muitas outras.
Melhor teria agido Allan Kardec, que sempre pregou ser possível haver pessoas mais evoluídas do que outras, mas não da forma aberrantemente mística das "crianças-índigo", coisa que o professor lionês nunca previu, do contrário que certos delirantes espiritólicos.
E o próprio Kardec queria popularizar a Educação, pretendendo impulsionar a verdadeira evolução moral e intelectual, que independe de rótulos diferenciados, até porque significa democratizar o saber e tornar um maior número de pessoas capaz de se evoluir de maneira digna e segura.
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