quarta-feira, 17 de agosto de 2016
A crise dos atributos materiais não pode ser desprezada
As elites, sejam elas políticas, econômicas, culturais, acadêmicas, tecnocráticas etc estão pouco preocupadas. O país está em crise, e o governo de Michel Temer simplesmente agravou esse quadro, e as pessoas "de cima" deveriam olhar para si mesmas.
A crise mostra a fragilidade dos setores conservadores, que nos últimos meses forçaram a barra e querem impor uma agenda ultraconservadora e retroceder o tempo, saudosos de contextos que podem variar entre o "milagre brasileiro" da ditadura militar, a República Velha ou a Idade Média.
Pessoas marcadas pelo poder da fama, da política, do dinheiro, da religião, da falocracia (machismo), da raça (branca), do diploma (tecnocrata) e outros atributos de domínio social estão cada vez mais cometendo erros e se mostrando vulneráveis e frágeis.
Os movimentos que variam de um simples golpe político-jurídico, como o impeachment de Dilma Rousseff, aos atos terroristas em antigos paraísos de consumo (Nice, Orlando, Paris), mostram que os "de cima" tentam salvar um velho mundo que está prestes a se destruir.
Mesmo o "espiritismo" brasileiro se encontra nesse contexto. E, além disso, deixa vazar que é coincidência demais tantos artigos sobre "aguentar o sofrimento" quando o governo de Michel Temer impõe uma pauta bastante amarga para os brasileiros comuns.
Tantos textos pedindo para sofredores "mudarem os pensamentos", "abrirem mão de seus desejos", "aceitarem as dificuldades extremas", o que deixa a mensagem subliminar de que os "espíritas" estão apoiando o governo retrógrado de Michel Temer, espécie de versão piorada do já desastrado período de Fernando Henrique Cardoso.
Sobre essa comparação, muitos já dizem que o governo Michel Temer, em cerca de dois anos, fará muito mais estragos que Fernando Henrique fez em oito anos. Se bem que os tucanos, que apoiam o governo Temer, já aprontaram demais na Era FHC: documentos comprovam que o PSDB desviou gigantescas somas de dinheiro público e da arrecadação em privatizações para contas pessoais de seus integrantes e de amigos e familiares.
A tranquilidade suicida das pessoas, que na sua falta de noção da realidade - tornou-se comum o aberrante ritual de amigos se reunirem não mais para conversar, mas para cada um ver o WhatsApp no celular - , só espera a saída definitiva da presidenta Dilma para viverem o que acreditam ser a plenitude de suas vidas prósperas.
Há uma serenidade um tanto imprudente de que, retrocedendo a vida humana para tempos de injustiças sociais toleradas e privilégios livremente abusivos das elites, tudo ficará sob controle. Não é assim que acontece. Com as transformações dos tempos, os novos agentes sociais não se resignarão com os retrocessos que acontecerão quando Michel Temer se tornar presidente efetivo.
Num primeiro instante, são os novos agentes sociais - como classes populares e a sociedade LGBT - a serem prejudicados quando, só no mercado de trabalho ou na Educação, respectivamente surgem esforços para retomar os padrões profissionais do século XVIII e a metodologia educacional dos tempos austeros da Companhia de Jesus.
Mas, num segundo instante, são as elites que mostrarão sua fragilidade dramática, por vezes trágica, porque os novos agentes sociais poderão reagir drasticamente a essa marcha-a-ré social, a essa forçada caminhada para trás da História, movida por uma nostalgia doentia da plutocracia e outras forças dominadoras, tomadas pela saudade obsessiva de períodos de privilégios extremos e um quadro mais ou menos controlado e estável de desigualdades sociais.
Vemos o apodrecimento de estruturas retrógradas, que tentam ser salvas num momento em que elas se tornam obsoletas ou em desgaste avançado, algo como salvar uma pessoa em estado terminal de uma doença, mesmo que seja para fazer fingi-la de viva.
É como nos antigos hábitos sociais do século XIX e começo do XX, quando famílias maquiavam os mortos para aparecerem em fotos de família como se fossem ainda vivos. Um hábito macabro, que é amplamente divulgado na Internet, e que pode ser o estado de espírito do Brasil de hoje. Mas a sociedade só se mostra cada vez mais vulnerável com esta tendência de tentar reciclar o já perecido.
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