CRIANÇAS SORRINDO SÃO UM BOM MARKETING DA "CARIDADE" RELIGIOSA.
As pessoas entendem a bondade como uma qualidade secundária da fé religiosa. Num mundo marcado por conflitos de diversos tipos, com a banalização da sordidez humana em vários aspectos, as pessoas imaginam que ser bondoso e praticar caridade não são qualidades naturais do ser humano, mas procedimentos submetidos ao receituário religioso, embora variasse a seita em questão.
É por isso que as pessoas supervalorizam figuras religiosas por essa atitude. Sobretudo os "espíritas", os quais superestimam Francisco Cândido Xavier e Divaldo Pereira Franco por essas atitudes, que no caso de Chico Xavier têm a precisão das denúncias contra o PT na Operação Lava-Jato, ou seja, nenhuma, devido a informações vagas e superficiais.
Tudo parece lindo e comovente, mas devemos chamar a atenção por um detalhe: as pessoas que aparecem em propagandas ou ilustrações de "caridade" costumam ser pessoas dóceis, alegres, inofensivas. Sobretudo doentes e pobres, mas, no caso da propaganda, crianças em geral.
Isso mostra um sutil preconceito social, marcado por um "teatro da bondade" que faz com que algozes e sofredores pareçam inofensivos, mediados por uma figura religiosa vista como "heroína" da situação.
É como uma versão dócil da Teologia do Sofrimento. Sofredores felizes, algozes tranquilos, enquanto o "super filantropo" age para minimizar os efeitos danosos, sem no entanto mexer na estrutura de privilégios e desigualdades.
A ação tem por vista apenas reduzir os efeitos extremos, mas de maneira paliativa, sem resolver profundamente o problema. E seu sentido de "caridade" se torna tão duvidoso que áreas que se dizem "protegidas" pela religião são justamente as que mais sofrem com a violência.
Seja na Índia de Madre Teresa de Calcutá, seja na São Gonçalo (RJ) tomada de tantas seitas evangélicas, seja na Uberaba de Chico Xavier e no bairro soteropolitano de Pau da Lima da Mansão do Caminho de Divaldo Franco, o que se vê é que tais "caridades" nem de longe resolveram o problema da violência.
Deixemos de ser ingênuos. Se essas áreas são as que mais sofrem com a violência, é porque a "caridade" não funciona e não passa de conversa para boi dormir. A blindagem que ídolos religiosos recebem por causa do aparato de "bondade" não consegue esconder certos problemas.
Entre esses problemas, podemos destacar que a "bondade" sempre tem como preço uma influência religiosa. Os "espíritas" adoram argumentar que nunca influenciam as pessoas a seguir tal religião, mas a forma como ensinam os "valores sagrados da vida" sempre tem um dogma religioso embutido. O religioso não irá transmitir para as pessoas pontos de vista contrários às crenças dele.
Hostilizar a educação laica de Paulo Freire em detrimento da supervalorização da "caridade" de Divaldo Franco - tido como "maior filantropo do Brasil" beneficiando, só em Salvador, menos de 1% da população - lembra muito a polarização ideológica da educação esquerdista versus educação conservadora. Não é por acaso que a Rede Globo adora gente como Divaldo Franco e Chico Xavier.
Isso lembra um horror "higienista" de setores da classe média que parecem seguir valores das elites dominantes. Uma educação sem ideologias e que beneficia as classes populares, tirando-as da situação de subserviência resignada é vista como "manipuladora" por ser associada a valores de esquerda.
Já a educação conservadora, que envolve desde a pregação de valores de mercado a dogmas religiosos - ambos dissimulados pelos pretextos de "preparação para a vida" e "valores morais positivos" - , escondidas num processo pedagógico que inclui até mistificações e deturpações historiográficas, a sociedade "do bem" define como "não-manipuladora" e até "transformadora", embora, na verdade, ela manipulasse e não transformasse as pessoas.
No "espiritismo", por exemplo, costuma-se ensinar a visão equivocada de que o imperador Dom Pedro II era um "líder abolicionista". Chegam mesmo a supor encarnações passadas ao monarca brasileiro, com informações confusas. Mas a verdade é que o Segundo Império permaneceu longos anos conivente com o sistema escravista, e a Lei Áurea que nada resolveu na ressocialização dos escravos libertos só se deu porque a escravidão estava sofrendo sua mais aguda crise.
A "bondade" religiosa lida com pessoas inofensivas e ela em si é um projeto inócuo. Por isso é que a crise que vivemos no Brasil ocorre. Se essa "caridade" funcionasse de fato, o nosso país seria outro, não havia notícias de violência, e nem a crise econômica teria acontecido.
Se tudo isso de ruim acontece, não é reflexo de falta de religião. Pelo contrário. É resultante da overdose de fé. Dá-se ouvido demais aos ídolos religiosos, sempre glorificados e exaltados. Enquanto isso, fora dos palacetes da fé e do paternalismo religioso, a sociedade sofre seu dramático caos do dia a dia.
quarta-feira, 31 de agosto de 2016
segunda-feira, 29 de agosto de 2016
No "espiritismo", o fraco se diz "forte". Isso é ruim
Muito contraditório o "espiritismo". Fundamentado em ideias igrejistas, herdadas do Catolicismo medieval, a doutrina brasileira, que prega a Teologia do Sofrimento e só defende o raciocínio científico com restrições, é inclinado ao jogo de palavras com ideias opostas.
Isso vem de Francisco Cândido Xavier, com suas próprias palavras. Ele mesmo se beneficiava com esse jogo de palavras, essa falsa sabedoria das ideias opostas, que o faziam investir no coitadismo para obter triunfalismo nas suas ambições arrivistas. Fomos claros?
Explicando melhor: Chico Xavier, o maior deturpador de todo o Espiritismo - Allan Kardec passaria a mão no seu rosto de tão envergonhado com o que fizeram de sua doutrina no Brasil - , posava de vítima quando era duramente criticado. Isso era uma estratégia para passar por cima de todos os obstáculos e obter vantagens a qualquer preço.
Isso não é bom. Como também não é bom veicular, de maneira muito mal disfarçada, ideias medievais da Teologia do Sofrimento, corrente retrógrada dos primórdios da Igreja Católica (vinda de tempos em que católicos treinavam cruzadas para assassinar hereges), para convencer as pessoas de que conformar-se com o sofrimento, mesmo em doses kafkianas, é o "único caminho" para a purificação do espírito.
"Donos da verdade", os "espíritas" tentam argumentar de forma com que a palavra final fique sempre em suas mãos. Acreditam que podem ser contestados até às medulas, que triunfarão nos seus pontos de vista cheios de contradições e equívocos sérios.
Se apropriam de Allan Kardec e até de avisos sobre deturpadores preventivamente difundidos por espíritos como os de São Luís e Erasto, em traduções farsantes (das editoras FEB e IDE), distorcendo os avisos e alertas dados aos "inimigos internos do Espiritismo", fazendo com que os próprios deturpadores levem sempre a melhor.
Dentro dessa manobra, Chico Xavier é defendido erroneamente - e podemos dizer, com segurança, erroneamente - como "progressista" porque disse que "o silêncio é a voz da sabedoria", "é na fraqueza que a pessoa mostra sua maior força" ou coisa parecida.
A ideia do "fraco que se diz forte" tem dois objetivos. Primeiro, fazer com que, através dessa Teologia do Sofrimento nunca assumida, os sofredores tenham que ficar satisfeitos com as desgraças que recebe, por mais que se esforcem para combatê-las, e achar que aguentar os infortúnios mais pesados é sinal de "força de espírito" e "fé no futuro".
Segundo, a ideia foi também uma forma de salvar a pele de Chico Xavier, até mesmo postumamente. Ele foi um charlatão, porque criou pastiches e plágios literários de fácil identificação, criou "psicografias" que apontam irregularidades sérias que não necessitam de esforço para serem identificadas. E tudo isso falando com isenção, sem raiva, sem ódio, mas sem complacência.
No entanto, todo questionamento em torno de Chico Xavier é definido como "atrocidade", e houve mesmo uma peça "espírita" que abordou as polêmicas em torno do livro Parnaso de Além-Túmulo e da suposta obra espiritual creditada a Humberto de Campos mostrando Chico Xavier de maneira chorosa e piegas.
Era uma maneira discursiva bastante engenhosa. Pena que o Brasil é um país de desinformados (a gente vê as leis, que punem o PT por suspeitas bastante vagas, mas não investiga o PSDB, com indícios e provas mais consistentes de corrupção), porque a tendência para a complacência para quem tem alguns status quo (ainda que seja o religioso), é preocupante.
Iludidos com a aparência, as pessoas aceitam que Chico Xavier, um divulgador de mentiras e um usurpador de tragédias alheias, além de católico ultraconservador e moralista dos mais retrógrados, só por sua aparência frágil que representa um imaginário religioso que agrada muita gente, possa ser um "forte" que "derruba obstáculos difíceis" com sua "fraqueza".
O que ele fez foi arrivismo. Chico Xavier personificou muito bem a ameaça que Erasto tanto falou e que o Brasil simplesmente fechou os ouvidos. O Brasil foi glorificar um ídolo religioso e criou condições, no imaginário moral e sócio-cultural, para a degradação do país que agora vemos, com os corruptos tomando o poder e promovendo a precarização do mercado de trabalho e o obscurantismo medieval na Educação (Escola Sem Partido), além de vender as nossas riquezas para estrangeiros.
Isso é que dá esse discurso de fraqueza e de força. Permitimos a opressão de uns sobre outros, a pose de falsas vitimas por parte de oportunistas e arrivistas e a imposição aos sofredores da ilusão de que os benefícios virão quando mais se aguentarem desgraças e retrocessos. Por isso é que o Brasil nunca foi para a frente.
sábado, 27 de agosto de 2016
Por que Chico Xavier queria que você nunca questionasse?
Quem é tomado pela memória curta, certamente, não vai entender. Mas se voltarmos ao tempo e relembrarmos os aspectos sombrios de Francisco Cândido Xavier, que chegaram a deixar de queixo caído até o charlatão da imprensa, David Nasser - excelente escritor, notável compositor mas de caráter um tanto duvidoso - , veremos as armadilhas que o "médium" trouxe para o público.
Muitos ficam maravilhados quando Chico Xavier, em seus diversos textos - vários deles usurpando nomes como Humberto de Campos, Auta de Souza, Olavo Bilac, Meimei, Jair Presente e tantos e tantos outros que "perderam sua individualidade" e passaram a "pensar" como o "médium" - , diz para as pessoas nunca reclamarem nem se queixarem da vida. E acham isso bom.
Estão redondamente enganados. A religião tem desses sadismos. O "espiritismo" não é diferente. Quando uma pessoa sofre e enfrenta desgraças nas quais tem dificuldades de superar, o palestrante ou articulista "espírita" da ocasião sempre diz para a pessoa aguentar a barra, aceitar os "desígnios do Alto" e ter fé ou, quando muito, "mudar os pensamentos" e "buscar novos caminhos".
Chico Xavier chegava a ser muito sádico com suas "palavras de amor". Ele dizia, com aquele jeito ultraconservador de caipira moralista, que a pessoa, na pior das desgraças, estava "sendo abençoada", e dizia que o sofredor tinha que olhar passarinhos, o rio correndo, as flores brotando etc.
É até ilustrativo que O Cruzeiro tenha, até 1970, questionado os "méritos" de Chico Xavier. A revista dos Diários Associados tinha um personagem chamado O Amigo da Onça, que também falava coisas "simpáticas" diante de pessoas encrencadas.
Há passagens de Chico Xavier que lembram muito bem o personagem de Péricles Maranhão, que, por sinal, cometeu uma atitude que os "espíritas" consideram um "crime hediondo", o suicídio. Péricles estava deprimido com as gozações que recebeu por causa do seu personagem. Enquanto isso, o "espiritismo" chega a ficar complacente com o homicídio, considerando os assassinos "justiceiros" dos "resgates espirituais" de suas vítimas.
Os livros de Chico Xavier, incluindo os "medíunicos" - consideramos plausível a tese de que apenas Emmanuel teria realmente ditado os livros que levam o nome - são sempre um receituário digno da Teologia do Sofrimento, corrente medieval da Igreja Católica que, no exterior, teve como seguidores, nos últimos séculos, as beatas Teresa de Lisieux e Madre Teresa de Calcutá.
E se as pessoas ficam maravilhadas com esses apelos de "não queixar", "não reclamar", "não fale mal da vida", "aceite as dificuldades visando bênçãos futuras". Isso nada tem de progressista, nada tem de transformador na vida das pessoas, é desculpa barata para o sofredor ficar sofrendo e não amolar os ídolos religiosos que não querem lidar com problemas mais complexos.
ACEITAR AS FRAUDES DE CHICO XAVIER
A ideia de não questionar o que quer que fosse, de aceitar tudo de bandeja, mostra o caráter ultraconservador do "espiritismo" brasileiro. Se vermos os textos de Emmanuel, existe um padrão de comportamento castrado no qual as pessoas são claramente aconselhadas a se tornarem submissas, conformadas e apenas submetidas ao jugo alheio.
Emmanuel personifica o espírito leviano que Erasto havia prevenido nos tempos de Allan Kardec. Lendo O Livro dos Médiuns, na tradução de José Herculano Pires, há descrições da ação e do perfil de espíritos inferiores que se encaixam perfeitamente em Emmanuel, como as qualidades negativas de espírito autoritário que produz textos empolados e usa "mensagens de amor" para forçar o público a acreditar nele.
É lamentável que vários palestrantes "espíritas" adotem uma postura contraditória de num momento fingir concordar com Erasto e em outro manifestar seu entusiasmo por Emmanuel, da mesma forma que não consegue discernir Allan Kardec e Chico Xavier, quando uma análise nem muito difícil pode ver aberrantes contradições entre estas duas pessoas claramente antagônicas.
A verdade é que, quando Chico Xavier, em parte sob influência de Emmanuel - mas com o "médium" concordando e consentindo com muito prazer - , dizia para ninguém questionar ou reclamar, quem levava vantagem com isso era justamente o próprio anti-médium mineiro.
Prestemos atenção nos textos: há sempre apelos que condenam o "exclusivismo da ciência", o "excesso de raciocínio", o "tóxico do intelectualismo", sempre um amaldiçoamento do ato de pensar, como se o raciocínio fosse um processo em si muito perigoso. E por que Chico Xavier sempre apelava para isso?
Simples. Muitas irregularidades se observam, e são muito aberrantes, das atividades "mediúnicas" de Chico Xavier e seus seguidores. As "mensagens espirituais", por mais que tentem ser semelhantes, em algum momento entram em conflito com aspectos pessoais que os mortos apresentaram em vida. A lógica sempre recomenda que, diante de um monte de semelhanças, se houver alguma diferença que entre em conflito, a mensagem é simplesmente falsa.
Há pastiches literários graves. João Dornas Filho, sobre o suposto Olavo Bilac de Parnaso de Além-Túmulo, é taxativo: "Esse homem, que em vida nunca assinou um verso imperfeito, depois de morto teria ditado ao Sr. Xavier sonetos interinos abaixo de medíocres, cheios de versos mal medidos, mal rimados e, sobretudo, numa língua que Bilac absolutamente não escrevia!".(“Folha da Manhã”, São Paulo, 19-IV-1945).
Só faltou Dornas dizer que o suposto Olavo Bilac "pensava" como Chico Xavier. Já observamos poemas atribuídos ao espírito de Auta de Souza que não tinham o estilo gracioso da poetisa potiguar, e pareciam ter vindo da imaginação do próprio "médium".
Escândalos sérios foram causados por Chico Xavier, de propósito. Portanto, para desespero dos fanáticos seguidores do anti-médium mineiro, foi culpa do próprio Chico, sim. Ele é que quis investir nessa brincadeira, distorcendo os conceitos de vida espiritual, mediunidade e outros aspectos da Doutrina Espírita, entendendo mal e ensinando pior ainda.
Isso foi tão grave que gerou até um processo judicial. Mas, como o Brasil é conservador e seu sistema de valores envolve uma compreensão parcial (tanto em ignorância e tendenciosismo) das leis e uma certa complacência com beatos religiosos, Chico Xavier passou por cima de todo obstáculo, não por ser a expressão de "bondade suprema" (num país em que nem o Supremo Tribunal Federal nem está tão supremo assim), mas pelo famoso "jeitinho brasileiro" do qual foi hábil praticante.
Junte um caipira ultraconservador, que era beato católico dos mais ortodoxos e que decidiu fazer pastiches literários pegando os nomes dos mortos para fazer sensacionalismo e tirar boas vantagens nisso. Isso é o Chico Xavier que os questionamentos mais aprofundados e a lógica mais apurada identficam, num simples esforço de raciocínio.
É por isso que Chico Xavier e seus partidários sempre condenaram os "excessos do raciocínio". É porque eles têm medo de serem desmascarados, e por isso sempre usavam da falácia do Ad Passiones (apelo à emoção), carteirada moral feita para se protegerem, enquanto diziam que "pensar demais faz mal" para evitar que os questionamentos os desmascarassem.
Diante disso, chegamos a uma conclusão de que Chico Xavier não deveria ser conhecido como "o homem chamado Amor". Pelas obras irregulares que fez, não muito difíceis de serem desmascaradas, Chico Xavier deveria ser conhecido como "o homem chamado FALÁCIA".
quinta-feira, 25 de agosto de 2016
O "espiritismo" e seu moralismo viciado
Roustanguista não-assumido, o "espiritismo" brasileiro já não tem mais o que fazer. Preso nas suas próprias contradições, não consegue esconder seu vínculo com a Teologia do Sofrimento e tudo o que faz é lançar apelos para o sofredor "mudar seus pensamentos" e "eliminar seu egoísmo".
Ignorando individualidades, os "espíritas" são tomados de juízos de valor que mostram o quanto eles se vangloriam pela suposta superioridade social da religião e pela ilusão de que, com eles, se encontram espíritos dos mais sábios que detém os segredos de todo o Universo.
Grande engano. Os "espíritas" são os que mais erram diante do sofrimento alheio. Não entendem que nem todos estão dispostos a abrir mão dos próprios talentos e das necessidades fundamentais para superar dificuldades que surgem em doses estratosféricas e dimensões kafkianas.
É muito fácil um "espírita" dizer a um sofredor: "mude seus pensamentos", "sinta alegria pela vida", "perdoe o algoz e continue na luta", "quando você chora sua própria angústia, a Natureza sorri para você" ou coisas parecidas.
Só que os "espíritas" confundem individualidade com egoísmo. Confundem pedir qualidade de vida com pedir luxo. Acham que o pior dos sofrimentos é fácil de encarar, até porque não são os próprios "espíritas" que sofrem as pesadas dificuldades dos infortunados.
O "espiritismo" brasileiro não consegue assimilar nem mesmo compreender o dinamismo do pensamento kardeciano, que está muito distante da Teologia do Sofrimento que os "espíritas" defendem de maneira acanhada na teoria e assanhada na prática.
E isso se observa sobretudo nesse cenário político terrível, em que o retrógrado Michel Temer assumiu o poder defendendo uma bandeira ultraconservadora, preparando, provavelmente, o caminho para algum tucano, possivelmente Aécio Neves, mineiro como Francisco Cândido Xavier, o Chico Xavier que rasgou as lições kardecianas com suas "psicografias" irresponsáveis.
Diante de um projeto político que ameaça eliminar conquistas sociais, forçando a marcha-a-ré histórica de forma, em muitos aspectos, assustadora - há quem diga, ainda que com certo exagero, que os aliados de Temer são capazes de revogar até o Sete de Setembro e transformar o Brasil em possessão dos EUA - , os "espíritas" só fazem falar a mesma ladainha de "aguentar o sofrimento".
Isso vem da Teologia do Sofrimento católica, defendida abertamente por Chico Xavier. Os "espíritas" tentam desmentir isso, mas na prática apelam para essa teoria, originária do Catolicismo medieval, quando falam que individualidade e qualidade de vida são "frescuras materialistas" e o que a pessoa tem que fazer é subordinar-se ao império das circunstâncias e ao acordo das conveniências.
O que os "espíritas" têm que saber é que, embora haja várias encarnações, cada encarnação é uma só. Seria tolice alguém achar que, perdendo uma encarnação inteira com desgraças e infortúnios, terá uma encarnação igual à atual para aproveitar melhor seus dons.
Não há noções confiáveis do que é realmente a "verdadeira vida". O mundo espiritual é um enigma para nós e o próprio Kardec admitiu que não existe qualquer indício do que seja o além-túmulo que possamos entender com algum senso de probabilidade. Em outras palavras, a vida após a morte existe, mas não existe qualquer ideia do que realmente ela possa ser.
Diante da comparação com os conhecimentos científicos trazidos pelo pensador lionês, concepções como "colônias espirituais" são puramente fictícias, imaginárias, fantasiosas. Elas não possuem provas consistentes de sua existência, pois não contaram com estudos sérios, até porque o livro Nosso Lar descreve uma imaginária cidade como na já discutível obra A Vida Além do Véu (The Life Beyond the Veil), do reverendo George Vale Owen.
Não se pode colocar a fé como acima da realidade. A falácia do "excesso de raciocínio" e do "exclusivismo da ciência" são só desculpas para evitar que o raciocínio humano se avance para teses que contrariam os dogmas religiosos do neo-medievalismo que é o "espiritismo" brasileiro.
Deste modo, o "espiritismo" também vai contra uma das qualidades mais diferenciadas do ser humano: a capacidade de pensar. Embora em tese os "espíritas" exaltem a lógica, o bom senso e o pensamento científico ou filosófico, num dado momento eles pregam a castração da liberdade de pensamento, para que ela não interfira nos dogmas religiosos, por mais fantasiosos que eles sejam.
Com isso, os "espíritas" criam, a exemplo dos católicos medievais, um terreno em que somente a fé pode ingressar, protegendo fantasias místicas e outras invencionices, como os supostos pioneirismos científicos de Chico Xavier, muitos deles risíveis e patéticos, tudo para proteger totens, dogmas e mitos religiosos. O "espiritismo" brasileiro é medieval.
terça-feira, 23 de agosto de 2016
O Brasil e as idealizações da pobreza e da caridade
CRIANÇA ESPERANÇA, DA REDE GLOBO, É UMA VITRINE PARA A "CARIDADE PALIATIVA" DOMINANTE NO BRASIL.
Para muita gente, bondade é uma qualidade subordinada à religião. A bondade é medida não pelo número de beneficiados atingido, mas pelo selo religioso que carrega, e a ideia de que a cultura das classes pobres tem que ser regulada pela mídia e pelo mercado também acompanham essa visão escancaradamente elitista, porém paternalista.
Um artigo da Carta Capital sobre o Criança Esperança, semanas atrás, de autoria da antropóloga Rosana Pinheiro-Machado traz muitas questões, tanto para a forma com que intelectuais veem o entretenimento das classes populares quanto a maneira que as elites ou mesmo a classe média vê a caridade humana.
A ideia de uma bondade paternalista, de uma apreciação supostamente positiva dos miseráveis, traz uma visão de contos-de-fadas que domina as mídias sociais e o imaginário politicamente correto que faz defender, por exemplo, que a popozuda do "baile funk" ou a periguete do "pagodão" baiano deva se casar com um nerd saído do bacharelado ou pós-graduação de uma universidade pública.
Tudo é "possível" no imaginário das mídias sociais, como se houvesse uma liberdade sem limites, e os internautas que escrevem no Facebook, no WhatsApp e botam imagens no Instagram ou no SnapChat fossem o máximo de evolução moral encontrada no Brasil.
No entanto, a visão de caridade ou solidariedade com o outro esconde neuroses, preconceitos, sendo apenas atenuantes, formas de dissimular a culpa de intelectuais e aristocratas que veem o povo pobre de maneira negativa e desprezível.
É o jornalista musical ou o antropólogo que fazem elogios entusiasmados ao "funk", que espetaculariza a pobreza, ou ao ídolo brega do passado que "incomodava as elites", dando a falsa impressão de que tais pensadores estão "solidários" ao povo pobre e a cultura a este atribuída.
É o internauta que acha que um "médium espírita" é "o maior filantropo do Brasil" porque investe numa caridade que, embora beneficie menos de 1% do povo brasileiro e adote um método educacional inócuo no qual se ensinam dogmas igrejistas, tem sua "máxima importância" justificada pelo status religioso.
CARIDADE PALIATIVA
Rosana não condena a caridade em si, mas chama a atenção para o abismo desses atos simbólicos e uma atitude real de discriminação, que esconde situações hipócritas como a da diarista que não aceita a roupa velha dada pela patroa.
A caridade paliativa, que é a ação que não interfere nas estruturas de desigualdades sociais existentes, antes apenas evitando, de maneira relativa, os efeitos mais extremos de sofrimento humano, é que representa um problema que só reforça as injustiças sociais.
O crítico musical que implora, quase que aos choros, para que Odair José, Alexandre Pires, Zezé di Camargo & Luciano e Tati Quebra-Barraco sejam incluídos no "primeiro time da MPB", em seus festejados artigos, é o mesmo que fica horrorizado quando a diarista, ao fazer uma faxina na coleção de discos do jornalista, demora demais observando um raro CD de Hermeto Paschoal.
A antropóloga que, feliz da vida, atribui aos "bailes funk" mais rasteiros, com gente fazendo posições grosseiras de quem parece "defecar" no chão, de cócoras, ou empinando os glúteos para a frente da plateia, o "mais admirável ativismo social" do Brasil, escrevendo isso até em jornais de esquerda, mas fica horrorizada em ver mais uma marcha do Movimento dos Sem-Terra complicando o trânsito no momento em que a mesma intelectual volta para casa dirigindo seu carrão.
O cineasta que fica feliz ao exaltar a esganiçada dupla "sertaneja", com vocais desafinados e um repertório esquizofrênico que, em vez do genuíno cancioneiro caipira, há confusos arremedos de country e bolero, mas se aborrece quando o mesmo MST aparece numa reportagem pedindo para protestarmos contra o capitalismo excludente.
Ou a acadêmica que adora definir como "feminismo" as periguetes ostentando corpos siliconados feito mercadorias sexuais, exalta a prostituição como forma de afirmação da feminilidade das moças pobres, mas se irrita quando moças que atuam na prostituição apelam desesperadamente para sair dessa condição, depois que foram agredidas por fregueses machistas violentos e afirmam que prefeririam ser professoras, costureiras, advogadas ou cientistas.
Da mesma forma, tem o "ateu de ocasião" que, na sua indiferença religiosa, fica feliz quando vê um suposto "médium espírita" realizar, em sua instituição, um frouxo método educativo, não muito diferente do projeto conservador da Escola Sem Partido, e acha tudo "profundamente transformador" e "revolucionário". Mas se irrita quando sabe que o Método Paulo Freire desperta consciências e ajuda pessoas pobres a obterem, por si mesmas, meios para melhorar a qualidade de vida.
Por trás de tudo isso, está a falta de compreensão das pessoas sobre quem é o Outro. O "outro" é uma espécie de animal que, domesticado, se torna admirado e respeitado, mas, quando deixado em seu "estado cru" e "selvagem", se torna abominável e alvo de preconceitos muito cruéis. É isso que desmascarou muitos intelectuais da cultura que se autoproclamavam "sem preconceitos" ao defender justamente a imbecilização cultural da bregalização.
São esses os preconceitos que deixam as elites confusas e contraditórias, criando posturas falsamente modernas ou arrojadas diante das conveniências. Será que essas pessoas são realmente de esquerda? Será que vários desses indivíduos são ateus? Será que eles não fazem apenas ativismo de sofá, militância de mouse de computador?
E a cultura popular? Acha que a qualidade da cultura está na quantidade de dinheiro investido? E as classes populares, que preconceito não pode haver quando o "generoso" intelectual acha "ativismo" ver pobres rebolando, mas sente um violento horror quando pobres fazem passeata somente para pedir uma passarela sobre uma rodovia que corta uma comunidade popular?
É esse Brasil que permitiu que um governante retrógrado como Michel Temer chegasse ao poder, prometendo uma pauta que só agravará as injustiças sociais. A crise brasileira, na medida em que fez prevalecer a influência de paternalistas de classe média, deixou o povo pobre de lado, ignorando que este poderia agir para superar a crise, e não os ricos que reforçam ainda mais seu egoísmo retrô.
Agora o país está sujeito a um grave prejuízo, diante de setores do empresariado, dos três poderes da República, do Ministério Público, da grande imprensa, que cada vez mais se comprometem com os retrocessos da população, no esforço paranoico de forçar a marcha-a-ré histórica, mesmo que no fim as elites tenham que arcar com os efeitos danosos que causarão à sociedade.
Se contentar com uma falsa cultura popular tramada por empresários do entretenimento e executivos de rádio e TV, ou com uma filantropia de fachada que beneficia pouco mas é exaltada por causa do rótulo religioso que carrega, é simplesmente ficar complacente com as desigualdades sociais e preferir ações como estas que em nada resolvem em relação à emancipação dos humildes e ignorantes.
Neste sentido, a "cultura popular" de mercado, que domina as rádios e TVs "populares", e a "filantropia" das instituições religiosas, que submete a bondade a um sistema de ritos e dogmas igrejeiros, só servem para mascarar as injustiças e servir tão somente para alimentar as vaidades e disfarçar os preconceitos das elites paternalistas envolvidas.
Para muita gente, bondade é uma qualidade subordinada à religião. A bondade é medida não pelo número de beneficiados atingido, mas pelo selo religioso que carrega, e a ideia de que a cultura das classes pobres tem que ser regulada pela mídia e pelo mercado também acompanham essa visão escancaradamente elitista, porém paternalista.
Um artigo da Carta Capital sobre o Criança Esperança, semanas atrás, de autoria da antropóloga Rosana Pinheiro-Machado traz muitas questões, tanto para a forma com que intelectuais veem o entretenimento das classes populares quanto a maneira que as elites ou mesmo a classe média vê a caridade humana.
A ideia de uma bondade paternalista, de uma apreciação supostamente positiva dos miseráveis, traz uma visão de contos-de-fadas que domina as mídias sociais e o imaginário politicamente correto que faz defender, por exemplo, que a popozuda do "baile funk" ou a periguete do "pagodão" baiano deva se casar com um nerd saído do bacharelado ou pós-graduação de uma universidade pública.
Tudo é "possível" no imaginário das mídias sociais, como se houvesse uma liberdade sem limites, e os internautas que escrevem no Facebook, no WhatsApp e botam imagens no Instagram ou no SnapChat fossem o máximo de evolução moral encontrada no Brasil.
No entanto, a visão de caridade ou solidariedade com o outro esconde neuroses, preconceitos, sendo apenas atenuantes, formas de dissimular a culpa de intelectuais e aristocratas que veem o povo pobre de maneira negativa e desprezível.
É o jornalista musical ou o antropólogo que fazem elogios entusiasmados ao "funk", que espetaculariza a pobreza, ou ao ídolo brega do passado que "incomodava as elites", dando a falsa impressão de que tais pensadores estão "solidários" ao povo pobre e a cultura a este atribuída.
É o internauta que acha que um "médium espírita" é "o maior filantropo do Brasil" porque investe numa caridade que, embora beneficie menos de 1% do povo brasileiro e adote um método educacional inócuo no qual se ensinam dogmas igrejistas, tem sua "máxima importância" justificada pelo status religioso.
CARIDADE PALIATIVA
Rosana não condena a caridade em si, mas chama a atenção para o abismo desses atos simbólicos e uma atitude real de discriminação, que esconde situações hipócritas como a da diarista que não aceita a roupa velha dada pela patroa.
A caridade paliativa, que é a ação que não interfere nas estruturas de desigualdades sociais existentes, antes apenas evitando, de maneira relativa, os efeitos mais extremos de sofrimento humano, é que representa um problema que só reforça as injustiças sociais.
O crítico musical que implora, quase que aos choros, para que Odair José, Alexandre Pires, Zezé di Camargo & Luciano e Tati Quebra-Barraco sejam incluídos no "primeiro time da MPB", em seus festejados artigos, é o mesmo que fica horrorizado quando a diarista, ao fazer uma faxina na coleção de discos do jornalista, demora demais observando um raro CD de Hermeto Paschoal.
A antropóloga que, feliz da vida, atribui aos "bailes funk" mais rasteiros, com gente fazendo posições grosseiras de quem parece "defecar" no chão, de cócoras, ou empinando os glúteos para a frente da plateia, o "mais admirável ativismo social" do Brasil, escrevendo isso até em jornais de esquerda, mas fica horrorizada em ver mais uma marcha do Movimento dos Sem-Terra complicando o trânsito no momento em que a mesma intelectual volta para casa dirigindo seu carrão.
O cineasta que fica feliz ao exaltar a esganiçada dupla "sertaneja", com vocais desafinados e um repertório esquizofrênico que, em vez do genuíno cancioneiro caipira, há confusos arremedos de country e bolero, mas se aborrece quando o mesmo MST aparece numa reportagem pedindo para protestarmos contra o capitalismo excludente.
Ou a acadêmica que adora definir como "feminismo" as periguetes ostentando corpos siliconados feito mercadorias sexuais, exalta a prostituição como forma de afirmação da feminilidade das moças pobres, mas se irrita quando moças que atuam na prostituição apelam desesperadamente para sair dessa condição, depois que foram agredidas por fregueses machistas violentos e afirmam que prefeririam ser professoras, costureiras, advogadas ou cientistas.
Da mesma forma, tem o "ateu de ocasião" que, na sua indiferença religiosa, fica feliz quando vê um suposto "médium espírita" realizar, em sua instituição, um frouxo método educativo, não muito diferente do projeto conservador da Escola Sem Partido, e acha tudo "profundamente transformador" e "revolucionário". Mas se irrita quando sabe que o Método Paulo Freire desperta consciências e ajuda pessoas pobres a obterem, por si mesmas, meios para melhorar a qualidade de vida.
Por trás de tudo isso, está a falta de compreensão das pessoas sobre quem é o Outro. O "outro" é uma espécie de animal que, domesticado, se torna admirado e respeitado, mas, quando deixado em seu "estado cru" e "selvagem", se torna abominável e alvo de preconceitos muito cruéis. É isso que desmascarou muitos intelectuais da cultura que se autoproclamavam "sem preconceitos" ao defender justamente a imbecilização cultural da bregalização.
São esses os preconceitos que deixam as elites confusas e contraditórias, criando posturas falsamente modernas ou arrojadas diante das conveniências. Será que essas pessoas são realmente de esquerda? Será que vários desses indivíduos são ateus? Será que eles não fazem apenas ativismo de sofá, militância de mouse de computador?
E a cultura popular? Acha que a qualidade da cultura está na quantidade de dinheiro investido? E as classes populares, que preconceito não pode haver quando o "generoso" intelectual acha "ativismo" ver pobres rebolando, mas sente um violento horror quando pobres fazem passeata somente para pedir uma passarela sobre uma rodovia que corta uma comunidade popular?
É esse Brasil que permitiu que um governante retrógrado como Michel Temer chegasse ao poder, prometendo uma pauta que só agravará as injustiças sociais. A crise brasileira, na medida em que fez prevalecer a influência de paternalistas de classe média, deixou o povo pobre de lado, ignorando que este poderia agir para superar a crise, e não os ricos que reforçam ainda mais seu egoísmo retrô.
Agora o país está sujeito a um grave prejuízo, diante de setores do empresariado, dos três poderes da República, do Ministério Público, da grande imprensa, que cada vez mais se comprometem com os retrocessos da população, no esforço paranoico de forçar a marcha-a-ré histórica, mesmo que no fim as elites tenham que arcar com os efeitos danosos que causarão à sociedade.
Se contentar com uma falsa cultura popular tramada por empresários do entretenimento e executivos de rádio e TV, ou com uma filantropia de fachada que beneficia pouco mas é exaltada por causa do rótulo religioso que carrega, é simplesmente ficar complacente com as desigualdades sociais e preferir ações como estas que em nada resolvem em relação à emancipação dos humildes e ignorantes.
Neste sentido, a "cultura popular" de mercado, que domina as rádios e TVs "populares", e a "filantropia" das instituições religiosas, que submete a bondade a um sistema de ritos e dogmas igrejeiros, só servem para mascarar as injustiças e servir tão somente para alimentar as vaidades e disfarçar os preconceitos das elites paternalistas envolvidas.
domingo, 21 de agosto de 2016
Trote telefônico também consola?
A mediunidade é uma atividade desmoralizada e pouco confiável no Brasil. Pouco importa se pregadores religiosos acreditam o contrário, que muitas pessoas de boa-fé insistam na autenticidade de muitos trabalhos desse tipo, mas a verdade é que a prática, simplesmente, não existe.
As atividades ditas mediúnicas passam a mil anos-luz de distância do Controle Universal dos Ensinos dos Espíritos, e nem de longe seguiram as recomendações de cautela de Allan Kardec. Tudo não passa de meros trotes, nos quais o suposto médium cria uma mensagem, põe o nome do morto encomendado por alguma família e insere recados religiosos para afastar suspeitas de fraude.
Sim, porque ninguém iria se irritar com mensagens "boazinhas". Ninguém vai desconfiar de mensagens que, embora mostrem irregularidades nos aspectos pessoais, mostram apelos de "fraternidade" e "orações pela paz".
Mas isso é como um "Boa Noite Cinderela" feito sob a roupagem "espírita". Adoça os corações, alegra as almas, mas entorpece as consciências e, não raro, traz até azar em nossas vidas. E essa má escola mediúnica trazida pelo astuto Francisco Cândido Xavier não deve ser aceita. O status religioso não garante qualquer validade da autenticidade presumida sob o manto da fé.
Vamos deixar de ser infantis, já que as teimosias religiosas se tornaram tão grandes e intensas e a visão do status quo como uma analogia de divindades dentro e fora do âmbito religioso faz com que o Brasil despenque nos retrocessos políticos, culturais e econômicos que criaram condições para o decadente governo de Michel Temer, confiante em efetivar seu poder até 2018.
É por causa desses deslumbramentos da fé que os brasileiros aceitam até voltar ao regime escravo. As pessoas teimam em manter inabaladas reputações de gente pouco confiável, de Luciano Huck a Chico Xavier, passando por Jaime Lerner, MC Leonardo, Ivete Sangalo, Aécio Neves e outros que são feitos "deuses" na Terra, e olha o resultado: o Brasil preso no seu próprio atoleiro.
São teimosias piores do que as de crianças pequenas. Zonas de conforto que não podem ser destruídas. Que se dane o Brasil, preserve-se os "anéis humanos" em prejuízo dos dedos. E é isso que faz de um estranho católico paranormal e criador de pastiches literários, chamado Chico Xavier, ter sido elevado a um quase Deus, promovido a "dono da verdade absoluta".
ONDE TEM CONFUSÃO, NÃO HÁ COERÊNCIA
É preciso tão somente observação. Deixemos paixões religiosas de lado, sob pena de desenvolvermos o rancor diante da pressão de abandonarmos nossas ilusões. O próprio Jesus de Nazaré havia dito que "nem todos que dizem 'Senhor, Senhor' irão para o reino dos céus" e, dois milênios depois, as pessoas ainda ficam apegadas a ídolos religiosos de trajetória confusa e irregular?
Vamos observar o caso de Chico Xavier com muita cautela. Muitíssima cautela. Primeiro, se acostumando à ideia de que ele seria duramente reprovado por Jesus e por Allan Kardec pelos conhecidos deslizes que o anti-médium de Pedro Leopoldo e Uberaba fez em sua trajetória. Isso é chocante para muitos, mas é bem realista.
É só ver as coberturas da imprensa, sobretudo entre 1932 e 1970, época em que a trajetória do anti-médium era marcada de muita confusão. Seria ingenuidade dizer que essa confusão era efeito da suposta perseguição a um "homem de bem", até porque essa visão, que muitos acreditam ser verdadeira, se apoia tão somente em estereótipos do "caipira doente e bonzinho".
O mito de Chico Xavier sempre foi atropelado de confusões e contradições seriíssimas. É tolice acreditar que isso seja injustiça contra ele. O próprio Chico Xavier é responsável, direto ou indireto, de tantas confusões causadas. E as provas que se tem sobre as irregularidades diversas que o desqualificam, seja como médium ou filantropo, são tantas e consistentes que é burrice dizer que a bondade está acima da lógica e da coerência.
Aliás, para defender Chico Xavier, só mesmo sendo tolo e infantil (no pior sentido deste termo). Cai-se em contradição, dizendo que ele está "acima de qualquer lógica ou coerência", ou que ele "é a própria lógica e coerência personificadas". Não há argumentos que deem sentido seguro a tais teses e tudo isso não passa de desculpas para sustentar a cegueira da fé e da paixão religiosa.
O que ele fez em sua suposta mediunidade é algo de mais traiçoeiro, pernicioso e enganador que se pode fazer para multidões de brasileiros. Algo que é dos mais aberrantes e vis feitos sob o verniz da fé religiosa. E que fazem Chico Xavier não ser um ícone de caridade e amor ao próximo, mas um dos piores símbolos de arrivismo pessoal de toda a História do Brasil.
Pesquisemos o caso Humberto de Campos. Se confrontarmos as obras originais do autor maranhense com as do suposto espírito e lermos com muita e muita atenção, vendo a leitura não como um entretenimento vazio mas um lazer raciocinado e analisado, veremos, com uma exatidão surpreendente, que os estilos das obras originais e dos livros "psicográficos" são extremamente diferentes.
Desculpas de que o espírito do autor esqueceu seu talento tomado de "tanto sentimento de amor" ou que doou seu talento para a "caridade", se valendo pela "linguagem universal do amor" são completamente estúpidas e ridículas. Até porque, se essas desculpas tivessem sentido, os textos do "espírito Humberto de Campos" não seriam cansativos, prolixos e rebuscados.
Nota-se nas supostas "psicografias" que os parágrafos são longos demais, a narrativa pachorrenta, os temas por demais igrejeiros, sem falar que os livros são praticamente monotemáticos e, não raro, o falso Humberto de Campos "encampa" causas de interesse pessoal de Chico Xavier que, adepto fervoroso da medieval Teologia do Sofrimento, pedia aos desgraçados "nunca reclamarem da vida".
OSTENTAÇÃO
E quanto às "cartas mediúnicas"? A tarefa que muitos "espíritas" insistem em dizer que foi "a maior bondade de Chico Xavier" ou "a maior caridade que um homem pode fazer pelo próximo", é, na verdade, um dos atos mais perniciosos de exploração da boa-fé alheia e uma das piores crueldades na exploração sensacionalista da dor familiar.
Em primeiro lugar, porque são mensagens padronizadas, e as pessoas, deslumbradas pela fé religiosa, se esquecem de que as mensagens divulgadas por supostos médiuns sempre levam os estilos pessoais dos mesmos.
As de Chico Xavier sempre foram padronizadas, com o mesmo apelo igrejeiro, e quando pareciam diferentes havia um pano de fundo tendencioso por trás. Como, no caso dos livros "mediúnicos", o falso Humberto de Campos, a essas alturas escondido pelo risível pseudônimo Irmão X, "entrevistando" Marilyn Monroe em 1969, num suposto contato entre os dois espíritos falecidos, onde a lembrança do mito sensual amenizava o habitual estilo igrejeiro.
No caso de Jair Presente, nota-se que, depois do falecimento dele, em 1974, a primeira mensagem "mediúnica" a ele atribuída tem o mesmo estilo suavemente igrejeiro de Chico Xavier. Houve reclamações de parentes e amigos do jovem universitário, o que fez com que as mensagens seguintes tivessem uma diferença bastante surreal.
As mensagens seguintes mostravam um Jair Presente tresloucado, parecendo um hippie caricato, com um excesso de gírias que nenhuma linguagem coloquial normalmente comportaria e numa linguagem que, em princípio, soava muito tensa e, depois, retomava o igrejismo mesmo com esse coloquialismo postiço.
Os amigos de Jair Presente tinham toda razão de desconfiarem de tais mensagens. E, aí, Chico Xavier deixa cair a máscara do "todo bondoso" e "misericordioso", soltando uma maledicência, irritado, contra os amigos de Jair, chamando a desconfiança deles de "bobagem da grossa", tratando de forma ridícula os amigos do falecido, que tinham conhecimento de causa para tal desconfiança.
Muitas mensagens "mediúnicas" são assim. E muitas famílias caem nas armadilhas, o que mostra que nem sempre pais e mães conseguem conhecer a natureza complexa de seus filhos. E, o que é pior, as tragédias familiares, que poderiam se dissolver na privacidade, se prolongam na ostentação do sensacionalismo religioso.
Sim, religiosidade traz sensacionalismo, e o que se via eram reportagens e reportagens sobre famílias que perderam entes queridos, numa exploração pitoresca descomunal. As pessoas perdiam o sossego, sofriam o assédio de jornalistas, filas intensas se alongavam para o atendimento do popstar Chico Xavier, tudo acabava sendo uma mera propaganda deste "médium".
E tudo porque ele inventou mensagens, colheu informações de várias fontes, contou com colaboradores para a pesquisa bibliográfica e a "leitura fria". E se fosse um trote telefônico, ele também consolaria? Um trote com mensagens religiosas tem mais valor do que uma mensagem verídica de alguém? Pensemos nisso.
sexta-feira, 19 de agosto de 2016
Ad Passiones: a falácia que salvou e protege Chico Xavier
O Brasil não tem o hábito de averiguar as armadilhas do discurso. Se ilude com a aparência e, nos últimos meses, é justamente a supremacia do status quo social que é posta à prova, constantemente, mostrando uma crise sofrida por quem nunca pareceria ser abalado por ela.
Aliás, é uma série de crises. E isso parte de um governo que poderia representar, simbolicamente, os mais elevados conceitos de transparência, objetividade, técnica, imparcialidade e organicidade, o governo de Michel Temer, mas representa o que há de mais abjeto, retrógrado, confuso e corrompido na sociedade brasileira.
Verdadeiras "babilônias" tentam se manter em pé através da manutenção desesperada de suas zonas de conforto. Hierarquias e valores moralistas, mesmo simbolizadas por políticos corruptos e por assassinos machistas ou latifundiários que, mesmo idosos, muitos têm medo de ver morrer, isso num país em que personalidades bem mais importantes, muitas vezes, morrem cedo.
Aquele Brasil da Era Geisel as pessoas não querem ver perder. Era um período considerado feliz para setores ultraconservadores da sociedade brasileira, com uma democracia ao mesmo tempo "garantida" e controlada, dentro de um sistema de hierarquias que deveria ser preservado ou, quando muito, recuperado através da violência.
As pessoas se ofendem quando se diz que esse país já velho e mofado está perecendo. Se ofendem quando seus ídolos e totens podem falecer ou serem desmascarados. vivem em eterna nostalgia ouvindo os mesmos velhos hits setentistas, as mesmas nostalgias doentias. Não é uma saudade saudável, mas uma saudade doentia, de antigos privilégios plutocráticos, patriarcalistas, coronelistas.
No "espiritismo", nota-se a obsessão e o apego em torno do mito de Francisco Cândido Xavier. Um sentimento doentio, que já fez muita gente perder a cabeça com a menor discordância, e faz pessoas que se dizem portadoras de boas energias se inflamarem em agressividade descomunal e arrogância sem limites.
O mito de Chico Xavier é ilustrativo desse velho país que não quer sair de cena, de entulhos sócio-culturais que não podem ser sequer removidos. E que faz os setores sociais entrarem em surto e pedirem a volta forçada aos "velhos tempos" que não voltam mais.
Querem um coronelismo do século XIX. Pensam a mobilidade urbana e o transporte coletivo com os olhos da Curitiba de 1974, ainda com o general Médici no governo. Pensam as relações amorosas dentro dos limites de um machismo que só admite um feminismo limitado e condicionado, com mulheres emancipadas casadas e mulheres-objetos (com as "frutas" e "popozudas" de sempre) liberadas para a solteirice.
Essa "volta ao passado" se dá como se o Brasil se dispusesse de uma máquina do tempo para viajar para os tempos de Emílio Médici, para a República Velha ou mesmo para o Brasil das capitanias hereditárias, ou pudesse manter "vivos" cadáveres de feminicidas mortos como no filme Um Morto Muito Louco (Weekend at Bernie's) e brincando com o WhatsApp indiferente à catástrofe política que é o governo Temer.
Os "espíritas" piram e já definiram como "libertadoras" as passeatas de 13 de março passado, que não foram necessariamente o auge mas, a título de marketing, se anunciou como o ponto culminante dos protestos anti-PT, quando a verdade é que já houve protestos mais animados um ano antes.
É o "espírito do tempo" que tenta a qualquer preço salvar Chico Xavier, quando textos revelam dados sombrios sobre sua ascensão arrivista, a transformação de um beato católico que fazia pastiches literários em "ícone máximo da bondade".
CHICO XAVIER ERA ARRIVISTA
Embora já exista um esforço grande em investigar as irregularidades por ele deixadas, o mito de Chico Xavier tenta desafiar até mesmo a lógica e o bom senso, o que revela um fanatismo doentio de intensidade febril dos seus seguidores. Alguns se escondem num falso discurso de sabedoria e numa falsa sensação de mansidão, mas a verdade é que mesmo isso é feito devido a um mal disfarçado desespero.
E qual a origem de tanta obsessão? Pouco importam, aqui, os malabarismos discursivos que apelam tanto para falsas evocações científicas e filosóficas, e nem na inconcebível possibilidade de enfiar Chico Xavier e companhia numa hipotética recuperação das bases kardecianas, como quem tenta encaixar um cubo num buraco redondo.
O que se observa é que, antes da FEB o transformar num astro pop e antes da Rede Globo fazer de Chico Xavier um "ícone máximo de bondade", ele não passava de um católico oportunista, ávido por prestígio, um poeta mediano que se deu a escrever livros botando na conta dos autores do além, sem no entanto ser fiel aos estilos dos falecidos escritores.
Pensando com objetividade, Chico Xavier causou muita e muita confusão e por isso não merece a reputação de superioridade que recebeu e é mantida postumamente por seus fanáticos seguidores. E isso se dá numa análise imparcial, objetiva, desprovida da habitual complacência religiosa, perigosa no seu apego desesperado a fantasias comoventes, à mancenilheira da emotividade extrema.
Irregularidades da trajetória do "bondoso médium", aqui citadas, das quais se destaca a mais perniciosa e sórdida apropriação de Humberto de Campos, enganando tanto a mãe (Ana de Campos) quanto o filho (Humberto de Campos Filho) do autor maranhense, e a exploração sensacionalista das tragédias familiares, condenadas à ostentação, mostram o quanto Chico Xavier, em vez de ser considerado "puro", deveria ser considerado um dos mais ordinários e oportunistas brasileiros.
APELO À EMOÇÃO
Voltando aos episódios passados, vemos todo o escândalo que causou o livro Parnaso de Além-Túmulo, ao qual se concluiu ser uma coleção de fraudes, com sérios pastiches literários. Sem dificuldade, podemos ver que os nomes de Auta de Souza, Casimiro de Abreu, Augusto dos Anjos e Olavo Bilac ali exibidos não correspondem aos seus respectivos estilos originais e, em muitos casos, estão apenas para representar opiniões pessoais de Chico Xavier.
O mesmo caso se deu com Humberto de Campos, cujo nome ficou associado, na suposta psicografia, a textos pesados, prolixos, moralistas, melancólicos, cheios de vícios de linguagem, que nunca iriam aparecer na obra original do autor maranhense. "O espírito sobe, o talento desce", ironizou o jornalista de Realidade, Léo Gilson Ribeiro, em 1971.
O meio literário reagiu com muita indignação. Mas, por incrível que pareça, com muita razão de sobra. Com muito conhecimento de causa, críticos literários sérios desqualificavam a obra de Chico Xavier apontando irregularidades diversas. Nomes como Osório Borba e João Dornas Filho faziam argumentos consistentes e lógicos.
Houve até mesmo um processo judicial movido pelos familiares de Humberto de Campos, antes do filho homônimo se render ao "canto de sereia" de Chico Xavier. Foi em 1944. Se hoje vemos irregularidades e complacências no meio jurídico, com medo de investigar a corrupção de políticos do PSDB, apesar das provas documentais, o caso Humberto de Campos mostra que nossa Justiça é ainda muito frágil para agir em prol da coerência e da lógica.
O mito de Chico Xavier poderia ter morrido em 1944. Ele, desmascarado, saindo de cena, voltando ao ostracismo, vivendo sua vida de pessoa comum. Mas a FEB, ávida em ganhar dinheiro - o nome Chico Xavier já era garantia de muitas vendas - , sob uma mal disfarçada mas comodamente aceita desculpa de "investir na caridade", decidiu se servir de uma falácia para salvar sua "galinha dos ovos de ouro".
Trata-se da falácia chamada Ad Passiones, palavra em latim que significa "apelo à emoção". Consiste num recurso de convencimento que explora as fraquezas emocionais do interlocutor, pronto a aceitar argumentos pouco consistentes como se fossem "verdades indiscutíveis" só porque atributos diversos são evocados por esse discurso.
Isso vem do filósofo Aristóteles, que disse, no livro Retórica: "O orador convence por meio de seus ouvintes, quando estão despertos para a emoção por seu discurso, porque os julgamentos que oferecem não são os mesmos quando são influenciadas pela alegria ou tristeza, amor ou ódio".
Uma variante do Ad Passiones é o Argumentum Ad Misericordiam, conhecido como "apelo à misericórdia" e "apelo à bondade". Segundo o Guia de Falácias Lógicas de Stephen Downes, o "leitor é instado a concordar com a proposta por causa do estado deplorável do autor".
É justamente isso que salvou e protege o mito de Chico Xavier. Usava-se sua aparência frágil, a princípio de um caipira ingênuo, depois acrescido ao de um idoso doente, o que foi um prato cheio para ninguém ficar fazendo críticas a ele.
O mito de Chico Xavier, na verdade, envolve uma série de procedimentos discursivos e rituais que vão de práticas de ilusionismo circense a manipulação da retórica. E, diante do caso Humberto de Campos, o espertalhão que estava por trás do aparato de caipira inocente foi favorecido pela própria carteirada que fez para a Justiça, naquele 1944.
Primeiro, aproveitou-se a hesitação da Justiça, que, nos padrões da sociedade da época, não entendeu a razão do processo e disse que os problemas de direitos autorais não envolviam obras atribuídas aos espíritos do além. Diante disso, o processo terminou empatado, sem que Chico Xavier e a FEB ganhassem, da mesma forma os herdeiros de Humberto de Campos.
Mas é como um empate que rende pontuação para um dos disputantes. E ainda veio uma mensagem fraudulenta, do suposto Humberto de Campos, mas com um conteúdo que claramente se verifica ter sido escrito a quatro mãos por Antônio Wantuil de Freitas, presidente da FEB, e o próprio Chico Xavier, demonstrando "tristeza" por causa do processo movido pelos herdeiros do autor.
Isso criou um processo arrivista, em que práticas ilusionistas, manipulação discursiva e argumentações contraditórias eram feitos apoiados por um apelo insistente à emotividade. Daí que, recentemente, virou um hábito dizer que "Chico Xavier errou, e muito, mas pelo menos ele foi bondoso".
Isso é uma grande falácia, que também sustenta seus derivados - como o discípulo Divaldo Franco, exímio manipulador da palavra - , e que revela um gravíssimo problema filosófico: a ideia de "bondade" pode estar associada à desonestidade doutrinária e às fraudes literárias?
Esse problema aponta outras questões: mensagens de amor podem legitimar um pastiche literário? Se pode enganar as pessoas em nome do amor? A caridade pode se servir também de práticas desonestas? Vale até mesmo o sensacionalismo para praticar a caridade? Seremos fraternos com a aceitação da mentira e da mistificação? Pode-se tornar espírito de alta elevação espiritual às custas de muitas e graves fraudes?
O que dizer, por exemplo, de Chico Xavier defendendo a ditadura militar na sua época mais violenta? E as ideias dele sobre as desgraças humanas, dentro dos tirânicos conceitos da Teologia do Sofrimento do Catolicismo medieval? E o apoio que ele deu para as fraudes de materialização, sobretudo o espetáculo ilusionista de Otília Diogo, não lhe exime de responsabilidade?
A bondade pode ser irresponsável? Pode ser ilógica e incoerente? A bondade pode ser fraudulenta? A bondade pode eximir alguém de culpa por erros gravíssimos cometidos? A pureza espiritual pode ser garantida mesmo com escândalos gravíssimos, destes de fazer a consciência ficar pesada, se caso faltasse a complacência dos incautos?
São problemas sérios e contradições que os "espíritas" não querem admitir. Eles mesmos parecem não querer assumir responsabilidade para tais problemas. Eles botam a sujeira debaixo do tapete, e são os primeiros que, apesar do discurso "futurista" dos "novos tempos", mais querem que o Brasil se retroceda para os períodos do jesuitismo colonial.
E isso mostra que Chico Xavier sempre se beneficiou pela falácia do "apelo à emoção", sobretudo do "apelo à piedade", para livrar-se da própria responsabilização de seus erros. Só que os piores culpados são aqueles que, errando gravemente, tentam fugir dessa responsabilidade em assumir seus efeitos drásticos. E é isso que faz Chico Xavier, Divaldo Franco e companhia os espíritos mais ordinários que o Brasil conheceu em toda sua História.
quarta-feira, 17 de agosto de 2016
A crise dos atributos materiais não pode ser desprezada
As elites, sejam elas políticas, econômicas, culturais, acadêmicas, tecnocráticas etc estão pouco preocupadas. O país está em crise, e o governo de Michel Temer simplesmente agravou esse quadro, e as pessoas "de cima" deveriam olhar para si mesmas.
A crise mostra a fragilidade dos setores conservadores, que nos últimos meses forçaram a barra e querem impor uma agenda ultraconservadora e retroceder o tempo, saudosos de contextos que podem variar entre o "milagre brasileiro" da ditadura militar, a República Velha ou a Idade Média.
Pessoas marcadas pelo poder da fama, da política, do dinheiro, da religião, da falocracia (machismo), da raça (branca), do diploma (tecnocrata) e outros atributos de domínio social estão cada vez mais cometendo erros e se mostrando vulneráveis e frágeis.
Os movimentos que variam de um simples golpe político-jurídico, como o impeachment de Dilma Rousseff, aos atos terroristas em antigos paraísos de consumo (Nice, Orlando, Paris), mostram que os "de cima" tentam salvar um velho mundo que está prestes a se destruir.
Mesmo o "espiritismo" brasileiro se encontra nesse contexto. E, além disso, deixa vazar que é coincidência demais tantos artigos sobre "aguentar o sofrimento" quando o governo de Michel Temer impõe uma pauta bastante amarga para os brasileiros comuns.
Tantos textos pedindo para sofredores "mudarem os pensamentos", "abrirem mão de seus desejos", "aceitarem as dificuldades extremas", o que deixa a mensagem subliminar de que os "espíritas" estão apoiando o governo retrógrado de Michel Temer, espécie de versão piorada do já desastrado período de Fernando Henrique Cardoso.
Sobre essa comparação, muitos já dizem que o governo Michel Temer, em cerca de dois anos, fará muito mais estragos que Fernando Henrique fez em oito anos. Se bem que os tucanos, que apoiam o governo Temer, já aprontaram demais na Era FHC: documentos comprovam que o PSDB desviou gigantescas somas de dinheiro público e da arrecadação em privatizações para contas pessoais de seus integrantes e de amigos e familiares.
A tranquilidade suicida das pessoas, que na sua falta de noção da realidade - tornou-se comum o aberrante ritual de amigos se reunirem não mais para conversar, mas para cada um ver o WhatsApp no celular - , só espera a saída definitiva da presidenta Dilma para viverem o que acreditam ser a plenitude de suas vidas prósperas.
Há uma serenidade um tanto imprudente de que, retrocedendo a vida humana para tempos de injustiças sociais toleradas e privilégios livremente abusivos das elites, tudo ficará sob controle. Não é assim que acontece. Com as transformações dos tempos, os novos agentes sociais não se resignarão com os retrocessos que acontecerão quando Michel Temer se tornar presidente efetivo.
Num primeiro instante, são os novos agentes sociais - como classes populares e a sociedade LGBT - a serem prejudicados quando, só no mercado de trabalho ou na Educação, respectivamente surgem esforços para retomar os padrões profissionais do século XVIII e a metodologia educacional dos tempos austeros da Companhia de Jesus.
Mas, num segundo instante, são as elites que mostrarão sua fragilidade dramática, por vezes trágica, porque os novos agentes sociais poderão reagir drasticamente a essa marcha-a-ré social, a essa forçada caminhada para trás da História, movida por uma nostalgia doentia da plutocracia e outras forças dominadoras, tomadas pela saudade obsessiva de períodos de privilégios extremos e um quadro mais ou menos controlado e estável de desigualdades sociais.
Vemos o apodrecimento de estruturas retrógradas, que tentam ser salvas num momento em que elas se tornam obsoletas ou em desgaste avançado, algo como salvar uma pessoa em estado terminal de uma doença, mesmo que seja para fazer fingi-la de viva.
É como nos antigos hábitos sociais do século XIX e começo do XX, quando famílias maquiavam os mortos para aparecerem em fotos de família como se fossem ainda vivos. Um hábito macabro, que é amplamente divulgado na Internet, e que pode ser o estado de espírito do Brasil de hoje. Mas a sociedade só se mostra cada vez mais vulnerável com esta tendência de tentar reciclar o já perecido.
segunda-feira, 15 de agosto de 2016
Deturpadores da Doutrina Espírita nunca têm descanso
O "espiritismo" brasileiro, sabe-se, é o triunfo do Roustanguismo, ou seja, a deturpação da Doutrina Espírita feita por Jean-Baptiste Roustaing que corrompeu os ensinamentos de Allan Kardec sujando-os de preconceitos igrejistas medievais.
Como é de praxe no Brasil, tudo isso é dissimulado e enrustido, embora, num passado distante, houvesse roustanguistas mais assumidos e escancarados. Hoje prevalece a tendência dúbia, que bajula Kardec, finge cientificismo e exalta o igrejismo de Francisco Cândido Xavier e companhia.
Os "espíritas" que transformam o pensamento de Allan Kardec num engodo igrejeiro não descansam. Eles persistem por acharem eles que estão com a palavra final, devido ao status religioso em que se encontram. Acreditam que as críticas que sofrem e a crise que os atinge são apenas "tempestades momentâneas", crentes de que os "espíritas" irão passar por cima de tudo, ainda que seja por cima do bom senso e da verdade dos fatos.
Deturpadores que fizeram igualzinho Roustaing, como Chico Xavier e Divaldo Franco, que lançaram as mesmas ideias igrejistas, que vieram com bobagens esotéricas - Roustaing veio com os "criptógamos carnudos" (pessoas reencarnadas em vermes, plantas ou insetos, ou, quem sabe, até em vírus como o HIV e o zyka), Chico com as "cidades espirituais" e Divaldo tomou emprestado a farsa de "crianças-índigo", são tidos como sábios e tentam sobreviver a toda adversidade.
Sim, é chocante para muitos dizer que Chico e Divaldo são discípulos do perverso Roustaing. Mas isso está claro nos livros que os dois anti-médiuns brasileiros lançaram. O malabarismo discursivo que transforma deturpação em palavras dóceis não elimina o tom da deturpação, antes convertesse essa retórica numa mancenilheira de mensagens que adoçam corações e envenenam vidas.
Os "espíritas" tentam persistir e ainda botam tudo na conta de Allan Kardec. Para piorar, escondem Roustaing debaixo do tapete, como um "Eduardo Cunha" dos tempos kardecianos, um reacionário útil que se mostra depois incômodo e, aparentemente descartado e desprezado, tem a essência de seu legado preservada e atribuída a terceiros.
A deturpação da Doutrina Espírita vive de coitadismo e triunfalismo, como é de praxe no Brasil. Ideologias retrógradas mas falsamente modernas sempre fazem esse teatro do vitimismo, alegando ser "injustamente" atacada e confiante de que a tsunami de contestações duras dará lugar ao mar de rosas da aceitação plena.
Isso é muito perigoso. Cria-se um ciclo vicioso no qual se observa em muitos palestrantes "espíritas": de um lado, a falsa defesa a Allan Kardec e ao seu legado científico; de outro, a exaltação do igrejismo medieval expresso de forma explícita pelos "adoráveis" deturpadores Chico Xavier e Divaldo Franco.
Um palestrante diz, num texto, que "o pensamento de Allan Kardec é de surpreendente atualidade". Depois, retorna ao seu igrejismo exaltando os dois grandes deturpadores. Um outro palestrante fala mal da "vaticanização do Espiritismo", mas também exalta os dois "médiuns", que, na prática, não só vaticanizaram como constantinizaram a Doutrina Espírita (constantinizar se refere ao imperador romano Constantino, "pai" do Catolicismo medieval).
E por aí vai. E ainda tem páginas de "filosofia imortal" embarcando na bobagem da "data-limite", em que um simples sonho de um deturpador da Doutrina Espírita é interpretado como se fosse um engenhoso tratado filosófico e profético para a humanidade da Terra.
Os deturpadores não descansam, insistem no mesmo discurso triunfalista, acham que as críticas que recebem são "tempestades momentâneas" que passarão e darão lugar a um "sol radiante". Não têm autocrítica, não cedem a um só ponto e ficam felizes e impunes acendendo velas a figuras antagônicas, sendo uma Allan Kardec e outra Chico Xavier.
Isso é muito mal. E quem sai perdendo é quem acredita neles, embarcando num moralismo religioso e esotérico que, em muitos casos, traz muito azar, e corrompe a forma com que as pessoas tentam perceber o mundo em que se vive. Infelizmente, o roustanguismo triunfou como um Eduardo Cunha que prevaleceu no governo Michel Temer e apenas está escondido "debaixo do tapete".
sábado, 13 de agosto de 2016
"Vencer a si mesmo" e a falta de humanismo no "espiritismo"
PARA OS ESPÍRITAS, PIMENTA PODE SER UM "BOM COLÍRIO" PARA OS OLHOS DE ALGUÉM.
Muito fácil dizer a quem sofre: "aceite as desgraças e tenha confiança. Vença o maior inimigo, que é você mesmo". O "espiritismo", pensando assim, comprova ser seguidor da Teologia do Sofrimento, tendência da Igreja Católica de origem medieval, e isso é feito da maneira mais explícita possível, a partir do próprio "bom exemplo de Francisco Cândido Xavier.
Sim, é isso mesmo. O próprio Chico Xavier sempre dizia em suas próprias palavras para ninguém reclamar ante o sofrimento, para as pessoas aceitarem desgraças, fosse o preço que tiverem que pagar (se é que poderão pagar), visando sempre os prêmios da "vida futura", as tais "bênçãos futuras" que mais parecem tentativa de se definir o nada como alguma coisa boa.
Chico Xavier foi adepto da Teologia do Sofrimento e deve-se divulgar isso amplamente, porque isto está muito claro em suas palavras e da forma mais explícita possível. Não é possível dizer que esta constatação é fruto de interpretação equivocada ou maledicência, porque está tudo claro nas próprias palavras do anti-médium mineiro.
"Sofrer sem demonstrar sofrimento", "não reclamar das desgraças da vida", "aguentar o sofrimento e confiar no futuro", tudo isso Chico Xavier havia dito diversas vezes, em livros, depoimentos e entrevistas. E o pessoal tão tolamente acreditando que o "bondoso médium" era progressista! Pode isso?
Em muitos casos, é como se o "espiritismo" dissesse para um condenado à prisão perpétua que, se comportar direitinho, conquistará a liberdade. Que liberdade é essa, que benefícios terá, isso é um mistério, mas é uma manobra sutil e bem esperta de cada religião usar o incerto como certo, levar sempre a pessoa a acreditar na certeza daquilo que é duvidoso.
É como naquele quadro de um antigo programa de Sílvio Santos. em que a pessoa abre um recipiente para ver se tem um buquê de flores (que vale um prêmio em dinheiro) ou se salta uma cobrinha de brinquedo, e, abrindo o objeto, sai a segunda opção.
É desumano. Você sofre desgraças sucessivas, precisa de auxílio, vê tudo ocorrer errado em sua vida, e o "espírita" ali, insensível, dizendo que as reclamações são "frescura", que o drama que você vive é apenas "uma sucessão de desafios" e o único conselho que ele lhe dá é para aceitar a situação e confiar "no Alto".
O "espiritismo" ignora necessidades humanas. É muito fácil para o "espírita" que se acha detentor da "melhor palavra", dizer para alguém abrir mão de seus desejos, de suas necessidades, de seus talentos, de seus projetos de vida, de suas habilidades, e fazer a vida do nada depois dos prejuízos acumulados.
Se uma mulher pede um homem de caráter e atrai um empresário de índole medíocre, ela que tenha que aceitar e, como diz a gíria, "carregar casamento". Se o homem quer uma mulher de caráter e só atrai uma periguete, ele que aceite, e o "espírita" ainda diz para ele "ajudá-la a ter caráter", ensinar "coisas boas".
Pior é quando essa periguete for uma ex-namorada de um miliciano e ele não ter se conformado com o fim da relação. Mas aí, se o pobre rapaz assediado pela periguete for espancado pelo miliciano e seus comparsas, o "espírita", como um Amigo da Onça que é, usará a desculpa dos "resgates espirituais": "De repente você fez algo ruim em outra vida e está pagando por isso. Mesmo assim, ore e confie".
Quem está no fundo do poço terá que aceitar isso como "desafio"? E se a pessoa, de desgraça em desgraça, vê sua vida se converter num cotidiano de mendigo, no perigo das ruas, na insegurança da noite, na sujeira das calçadas, no frio do clima em certos dias? Será ela também "cumpridora de testes sucessivos"?
Isso mostra o quanto o "espiritismo" se revela uma religião desumana, moralista, perversa, com seu igrejismo viciado, com seu conservadorismo muito mal assumido, e a doutrina brasileira comprovou que nada tem a ver com Allan Kardec e suas ideias progressistas e racionais, já que os "espíritas" brasileiros querem mesmo é fazer um Catolicismo dissimulado, embora claramente medieval.
É muito fácil um "espírita" dizer para o outro que sofre para ele aceitar tudo ou se sacrificar acima dos limites para "vencer na vida". E é muito mais fácil para o "espírita" que recebe medalhas e condecorações por suas palestras, como um mero acrobata das palavras, dizer para o outro "vencer a si mesmo".
Mas a verdade é que "vencer", no caso, é "derrotar" e o que o moralismo "espírita" quer é que o sofredor se derrote, deixando de lado sua individualidade e sendo apenas um "qualquer um" que dá murro em ponta de faca para ter apenas uma pequena parcela de benefícios.
Daí que o "espiritismo" demonstra seu sadismo, quando espera arrogantemente que surjam casos de "superação" de pessoas que enfrentaram dificuldades pesadas demais. Só que, esperar por exemplos assim já revela uma crueldade assustadora, já que o moralismo religioso, com isso, acaba fazendo propaganda às custas da desgraça alheia.
quinta-feira, 11 de agosto de 2016
"Espíritas" tendem a ter morte mais dolorosa que a dos ricos
O "BOA-VIDA" JORGINHO GUINLE.
Há uma frase atribuída a Jesus de Nazaré que diz "É mais fácil um camelo entrar na cabeça de uma agulha do que um rico entrar no Reino dos Céus". A frase é de uma coerência indiscutível, mas ela é complementada por outra que parece oposta, mas não é.
Essa frase é que é "mais fácil um rico entrar no Reino dos Céus do que um 'espírita'". Exagero? Diante do que vemos nesse igrejismo medieval que é o "espiritismo" brasileiro, não há exagero. Embora os ricos estejam longe de serem sequer um arremedo de pessoas iluminadas, numa comparação ligeira, entre um aristocrata e um "espírita", o primeiro tem mais chance.
Pelo menos, o que se pode admitir é que os ricos não têm tantas ilusões em suporem o ingresso celestial no além-túmulo. Mesmo os que se entregam à cegueira dos caprichos materialistas, da futilidade dos gozos terrenos, eles têm noção de que não serão recebidos com pompas e solenidades na porta de entrada do Paraíso.
Mesmo o mais fanfarrão dos ricos, ou o mais desequilibrado dos aristocratas que se mancham em crimes diversos, quando estão na agonia da velhice enferma, sabem que não lhe esperará, no além-túmulo, corais de anjos e autoridades oferecendo troféus e medalhas.
É verdade que as classes ricas, num contexto em que a plutocracia assaltou o poder e conquistou a República brasileira na marra, estão mais próximas da tragédia do que da bonança. Mas aí, ironicamente, os "espíritas" demonstram um apoio sutil a esse governo, representado por Michel Temer, justamente quando em torno dele cercam setores mais ricos e poderosos da sociedade e, para piorar, mais comprometidos com o egoísmo e o prejuízo de multidões.
Sim, a dita "religião da bondade", tão preocupada em pregar a "caridade" e a "humildade", andou surtando ao pedir que "oremos em favor" de governos plutocráticos que atendem aos interesses elitistas. Paciência, a FEB defendeu o golpe de 1964 e apoiou a ditadura militar. Fatos comprovam.
Mesmo assim, os "espíritas" mantém o agravante de que, protegidos por uma mítica religiosa, acreditam ter seu acesso garantido ao Céu ou, na pior das hipóteses, a designação de, pelo menos, mais uma encarnação "a serviço do bem e do amor ao próximo".
DOIS CASOS
Vamos descrever dois casos, de um ricaço que tinha uma vida extravagante, mas um caráter moral leviano e até simpático, e um esperto beato religioso, que muitos acreditam ser o "símbolo máximo de caridade brasileira de todos os tempos".
De um lado, Jorge Guinle, aristocrata carioca, de uma família rica, associada ao Copacabana Palace, famoso por seus contatos com autoridades, celebridades e com o who is who do glamour e do luxo do mundo inteiro em seu tempo.
De outro, Francisco Cândido Xavier, funcionário público nascido no interior de Minas Gerais, beato católico de crenças ortodoxas mas que tinha como única diferença uma paranormalidade, que era bem mais limitada do que se pode imaginar.
Ambos faleceram, mais ou menos na mesma época e faixa etária. Chico Xavier, com 92 anos, em 2002. Jorginho Guinle em 2004, aos 88 anos. E adivinhem quem é que teve a morte mais dolorosa, quem é que se decepcionou mais quando retornou à chamada "pátria espiritual"?
Evidentemente muitos vão dizer que foi Jorginho Guinle, um "boa vida" que nada fez de útil, e que por isso levou um grande choque quando, no mundo espiritual, viu que era pior do que um mendigo, enquanto o frágil Chico Xavier chegou triunfante no mundo espiritual com a certeza de ter completado sua missão na Terra. Correto?
Errado! Extremamente errado! Jorginho Guinle era o tipo de pessoa que não esperava o ingresso ao Paraíso. Ele tinha todo o luxo material, vivia toda a ilusão de vida aristocrática, mas em toda sua vida, ele não causou graves problemas à humanidade, apenas viveu sua vida com alegria e era até uma figura simpática, além do fato de ter escrito um modesto livro sobre jazz.
Já Chico Xavier "penou" quando o além-túmulo sepultou todas as ilusões que a chancela religiosa traz, já que poucos percebem que a religião traz ilusões muito mais perigosas do que a fortuna, já que o status religioso trabalha com riquezas "invisíveis", fora o fato que o "espiritismo" brasileiro é herdeiro do Catolicismo medieval.
Poucos admitem isso. O "espiritismo" brasileiro é influenciado pelo Catolicismo medieval pelo legado dos jesuítas portugueses, Isso é fato, não há como escapar. Da mesma forma, os "espíritas" têm no seu DNA a visão igrejista de Jean-Baptiste Roustaing, como o Michel Temer tem como DNA as "pautas-bombas" de Eduardo Cunha. Esconder o idealizador e assumir suas ideias não significa romper com a herança do mentor descartado.
O "espiritismo" brasileiro de hoje é roustanguista até a medula, mesmo que bajule Allan Kardec zilhões de vezes. Mesmo que usurpe os avisos de Erasto e deturpem ao sabor dos "espíritas" brasileiros. Mesmo que ilustre palestras milionárias em hotéis cinco estrelas com figuras da anatomia humana e cenários de universo estrelar. Mesmo que seus periódicos façam um verdadeiro desfile de citações de personalidades científicas aqui e ali.
Chico Xavier, do contrário de Jorginho Guinle, causou muita confusão. E, enquanto o aristocrata apenas deixava sua vida fluir, o "médium" fazia seu arrivismo, usando a caridade de forma leviana só para legitimar suas fraudes pseudográficas e os valores retrógrados que pregava em livros e depoimentos.
CHICO XAVIER CAUSOU MUITA CONFUSÃO
Os adeptos de Chico Xavier têm que cair na real e admitir que ele foi um arrivista, um caipira plagiador e pastichador de livros que usou a religião como um trampolim pessoal. Ele nada teve dessa imagem de "caridade" e "bondade" que nunca passaram de um mito trabalhado, em primeiro momento, pelo seu mentor terreno Antônio Wantuil de Freitas, o presidente da FEB que nunca foi santificado da mesma forma, e, em segundo momento, pela maquiavélica Rede Globo de Televisão.
Ele causou confusões diversas, tentou atenuar fraudes literárias com "mensagens de amor", se autopromoveu às custas dos mortos e da ostentação dos sofrimentos familiares, e forjou uma falsa superioridade espiritual quando, nos bastidores, chegava a praticar a maledicência e o juízo de valor que sempre condenava dos outros, acusando levianamente vítimas de um incêndio em um circo de Niterói e falando mal de amigos de um jovem morto, Jair Presente, só porque eram céticos.
São verdades dolorosas que os chiquistas se recusam a ouvir, tapando olhos e ouvidos e, evidentemente, se calando quando não conseguem argumentar ou quando são rebatidos nos seus ataques. Pois os chiquistas também atacam e ferem os contestadores, bem mais do que as verdades cortantes que estes trazem derrubando o mito fabuloso e fantasioso do "bondoso médium".
Só a deturpação que Chico Xavier fez da Doutrina Espírita é um mal dos mais extremos, uma desonestidade doutrinária que, em muitos momentos, teve a responsabilidade direta do "médium", e, em outras, o fez consentir com as "orientações" de Wantuil.
Com tantas confusões criadas, é impossível que Xavier tivesse consciência tranquila, embora ele acreditasse que, sendo beato religioso, fazendo a "filantropia de fachada" que fascina mais pela embalagem religiosa do que pelo (ínfimo) número de beneficiados, ele acreditasse que seria perdoado pelo Alto e fosse, com todos os erros e confusões, aceito no "banquete eterno dos puros".
Grande ilusão. Ao regressar para o mundo espiritual, Chico Xavier tomou um choque violento por saber que o mundo espiritual não é uma igreja e a vida humana não é simplória para que a embalagem religiosa garantisse a pureza moral necessária para o ingresso ao Paraíso. Com certeza, Chico Xavier teria se decepcionado com o retorno à "pátria espiritual", quando não foi recebido de forma esperada pelos anjos do céu e ainda teve a noção de que teria que reencarnar muitas e muitas vezes.
Já dá para perceber como será o choque que Divaldo Franco terá quando regressar ao além, quando não haverá corais de anjos, nem solenidades, nem autoridades lhe saudando, nem concessão de medalhas e condecorações, nem sequer assinatura de atestados confirmando o ingresso definitivo ao Reino dos Puros.
Com isso, é possível que Jorginho Guinle tenha tido melhor sorte quando, retornando ao mundo espiritual, teria estado consciente de sua imperfeição espiritual e, não causando sérias confusões, teria tido uma consciência muito mais tranquila do que os "espíritas" que, tomados pela ilusão do status religioso, tinham pressa de estar entre Anjos e Santos.
Jorginho Guinle está muito mais preparado para uma evolução espiritual rápida, já que o aristocrata aproveitou melhor sua alegria de viver sem pretensões e, consciente de sua imperfeição, tem muito mais capacidade de superar seus defeitos, em vez de se entorpecer por uma pretensa perfeição moral movida pelas sensações terrenas.
Há uma frase atribuída a Jesus de Nazaré que diz "É mais fácil um camelo entrar na cabeça de uma agulha do que um rico entrar no Reino dos Céus". A frase é de uma coerência indiscutível, mas ela é complementada por outra que parece oposta, mas não é.
Essa frase é que é "mais fácil um rico entrar no Reino dos Céus do que um 'espírita'". Exagero? Diante do que vemos nesse igrejismo medieval que é o "espiritismo" brasileiro, não há exagero. Embora os ricos estejam longe de serem sequer um arremedo de pessoas iluminadas, numa comparação ligeira, entre um aristocrata e um "espírita", o primeiro tem mais chance.
Pelo menos, o que se pode admitir é que os ricos não têm tantas ilusões em suporem o ingresso celestial no além-túmulo. Mesmo os que se entregam à cegueira dos caprichos materialistas, da futilidade dos gozos terrenos, eles têm noção de que não serão recebidos com pompas e solenidades na porta de entrada do Paraíso.
Mesmo o mais fanfarrão dos ricos, ou o mais desequilibrado dos aristocratas que se mancham em crimes diversos, quando estão na agonia da velhice enferma, sabem que não lhe esperará, no além-túmulo, corais de anjos e autoridades oferecendo troféus e medalhas.
É verdade que as classes ricas, num contexto em que a plutocracia assaltou o poder e conquistou a República brasileira na marra, estão mais próximas da tragédia do que da bonança. Mas aí, ironicamente, os "espíritas" demonstram um apoio sutil a esse governo, representado por Michel Temer, justamente quando em torno dele cercam setores mais ricos e poderosos da sociedade e, para piorar, mais comprometidos com o egoísmo e o prejuízo de multidões.
Sim, a dita "religião da bondade", tão preocupada em pregar a "caridade" e a "humildade", andou surtando ao pedir que "oremos em favor" de governos plutocráticos que atendem aos interesses elitistas. Paciência, a FEB defendeu o golpe de 1964 e apoiou a ditadura militar. Fatos comprovam.
Mesmo assim, os "espíritas" mantém o agravante de que, protegidos por uma mítica religiosa, acreditam ter seu acesso garantido ao Céu ou, na pior das hipóteses, a designação de, pelo menos, mais uma encarnação "a serviço do bem e do amor ao próximo".
DOIS CASOS
Vamos descrever dois casos, de um ricaço que tinha uma vida extravagante, mas um caráter moral leviano e até simpático, e um esperto beato religioso, que muitos acreditam ser o "símbolo máximo de caridade brasileira de todos os tempos".
De um lado, Jorge Guinle, aristocrata carioca, de uma família rica, associada ao Copacabana Palace, famoso por seus contatos com autoridades, celebridades e com o who is who do glamour e do luxo do mundo inteiro em seu tempo.
De outro, Francisco Cândido Xavier, funcionário público nascido no interior de Minas Gerais, beato católico de crenças ortodoxas mas que tinha como única diferença uma paranormalidade, que era bem mais limitada do que se pode imaginar.
Ambos faleceram, mais ou menos na mesma época e faixa etária. Chico Xavier, com 92 anos, em 2002. Jorginho Guinle em 2004, aos 88 anos. E adivinhem quem é que teve a morte mais dolorosa, quem é que se decepcionou mais quando retornou à chamada "pátria espiritual"?
Evidentemente muitos vão dizer que foi Jorginho Guinle, um "boa vida" que nada fez de útil, e que por isso levou um grande choque quando, no mundo espiritual, viu que era pior do que um mendigo, enquanto o frágil Chico Xavier chegou triunfante no mundo espiritual com a certeza de ter completado sua missão na Terra. Correto?
Errado! Extremamente errado! Jorginho Guinle era o tipo de pessoa que não esperava o ingresso ao Paraíso. Ele tinha todo o luxo material, vivia toda a ilusão de vida aristocrática, mas em toda sua vida, ele não causou graves problemas à humanidade, apenas viveu sua vida com alegria e era até uma figura simpática, além do fato de ter escrito um modesto livro sobre jazz.
Já Chico Xavier "penou" quando o além-túmulo sepultou todas as ilusões que a chancela religiosa traz, já que poucos percebem que a religião traz ilusões muito mais perigosas do que a fortuna, já que o status religioso trabalha com riquezas "invisíveis", fora o fato que o "espiritismo" brasileiro é herdeiro do Catolicismo medieval.
Poucos admitem isso. O "espiritismo" brasileiro é influenciado pelo Catolicismo medieval pelo legado dos jesuítas portugueses, Isso é fato, não há como escapar. Da mesma forma, os "espíritas" têm no seu DNA a visão igrejista de Jean-Baptiste Roustaing, como o Michel Temer tem como DNA as "pautas-bombas" de Eduardo Cunha. Esconder o idealizador e assumir suas ideias não significa romper com a herança do mentor descartado.
O "espiritismo" brasileiro de hoje é roustanguista até a medula, mesmo que bajule Allan Kardec zilhões de vezes. Mesmo que usurpe os avisos de Erasto e deturpem ao sabor dos "espíritas" brasileiros. Mesmo que ilustre palestras milionárias em hotéis cinco estrelas com figuras da anatomia humana e cenários de universo estrelar. Mesmo que seus periódicos façam um verdadeiro desfile de citações de personalidades científicas aqui e ali.
Chico Xavier, do contrário de Jorginho Guinle, causou muita confusão. E, enquanto o aristocrata apenas deixava sua vida fluir, o "médium" fazia seu arrivismo, usando a caridade de forma leviana só para legitimar suas fraudes pseudográficas e os valores retrógrados que pregava em livros e depoimentos.
CHICO XAVIER CAUSOU MUITA CONFUSÃO
Os adeptos de Chico Xavier têm que cair na real e admitir que ele foi um arrivista, um caipira plagiador e pastichador de livros que usou a religião como um trampolim pessoal. Ele nada teve dessa imagem de "caridade" e "bondade" que nunca passaram de um mito trabalhado, em primeiro momento, pelo seu mentor terreno Antônio Wantuil de Freitas, o presidente da FEB que nunca foi santificado da mesma forma, e, em segundo momento, pela maquiavélica Rede Globo de Televisão.
Ele causou confusões diversas, tentou atenuar fraudes literárias com "mensagens de amor", se autopromoveu às custas dos mortos e da ostentação dos sofrimentos familiares, e forjou uma falsa superioridade espiritual quando, nos bastidores, chegava a praticar a maledicência e o juízo de valor que sempre condenava dos outros, acusando levianamente vítimas de um incêndio em um circo de Niterói e falando mal de amigos de um jovem morto, Jair Presente, só porque eram céticos.
São verdades dolorosas que os chiquistas se recusam a ouvir, tapando olhos e ouvidos e, evidentemente, se calando quando não conseguem argumentar ou quando são rebatidos nos seus ataques. Pois os chiquistas também atacam e ferem os contestadores, bem mais do que as verdades cortantes que estes trazem derrubando o mito fabuloso e fantasioso do "bondoso médium".
Só a deturpação que Chico Xavier fez da Doutrina Espírita é um mal dos mais extremos, uma desonestidade doutrinária que, em muitos momentos, teve a responsabilidade direta do "médium", e, em outras, o fez consentir com as "orientações" de Wantuil.
Com tantas confusões criadas, é impossível que Xavier tivesse consciência tranquila, embora ele acreditasse que, sendo beato religioso, fazendo a "filantropia de fachada" que fascina mais pela embalagem religiosa do que pelo (ínfimo) número de beneficiados, ele acreditasse que seria perdoado pelo Alto e fosse, com todos os erros e confusões, aceito no "banquete eterno dos puros".
Grande ilusão. Ao regressar para o mundo espiritual, Chico Xavier tomou um choque violento por saber que o mundo espiritual não é uma igreja e a vida humana não é simplória para que a embalagem religiosa garantisse a pureza moral necessária para o ingresso ao Paraíso. Com certeza, Chico Xavier teria se decepcionado com o retorno à "pátria espiritual", quando não foi recebido de forma esperada pelos anjos do céu e ainda teve a noção de que teria que reencarnar muitas e muitas vezes.
Já dá para perceber como será o choque que Divaldo Franco terá quando regressar ao além, quando não haverá corais de anjos, nem solenidades, nem autoridades lhe saudando, nem concessão de medalhas e condecorações, nem sequer assinatura de atestados confirmando o ingresso definitivo ao Reino dos Puros.
Com isso, é possível que Jorginho Guinle tenha tido melhor sorte quando, retornando ao mundo espiritual, teria estado consciente de sua imperfeição espiritual e, não causando sérias confusões, teria tido uma consciência muito mais tranquila do que os "espíritas" que, tomados pela ilusão do status religioso, tinham pressa de estar entre Anjos e Santos.
Jorginho Guinle está muito mais preparado para uma evolução espiritual rápida, já que o aristocrata aproveitou melhor sua alegria de viver sem pretensões e, consciente de sua imperfeição, tem muito mais capacidade de superar seus defeitos, em vez de se entorpecer por uma pretensa perfeição moral movida pelas sensações terrenas.
terça-feira, 9 de agosto de 2016
O esgotamento das estruturas sociais arcaicas
Com muita coerência, o professor Leonardo Boff disse: "Algo parece ficar claro que o design social, montado a partir do colonialismo e do escravagismo com as castas de endinheirados que se firmaram no poder seja na sociedade seja nos aparatos do Estado está chegando ao seu fim".
Vemos o desgaste de um sistema de valores em que posições meramente materiais voltadas à idade, ao dinheiro, ao diploma, à fama, ao poder e outras atribuições similares sofrem um processo avançado de esgotamento. Novos agentes sociais, discriminados pela plutocracia (o "governo dos privilegiados"), estão sofrendo o desgaste e a perda do poder que tinham.
Mesmo nas famílias comuns, pais que só esperavam que os filhos fossem obedientes, mesmo que seja de maneira "espontânea", estão se desiludindo e é verdade que isso é muito doloroso, sobretudo para quem já é idoso e está sofrendo suas últimas doenças. Mas mesmo nelas o contexto social se transforma e a velha supremacia patriarcal-matriarcal dos anos 1940 está sendo posta em xeque.
É evidente, no entanto, que as forças ultraconservadoras, na teimosia de não abrir mão de seus privilégios e de suas convicções, reage tentando forçar um retrocesso histórico descomunal, em doses surreais. O governo Michel Temer se apoia em antigos paradigmas técnicos, administrativos e sócio-econômicos que poderiam garantir confiabilidade, austeridade, competência e transparência.
Mas isso é uma ilusão. Mesmo apoiado nesses mitos, o governo interino é um dos piores da história de nossa República, representando o oposto que qualidades virtuais parecem sugerir. É marcado pela incompetência, pela corrupção, pela hesitação, pela falta de transparência e pela desonestidade manifesta sobretudo quando se diz uma coisa e faz outra.
As estruturas sociais arcaicas sobrevivem porque, em favor delas, há três recursos: econômico, institucional e midiático. Econômico, pela capacidade de fazer grandes investimentos para defender seus interesses. Institucional, usando as leis a seu favor. Midiático, pela influência dos meios de comunicação para fabricar consenso influenciando a opinião pública a apoiar os plutocratas.
Junte-se a isso valores hierárquicos, religiosos e sócio-culturais que outrora eram estáveis e sagrados, e hoje precisam de um forte apelo midiático para se manterem, mesmo sob uma roupagem falsamente moderna. É ilustrativo que, nos últimos anos, as religiões sempre apelem para atrair adeptos juvenis, mesmo as mais retrógradas seitas evangélicas promovem até mesmo concertos de rock!
O "espiritismo" é um exemplo de como esse ultraconservadorismo tenta sobreviver. Um caipira interiorano, consagrado depois na figura do velhinho frágil de olhar choroso, chamado Francisco Cândido Xavier, personifica justamente o que esse ultraconservadorismo faz para tentar resistir à pressão dos tempos.
Mesmo quando surgem correntes que se desentendem entre si, como no caso da tese da "data-limite" que nem de longe é unânime, Chico Xavier tenta ser moldado como se ele tivesse alguma relação com o "futurismo", ele que nunca passou de um caipira típico da República Velha, um católico ortodoxo em crenças, um beato igrejista tendenciosamente convertido num falso filósofo, num pretenso ativista e num suposto cientista.
Protegido por uma reputação religiosa que transforma a ideia de bondade não como uma qualidade social espontânea, mas como uma virtude subordinada ao selo de alguma religião, Chico Xavier, mesmo postumamente, é manipulado para tentar atrair uma legião de adeptos, recebendo uma roupagem "moderna" na qual os "espíritas" não medem escrúpulos em veicular grotescas mentiras.
Mas também o próprio Chico Xavier, usurpador de escritores mortos e explorador de tragédias familiares, era dado a certas mentiras. O que ele fez com Humberto de Campos é de um descaramento sem tamanho. E, o que é pior, tentando enganar a mãe, Ana de Campos, e o filho do escritor, Humberto de Campos Filho, com o bom-mocismo do "médium".
Se Chico Xavier é considerado "o maior símbolo de caridade e bondade" existente no Brasil, é porque as forças ultraconservadoras que se cercaram em torno dele - não eram todos os ultraconservadores que o apoiavam, e houve até um eventual conflito entre conservadores em geral e aqueles que apreciavam o "espiritismo", estes tidos erroneamente como "progressistas" - criaram condições para fabricar consenso em volta do anti-médium mineiro.
A fábrica de consenso começou de forma confusa através dos esforços da própria Federação "Espírita" Brasileira, na pessoa de Antônio Wantuil de Freitas, que atuou como se fosse o "empresário" do "popstar" de Pedro Leopoldo e Uberaba. Sim, porque Chico Xavier foi trabalhado para ser um astro pop, a exemplo de um Michael Jackson, só que voltado ao âmbito religioso.
Mas a FEB não tinha a habilidade de contornar escândalos como a repercussão negativa dos pastiches e plágios literários cometidos pelo "bom médium". Foi preciso esperar mais de quatro décadas para que se trabalhasse o mito de Chico Xavier de maneira "limpa", através de uma experiência trazida por um documentário inglês.
Se você acha que Chico Xavier é "o amor personificado" ou "a bondade encarnada", agradeça ao jornalista católico inglês Malcolm Muggeridge. Foi ele que, através do documentário Algo Bonito para Deus (Something Beautiful for God), de 1969, trabalhou o mito de Madre Teresa de Calcutá como "santidade viva" na época e como "símbolo máximo de caridade da história do planeta".
Até se revelar, depois, que as casas de caridade de Madre Teresa não passavam de "depósito de gente" e que ela viajava com magnatas corruptos e tiranos que "lavavam dinheiro" com verbas que não iam para os assistidos, mas para os cofres do Vaticano, ela era tida como "santa" e considerada "espírito de máxima evolução", apesar do jeito brutal e carrancudo da freira albanesa que atuou em Calcutá, Índia.
Mas o mito deu certo e sobreviveu durante quase três décadas. Apesar de ateu, o jornalista inglês Christopher Hitchens fez um consistente trabalho de pesquisa para chegar a amargas conclusões. E não é fácil enfrentar totens religiosos, marcados por uma blindagem na qual a "bondade" é apenas um aparato para intimidar opositores.
Diante de um Brasil fraco em enfrentar totens e dogmas consagrados pela plutocracia - não devemos esquecer que o "espiritismo" é uma religião de bases plutocráticas - , o mito de Chico Xavier, que não conseguiu ser derrubado porque seus contestadores se fraquejaram seduzidos pela imagem frágil do hipnótico "médium" (no fundo, Chico sempre foi um artífice da hipnose e da manipulação do inconsciente coletivo), ainda foi relançado num outro contexto através da Rede Globo.
Chico Xavier era um católico sem batina, ótimo para a máquina manipuladora da Globo trabalhar, concorrendo com os pastores eletrônicos em ascensão no final da década de 1970, R. R. Soares e Edir Macedo (este, mais tarde, adquirindo uma antiga emissora de TV de São Paulo, cabeça de rede de emissoras por todo o pais).
Além disso, com o Brasil em crise naqueles tempos turbulentos entre o fim da Era Geisel - que já surgiu nos escombros do fracassado "milagre brasileiro" e que tentou "desenhar" um tipo de país e de sociedade que a plutocracia tenta recuperar nos últimos anos - e o começo do governo de João Figueiredo, relançar o mito do "bom médium" é, para a plutocracia, uma boa anestesia para as tensões humanas.
Poucos imaginam que Chico Xavier é um bom instrumento para as elites ultraconservadoras dominarem o inconsciente coletivo. Sobretudo quando a Rede Globo é capaz de inserir valores ideológicos até em uma parcela de detratores da rede televisiva, empurrar o "médium" para ser adorado por ateus e esquerdistas (que nunca poderiam, pelos seus contextos, admirar uma figura dessas) para forçar assim uma pretensa unanimidade.
O passado sombrio de Chico Xavier plagiando e pastichando livros, e fazendo a má escola a partir de seu discípulo Divaldo Franco, ele mesmo caraterizado como um professor dos anos 1930-1940 para o qual se atribuem falsas qualidades ativistas e intelectuais, simplesmente foi posto debaixo do tapete. Existe até mesmo a carteirada religiosa, que prega que "os caras até erraram, e muito, mas pelo menos sempre foram bondosos".
Pelo seu jeito conservador, Chico Xavier só trazia energias boas para quem é retrógrado. Foi Juscelino Kubitschek, por exemplo, apoiar o "médium" e premiar a FEB com o título de "instituição de utilidade pública" para o azar bater à porta não só dele, mas de seus associados diretos e indiretos.
Sobrou até para o marechal Henrique Lott (que garantiu a posse de JK depois de frustrar uma tentativa de golpe em 1955), que teve uma filha assassinada numa discussão fútil. Sobrou para a filha biológica Márcia Kubitschek, morta prematuramente pelo câncer.
E nem o ator José Wilker, que viveu Juscelino na TV, foi poupado, pois, ateu, foi só entrar num "centro espírita" para marcar cirurgia espiritual, de repente faleceu de infarto, aparentemente por conta de tabagismo, aos 69 anos. Com um histórico de tabagismo muito pior, mais um passado de cocaína e álcool, o empresário Doca Street, que matou a socialite Ângela Diniz, atingiu a marca dos 80 anos de idade.
Enquanto isso, foi Fernando Collor apoiar Chico Xavier e ocorreu o contrário. Mesmo quando foi alvo de impeachment, Collor conseguiu retomar a vida política e seu breve governo parecia ter as "boas energias" compartilhadas pelo "espírito do tempo", beneficiando personalidades que se ascenderam no biênio 1990-1992.
Várias personalidades ligadas a degradação sócio-cultural foram beneficiadas, de "pagodeiros" e "sertanejos" que conseguiram até usurpar a MPB em causa própria, passando por figuras midiáticas como Gugu Liberato, Ratinho e Solange Gomes e até um criminoso como Guilherme de Pádua, além de pretensos ativistas como Netinho de Paula e o funqueiro MC Leonardo.
Todos chegaram a 2015 vendendo uma falsa imagem de "heróis dos anos 90", cada um querendo estar em alta, mantendo-se em cartaz na mídia a qualquer preço, em muitos casos exigindo de forma agressiva uma respeitabilidade que nem de longe contribuíram para ter. Mesmo o próprio Collor tentava vender a imagem de um "grande estadista" supostamente perseguido pela grande mídia.
Isso mostra o quanto o Brasil insiste em ser conservador. Mas esse universo ideológico está se esgotando, até mesmo de forma dramática, e as pessoas "de cima" é que estão aflitas, deprimidas e raivosas com quem não está no topo da pirâmide social mas que apela para ter algum lugar ao Sol neste país.
Um país "velho" que não quer sair de cena, mas antes quer retroceder sua marcha como um brutamontes que acha que conseguirá impedir a marcha de um trem ou usar um tacape para desviar do caminho a lava vulcânica que chega em sua direção.
É certo que, em primeiro momento, quem está "embaixo" sofre o preço da ameaça desses retrocessos. Mas é quem está "em cima" que precisa se reeducar, porque as pressões do tempo também não serão generosas com eles. Mais do que os desafortunados, são as pessoas com maior status quo que estão com medo dos novos tempos. Até o presidente Temer.
domingo, 7 de agosto de 2016
Escola Sem Partido: caminho para a volta de Emmanuel?
ALEXANDRE FROTA ANUNCIA A VOLTA DE EMMANUEL?
"O sentimento religioso é a base de todas as civilizações. Preconiza-se uma educação pela inteligência, concedendo-se liberdade aos impulsos naturais do homem. A experiência fracassaria. É ocioso acrescentar que me refiro aqui à moral religiosa, que deverá inspirar a formação do caráter e do instituto da família e não ao sectarismo do círculo estreito das igrejas terrestres, que costumam envenenar, aí no mundo, o ambiente das escolas públicas, onde deverá prevalecer sempre o mais largo critério de liberdade do pensamento".
"O sentimento religioso é a base de todas as civilizações. Preconiza-se uma educação pela inteligência, concedendo-se liberdade aos impulsos naturais do homem. A experiência fracassaria. É ocioso acrescentar que me refiro aqui à moral religiosa, que deverá inspirar a formação do caráter e do instituto da família e não ao sectarismo do círculo estreito das igrejas terrestres, que costumam envenenar, aí no mundo, o ambiente das escolas públicas, onde deverá prevalecer sempre o mais largo critério de liberdade do pensamento".
Esta frase pode encaixar, com perfeitíssima exatidão, no programa Escola Sem Partido, lançado em 2004 pelo advogado Miguel Najib e pelo senador e pastor evangélico Magno Malta, do PR (Partido da República) e cujo porta-voz, nos últimos tempos, é o ator Alexandre Frota, que recentemente discursou pedindo intervenção militar no país.
Mas esse texto foi ditado a Francisco Cândido Xavier pelo traiçoeiro espírito Emmanuel, o retrógrado jesuíta que voltou, com seus preconceitos machistas, racistas, moralistas e tudo o mais, através dos livros que estão aí no mercado.
Falam tanto que Chico Xavier era "progressista" sem prestar atenção nas ideias. Iludiu-se com a aparência de caipira humilde, frágil e de olhar melancólico e, pronto, os incautos acharam que era a figura mais "progressista" do Brasil, em detrimento do robusto Lula, que muitos veem semelhança com vilões de desenhos animados.
Mas Chico Xavier foi a criatura mais retrógrada que passou por este país. Nunca na história de nosso país houve pessoa tão ultraconservadora, medieval, um caipira da República Velha, saudoso do Segundo Império, devoto do Catolicismo português medieval, que é o que foi introduzido no Brasil colonial, e dotado do mais mofado igrejismo.
Até os estereótipos de "caridade" e "bondade" que as pessoas veem em Chico Xavier são velhos e mofados. Mas num país que acredita existir até o "feminismo de mulher-objeto", de mulheres que se "emancipam" através do ofício de mercadorias sexuais, então acredita-se que até o bolor de laranja é "moderno" e "progressista" e que se pode ser "vanguardista" atuando na retaguarda.
As pessoas não acreditam que o "espiritismo" possa encampar ideias da Escola Sem Partido. Mas ela está presente no ideário de Emmanuel, no projeto da Mansão do Caminho de Divaldo Franco, na cartilha "amorosa" do "movimento espírita".
Não esqueçamos que o "movimento espírita" corrobora bandeiras defendidas por evangélicos. A reprovação ao aborto é uma delas. Tanto os evangélicos da Nova Vida (corrente que, depois, inspirou os movimentos pentecostais da atualidade) quanto os "espíritas" (sob o claro apoio de Chico Xavier) participaram da Marcha da Família Unida com Deus pela Liberdade, organizadas pela Igreja Católica sob o patrocínio do corrupto governador paulista Adhemar de Barros.
A ideia de uma educação que defende mais a fé religiosa e suas fantasias do que o pensamento crítico é a essência da Escola Sem Partido. Não se educa para o mundo. Na verdade, se deseduca e só se ensinam atividades inócuas, como ler, escrever, trabalhar. Um fanático defensor de Divaldo Franco, em declaração delirantemente apaixonada, afirmou que isso "já era muito" que se fazia pelo cidadão.
A educação na Mansão do Caminho ensina valores igrejistas, por debaixo dos panos da "caridade" de ensinar as pessoas a serem "alguém na vida". O preço que se "paga" pela "educação gratuita", de ler, escrever e aprender um ofício é que o aluno tem que aceitar, entre outras coisas, bobagens como as crianças-índigo, uma farsa criada por um ex-casal nos EUA para ganhar dinheiro, mas que depois virou uma das "bandeiras proféticas" de Divaldo Franco.
Comprova-se que um modelo de educação como este apenas produz cidadãos inócuos, inofensivos, pessoas que se perderão na multidão, sendo até simpáticas e boazinhas, mas medíocres, meros sobreviventes de um mundo injusto no qual estarão resignados em viver.
RETORNO DE EMMANUEL?
Dizem os "espíritas" que Emmanuel, que se "desligou" de Chico Xavier por volta de 1997, se prepararia para voltar por volta de 1999 ou 2000. Portanto, com base nesta hipótese, o jesuíta estaria reencarnado há pelo menos 16 anos, se preparando para os 18 anos de idade.
Segundo se dizem, Emmanuel estaria se preparando para ser um "educador". Os "espíritas" festejam isso como um caminho para a conquista do estranho posto de "Coração do Mundo", uma suposta liderança mundial inexplicável para os contextos políticos que estão hoje.
Como uma seita marcada pela dissimulação, que diz uma coisa e faz outra completamente diferente, o "espiritismo" aclama a missão do "novo Emmanuel" como se fosse um "trabalho progressista", um processo de "libertação" e "esclarecimento", um suposto ingresso no progresso humanitário.
Mas sabemos que tudo isso é uma falácia, porque a religião "espírita" usa expressões como "libertação", "esclarecimento" e "progresso" apenas como atrativos para seu discurso mistificador e moralista, que não ameaça de forma alguma o conteúdo ideológico da Escola Sem Partido.
Afinal, o "espiritismo", aparentemente ameaçador à fé católica ou evangélica, porém mais como uma religião concorrente do que como uma ideologia oposta - até porque, como os evangélicos, os "espíritas" brasileiros têm como ponto de partida o moralismo medieval da Igreja Católica - , têm as mesmas afinidades da Escola Sem Partido.
A pedagogia "espírita" não faz a pessoa ter um pensamento crítico sobre o mundo. É verdade que muitos "espíritas", iludidos com sua própria dissimulação, irão desmentir isso, porque a seita que eles defendem é "intelectual", integrando "filosofia" e "ciência" aos "princípios cristãos" etc, mas a verdade é que eles só aceitam o pensamento filosófico e científico quando eles não questionam os paradigmas da fé religiosa.
Eles reagem como velhos obscurantistas da Idade Média, quando veem que a Ciência começa a interferir nos dogmas religiosos. O "espiritismo" apenas faz uma relativa concessão em relação ao Catolicismo medieval quando permite o espaço da Ciência dentro dos limites estritos de suas abordagens, desde que seus questionamentos não ameacem o terreno da religião.
Desta forma, se a Ciência trabalha, por exemplo, na cura do câncer, os "espíritas" aceitam e até estimulam, elogiando o trabalho de pesquisadores e tudo. Os "espíritas" admitem até que se faça trabalhos arqueológicos para descobrir detalhes ocultos da vida de Jesus. Analisar distúrbios psicológicos relacionados a doenças cerebrais também é algo bem vindo pelos "espíritas".
Mas quando a Ciência começa a questionar as práticas religiosas, os "espíritas" reagem com indignação, usando como pretextos o "exclusivismo científico", a "overdose de raciocínio" e o "excesso do pensar", que o retrógrado Emmanuel já denominava de "tóxico do intelectualismo".
É aí que o jeito Escola Sem Partido de agir vêm à tona, e se vê que essa conversa de "exclusivisimo científico" é, na verdade, uma restrição censora do "espiritismo", uma condenação ao ato de pensar criticamente as coisas, ao processo de aprofundar os questionamentos. Acham que, se a Ciência é imperfeita, ela não pode se aprofundar porque "se imperfeiçoa" cada vez mais.
Neste sentido, acham os "ponderados espíritas" que a Religião atua onde a Ciência "não pode" (sic) avançar, como se o dom de raciocínio do ser humano só pudesse ter atuação limitada, controlada, subserviente à fé e aos dogmas religiosos, porque "pensar demais" é "perigoso", contribui para as "imperfeições" e "equívocos" atribuídos ao "exclusivismo científico".
Só que Allan Kardec nunca falou nisso. Ele nunca falou em "overdose de raciocínio" ou coisas parecidas. Embora ele tivesse alguma consideração com a fé religiosa e com a crença em Deus, ele nunca quis que a Religião tivesse supremacia sobre a Ciência, mesmo sob o pretexto do "equilíbrio" entre Religião, Ciência e Filosofia. E não estamos falando aqui na tradução equivocada do pensamento kardeciano, porque ele falava em Moral e não em Religião.
Kardec, pelo contrário, afirmava que, se houvesse alguma coisa comprovadamente errada no Espiritismo, cujas provas viessem do método científico, ele preferiria ficar com a Ciência. Isso é um balde de água gelada nos ânimos acalorados dos "espíritas" que, com medo dos questionamentos aprofundados, condenassem o que eles chamam de "exclusivismo científico" ou "overdose do pensamento".
Só podemos, portanto, concluir que o pensamento igrejeiro e medieval de Emmanuel condiz ao projeto obscurantista da Escola Sem Partido, um projeto pedagógico que não ensina as pessoas a pensar, mas induz elas a crer, achar que um mundo está todo pronto para elas e que, dentro dos paradigmas de fraternidade religiosa, na medida em que todos "somos iguais perante Deus", nunca passamos de tijolos a serem colocados em lugares determinados pelo "edifício da vida".