domingo, 7 de agosto de 2016

Escola Sem Partido: caminho para a volta de Emmanuel?

ALEXANDRE FROTA ANUNCIA A VOLTA DE EMMANUEL?

"O sentimento religioso é a base de todas as civilizações. Preconiza-se uma educação pela inteligência, concedendo-se liberdade aos impulsos naturais do homem. A experiência fracassaria. É ocioso acrescentar que me refiro aqui à moral religiosa, que deverá inspirar a formação do caráter e do instituto da família e não ao sectarismo do círculo estreito das igrejas terrestres, que costumam envenenar, aí no mundo, o ambiente das escolas públicas, onde deverá prevalecer sempre o mais largo critério de liberdade do pensamento".

Esta frase pode encaixar, com perfeitíssima exatidão, no programa Escola Sem Partido, lançado em 2004 pelo advogado Miguel Najib e pelo senador e pastor evangélico Magno Malta, do PR (Partido da República) e cujo porta-voz, nos últimos tempos, é o ator Alexandre Frota, que recentemente discursou pedindo intervenção militar no país.

Mas esse texto foi ditado a Francisco Cândido Xavier pelo traiçoeiro espírito Emmanuel, o retrógrado jesuíta que voltou, com seus preconceitos machistas, racistas, moralistas e tudo o mais, através dos livros que estão aí no mercado.

Falam tanto que Chico Xavier era "progressista" sem prestar atenção nas ideias. Iludiu-se com a aparência de caipira humilde, frágil e de olhar melancólico e, pronto, os incautos acharam que era a figura mais "progressista" do Brasil, em detrimento do robusto Lula, que muitos veem semelhança com vilões de desenhos animados.

Mas Chico Xavier foi a criatura mais retrógrada que passou por este país. Nunca na história de nosso país houve pessoa tão ultraconservadora, medieval, um caipira da República Velha, saudoso do Segundo Império, devoto do Catolicismo português medieval, que é o que foi introduzido no Brasil colonial, e dotado do mais mofado igrejismo.

Até os estereótipos de "caridade" e "bondade" que as pessoas veem em Chico Xavier são velhos e mofados. Mas num país que acredita existir até o "feminismo de mulher-objeto", de mulheres que se "emancipam" através do ofício de mercadorias sexuais, então acredita-se que até o bolor de laranja é "moderno" e "progressista" e que se pode ser "vanguardista" atuando na retaguarda.

As pessoas não acreditam que o "espiritismo" possa encampar ideias da Escola Sem Partido. Mas ela está presente no ideário de Emmanuel, no projeto da Mansão do Caminho de Divaldo Franco, na cartilha "amorosa" do "movimento espírita".

Não esqueçamos que o "movimento espírita" corrobora bandeiras defendidas por evangélicos. A reprovação ao aborto é uma delas. Tanto os evangélicos da Nova Vida (corrente que, depois, inspirou os movimentos pentecostais da atualidade) quanto os "espíritas" (sob o claro apoio de Chico Xavier) participaram da Marcha da Família Unida com Deus pela Liberdade, organizadas pela Igreja Católica sob o patrocínio do corrupto governador paulista Adhemar de Barros.

A ideia de uma educação que defende mais a fé religiosa e suas fantasias do que o pensamento crítico é a essência da Escola Sem Partido. Não se educa para o mundo. Na verdade, se deseduca e só se ensinam atividades inócuas, como ler, escrever, trabalhar. Um fanático defensor de Divaldo Franco, em declaração delirantemente apaixonada, afirmou que isso "já era muito" que se fazia pelo cidadão.

A educação na Mansão do Caminho ensina valores igrejistas, por debaixo dos panos da "caridade" de ensinar as pessoas a serem "alguém na vida". O preço que se "paga" pela "educação gratuita", de ler, escrever e aprender um ofício é que o aluno tem que aceitar, entre outras coisas, bobagens como as crianças-índigo, uma farsa criada por um ex-casal nos EUA para ganhar dinheiro, mas que depois virou uma das "bandeiras proféticas" de Divaldo Franco.

Comprova-se que um modelo de educação como este apenas produz cidadãos inócuos, inofensivos, pessoas que se perderão na multidão, sendo até simpáticas e boazinhas, mas medíocres, meros sobreviventes de um mundo injusto no qual estarão resignados em viver.

RETORNO DE EMMANUEL?

Dizem os "espíritas" que Emmanuel, que se "desligou" de Chico Xavier por volta de 1997, se prepararia para voltar por volta de 1999 ou 2000. Portanto, com base nesta hipótese, o jesuíta estaria reencarnado há pelo menos 16 anos, se preparando para os 18 anos de idade.

Segundo se dizem, Emmanuel estaria se preparando para ser um "educador". Os "espíritas" festejam isso como um caminho para a conquista do estranho posto de "Coração do Mundo", uma suposta liderança mundial inexplicável para os contextos políticos que estão hoje.

Como uma seita marcada pela dissimulação, que diz uma coisa e faz outra completamente diferente, o "espiritismo" aclama a missão do "novo Emmanuel" como se fosse um "trabalho progressista", um processo de "libertação" e "esclarecimento", um suposto ingresso no progresso humanitário.

Mas sabemos que tudo isso é uma falácia, porque a religião "espírita" usa expressões como "libertação", "esclarecimento" e "progresso" apenas como atrativos para seu discurso mistificador e moralista, que não ameaça de forma alguma o conteúdo ideológico da Escola Sem Partido.

Afinal, o "espiritismo", aparentemente ameaçador à fé católica ou evangélica, porém mais como uma religião concorrente do que como uma ideologia oposta - até porque, como os evangélicos, os "espíritas" brasileiros têm como ponto de partida o moralismo medieval da Igreja Católica - , têm as mesmas afinidades da Escola Sem Partido.

A pedagogia "espírita" não faz a pessoa ter um pensamento crítico sobre o mundo. É verdade que muitos "espíritas", iludidos com sua própria dissimulação, irão desmentir isso, porque a seita que eles defendem é "intelectual", integrando "filosofia" e "ciência" aos "princípios cristãos" etc, mas a verdade é que eles só aceitam o pensamento filosófico e científico quando eles não questionam os paradigmas da fé religiosa.

Eles reagem como velhos obscurantistas da Idade Média, quando veem que a Ciência começa a interferir nos dogmas religiosos. O "espiritismo" apenas faz uma relativa concessão em relação ao Catolicismo medieval quando permite o espaço da Ciência dentro dos limites estritos de suas abordagens, desde que seus questionamentos não ameacem o terreno da religião.

Desta forma, se a Ciência trabalha, por exemplo, na cura do câncer, os "espíritas" aceitam e até estimulam, elogiando o trabalho de pesquisadores e tudo. Os "espíritas" admitem até que se faça trabalhos arqueológicos para descobrir detalhes ocultos da vida de Jesus. Analisar distúrbios psicológicos relacionados a doenças cerebrais também é algo bem vindo pelos "espíritas".

Mas quando a Ciência começa a questionar as práticas religiosas, os "espíritas" reagem com indignação, usando como pretextos o "exclusivismo científico", a "overdose de raciocínio" e o "excesso do pensar", que o retrógrado Emmanuel já denominava de "tóxico do intelectualismo".

É aí que o jeito Escola Sem Partido de agir vêm à tona, e se vê que essa conversa de "exclusivisimo científico" é, na verdade, uma restrição censora do "espiritismo", uma condenação ao ato de pensar criticamente as coisas, ao processo de aprofundar os questionamentos. Acham que, se a Ciência é imperfeita, ela não pode se aprofundar porque "se imperfeiçoa" cada vez mais.

Neste sentido, acham os "ponderados espíritas" que a Religião atua onde a Ciência "não pode" (sic) avançar, como se o dom de raciocínio do ser humano só pudesse ter atuação limitada, controlada, subserviente à fé e aos dogmas religiosos, porque "pensar demais" é "perigoso", contribui para as "imperfeições" e "equívocos" atribuídos ao "exclusivismo científico".

Só que Allan Kardec nunca falou nisso. Ele nunca falou em "overdose de raciocínio" ou coisas parecidas. Embora ele tivesse alguma consideração com a fé religiosa e com a crença em Deus, ele nunca quis que a Religião tivesse supremacia sobre a Ciência, mesmo sob o pretexto do "equilíbrio" entre Religião, Ciência e Filosofia. E não estamos falando aqui na tradução equivocada do pensamento kardeciano, porque ele falava em Moral e não em Religião.

Kardec, pelo contrário, afirmava que, se houvesse alguma coisa comprovadamente errada no Espiritismo, cujas provas viessem do método científico, ele preferiria ficar com a Ciência. Isso é um balde de água gelada nos ânimos acalorados dos "espíritas" que, com medo dos questionamentos aprofundados, condenassem o que eles chamam de "exclusivismo científico" ou "overdose do pensamento".

Só podemos, portanto, concluir que o pensamento igrejeiro e medieval de Emmanuel condiz ao projeto obscurantista da Escola Sem Partido, um projeto pedagógico que não ensina as pessoas a pensar, mas induz elas a crer, achar que um mundo está todo pronto para elas e que, dentro dos paradigmas de fraternidade religiosa, na medida em que todos "somos iguais perante Deus", nunca passamos de tijolos a serem colocados em lugares determinados pelo "edifício da vida".

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