O CANTOR E GUITARRISTA SYD BARRETT, FUNDADOR DO PINK FLOYD - Exemplo de personalidade que sofreu os excessos de LSD.
O que une o Espiritolicismo e a chamada lisergia é a forte tendência à alucinações, fantasias, à tentação de se aprofundar em delírios imaginativos, sob o pretexto de "abrir a mente", como era o que muitos de seus usuários diziam nos idos da psicodelia de 1965-1968.
Várias drogas estão associadas à psicodelia, mas nenhuma é mais típica dessa fase da Contracultura (1960-1969) quanto o LSD, popularmente conhecido como "ácido lisérgico". Consta-se que essa droga tenha sido a última usada pelo escritor inglês Aldous Huxley, autor de Admirável Mundo Novo (Brave New World), pouco antes de morrer, em 1963.
LSD é a sigla de um nome bastante complicado, a expressão alemã Lysergsäurediethylamid, que, traduzida, quer dizer dietilamida do ácido lisérgico. Ela foi descoberta por Albert Hofmann, que, entre 1938 e 1942, fez pesquisas sobre a substância alucinógena e se tornou um dos maiores defensores da droga, ao lado do professor universitário Timothy Leary.
Entre seus efeitos, a droga provoca euforia, aumenta a imaginação criativa e faz com que as pessoas que utilizam desta droga passem a visualizar ou imaginar coisas surreais, o que, nas manifestações artísticas, pode resultar em expressões cada vez mais excêntricas.
O rock dos anos 60 tornou-se o mais típico exemplo disso. Beatles, Rolling Stones, Jefferson Airplane, Mamas And The Papas, Beach Boys, Byrds, Doors, Jimi Hendrix, Janis Joplin e, sobretudo, Pink Floyd, entre tantos outros, consumiram LSD e produziram obras sobre o efeito dessa droga.
No caso do Pink Floyd a droga afetou sobretudo seu fundador, o cantor e guitarrista Syd Barrett (1946-2006), que teve um breve potencial criativo surpreendente, mas depois sucumbiu aos efeitos colaterais da droga, relativos à depressão e à indisposição.
A relação que o LSD tem com o Espiritolicismo é justamente no que se diz às alucinações. O "espiritismo" brasileiro, em tese, é contrário a todo tipo de droga, mas o modo com que trata os fenômenos espíritas chega mesmo ao ponto de nuances surreais.
O livro Nosso Lar, de Chico Xavier, atribuído ao "espírito" de André Luiz, é um bom exemplo disso. Embora a obra seja tida oficialmente como um relato realista do mundo espiritual, ele apresenta diversos aspectos surreais, desde as relações do lar que dá título ao livro com o "umbral" (espécie de "terreno" onde viveriam espíritos de índole ainda primitiva) até os alimentos usados no lugar.
Além disso, a própria "liberdade" das manifestações mediúnicas, ou mesmo a confusão que determinados médiuns têm entre mediunidade e animismo, ou mediunidade e imaginação fértil, faz com que o "espiritismo" brasileiro tenha uma "lisergia" que mais parece uma versão piorada e piegas do psicodelismo, em vários aspectos.
Mesmo visões de que Chico Xavier "andava" sobre as águas ou que ele era o "único encarnado" a participar de uma reunião de espíritos em 1969 podem ser alucinógenas. Sem falar da falsidade ideológica das manifestações espirituais, cujo processo não difere muito dos roqueiros alucinados que "abriam sua mente".
A mistura de alucinação com religião é tal que os críticos da fé cega chegam mesmo a fazer trocadilho entre a famosa expressão "Louvado Seja Deus" com o ácido lisérgico, por causa das iniciais serem bastante semelhantes.
Os Beatles haviam gravado em 1967 uma canção chamada "Lucy in the Sky with Diamonds", que aludiu ao LSD. Raul Seixas, então vocalista e um dos guitarristas de Raulzito e Os Panteras, fez versão em português dessa música, gravada ainda naquele ano, chamada "Você Ainda Pode Sonhar". A música teria como título "Lindos Sonhos Doirados", mas a gravadora Odeon não permitiu.
Mais recentemente, o músico paulistano Arnaldo Dias Baptista, que naquele 1967 integrava os Mutantes, havia lançado uma música chamada "Louvado Seja Deus", uma paródia de hino religioso feita com voz e teclado agradecendo a Deus pelo surgimento do rock'n'roll.
No entanto, essas são até "alucinações" admiráveis. Pelo menos geraram produtos artísticos de grande valor e apreciados até hoje, mesmo por quem não viveu a década de 60. O grande problema é que o "espiritismo" brasileiro é alucinógeno, mas não tem sequer o caráter de sonho, poesia e idealismo que os roqueiros psicodélicos tiveram em seus tempos.
O Espiritolicismo, pelo contrário, é alucinógeno com bases conservadoras, como o moralismo familiar, o proselitismo religioso, a espiritualidade duvidosa, a pseudo-ciência carregada de misticismo, a mitificação dos médiuns transformados em estrelas do espetáculo espiritólico.
Com isso, o Espiritolicismo, com sua promessa de "abrir a mente" da humanidade, sucumbe a vícios ainda piores, criando ilusões que nada têm de sonhos, mais parecendo pesadelos sob o pretexto de "resgate da alma". Desse modo, o Espiritolicismo está muito mais próximo do religiosismo fechado da Contra-Reforma católica do que das aventuras audaciosas da Contracultura psicodélica.
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