quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014
Espiritolicismo Anedótico - I
Uma fictícia, porém, esclarecedora conversa entre o médico Carlos Chagas (1878-1934) e o escritor Humberto de Campos (1886-1934), a respeito da exploração de seus nomes pelos deturpadores da Doutrina Espírita no Brasil. Não, isso não é mediunidade, é um diálogo fictício mesmo, mas se ele é ficção na forma, ele no entanto traz uma mensagem bastante realista.
CARLOS CHAGAS - Prezado Humberto.
HUMBERTO DE CAMPOS - Sim, amigo Carlos!
CARLOS CHAGAS - Uma preocupação muito grande cerca a minha consciência, um tanto apreensiva. Andam falando que eu virei um tal de André Luiz, que nunca ouvi falar, um tal médico de bigode fino que soube através de terceiros que me avisaram de tamanho embuste.
HUMBERTO DE CAMPOS - É mesmo?
CARLOS CHAGAS - Sim, amigo. E eu posso garantir que não sou esse cara. Mas de que adianta? Inventam aquilo que chamam de "centro espírita", botam o nome de André Luiz e usam minha imagem assim sem licença, sem verificação, sem coisa alguma!
HUMBERTO DE CAMPOS - É verdade. Mas você, perto de mim, mais parece um sortudo. Pior é a minha sina, você nem imagina o fardo que eu tive depois que deixei a vida na Terra.
CARLOS CHAGAS - E qual foi o problema, afinal?
HUMBERTO DE CAMPOS - Simples, caro Carlos. Um certo mineiro, Chico Xavier, passou a virar meu bajulador, sendo um grande parasita a se aproveitar do meu nome e do meu prestígio.
CARLOS CHAGAS - Sim. Conheço esse Chico. Ouvi falar que esse tal André Luiz tem relação com o nome de um falecido irmão dele.
HUMBERTO DE CAMPOS - Isso. O que ocorreu foi o seguinte. Fui eu, ainda nos meus anos terrestres, resenhar meio com desconfiança um livro chamado Parnaso de Além-Túmulo, que o tal Chico lançou supostamente de mensagens espirituais de poetas falecidos, e eis que, depois de meu falecimento, o Chico passou a aprontar em torno de minha figura.
CARLOS CHAGAS - Que coisa grave!
HUMBERTO DE CAMPOS - E é grave mesmo, Carlos! Veja só! De repente veio um livro tolo, com narrativa um tanto infantilizada, chamado Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, e Chico jogou a obra para minha autoria. Eu não seria capaz de escrever um livro desses!!
CARLOS CHAGAS - Isso é uma coisa séria. E nós não temos mais controle sobre nossas vidas, e, de vez em quando, vem gente inventar qualquer coisa que nós não fizemos nem teríamos coragem de fazer.
HUMBERTO DE CAMPOS - Pois é. Pois o lamentável documento causou a maior confusão entre meus entes queridos, que deixei ainda prematuro, aos 48 anos, ainda na metade de minha missão de ativo colaborador de nossa cultura. Esse Chico foi para os tribunais, porque minha esposa e dois de meus filhos desconfiaram do conteúdo e do teor do livro em questão.
CARLOS CHAGAS - Sei desse episódio. Isso deu a maior confusão, mas o juiz não entendeu a coisa, e como estava alheio a esse negócio de obras de espíritos do além, ele deu como improcedente a questão, dando num empate.
HUMBERTO DE CAMPOS - Sim, empate! Juridicamente falando! Mas a vitória acabou sendo de Chico Xavier e seus tutores de uma tal de FEB, e desde então Chico não parou de pegar no meu pé!!
CARLOS CHAGAS - Não foi aí que Chico e o pessoal dessa FEB decidiram mudar o nome do "seu" Humberto de Campos para Irmão X?
HUMBERTO DE CAMPOS - Foi, sim, e isso foi uma piada de muito mau gosto!! Eu havia escrito textos com o codinome Conselheiro XX. Eu senti que Chico estava gozando da minha cara. E aí passou a fazer coisas horríveis usando o meu nome ou me colocando o tal nome de "Irmão X".
CARLOS CHAGAS (rindo) - Você pode apostar que só não colocaram Irmão XX porque iria fazer trocadilho com uma gíria infantil chamada "xixi", porque aí pegaria muito mal, não é mesmo?
HUMBERTO DE CAMPOS - Só faltava isso. E Chico me usou até para fazer acusações levianas a respeito de uma tragédia de um circo, em Niterói, muitos anos depois de meu falecimento, e botou sob minha responsabilidade a calúnia de dizer que os pobrezinhos, mortos num ambiente que deveria ser de alegria, teriam sido cidadãos romanos sanguinários!!
CARLOS CHAGAS - Isso é muito ruim para as famílias que perdem seus entes queridos, e são obrigadas a aceitar que as vítimas são as culpadas. É um absurdo essa tal doutrina que criaram, esse Chico que me chama de André Luiz e que atua ao lado de um tal de Waldo, que criou uma religião esotérica e delirante que ele pensa ser ciência.
HUMBERTO DE CAMPOS - Waldo... Waldo... Ah, sim, o Waldo Vieira. Um desses sujeitos que depois têm um surto e criam seitas místicas ao seu bel prazer. Dizem que tudo que se diz de André Luiz saiu da mente do Waldo.
CARLOS CHAGAS - Foi, mas em parceria com Chico, que aceitou a brincadeira.
HUMBERTO DE CAMPOS - A triste lição disso tudo é que às vezes não conseguimos zelar pelas imagens de nós mesmos depois que falecemos.
CARLOS CHAGAS - Não, mesmo. E eles ainda usam o pretexto de superioridade espiritual para fazer o que bem entenderem de nós.
HUMBERTO DE CAMPOS - Sou muito mais conhecido por essas obras fantasmagóricas mesquinhas, registradas levianamente em meu nome, do que pelo que eu produzi enquanto eu passava os meus dias no solo terrestre.
CARLOS CHAGAS - E eu, então? Fora a doença que descobri, o "mal de Chagas", que é o que meus colegas denominaram minhas descobertas, não obtive mais reconhecimento, eu que lutei muito pela saúde pública e pelo combate às doenças que eliminam tantos pobres desprevenidos, abreviando sem necessidade seus já poucos anos de missão na Terra.
HUMBERTO DE CAMPOS - Enquanto isso, os que usam nossos nomes de maneira fútil se esbanjam em desavergonhadas, porém não assumidas, presunções, se achando íntimos de pessoas falecidas que no fundo eles nem conhecem direito, mas somente na forma superficial de leigos que se informam sobre os históricos dos famosos.
CARLOS CHAGAS - E eles ainda ficam com os louros, com a palavra final e, acima de tudo, com a adesão de fanáticos aos quais o menor questionamento lhes tira a paz de espírito, voltando-se com rancor e violentas ironias contra seus contestadores.
HUMBERTO DE CAMPOS - E são essas pessoas que juram que são completamente tomadas da mais pura energia de amor, mas que reagem às adversidades feito bestas-feras. Pasmemos nós dois, diante de tantos absurdos.
terça-feira, 25 de fevereiro de 2014
O mundo espiritual é um mistério para os olhos da Terra
PARECE COMERCIAL DE SABÃO EM PÓ, MAS É CENA DO FILME NOSSO LAR - Pessoas vestindo pijamas branquinhos, de tão limpinhos...
Mais um palpite vindo das mentes pedantes dos líderes do "espiritismo" brasileiro. Eles tentam definir o mundo espiritual como um campo florido, ou, às vezes, com um chão de nuvens, com pessoas que andam feito pessoas teleguiadas, mas portam boa aparência e vestem pijamas limpinhos de tão brancos.
Parece comercial de sabão em pó. Pessoas se reúnem, com roupas brancas, com uma paisagem de natureza e um céu azul, recebendo um infeliz que veste também um pijama branco, com um ar paternal e gentil.
Na novela A Viagem, exibida na Rede Globo há 20 anos - e que o canal Viva desistiu de reprisar - , o "mundo espiritual" era um grande gramado que mais parece um campo de golfe, onde havia até crianças (?!) brincando de roda, enquanto também tinha gente com seus pijamas branquinhos.
Mas o filme Nosso Lar, que, tal qual o livro que o inspirou, o "espiritismo" brasileiro anuncia como "retrato verídico da vida espiritual de um sofredor", no caso o fictício André Luiz, há a imagem mais típica da "idealização" dos espiritólicos do mundo espiritual.
Nele há todo um aspecto de ficção científica dos anos 1940, já que Nosso Lar é uma obra de 1944: concha acústica onde se realizava um concerto de música clássica, colônias espirituais com arquitetura moderna da época, e até mesmo um ônibus, chamado "Aeróbus", que parecia muito com os trolebus de então.
Só que o mundo espiritual ainda é um grande mistério, não porque nos é realmente desconhecido, mas é porque ele se oculta nas limitadas percepções de nossa vida material. E não adianta dar palpites se a ciência não obteve os avanços necessários para sabermos o mundo espiritual pelos olhos terrenos.
O que podemos inferir é que o mundo espiritual é apenas uma extensão de nossa consciência. Mas, mesmo assim, isso se torna tão vago quanto um sonho que temos quando dormimos, que é um contato momentâneo com o mundo espiritual.
Todavia, não existem essas coisas de um céu com pessoas de pijamas, ou de cavernas trevosas com zumbis se arrastando pelo chão. O mundo espiritual ainda é um enigma, que a tecnologia da TCI (Trans-Comunicação Instrumental) só está começando a desvendar, e mesmo assim com alguns espiritólicos atrapalhando os estudos e a divulgação dessa novidade.
Por isso, prefere-se definir o incerto como algo que não está comprovado. Nada de palpites surreais, nada de imaginações férteis supondo coisas magníficas. Se querem fazer ficção científica, estejam à vontade, podem fazer o que imaginarem, mas definir seus delírios como "retratos fiéis" do mundo espiritual não pode. Até porque futuras descobertas podem decepcioná-los.
Mais um palpite vindo das mentes pedantes dos líderes do "espiritismo" brasileiro. Eles tentam definir o mundo espiritual como um campo florido, ou, às vezes, com um chão de nuvens, com pessoas que andam feito pessoas teleguiadas, mas portam boa aparência e vestem pijamas limpinhos de tão brancos.
Parece comercial de sabão em pó. Pessoas se reúnem, com roupas brancas, com uma paisagem de natureza e um céu azul, recebendo um infeliz que veste também um pijama branco, com um ar paternal e gentil.
Na novela A Viagem, exibida na Rede Globo há 20 anos - e que o canal Viva desistiu de reprisar - , o "mundo espiritual" era um grande gramado que mais parece um campo de golfe, onde havia até crianças (?!) brincando de roda, enquanto também tinha gente com seus pijamas branquinhos.
Mas o filme Nosso Lar, que, tal qual o livro que o inspirou, o "espiritismo" brasileiro anuncia como "retrato verídico da vida espiritual de um sofredor", no caso o fictício André Luiz, há a imagem mais típica da "idealização" dos espiritólicos do mundo espiritual.
Nele há todo um aspecto de ficção científica dos anos 1940, já que Nosso Lar é uma obra de 1944: concha acústica onde se realizava um concerto de música clássica, colônias espirituais com arquitetura moderna da época, e até mesmo um ônibus, chamado "Aeróbus", que parecia muito com os trolebus de então.
Só que o mundo espiritual ainda é um grande mistério, não porque nos é realmente desconhecido, mas é porque ele se oculta nas limitadas percepções de nossa vida material. E não adianta dar palpites se a ciência não obteve os avanços necessários para sabermos o mundo espiritual pelos olhos terrenos.
O que podemos inferir é que o mundo espiritual é apenas uma extensão de nossa consciência. Mas, mesmo assim, isso se torna tão vago quanto um sonho que temos quando dormimos, que é um contato momentâneo com o mundo espiritual.
Todavia, não existem essas coisas de um céu com pessoas de pijamas, ou de cavernas trevosas com zumbis se arrastando pelo chão. O mundo espiritual ainda é um enigma, que a tecnologia da TCI (Trans-Comunicação Instrumental) só está começando a desvendar, e mesmo assim com alguns espiritólicos atrapalhando os estudos e a divulgação dessa novidade.
Por isso, prefere-se definir o incerto como algo que não está comprovado. Nada de palpites surreais, nada de imaginações férteis supondo coisas magníficas. Se querem fazer ficção científica, estejam à vontade, podem fazer o que imaginarem, mas definir seus delírios como "retratos fiéis" do mundo espiritual não pode. Até porque futuras descobertas podem decepcioná-los.
segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014
Não existe data marcada para a evolução da humanidade
Dotado de um pedantismo falsamente profético, o Espiritolicismo tem o cacoete de estabelecer datas prévias para a evolução da humanidade, da transformação do mundo em um estágio de maior progresso moral e social.
Isso vem tanto de parte de Chico Xavier quanto de Divaldo Franco ou algum outro oportunista que surgir com alguma datinha na cabeça. Divaldo Franco, por exemplo, estabeleceu o ano de 2052 para a suposta entrada de uma fase de regeneração, que os espiritólicos entendem como um estágio de quase perfeição.
Em primeiro lugar, não se marca data para a evolução da humanidade. Há progressos ou retrocessos independente de anos, décadas, séculos ou eras. O livre arbítrio das pessoas é que define se ocorre um progresso ou não, se é capaz de dar fim a uma era ou iniciar outra ou simplesmente de fazer melhorar ou piorar as coisas. Tudo depende das pessoas e seus atos.
Em segundo lugar, a sociedade é tão complexa que não há previsão de que haverá algum estágio de progresso humano. Há impasses, conflitos de interesses, tensões diversas e, de repente, um fato novo pode causar novas tensões. Tudo é imprevisível, diante do decorrer das coisas, das novidades, dos interesses diversos, dos benefícios de uns e prejuízos de outros.
O que pode haver é a união de pessoas para mobilizar para derrubar ou não contextos de ordem social, político e cultural nocivos. Mas isso é uma questão de vontades, interesses, coragens ou covardias, medos ou raivas, cautelas ou imprudências, de uniões ou dissoluções, de prepotências ou impotências, dos agentes sociais envolvidos.
Tudo é uma questão de ordem coletiva, da união de diversos livres arbítrios em prol de alguma causa. Mas tudo é complexo e imprevisível, que soa arriscado apostar em uma data prévia, em alguma informação segura sobre quando atingiremos algum estágio evolutivo.
Portanto, o Espiritolicismo, esse "espiritismo" brasileiro cheio de vícios e erros graves, cometeu mais um equívoco, na ânsia sensacionalista de querer impressionar as pessoas. Maus profetas, os espiritólicos usam a boa-fé das pessoas para fazerem falsas previsões, através de todo um discurso hábil feito para seduzir facilmente as plateias incautas.
Concluindo. Não acredite nessas bobagens. Vamos trabalhar, superar nossos egoísmos, lutar contra injustiças sociais, perceber os problemas dos outros em volta e lutarmos para uma sociedade mais justa e equilibrada. Sem nos preocuparmos com datas marcadas. Se depender da nossa vontade e de nossas condições, o progresso da humanidade pode ser agora mesmo. É só querer.
sábado, 22 de fevereiro de 2014
Reencarnação de animais ainda é um mistério
Animais reencarnam? Já fomos bichos um dia? Um ser humano pode reencarnar como um animal? Embora tenhamos algumas certezas a respeito, pelo menos no fato de que seres humanos não podem reencarnar como animais irracionais, a questão que envolve espiritualidade e mundo animal é ainda um grande enigma.
Infelizmente, desde os primeiros delírios de Jean-Baptiste Roustaing no livro Os Quatro Evangelhos, obra francesa que inspirou as diretrizes do "espiritismo" brasileiro, que tentou afirmar que os humanos poderiam reencarnar como animais, o Espiritolicismo sempre tentou dar um palpite naquilo que nada temos, sequer em hipóteses prováveis.
Tudo é mistério. Não sabemos sequer como funciona exatamente a inteligência dos animais. Se mesmo o cérebro humano guarda mistérios profundos, quanto mais a questão dos animais. O que existe são apenas teses de cunho biológico e psicológico que foram cientificamente comprovadas, como a emotividade de animais e seus instintos de atenção e cautela.
Allan Kardec apenas se limitou a dizer que os animais reencarnam imediatamente. Mas ele mesmo sabia que ainda tinha muita coisa a pesquisar, e mesmo as teses de Charles Darwin só viriam à luz muito depois e, mesmo assim, com muitos pontos ainda discutíveis.
No entanto, o resto ainda é um mistério. Aliás, pouco sabemos do que pensam os animais. A ciência ainda encontra uma série de questões delicadas. Os espiritólicos é que, pedantes, tentam dar como certo o incerto e tentam dar palpite naquilo que não sabem direito.
Por isso, o que podemos dizer é que o mundo animal ainda é desconhecido. Até que ponto animais podem pensar ou se comunicar, é algo que necessitaria de séculos de análises, testes e hipóteses. A cîência é muito mais complexa do que imaginam os "sabichões" do "espiritismo" brasileiro. Muito, muito mais complexa.
sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014
Espiritolicismo: uma Cientologia "caipira"?
O "espiritismo" brasileiro tem muito a ver com a Cientologia, embora ambas sejam doutrinas diferentes e independentes entre si. Isso porque as duas compartilham de muitos conceitos, métodos e pretensões, principalmente na intenção de camuflar um misticismo moralista e austero com simulacros de racionalidade científica.
Em um momento ou em outro, as duas doutrinas se encontram. Principalmente quando é para fazer propaganda de palestras ou eventos mostrando ilustrações com a galáxia no fundo, planetinhas, cabecinhas e corpos humanos sugerindo seminários "racionais" com abordagens "científicas" dos temas propostos.
É evidente que a Cientologia é ainda menos sutil que o "espiritismo" brasileiro, vide vários documentários que denunciam os abusos e crueldades nos bastidores da seita, fundada pelo antigo físico Lafayette Ronald Hubbard, conhecido como L. Ron Hubbard (1911-1986).
A Cientologia foi criada em 1952, em Nova Jersey (EUA), mesmo ano em que Divaldo Pereira Franco inicia suas atividades no Espiritolicismo, com a criação da Mansão do Caminho, na Cidade Baixa em Salvador.
Ambas as doutrinas acreditam na reencarnação, dentro de seus respectivos dogmas místicos. Ambas enfatizam fenômenos sobrenaturais. Em tese, diferem no fato da Cientologia cobrar taxas exorbitantes e o "espiritismo" brasileiro, não. Mas já existem casos dos ditos centros espíritas que mantém até carnês para associados darem suas "doações" mensalmente.
A própria Cientologia se define como "conhecimento no sentido pleno da palavra", algo que o "nosso espiritismo" também faz, principalmente nos seminários que falam de "autoconhecimento", que arrecadam muito dinheiro destinado supostamente a fins "filantrópicos".
O Espiritolicismo só não é tão sofisticado nas instalações nem na roupagem de seita que a Cientologia apresenta, com suas construções peculiares, com seus métodos e suas organizações rigidamente estruturadas. Neste sentido, o "espiritismo" brasileiro parece mais "modesto", uma Cientologia "caipira".
Um dado a destacar é que uma dissidência do Espiritolicismo, adotada por Waldo Vieira, ex-parceiro de Chico Xavier na produção de livros da FEB, é a que mais se aproxima da Cientologia, embora se autoproclame uma "ciência" que "estuda" a consciência conforme diversas abordagens "científicas" nas "mais diversas áreas do conhecimento".
Fica para outra oportunidade analisar as semelhanças e diferenças da Conscienciologia e Cientologia, mas adiantamos que, embora a Conscienciologia pretenda ser "mais científica" que a doutrina de Ron Hubbard, ela deixa transparecer a perspectiva mística em torno da suposta abordagem científica e filosófica da doutrina de Waldo.
Sabe-se que a Cientologia tem como principais adeptos Tom Cruise, John Travolta e Jennifer Lopez. No Espiritolicismo, as celebridades brasileiras que se destacam são a atriz Ana Rosa, o ator Carlos Vereza, a dançarina Scheila Carvalho, entre outros.
As estranhezas em torno da Cientologia já estão sendo desvendadas, embora seus adeptos tentem usar até a Justiça para evitar o êxito de seus críticos e lesados. Já o Espiritolicismo, se não tem a estrutura engenhosa da Cientologia, pelo menos mantém a sutileza de mascarar seus defeitos e irregularidades e, infelizmente, ainda atrai muitos adeptos com seu moralismo místico e pseudo-cientista.
quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014
Moisés seguiu sua travessia em maré baixa, não em mar "rasgado"
É a mesma embriaguez. A embriaguez do álcool, dos ébrios que em suas alucinações, veem a imagem de um poste se movendo. Ou a embriaguez da fé cega, em que seus adeptos, com seus delírios, acham que o mar havia se partido na famosa travessia de Moisés e o povo judeu.
Seria um absurdo, de acordo com os princípios da ciência, que o mar se partisse dessa forma narrada pelas Bíblias medievais, ou mesmo em traduções "evangélicas" que pouco romperam dos aspectos surreais do "catolicismo apostólico romano".
Não havia sequer técnicas de efeitos especiais - mesmo as usadas em Hollywood no filme Os Dez Mandamentos (The Ten Commandments), de 1956, com o armamentista Charlton Heston no papel de Moisés, eram mais toscas - e nem mesmo Photoshop ou editores de vídeo para fazer o mar se "rasgar" como se pudesse ser cortado por uma tesoura.
O que realmente houve nada tem a ver com o que as estúpidas traduções medievais da Bíblia, que desnortearam traduções posteriores, fazendo o histórico documento da Antiguidade (cujos originais se perderam), mais parecer conversa de pescador, fazendo jus ao ditado popular "quem conta um conto, aumenta um ponto".
A verdade é que Moisés sabia dos movimentos do Mar Vermelho e ele, perseguido pelas tropas do faraó Ramsés, aproveitou o momento de maré baixa para atravessar o mar. O chão não estava sequinho como as traduções bíblicas medievais quiseram nos fazer crer em uma interpretação surreal, mas a maré estava baixa o suficiente para as pessoas caminharem pelas águas.
Infelizmente, o catolicismo medieval insistiu em visões surreais e fabulosas, vindas de épocas bem mais rudimentares e primitivas do que hoje. Tão primitivas que o hebraico e o aramaico não eram idiomas de rico vocabulário, daí as traduções bíblicas que variavam de um palavreado mal traduzido a distorções propositais.
Com isso, as pessoas acabaram ficando confusas e o fanatismo religioso beira à intolerância na crença cega de situações fantásticas e mágicas que, na verdade, nunca haviam acontecido e nem eram para acontecer, porque isso iria contra as leis de Deus do procedimento lógico das coisas.
terça-feira, 18 de fevereiro de 2014
O Espiritolicismo e os barões da grande mídia
O "espiritismo" que a roustanguista Federação "Espírita" Brasileira criou e desenvolveu sempre foi ideologicamente conservador. Deturpou as ideias de Allan Kardec em prol de um catolicismo medieval disfarçado de espiritualidade e dotado de um moralismo rígido e vingativo, dissolvido pela "água com açúcar" das supostas "palavras de amor".
Apoiando cenários políticos conservadores e até autoritários, a FEB também mantém em boa conta o poderio midiático, sobretudo as Organizações Globo, parceira da Federação na produção de filmes baseados em obras "espíritas", sobretudo através da figura mitológica de Chico Xavier.
Comparando a parceria de Hollywood com o catolicismo norte-americano, com a produção de filmes "bíblicos" que mantiveram os diversos aspectos surreais da Igreja Católica, a parceria FEB / Globo Filmes seguiu o mesmo tom de proselitismo com a produção dos filmes "espíritas".
Em certos casos, há atuações boas e uma dramaticidade à primeira vista agradável, como no primeiro filme sobre Chico Xavier, dirigido pelo ator e diretor Daniel Filho, mas isso é por causa do mérito deste, figura veterana da televisão brasileira e que desde criança desenvolve seu talento e sua visão multifacetada do que é entretenimento, espetáculo e dramaturgia.
No entanto, há coisas risíveis como o Filme dos Espíritos que, na maior malandragem, diz ser "baseado no Livro dos Espíritos", quando não é mais do que um filme católico que mais parece vir dos almoxarifados da CNBB. Ou então a ficção científica do Nosso Lar, com um teor alucinógeno que nem Aldous Huxley em suas viagens de LSD seria capaz de produzir.
Que se possa adaptar filmes espíritas para a televisão, é bastante válido. Mas você junta uma rede de televisão fortalecida e apoiadora de cenários políticos duvidosos, como a ditadura militar, e uma federação religiosa que deturpa a Doutrina Espírita de forma violenta e, à sua maneira, também apoia cenários políticos duvidosos, e aí se vê o desastre.
Os verdadeiros espíritas, os que tratam as lições de Allan Kardec como coisa séria, não se iludem com tais filmes. A divulgação da nova visão da espiritualidade, trazida pelo professor lionês, não é devidamente valorizada e, o que é pior, a Globo Filmes acaba traduzindo em imagens toda a deturpação que a FEB fez desde seus primórdios, talvez até antes de sua fundação.
E o público que vai na onda de qualquer coisa fica mais vulnerável quando as manipulações ideológicas se dão através das imagens. A ficção imagética, muitas vezes, pode dar a impressão de realidade verídica e fiel, para pessoas que não conseguem questionar com precisão e cautela as coisas.
Daí que o que já estava bastante ruim torna-se pior. As imagens fixam com mais facilidade nas mentes das pessoas. O catolicismo medieval só faltou apelar para Hollywood, que lhe prestou uma ajuda tardia em muitos séculos. O "espiritismo" brasileiro apelou para a Globo Filmes para fixar nos seus adeptos a fé através das imagens.
E tudo isso juntando pregação espiritólica com linguagem de novelas, não bastassem os valores duvidosos que são transmitidos por estas, principalmente na faixa nobre das 21 horas.
segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014
Allan Kardec preferia o debate do que a fé em sua doutrina
Allan Kardec tinha em mãos uma descoberta nova, a realidade do mundo espiritual. Como cientista que ele era, além de um dedicado intelectual, Kardec não desejaria que as ideias que ele lançou virassem dogmas religiosos, mas que fossem lançadas ao debate, sem medo do questionamento mais severo, porém honesto e edificante.
Como em qualquer nova descoberta, Kardec não tinha certeza até que ponto se desenvolveriam os debates sobre a realidade espiritual. Paciência. Kardec viveu no século XIX, e os meios de Comunicação mal começavam a se evoluir através da fotografia, uma tecnologia que era um luxo na época, e hoje qualquer um pode ser fotógrafo com seu celular...
Naquela época não havia rádio, nem televisão, nem fonógrafos, nem cinema, nem satélites, nem Internet. O cinema só viria em 1895, com Kardec morto há três décadas. E a comunicação dos espíritos não tinha qualquer respaldo tecnológico, e hoje se experimenta a TCI (Transcomunicação Instrumental).
Não que Kardec não conseguisse imaginar o futuro. Mas havia, também, o livre arbítrio das pessoas, e os rumos do debate sobre sua doutrina lhe escapariam do seu controle e participação, até porque Kardec não chegou a completar 65 anos de vida.
E muita coisa ocorreu na França e no mundo após 1869. Uma França iluminista e que teria sua "bela época", mas que quase se tornou uma sub-unidade do império alemão por causa da tirania nazista. E um Espiritismo que, infelizmente, se desviou sequer das diretrizes deixadas pelo professor lionês.
Kardec fez de tudo para atualizar e ampliar ideias. Acatou todo tipo de questionamento, avaliando com paciência e dedicação, fazendo-o reformular ou reforçar suas análises conforme o sentido do questionamento.
Isso tanto é verdade que seu primeiro Livro dos Espíritos teve que ser revisto e ampliado, e a edição definitiva não é a primeira de 18 de abril de 1857 - apesar dela ter se tornado um marco - mas a de 1860, que vale para os nossos dias.
Não foi tarefa fácil, pois Kardec tirava de seu próprio bolso o dinheiro para viajar onde o chamassem para verificar fenômenos espirituais ou fazer alguma palestra ou pesquisa a respeito. Em seus últimos quinze anos de vida, Kardec procurou se aproximar o máximo possível a precisão do conhecimento científico e tentar prever a evolução das ideias.
Kardec se desgastou fisicamente, por conta das pressões emocionais que teve, porque ele também foi atacado e ridicularizado por religiosos fanáticos, os mesmos que, depois, tentaram influenciar formas diluídas da Doutrina Espírita, sobretudo a que temos no Brasil.
Por isso, pode-se inferir que, para Allan Kardec, acreditar simplesmente nas suas ideias soa uma postura bastante estéril, embora simpática. Ele prefere que suas ideias sejam discutidas e questionadas, por serem ideias bastante novas e muitas questões ainda estarem sem respostas.
Pena que as hipóteses e ideias lançadas por Allan Kardec tenham parado na fé (ir)raciocinada a ponto de muitos "espíritas" de hoje tomarem como certezas apenas meras suposições. E isso, infelizmente, permitiu a série de delírios, fraudes e alucinações que consistem nas supostas mensagens espíritas que confortam mentes desavisadas das armadilhas que se escondem por trás.
Pelo menos, Allan Kardec pôde prever e advertir tais deturpações. Mas até este aviso foi encarado com vista grossa pelos "espíritas" brasileiros, que fizeram uma verdadeira farra com as ideias do professor lionês. Eles ignoraram as lições mais preciosas e eliminaram o debate, lançando mão de tantos abusos que comprometeram a reputação da Doutrina Espírita no Brasil.
sábado, 15 de fevereiro de 2014
Espiritolicismo e "funk"
Qual a relação do "espiritismo" brasileiro com o "funk"? À primeira vista, nenhuma. O "espiritismo" brasileiro, aparentemente, se dedica a valores "elevados" e, musicalmente, sua inclinação é supostamente para as melodias mais elevadas, geralmente de música romântica ou orquestrada.
No entanto, sabemos que existe uma relação, ainda que indireta, entre o controverso ritmo carioca e a doutrina do "amor, paz e caridade". As energias inferiores que a invigilância de um "espiritismo" e seu forte ranço católico-medieval fazem com que se criem condições vibratórias que só fazem alargar o caminho já aberto para os funqueiros.
Se a gente comparar bem, o próprio "funk" também está envolto numa suposta aura de "superioridade", a mesma do Espiritolicismo. E não é muito difícil chegar a essa conclusão, embora muitos espiritólicos se sintam incomodados com a comparação entre sua doutrina e o "funk".
Isso porque há um fortíssimo lobby de intelectuais, artistas, celebridades, acadêmicos e também de jornalistas e cineastas, que fazem até mesmo trabalhos "científicos" para legitimar o "funk" como "manifestação suprema da cultura popular".
Eles argumentam de tudo: que o "funk" é "moderno", é "desafiador" a valores estabelecidos, é "criativo à sua maneira", é "hiperconectado" com o mundo, entre tantas alegações cuja veracidade é muito duvidosa.
Chegam mesmo a atribuir ao "funk" um inexistente caldeirão musical que junta punk rock, hip hop, Tropicalismo, Semana de Arte Moderna, Pop Art, música concreta, psicodelismo, ou mesmo o funk autêntico de James Brown, do qual o "funk" não aproveitou sequer a sombra.
No entanto, embora muitas dessas argumentações soem confusas, contraditórias e inverídicas, a intelectualidade insiste nas mesmas, alegando que o "funk" é "vítima de preconceito", tão "injustiçado" quanto o samba de 1910. Comparar o samba com o "funk" nada tem a ver, até porque são contextos muito diferentes e o samba é um ritmo culturalmente menos fechado e menos rígido que o "funk".
O Espiritolicismo usa os mesmos argumentos de "superioridade" do "funk". E também seu "coitadismo", à sua maneira. Daí a imagem clichê de "velhinho humilde" associada a Chico Xavier, algo que é feito da mesma forma com os astros do "funk", que se valem porque "são pobres" e "são negros" (e isso vale até para um branquelo tipo MC Guimé).
Além disso, só a mania de predestinação do Espiritolicismo, aliada à megalomania do "funk", sugerem um raciocínio socrático. Afinal, se o Espiritolicismo julga o Brasil como o "Eldorado do futuro", através do livro Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, e o "funk" é considerado pela intelectualidade mais influente a "última definição de cultura brasileira", sabe o que isso significa?
Significa que, juntando as peças, o Espiritolicismo prepara a "nação funqueira", criando condições que só favorecem ainda mais o caminho que o poder midiático, o mercado dominante e a corrupção política, aliada à degradação educacional, fazem para fazer nascer e crescer o "funk" e suas baixarias diversas.
O Espiritolicismo apenas "lava as mãos" para os malefícios que o "funk" causar num momento ou em outro. Mas, na prática, permite e consente que esse ritmo cresca e se torne hegemônico na cultura popular brasileira, a ponto do nosso patrimônio cultural verdadeiro estar ameaçado.
Tanto faz. Afinal, os líderes espiritólicos ficam trancados em suas casas ouvindo música orquestrada, indiferentes aos rumos da humanidade. Quanto mais baixarias, melhor, porque assim o Espiritolicismo aciona sua indústria de livros, vídeos, palestras etc para fazer seu proselitismo religioso.
quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014
Espírito não tem necessidade de fazer refeições
Quem acompanhou o filme e o livro Nosso Lar, entende que o espírito que já faleceu sempre tem necessidades materiais de comer e beber como as que tinha quando vivia na Terra. No entanto, isso é um mito e foi duramente combatido, no século XIX, pela sabedoria do professor Allan Kardec.
A não ser pelos efeitos do falecimento recente, em que as impressões da vida terrena ainda são muitíssimo fortes, o espírito não sofre fome nem sede. Se ele supera as impressões da vida material, mesmo estando num estágio ainda inferior, ele simplesmente pode sobreviver sem pensar um só momento em comidas ou bebidas, a não ser como lembranças de algo que deixou de vivenciar.
Duas frases, uma do "sábio" André Luiz e outra do nem sempre (ou talvez quase nunca) bem compreendido professor Kardec, foram colocadas lado a lado numa imagem divulgada no Facebook, comparando o que "André" (ou seja lá quem seja, talvez Chico Xavier ou Waldo Vieira) disse em Nosso Lar e o que Kardec afirmou em O Livro dos Espíritos.
Dá para perceber o sentido lógico e coerente do professor lionês, em detrimento das fantasias alucinadas do tal André Luiz no livro de enredo surreal publicado pela FEB, que mostra o "céu e o inferno" - o Nosso Lar e o "umbral" - sem a contundência dramática e validamente artística de um Dante Alighieri. Vejam abaixo.
quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014
Ainda sobre a invigilância espiritólica
O que faz do "espiritismo" brasileiro se corromper há mais de um século e afetar a reputação de seus astros, tidos como "espíritos de luz" ou "lideranças iluminadas" (quando encarnados, neste caso), é a falta de vigilância que a doutrina teve, já que ela desde o início sucumbiu a paixões mesquinhas.
Seu "pecado original" - só para citar um termo católico tão ao gosto dos espiritólicos, mesmo os que supostamente são avessos aos exageros do Catolicismo - foi justamente absorver ideias originárias do catolicismo medieval e juntar a eles alguns delírios difundidos pela sinistra figura de Jean-Baptiste Roustaing, do qual até agora faltam imagens na Internet.
A partir daí, o "espiritismo" brasileiro, que se autoproclama "a última e mais elevada definição da fé humana", supostamente simpática a abordagens científicas, foi tentado a uma série de deturpações, erros e fraudes, que o fazem pior do que as religiões católicas e evangélicas, até pelas responsabilidades que tentou assumir como diferencial desses dois sistemas religiosos.
O Catolicismo e o Protestantismo, pelo menos, não se arrogavam em serem as mais modernas crenças da humanidade. Poderiam até desejar alguma supremacia, e o Catolicismo a exerceu durante o longo período da Idade Média, sobretudo com práticas desumanas e sanguinárias cruelmente anti-cristãs.
Vide as Cruzadas (verdadeiras guerras no sentido militar do termo), os enforcamentos e as queimas de pessoas hereges em praça pública, só para citar alguns exemplos mais conhecidos do que foi o Catolicismo medieval que inspirou figuras como o escravista, racista, machista e ditatorial padre Manuel da Nóbrega, o mesmo que, como espírito, adotou a identidade do "luminoso" Emmanuel.
As duas crenças, pelo menos, correspondem a estágios de evolução da humanidade, e se elas hoje, despidas de muitos de seus excessos, estão muito longe de apresentarem uma visão mais coerente e transparente da moral humana, subordinadas ainda a seus antigos dogmas, tentam alguma evolução que faria qualquer "líder espírita" ficar vermelho de vergonha.
O Papa Francisco I já sinaliza algumas mudanças, mesmo dentro dos limites da Igreja Católica, como aceitar as relações homoafetivas e desmentir a existência do mito do "Céu e Inferno", já questionado, há mais de um século, por Allan Kardec.
No lado dos evangélicos, a figura de Rob Bell já começa a se tornar um diferencial, na medida em que procura trazer uma abordagem mais científica e objetiva da realidade, mesmo dentro dos limites das crenças evangélicas.
Estes dois casos são apenas pequenas brechas, mas muito significativas para abrir o leque de crenças antes tão fechadas. Em contrapartida, o "espiritismo" brasileiro, tão "vanguardista", ainda apresenta posturas homofóbicas e uma visão de "céu e inferno" que se torna clara em casos como o livro Nosso Lar, um dos best sellers da FEB.
O Catolicismo e o Protestantismo também mostraram figuras de grande mérito como Irmã Dulce e Martin Luther King, que buscaram a transformação real da humanidade, não com meras "palavras de amor", mas com ações concretas que buscassem a evolução humana e a superação de injustiças.
Já o "espiritismo" brasileiro se estagna em muito falatório, muitas retóricas e rituais que muitas vezes são risíveis. A energia pesada atraída por tamanha multitude de erros faz até mesmo com que médiuns "curandeiros" como os que serviram ao Dr. Adolph Fritz sofram muitas maldições ou que até mesmo devotas de Chico Xavier de repente veem seus filhos morrerem em tragédias desnecessárias.
A invigilância é imensa. Há gente que confunde imaginação fértil com mediunidade. É muito fácil imitar os trejeitos de gente falecida, e mesmo com superficialidade e erros - como em casos como Juscelino Kubitschek, Olavo Bilac e Raul Seixas - , muitos ainda atribuem como "autênticas" mensagens espirituais de procedência duvidosa e cheias de erros e deslizes.
Para piorar, todos os erros são permitidos e aceitos por causa das "palavras de amor". É como se, na corrupção política, se permitissem quaisquer tipos de fraudes, delitos e traições, bastando apenas o parlamentar envolvido ter sido eleito em votação popular e adotar um discurso em "defesa da cidadania".
E alguém imagina que as "palavras de amor" espantam espíritos negativos? Quem acredita nisso está gravemente enganado. Afinal, os espíritos mais duros e violentos veem nessas palavras um acalanto, eles apenas dão um tempo nas suas artimanhas traiçoeiras para descansarem felizes diante de palavras que muitos acreditam assustá-los, mas que na verdade os deixam confortados e felizes.
Daí que o "espiritismo" brasileiro, que nós fizemos por bem denominar Espiritolicismo, não consegue evoluir e já é superado até mesmo por religiões antes fechadas como a católica e a protestante, que, mesmo nos seus limites ideológicos, já se preocupam em se adaptar às mudanças sociais da atualidade.
Cego diante de suas próprias paixões e pela recusa de enxergar seus próprios erros, que são muitíssimos e muitíssimo graves, o Espiritolicismo sucumbe pela invigilância que estimula tanto a prática de erros como a proteção dos mesmos pelo véu das "palavras de amor".
terça-feira, 11 de fevereiro de 2014
"Espiritismo" funciona mais ou menos como um hospício ou escola ruim
O Espiritolicismo, o dito "espiritismo" feito no Brasil pela FEB e similares, funciona mais ou menos como um hospício ou uma escola ruim. Destinado a tratar dos desgraçados, acaba se tornando refém deles, na medida em que há invigilância e pouco preparo para enfrentar tensões.
Desde 1884, quando foi fundada a Federação "Espírita" Brasileira, a falta de vigilância se institucionalizou nas hordas "espíritas", o que permitiu que as energias negativas, que seus adeptos juram serem permanentemente banidas de sua doutrina, permaneçam e se fortaleçam.
A mediunidade duvidosa, os enxertos dogmáticos de valor discutível, a influência do Catolicismo medieval, o moralismo exagerado, o conservadorismo por vezes reacionário, tudo isso transforma o "espiritismo" tal como a FEB o traçou num processo mais frágil do que se imagina.
Como num hospício, em que médicos, doutores e chefes não possuem preparo suficiente para controlar os impulsos dos subordinados, a invigilância "espírita" faz com que os espíritos endurecidos encarnados e desencarnados se tornem prepotentes e lancem más influências que acabam dominando a doutrina.
Como nos hospícios, os subordinados se tornam tiranos, a exemplo também de muitas escolas públicas localizadas em subúrbios dominados pela criminalidade, em que professores e diretores se tornam reféns de alunos ou mesmo invasores que são ligados a grupos criminosos.
O "espiritismo" brasileiro torna-se refém de espíritos endurecidos, incluindo antigos escravos, antigos jesuítas ou mesmo espíritos "de cá e de lá" que, sob o pretexto de obterem tratamento e assistência, acabam adquirindo prepotência e privilégios.
É por isso que o "espiritismo" brasileiro decaiu e o que se nota é que seus adeptos, mesmo que se digam "envoltos numa aura de amor e paz", são os que mais reagem com ódio quando ídolos seus, como Chico Xavier, são criticados.
Daí que o "espiritismo" se distanciou de Allan Kardec até mesmo nos avisos que o professor francês havia feito de que é preciso, acima de tudo, vigilância.
sábado, 8 de fevereiro de 2014
Como se pode verificar uma mediunidade?
De palavras de amor, o umbral está cheio. A falta de verificação nas mensagens mediúnicas é um fenômeno muito perigoso, porque como acontece no "espiritismo" brasileiro, as mensagens espirituais são difundidas num clima de pompa e até de estrelismo, enquanto por trás dessas mensagens "maravilhosas" existem armadilhas diversas.
Há a mediunidade feita por espíritos farsantes, alguns que realmente têm a identidade presumida - como Emmanuel, que em muitos aspectos coincide muito com o Padre Manuel da Nóbrega dos tempos do Brasil colonial - , mas querem bagunçar a Doutrina Espírita, e outros que apelam para a falsidade ideológica se travestindo de personagens ilustres.
Há também a não-mediunidade, de supostos médiuns que inventam que receberam espíritos e apenas sofreram algum delírio após um estado de transe ou que simplesmente tiveram a imaginação fértil suficiente para lançar personagens fictícios que tais escritores atribuem como os "amigos do além".
A falta de questionamento é tanta, e, para piorar, recomendada pelo "superior" Emmanuel - que utiliza os mesmos métodos do antigo jesuíta, que absorvem crenças alheias para destrui-las inserindo nelas dogmas de sua crença dominadora - , que vemos a banalização da mediunidade cada vez mais aleatória e irresponsável, mas protegida pelas tais "palavras de amor".
E como é que a ciência pode verificar a autenticidade ou não de tais obras? Infelizmente, ouve-se falar, a boataria ganha verniz de "certeza", as meias-verdades ganham verniz de "verdades indiscutíveis" e se "amor e caridade" tornaram-se pretextos para essa farra toda, é preciso algum exame muito cauteloso.
Os espiritólicos inventam que existem exames que "comprovam indiscutivelmente" a autenticidade das mensagens espirituais, mas não dão detalhes. Diz-se que a ciência comprovou e, quando muito, divulgam uma instituição que nem é assim tão confiável.
Tudo fica na suposição, nas meias-verdades, pois "o amor tudo permite". Até mesmo contradições de personalidade entre espíritos e seus suportos encarnados de outrora, erros históricos grotescos, deslizes no estilo poético, expressões artísticas medíocres e tudo o mais.
Primeiro, supõe-se que o espírito de tal pessoa mandou mensagem. Ninguém questiona e tudo fica como está. Mas aí alguém questiona e os espiritólicos "encomendam" um "exame científico", e anunciam no periódico "espírita" de sua cidade que a ciência "comprovou" a autoria da mensagem mediúnica.
Este festival de omissões faz com que se deixe que qualquer espírito se passe por alguém ilustre, ou que o prestígio de tal médium garanta, por si só, a veracidade da mensagem recebida. O status do médium-estrela garante a presunção de veracidade, mesmo que realmente tenha ocorrido uma fraude.
Por exemplo, pouco importa se o "Raul Seixas" que o tal Zílio dizia ser era abobalhado demais para ter sido realmente o roqueiro baiano. Zílio "foi Raul Seixas e ponto final", por causa do prestígio que Nelson Moraes goza em seu meio, muitos pensam que ele não seria capaz de cometer tal fraude.
Foi assim que Chico Xavier construiu seu estrelato perseguindo e amolando a figura de Humberto de Campos, a ponto até mesmo de parodiar um antigo codinome do escritor, Conselheiro XX, para fazer o "Irmão X" quando a coisa começava a piorar do lado chiquista (ou chiqueiro?).
Xavier plagiava Humberto de Campos e ainda reivindicava a impunidade deixando fazer crer que o "espírito de Humberto" é que havia reescrito trechos de suas principais obras. E botava na conta de Humberto uma literatura espiritual confusa, piegas, exageradamente religiosa (mesmo para os padrões daqueles tempos, os anos 1940-1950) e em muitos momentos medíocre.
E o que consiste a cautela quanto às expressões mediúnicas? Simples. Primeiro, deve-se verificar a identidade do espírito e pesquisar a fundo sua personalidade, não se limitando a macetes e tomando muito cuidado em assimilar aspectos estereotipados que não correspondiam ao que o indivíduo foi em vida.
Segundo, deve-se verificar se a mensagem foi mediúnica ou não, se não foi invenção do suposto médium, fruto de algum delírio ou de algum outro interesse leviano por conta de burocratas e chefões do "espiritismo" de sua localidade.
Terceiro, deve-se mesmo verificar se os exames científicos ocorreram ou foram feitos por entidades de reputação rigorosamente reconhecida. Não basta o "líder espírita" dizer que tal entidade é "renomada" e "da mais absoluta confiança". Isso não é suficiente, e pode haver muita mentira por trás dessas declarações em que a austeridade se limita ao tom das palavras ditas ou escritas.
A mensagem espiritual, além disso, deveria ultrapassar os limites religiosos e atingir o público laico, que em compensação inclui verdadeiros especialistas em reconhecer as identidades dos falecidos. Como, no caso de Raul Seixas, corresponde aos seus fãs que, em boa parte, são indivíduos ateus e que compartilham da visão cética que o roqueiro baiano teve no final da vida.
Se o tal Zílio, por exemplo, não consegue repercutir - ou, se chega a tanto, é de maneira negativa - entre os fãs de Raul Seixas, que logo de cara veem nele uma paródia grosseira do roqueiro baiano, então não há veracidade. A paródia de Raul, neste caso, é tão grosseira que destoa até mesmo do Patropi que o criador do Fofão, Orival Pessini, popularizou no humorismo brasileiro.
Verificar, perguntar, questionar. Isso Allan Kardec fez, e muito, mas o "padre Emmanuel da Nóbrega" desaconselhou a fazer. Isso é uma contradição que invalida o "espiritismo" brasileiro, que provou querer se livrar do professor francês e descaraterizar a doutrina do Espírito da Verdade transformando-a num sub-catolicismo piegas e perverso, ainda dotado de ranços medievais.
sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014
Canuto Abreu havia lançado edição que Allan Kardec quis reformular
O jornalista roustanguista Canuto Abreu, um dos homens da FEB, havia lançado em 1957, pela Editora Ismael - nome do sinistro espírito que seria, segundo os espiritólicos, o "mentor do Brasil" - , a primeira edição do Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, evidentemente com uma tradução mais próxima da domesticação espiritólica dos textos do pedagogo francês.
A capa, bem ao estilo das ficções científicas da década de 1950, ilustra uma nuvem - alegoria para o mundo espiritual, que lança um raio sobre a Terra, passando primeiro pela França e depois atingindo o Brasil, dando a crer da suposta predestinação do país sul-americano para a "espiritualidade", anunciada pelo livro Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho.
Em tese, a publicação é comemorativa dos 100 anos da edição original do Livro dos Espíritos, que continha 501 questões. A publicação brasileira é bilingue, incluindo também o texto original em francês. Mas a edição do livro consiste em um problema.
Esse problema é que a edição havia sido posteriormente descartada por Allan Kardec que, com seu faro de pesquisador e debatedor, havia analisado o conteúdo da obra, além de ter entrado em contato com diversas pessoas interessadas. Acolhendo sugestões e críticas, Kardec reformulou a obra, duplicando o número de questões para a edição definitiva do Livro dos Espíritos, de 1860.
Nada contra o lançamento no Brasil da primeira edição, mas diante da vulnerabilidade dos adeptos do "espiritismo" brasileiro, que a tudo aceitam sem criticar, é muito perigoso lançar um livro desses. As pessoas, agindo numa fé cega e submissa mas que julgam ser "raciocinada", poderiam ficar ainda mais confusas ao lerem o primeiro livro.
Com isso, essas pessoas não terão ideia do porquê de Kardec ter reformulado a obra - numa controversa quantidade de 1018 ou 1019 questões, devido a alterações editoriais - e talvez por ingenuidade tendam a preferir uma ou outra edição, não pela relevância dos textos, mas por alguma opção pessoal mais pueril.
Junte-se a isso o fato de que, nas mãos de Canuto Abreu, a primeira edição do Livro dos Espíritos caiu em mãos erradas, pois se trata de um jornalista comprometido com as deturpações propositais da Doutrina Espírita.
Portanto, a publicação, na época, não valeu, e simplesmente não foi uma homenagem digna aos cem anos de sua edição, até porque foi simplesmente movida pela "paixão" e pela simples bajulação ao prestígio de Allan Kardec, sem considerar os critérios de análise necessários para lançar a primeira edição com a devida prudência de advertir quem queira conhecer o Espiritismo.
Com isso, a publicação foi tão somente uma "curiosidade", e do jeito que foi lançada, no fervor do Espiritolicismo e da popularidade de Chico Xavier, foi uma iniciativa muito arriscada que poderia deixar os iniciantes espíritas ainda mais confusos, como se já não bastassem as confusões próprias trazidas pelo "espiritismo" brasileiro.
quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014
Emmanuel que participou da Codificação era um engenheiro sueco
Os espiritólicos até tentaram. E tentaram insistir. Há até livro com argumentos "científicos". Mas de nada adiantou. O jesuíta Emmanuel, o antigo Padre Manuel da Nóbrega da História do Brasil e espécie de "déspota do além" do "espiritismo" brasileiro da FEB, não participou mesmo do grupo de espíritos que mandaram mensagem para Allan Kardec, sob a supervisão do Espírito da Verdade.
O Emmanuel que participou do admirável grupo de espíritos, que independente de serem superiores ou não, manifestavam-se honestamente nas mensagens codificadas por Allan Kardec em obras como o Livro dos Espíritos e Evangelho Segundo o Espiritismo, nem mesmo português era, e passou a anos-luz da zona de influência da roustanguista Federação "Espírita" Brasileira.
Seu nome era Emmanuel Von Swedenborg. Era um engenheiro e cientista sueco. Em vida, ele até tinha uma credulidade religiosa acentuada, mas isso não o impediu a ser um homem de ciências de seu tempo, tendo sido um notável e atuante engenheiro do seu tempo. Viveu entre 1688 e 1772 e nasceu em Estocolmo.
Filho de um bispo luterano, Swedenborg foi engenheiro militar, especializado em mineração, e serviu ao rei Carlos XII, da Suécia. Foi também uma das maiores autoridades de Física e Astronomia de seu país, e também era especializado em Zoologia e Anatomia. Apenas pecava por suas análises extremamente religiosas sobre a Bíblia, com pontos de vista extremamente discutíveis.
Depois de seu falecimento, aos 84 anos, Swedenborg se manifestou, como espírito, através de uma sessão mediúnica em Londres, em 1844. Mais tarde, foi um dos espíritos a deixar seu depoimento na seção Prolegômenos, do Livro dos Espíritos escrito por Allan Kardec, provavelmente tendo superado suas antigas crenças religiosas.
Sobre Swedenborg, Allan Kardec havia escrito em artigo publicado numa edição da Revista Espírita, em 1859:
"Swedeborg é um desses personagens mais conhecidos de nome que de fato, ao menos pelo seu vulgo. Suas obras, muito volumosas, e, em geral, muito abstratas, são lidas quase só pelos eruditos. Assim a maioria das pessoas que delas falam, ficaria muito embaraçada para dizer o que ele era. Para uns, é um grande homem, objeto de profunda veneração, sem saberem porquê; para outros, um charlatão, um visionário, um taumaturgo.
Como todos os homens que professam idéias contrárias à maioria, idéias que ferem certos preconceitos, ele teve ainda os contraditores. Se estes tivessem se limitado a refutá-lo, estariam no seu direito. Mas o facciosismo nada respeita e as mais nobres qualidades não são reconhecidas por eles, os contraditores. Swedenborg não poderia ser uma exceção.
Sua doutrina, sem dúvida, deixa muito a desejar. Ele próprio, hoje, está longe de aprová-la em todos os pontos. Entretanto, por mais refutável que seja, nem por isso deixará de ser um dos homens mais eminentes do seu século.
(...)
Um dos pontos fundamentais repousa naquilo que ele chama de as correspondências. Na sua opinião, estando os mundos, espiritual e natural, ligados entre si, como o interior ao exterior, resulta que as coisas espirituais e as coisas naturais constituem uma unidade, por influxo e há, entre elas, uma correspondência.
Eis o princípio; mas o que deve ser entendido por essa correspondência e esse influxo: eis o que é difícil apreender".
terça-feira, 4 de fevereiro de 2014
Espiritolicismo despreza cientista Franz Anton Mesmer
O "espiritismo" brasileiro distorce tão grosseiramente a Doutrina Espírita original que chega mesmo a desprezar uma das figuras-chave da doutrina kardeciana, o cientista Franz Anton Mesmer (1734-1815).
Mesmer foi um médico que estudou Teologia e Filosofia, além de ser muito interessado por música e ter conhecido o compositor e pianista Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791) ainda criança, quando o famoso artista clássico era um prodígio de doze anos.
Natural da Suábia, antigo território correspondente hoje à Alemanha, Mesmer foi conhecido pelos estudos que fez sobre o magnetismo animal e que se tornou popularmente conhecido como "mesmerismo". Até mesmo no idioma inglês, existe a expressão mesmerize, que significa hipnotizar.
Os estudos de Mesmer que correspondem ao magnetismo animal consistem na relação entre energias fluídicas e a energia material dos seres humanos. O magnetismo é uma prática antiga, identificada já desde as antigas civilizações egípcias, e a prática do magnetismo pode ser não apenas animal, mas também relacionada a outros tipos de matérias.
O magnetismo é observado sobretudo no processo de hipnotismo, e era um dos temas de maior interesse do professor Rivail, o nosso conhecido Allan Kardec da Doutrina Espírita. Muito antes dele receber dos médiuns as mensagens de espíritos coordenados pelo Espírito da Verdade, Kardec fazia diversas pesquisas sobre o magnetismo animal.
O professor lionês observava, não sem um questionamento bastante crítico e apurado, desde os rituais de hipnose até os espetáculos das mesas girantes. Tinha muitas dúvidas a respeito, e Kardec levou tempo para aprender as ideias que hoje estão registradas nas suas obras em prol do Espiritismo.
No Brasil, o maior problema é que o magnetismo tornou-se uma área do conhecimento desprezada, e até agora não existe uma obra de Franz Mesmer que tivesse uma tradução - e muito menos uma BOA tradução - em português.
Mesmer estudava as relações entre vibrações fluídicas, mentes humanas e energias materiais adotando critérios de cunho científico, embora o Magnetismo, até pelas questões controversas que lançou, ainda se encontra num estágio imaturo para ser considerado precisamente uma "ciência".
Daí o sério equívoco do desprezo à sua teoria. Em vez disso, o uso de vibrações fluídicas é feito de forma aleatória, sem qualquer tipo de pesquisa, e isso se observa sobretudo nos procedimentos de passes nos chamados "centros espíritas".
Pois esses rituais de "efeitos PASSEBOS" se reduzem, muitas vezes, aos seus praticantes ficarem em sensação de transe e abanarem as mãos nas cabeças das pessoas, aparentemente por alguma intenção de trazer um efeito benéfico para o paciente, no caso o frequentador de tais "centros".
O "efeito placebo" se consiste mais no conforto que o paciente que recebe o passe cria em si mesmo, talvez pela crença ingênua de que o processo tem "eficiência certa", do que pelo "passista" - não seria melhor "passeiro", para não confundir com uma função carnavalesca? - , que apenas entra em transe e decide abanar suas mãos nas cabeças de cada paciente.
Portanto, o magnetismo é usado sem qualquer conhecimento, sem qualquer análise. Isso é lamentável, porque Allan Kardec era muitíssimo interessado pelo assunto e chegou a cogitar um livro relacionando Espiritismo e Magnetismo, que a grave doença o impediu de fazer, a não ser por algumas anotações.
Com isso, o "nosso espiritismo" usa as vibrações energéticas sem muito critério, apenas se apoiando numa frágil espiritualidade e num misticismo qualquer nota, apoiado em um severo moralismo religioso.
Nada de ciência, e nem mesmo de quase ciência: é uma questão apenas de sacudir as mãos no ar e sobre as cabeças de qualquer um e fazer as pessoas voltarem para casa alegrinhas. Mas, com toda certeza, sem qualquer acréscimo essencial às suas vidas mortais e rotineiras.
segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014
Revista Espiritismo & Ciência perde tempo perguntando se Chico foi Kardec
A revista Espiritismo & Ciência, em sua edição mais recente do especial "Grandes Nomes do Espiritismo", perde tempo em torno de uma questão já resolvida, insistindo em perguntar se o médium-estrela Chico Xavier havia sido reencarnação de Allan Kardec.
Investindo no sensacionalismo da questão, que seduz muitos "espíritas" incautos - anos atrás, uma comunidade "espírita" do Orkut lançou a questão numa pesquisa e MAIS DE 60% (!!!) disseram acreditar que Xavier foi Kardec - , a revista quer reacender uma polêmica já superada, através do título oportunista "A pergunta que não quer calar".
Pois a pergunta calou-se definitivamente e sabemos muito bem a resposta: Chico Xavier NUNCA, EM NENHUMA HIPÓTESE, poderia ter sido Allan Kardec em outra encarnação, fato que mesmo numa perspectiva espiritólica deve ser indiscutível.
Mesmo à primeira vista, dá para perceber que Xavier e Kardec eram personalidades muito, muito diferentes. O tipo de comportamento, a maneira de falar - como poderíamos inferir de Kardec, já que no seu tempo ainda não foram descobertos meios de registrar o som e a imagem em movimento - e o modo de opinar os temas e assuntos diversos.
Tudo que Chico Xavier fazia nada tinha a ver com Allan Kardec. Mesmo admitindo a perspectiva espiritólica, que coloca os dois como "unidos por uma mesma causa", não há qualquer motivo que faça que o mineiro teria sido o professor francês, porque não há aspectos de cada personalidade que se cruzem.
Dentro desta perspectiva, é como se alguém, dentro da cultura rock, insistisse em trabalhar a visão de que Renato Russo (1960-1996), o célebre líder da Legião Urbana, teria sido reencarnação de Buddy Holly (1936-1959), o saudoso roqueiro norte-americano, simplesmente pelo fato de usar óculos e tocar rock, algo que em si não procede de forma alguma.
Saindo da perspectiva espiritólica, as diferenças entre Chico Xavier e Allan Kardec, não custa repetir, se tornam ainda mais gritantes. A falta de firmeza de do católico mineiro entra em contradição frontal com o rigor científico do professor lionês.
Isso é tão certo que Chico, de índole mole, recebia mensagens espirituais sem verificar sua verdadeira procedência, e, em certos casos, sofria de animismo ou transes que pensava serem manifestações de espíritos do além.
Isso fora a fraude de alguns livros, como Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, tolo demais para ter saído da mente de Humberto de Campos, e Parnaso de Além-Túmulo, que apresenta irregularidades de expressão poética em relação aos autores atribuídos, que aos poucos começam a ser desvendados como grandes farsas editoriais.
Portanto, com tantas diferenças gritantes e contradições entre um moralmente instável Chico Xavier e um correto e batalhador Allan Kardec, dá para perceber que o mineiro não teria sido mesmo o francês, e não adianta as pessoas chorarem, protestarem, espernearem. Xavier e Kardec não teriam sido a mesma pessoa, e isso é fato consumado.
O próprio Kardec recomendou que as identidades espirituais devam ser observadas pelos traços particulares de suas personalidades. Se existe uma contradição, por menor que seja, em relação aos aspectos pessoais de um espírito em relação à sua suposta identidade, é porque esse espírito não tem a presumida identidade.
Nada de Chico Xavier, mesmo nas melhores hipóteses, pode ser visto como coincidente com os aspectos pessoais de Allan Kardec, e se Xavier ainda cometeu erros que o pedagogo francês não teria cometido, entra mais um agravante.
Esse agravante é que a tese de que Xavier foi Kardec vai contra a própria natureza evolutiva do espírito, contrariando um dos princípios enfatizados pelas obras kardecianas. O espírito não regride, ele não iria sofrer um retrocesso numa encarnação posterior, assim como uma pessoa não iria desaprender os conhecimentos que adquiriu em dado momento.
Portanto, um Chico Xavier que não se interessa em verificar a veracidade de uma mensagem espiritual, iludido com as tais "palavras de amor" nelas expressas, contradiz gravemente com um Allan Kardec que recorria a três médiuns diferentes, em lugares distantes entre si, para verificar se a manifestação de determinado espírito não contradizia de um médium para outro.
A revista Espiritismo & Ciência, contrariando a suposta opção científica expressa no nome da publicação, perdeu tempo com uma questão que sabemos já está superada há muito tempo. Não há como perder tempo perguntando se Xavier foi Kardec, porque sabemos claramente que o mineiro nunca poderia ter sido o francês. Suas personalidades eram diferentes e até antagônicas entre si.
domingo, 2 de fevereiro de 2014
LSD e Espiritolicismo: alucinações
O CANTOR E GUITARRISTA SYD BARRETT, FUNDADOR DO PINK FLOYD - Exemplo de personalidade que sofreu os excessos de LSD.
O que une o Espiritolicismo e a chamada lisergia é a forte tendência à alucinações, fantasias, à tentação de se aprofundar em delírios imaginativos, sob o pretexto de "abrir a mente", como era o que muitos de seus usuários diziam nos idos da psicodelia de 1965-1968.
Várias drogas estão associadas à psicodelia, mas nenhuma é mais típica dessa fase da Contracultura (1960-1969) quanto o LSD, popularmente conhecido como "ácido lisérgico". Consta-se que essa droga tenha sido a última usada pelo escritor inglês Aldous Huxley, autor de Admirável Mundo Novo (Brave New World), pouco antes de morrer, em 1963.
LSD é a sigla de um nome bastante complicado, a expressão alemã Lysergsäurediethylamid, que, traduzida, quer dizer dietilamida do ácido lisérgico. Ela foi descoberta por Albert Hofmann, que, entre 1938 e 1942, fez pesquisas sobre a substância alucinógena e se tornou um dos maiores defensores da droga, ao lado do professor universitário Timothy Leary.
Entre seus efeitos, a droga provoca euforia, aumenta a imaginação criativa e faz com que as pessoas que utilizam desta droga passem a visualizar ou imaginar coisas surreais, o que, nas manifestações artísticas, pode resultar em expressões cada vez mais excêntricas.
O rock dos anos 60 tornou-se o mais típico exemplo disso. Beatles, Rolling Stones, Jefferson Airplane, Mamas And The Papas, Beach Boys, Byrds, Doors, Jimi Hendrix, Janis Joplin e, sobretudo, Pink Floyd, entre tantos outros, consumiram LSD e produziram obras sobre o efeito dessa droga.
No caso do Pink Floyd a droga afetou sobretudo seu fundador, o cantor e guitarrista Syd Barrett (1946-2006), que teve um breve potencial criativo surpreendente, mas depois sucumbiu aos efeitos colaterais da droga, relativos à depressão e à indisposição.
A relação que o LSD tem com o Espiritolicismo é justamente no que se diz às alucinações. O "espiritismo" brasileiro, em tese, é contrário a todo tipo de droga, mas o modo com que trata os fenômenos espíritas chega mesmo ao ponto de nuances surreais.
O livro Nosso Lar, de Chico Xavier, atribuído ao "espírito" de André Luiz, é um bom exemplo disso. Embora a obra seja tida oficialmente como um relato realista do mundo espiritual, ele apresenta diversos aspectos surreais, desde as relações do lar que dá título ao livro com o "umbral" (espécie de "terreno" onde viveriam espíritos de índole ainda primitiva) até os alimentos usados no lugar.
Além disso, a própria "liberdade" das manifestações mediúnicas, ou mesmo a confusão que determinados médiuns têm entre mediunidade e animismo, ou mediunidade e imaginação fértil, faz com que o "espiritismo" brasileiro tenha uma "lisergia" que mais parece uma versão piorada e piegas do psicodelismo, em vários aspectos.
Mesmo visões de que Chico Xavier "andava" sobre as águas ou que ele era o "único encarnado" a participar de uma reunião de espíritos em 1969 podem ser alucinógenas. Sem falar da falsidade ideológica das manifestações espirituais, cujo processo não difere muito dos roqueiros alucinados que "abriam sua mente".
A mistura de alucinação com religião é tal que os críticos da fé cega chegam mesmo a fazer trocadilho entre a famosa expressão "Louvado Seja Deus" com o ácido lisérgico, por causa das iniciais serem bastante semelhantes.
Os Beatles haviam gravado em 1967 uma canção chamada "Lucy in the Sky with Diamonds", que aludiu ao LSD. Raul Seixas, então vocalista e um dos guitarristas de Raulzito e Os Panteras, fez versão em português dessa música, gravada ainda naquele ano, chamada "Você Ainda Pode Sonhar". A música teria como título "Lindos Sonhos Doirados", mas a gravadora Odeon não permitiu.
Mais recentemente, o músico paulistano Arnaldo Dias Baptista, que naquele 1967 integrava os Mutantes, havia lançado uma música chamada "Louvado Seja Deus", uma paródia de hino religioso feita com voz e teclado agradecendo a Deus pelo surgimento do rock'n'roll.
No entanto, essas são até "alucinações" admiráveis. Pelo menos geraram produtos artísticos de grande valor e apreciados até hoje, mesmo por quem não viveu a década de 60. O grande problema é que o "espiritismo" brasileiro é alucinógeno, mas não tem sequer o caráter de sonho, poesia e idealismo que os roqueiros psicodélicos tiveram em seus tempos.
O Espiritolicismo, pelo contrário, é alucinógeno com bases conservadoras, como o moralismo familiar, o proselitismo religioso, a espiritualidade duvidosa, a pseudo-ciência carregada de misticismo, a mitificação dos médiuns transformados em estrelas do espetáculo espiritólico.
Com isso, o Espiritolicismo, com sua promessa de "abrir a mente" da humanidade, sucumbe a vícios ainda piores, criando ilusões que nada têm de sonhos, mais parecendo pesadelos sob o pretexto de "resgate da alma". Desse modo, o Espiritolicismo está muito mais próximo do religiosismo fechado da Contra-Reforma católica do que das aventuras audaciosas da Contracultura psicodélica.
O que une o Espiritolicismo e a chamada lisergia é a forte tendência à alucinações, fantasias, à tentação de se aprofundar em delírios imaginativos, sob o pretexto de "abrir a mente", como era o que muitos de seus usuários diziam nos idos da psicodelia de 1965-1968.
Várias drogas estão associadas à psicodelia, mas nenhuma é mais típica dessa fase da Contracultura (1960-1969) quanto o LSD, popularmente conhecido como "ácido lisérgico". Consta-se que essa droga tenha sido a última usada pelo escritor inglês Aldous Huxley, autor de Admirável Mundo Novo (Brave New World), pouco antes de morrer, em 1963.
LSD é a sigla de um nome bastante complicado, a expressão alemã Lysergsäurediethylamid, que, traduzida, quer dizer dietilamida do ácido lisérgico. Ela foi descoberta por Albert Hofmann, que, entre 1938 e 1942, fez pesquisas sobre a substância alucinógena e se tornou um dos maiores defensores da droga, ao lado do professor universitário Timothy Leary.
Entre seus efeitos, a droga provoca euforia, aumenta a imaginação criativa e faz com que as pessoas que utilizam desta droga passem a visualizar ou imaginar coisas surreais, o que, nas manifestações artísticas, pode resultar em expressões cada vez mais excêntricas.
O rock dos anos 60 tornou-se o mais típico exemplo disso. Beatles, Rolling Stones, Jefferson Airplane, Mamas And The Papas, Beach Boys, Byrds, Doors, Jimi Hendrix, Janis Joplin e, sobretudo, Pink Floyd, entre tantos outros, consumiram LSD e produziram obras sobre o efeito dessa droga.
No caso do Pink Floyd a droga afetou sobretudo seu fundador, o cantor e guitarrista Syd Barrett (1946-2006), que teve um breve potencial criativo surpreendente, mas depois sucumbiu aos efeitos colaterais da droga, relativos à depressão e à indisposição.
A relação que o LSD tem com o Espiritolicismo é justamente no que se diz às alucinações. O "espiritismo" brasileiro, em tese, é contrário a todo tipo de droga, mas o modo com que trata os fenômenos espíritas chega mesmo ao ponto de nuances surreais.
O livro Nosso Lar, de Chico Xavier, atribuído ao "espírito" de André Luiz, é um bom exemplo disso. Embora a obra seja tida oficialmente como um relato realista do mundo espiritual, ele apresenta diversos aspectos surreais, desde as relações do lar que dá título ao livro com o "umbral" (espécie de "terreno" onde viveriam espíritos de índole ainda primitiva) até os alimentos usados no lugar.
Além disso, a própria "liberdade" das manifestações mediúnicas, ou mesmo a confusão que determinados médiuns têm entre mediunidade e animismo, ou mediunidade e imaginação fértil, faz com que o "espiritismo" brasileiro tenha uma "lisergia" que mais parece uma versão piorada e piegas do psicodelismo, em vários aspectos.
Mesmo visões de que Chico Xavier "andava" sobre as águas ou que ele era o "único encarnado" a participar de uma reunião de espíritos em 1969 podem ser alucinógenas. Sem falar da falsidade ideológica das manifestações espirituais, cujo processo não difere muito dos roqueiros alucinados que "abriam sua mente".
A mistura de alucinação com religião é tal que os críticos da fé cega chegam mesmo a fazer trocadilho entre a famosa expressão "Louvado Seja Deus" com o ácido lisérgico, por causa das iniciais serem bastante semelhantes.
Os Beatles haviam gravado em 1967 uma canção chamada "Lucy in the Sky with Diamonds", que aludiu ao LSD. Raul Seixas, então vocalista e um dos guitarristas de Raulzito e Os Panteras, fez versão em português dessa música, gravada ainda naquele ano, chamada "Você Ainda Pode Sonhar". A música teria como título "Lindos Sonhos Doirados", mas a gravadora Odeon não permitiu.
Mais recentemente, o músico paulistano Arnaldo Dias Baptista, que naquele 1967 integrava os Mutantes, havia lançado uma música chamada "Louvado Seja Deus", uma paródia de hino religioso feita com voz e teclado agradecendo a Deus pelo surgimento do rock'n'roll.
No entanto, essas são até "alucinações" admiráveis. Pelo menos geraram produtos artísticos de grande valor e apreciados até hoje, mesmo por quem não viveu a década de 60. O grande problema é que o "espiritismo" brasileiro é alucinógeno, mas não tem sequer o caráter de sonho, poesia e idealismo que os roqueiros psicodélicos tiveram em seus tempos.
O Espiritolicismo, pelo contrário, é alucinógeno com bases conservadoras, como o moralismo familiar, o proselitismo religioso, a espiritualidade duvidosa, a pseudo-ciência carregada de misticismo, a mitificação dos médiuns transformados em estrelas do espetáculo espiritólico.
Com isso, o Espiritolicismo, com sua promessa de "abrir a mente" da humanidade, sucumbe a vícios ainda piores, criando ilusões que nada têm de sonhos, mais parecendo pesadelos sob o pretexto de "resgate da alma". Desse modo, o Espiritolicismo está muito mais próximo do religiosismo fechado da Contra-Reforma católica do que das aventuras audaciosas da Contracultura psicodélica.
sábado, 1 de fevereiro de 2014
A farsa das crianças-índigo
A VERDADEIRA CRIANÇA-ÍNDIGO - Garoto-propaganda de publicidade de jeans.
O médium-estrela Divaldo Franco divulga o mito das "crianças-índigo" para reforçar suas pregações fantasiosas de que a Terra está evoluindo. Através dessas pregações, somos "convidados" a acreditar que não é preciso que combatamos as injustiças sociais, basta termos o "autoconhecimento" (da forma religiosa do espiritolicismo) para "evoluirmos" e transformar a Terra num "planeta de amor".
As "crianças-índigo" seriam, como Divaldo Franco descreve, supostos espíritos dotados de evolução moral e intelectual, num estágio de quase perfeição em relação às "crianças-cristal", que seriam aquelas no ápice de seu estágio evolutivo. São criaturas especiais que se destinam a guiar as pessoas para a transformação da humanidade terrena em uma multidão iluminada e fraternal.
Muito fácil. Simples assim, com tais fantasias. Não é maravilhoso acreditar em figuras assim tão misticamente predestinadas, dentro de um processo fantasioso, mais místico do que sociológico, de transformação quase imediatista da humanidade?
Quantas falsas esperanças Divaldo Franco, sob inúmeros aplausos e espectadores saindo sorridentes de suas palestras, dá a seus seguidores, anunciando um mundo de felicidade e paz, enquanto o pau come solto no Oriente Médio, nos EUA ou mesmo no Brasil.
Mas a farsa das crianças-índigo não foi lançada por Divaldo Franco. Nem por Joana de Angelis, aquela que não suporta ver pessoas tristes. O mito é estrangeiro e não foi lançado pelo contexto espiritólico, e nem mesmo a FEB necessariamente abraçou a causa, já que a iniciativa tem muito mais a ver com as inclinações "ramatisistas" de Divaldo.
Para quem não sabe, Ramatis é um espírito que criou uma outra corrente de deturpação da Doutrina Espírita, inserindo nela ideias deturpadas de religiões orientais (como as da China e da Índia), e misturando com Astrologia e outros dogmas ocultistas. Detalharemos isso noutra oportunidade.
As crianças-índigo surgiram das ideias trazidas pelo então casal norte-americano Lee Carroll e Jan Tober, depois sistematizadas pela parapsicóloga Nancy Ann Tappe. Em 1989, Carroll disse ter recebido a mensagem de uma entidade extra-terrestre chamada Kryon, que seria "de máxima evolução" e que teria anunciado a vinda de "mensageiros" para a humanidade terrestre.
A partir dessa mensagem, Carroll e sua então esposa, a cantora Jan, criaram uma seita, o Grupo Iluminação Kryon, além de lançar muitos livros que se tornaram sucesso editorial, garantindo fama e fortuna para o então casal. Paralelamente a isso, Nancy havia sistematizado o mito das "crianças-índigo".
Tais crianças seriam "muito inteligentes", e teriam vindo de uma civilização "de plena evolução", uma estrela plêiade chamada Alcyone, considerada a "civilização mais evoluída de todo universo". As "crianças-índigo" seriam de personalidade ágil e arguta sensibilidade, mas, estranhamente, sofrem déficit de atenção e são muito rebeldes.
As "crianças-cristal" seriam, de acordo com essa visão, crianças ainda "mais evoluídas", sendo "crianças-índigo" depuradas de seus vícios e defeitos, tornando-se "guias" da "evolução espiritual" da humanidade terrena.
Embora sejam teses atraentes, elas carecem de comprovação científica, conforme declara a doutora Miriam Ribeiro de Faria Silveira, presidenta do Departamento Científico de Saúde Mental Sociedade de Pediatria de São Paulo:
"Por se tratar de um tema polêmico, fora da área médica-científica, o assunto não é de domínio de vários dos membros da entidade. Realizamos um levantamento em vários sites e, inclusive no Pub Med, e não encontramos evidências científicas ou estudos validados que confirmem a existência de crianças com tais denominações 'índigo' e 'cristal'. O que observamos da pesquisa realizada na internet (Google) é que existe uma crença por parte de grupos esotéricos e alguns grupos de espíritas e espiritualistas que: ‘Crianças com características especiais estariam nascendo em nosso planeta com a finalidade de provocarem uma mudança de paradigma na Terra’. Seriam espíritos diferenciados, com alta capacidade e qualidade humana que escolheram reencarnar, nos diversos países do planeta, nas diversas classes sociais, e que devido ao seu comportamento conseguiriam em longo prazo transformar a Terra em um planeta melhor. Referem que este fenômeno vem ocorrendo desde os anos 1980, no caso dos ‘índigos’ e a partir do ano 2000 no caso dos ‘cristais’.
No que concerne ao comportamento descrito destas crianças, observamos que o quadro é muito semelhante ao observado nos casos de transtorno do déficit de atenção com ou sem hiperatividade, os quais possuem critérios rígidos e específicos para que se faça um diagnóstico correto. Devemos evitar a banalização deste diagnóstico (TDAH), bem como a medicação excessiva, ambos observados ultimamente em nosso meio.
Quanto à Sociedade de Pediatria de São Paulo, que representa a comunidade médica voltada a crianças e adolescentes no Estado de São Paulo, por desenvolver atividade científica e respeitar as diversas formas de manifestação religiosa, cabe aguardar a realização de estudos científicos que comprovem tais fatos, e evidências científicas seriam bem-vindas antes de nos posicionarmos diante de tais crenças."
Embora sinalize receptividade à questão, a médica expressa seu ceticismo, uma vez que a simples exposição de caráter místico, mesmo sob o pretexto "científico" atribuído ao "espiritismo" brasileiro - o assunto se popularizou através das paletras de Divaldo Franco - , não garante a relevância científica necessária para legitimar o assunto.
Além disso, a questão das "crianças-índigo" cai na mesma armadilha das "mulheres-alfa", de mulheres "especiais" dotadas de muita inteligência e sensibilidade. E torna-se uma forma sutil de discriminação social, separando pessoas "especiais" das outras, criando uma elite de pessoas "predestinadas" em detrimento de outras.
O assunto tornou-se bastante confuso, aliás, uma vez que as "evoluidíssimas crianças-índigo" sofrem lapsos de atenção e são muito agitadas e temperamentais. Em certo momento, seus pregadores são incapazes de dizer se elas são moralmente evoluídas ou não.
De outra forma, também os pregadores não conseguem definir quem realmente são as "crianças-índigo". São aquelas que usam Internet desde os quatro anos de idade ou menos? Eles se incluem entre os blogueiros esclarecedores ou são troleiros a bagunçar as mídias sociais? São pessoas que apenas são superinformadas ou aquelas que conseguem processar melhor o conhecimento?
Daí, a "maravilhosa novidade" trazida pelo "sempre sábio" Divaldo Franco perde totalmente seu sentido válido como novo conhecimento científico para entendermos a humanidade. Tudo vira um mero sensacionalismo místico para boi e espiritólico dormirem.
Sem uma explicação coerente, e sem qualquer tipo de comprovação científica, o mito das "crianças-índigo" se mostra uma grande farsa, que passa por cima dos verdadeiros problemas sociais, sobretudo de ordem educacional, que atingem nossas crianças, e que são o verdadeiro motivo de que poucas se tornem mais inteligentes que muitas outras.
Melhor teria agido Allan Kardec, que sempre pregou ser possível haver pessoas mais evoluídas do que outras, mas não da forma aberrantemente mística das "crianças-índigo", coisa que o professor lionês nunca previu, do contrário que certos delirantes espiritólicos.
E o próprio Kardec queria popularizar a Educação, pretendendo impulsionar a verdadeira evolução moral e intelectual, que independe de rótulos diferenciados, até porque significa democratizar o saber e tornar um maior número de pessoas capaz de se evoluir de maneira digna e segura.
O médium-estrela Divaldo Franco divulga o mito das "crianças-índigo" para reforçar suas pregações fantasiosas de que a Terra está evoluindo. Através dessas pregações, somos "convidados" a acreditar que não é preciso que combatamos as injustiças sociais, basta termos o "autoconhecimento" (da forma religiosa do espiritolicismo) para "evoluirmos" e transformar a Terra num "planeta de amor".
As "crianças-índigo" seriam, como Divaldo Franco descreve, supostos espíritos dotados de evolução moral e intelectual, num estágio de quase perfeição em relação às "crianças-cristal", que seriam aquelas no ápice de seu estágio evolutivo. São criaturas especiais que se destinam a guiar as pessoas para a transformação da humanidade terrena em uma multidão iluminada e fraternal.
Muito fácil. Simples assim, com tais fantasias. Não é maravilhoso acreditar em figuras assim tão misticamente predestinadas, dentro de um processo fantasioso, mais místico do que sociológico, de transformação quase imediatista da humanidade?
Quantas falsas esperanças Divaldo Franco, sob inúmeros aplausos e espectadores saindo sorridentes de suas palestras, dá a seus seguidores, anunciando um mundo de felicidade e paz, enquanto o pau come solto no Oriente Médio, nos EUA ou mesmo no Brasil.
Mas a farsa das crianças-índigo não foi lançada por Divaldo Franco. Nem por Joana de Angelis, aquela que não suporta ver pessoas tristes. O mito é estrangeiro e não foi lançado pelo contexto espiritólico, e nem mesmo a FEB necessariamente abraçou a causa, já que a iniciativa tem muito mais a ver com as inclinações "ramatisistas" de Divaldo.
Para quem não sabe, Ramatis é um espírito que criou uma outra corrente de deturpação da Doutrina Espírita, inserindo nela ideias deturpadas de religiões orientais (como as da China e da Índia), e misturando com Astrologia e outros dogmas ocultistas. Detalharemos isso noutra oportunidade.
As crianças-índigo surgiram das ideias trazidas pelo então casal norte-americano Lee Carroll e Jan Tober, depois sistematizadas pela parapsicóloga Nancy Ann Tappe. Em 1989, Carroll disse ter recebido a mensagem de uma entidade extra-terrestre chamada Kryon, que seria "de máxima evolução" e que teria anunciado a vinda de "mensageiros" para a humanidade terrestre.
A partir dessa mensagem, Carroll e sua então esposa, a cantora Jan, criaram uma seita, o Grupo Iluminação Kryon, além de lançar muitos livros que se tornaram sucesso editorial, garantindo fama e fortuna para o então casal. Paralelamente a isso, Nancy havia sistematizado o mito das "crianças-índigo".
Tais crianças seriam "muito inteligentes", e teriam vindo de uma civilização "de plena evolução", uma estrela plêiade chamada Alcyone, considerada a "civilização mais evoluída de todo universo". As "crianças-índigo" seriam de personalidade ágil e arguta sensibilidade, mas, estranhamente, sofrem déficit de atenção e são muito rebeldes.
As "crianças-cristal" seriam, de acordo com essa visão, crianças ainda "mais evoluídas", sendo "crianças-índigo" depuradas de seus vícios e defeitos, tornando-se "guias" da "evolução espiritual" da humanidade terrena.
Embora sejam teses atraentes, elas carecem de comprovação científica, conforme declara a doutora Miriam Ribeiro de Faria Silveira, presidenta do Departamento Científico de Saúde Mental Sociedade de Pediatria de São Paulo:
"Por se tratar de um tema polêmico, fora da área médica-científica, o assunto não é de domínio de vários dos membros da entidade. Realizamos um levantamento em vários sites e, inclusive no Pub Med, e não encontramos evidências científicas ou estudos validados que confirmem a existência de crianças com tais denominações 'índigo' e 'cristal'. O que observamos da pesquisa realizada na internet (Google) é que existe uma crença por parte de grupos esotéricos e alguns grupos de espíritas e espiritualistas que: ‘Crianças com características especiais estariam nascendo em nosso planeta com a finalidade de provocarem uma mudança de paradigma na Terra’. Seriam espíritos diferenciados, com alta capacidade e qualidade humana que escolheram reencarnar, nos diversos países do planeta, nas diversas classes sociais, e que devido ao seu comportamento conseguiriam em longo prazo transformar a Terra em um planeta melhor. Referem que este fenômeno vem ocorrendo desde os anos 1980, no caso dos ‘índigos’ e a partir do ano 2000 no caso dos ‘cristais’.
No que concerne ao comportamento descrito destas crianças, observamos que o quadro é muito semelhante ao observado nos casos de transtorno do déficit de atenção com ou sem hiperatividade, os quais possuem critérios rígidos e específicos para que se faça um diagnóstico correto. Devemos evitar a banalização deste diagnóstico (TDAH), bem como a medicação excessiva, ambos observados ultimamente em nosso meio.
Quanto à Sociedade de Pediatria de São Paulo, que representa a comunidade médica voltada a crianças e adolescentes no Estado de São Paulo, por desenvolver atividade científica e respeitar as diversas formas de manifestação religiosa, cabe aguardar a realização de estudos científicos que comprovem tais fatos, e evidências científicas seriam bem-vindas antes de nos posicionarmos diante de tais crenças."
Embora sinalize receptividade à questão, a médica expressa seu ceticismo, uma vez que a simples exposição de caráter místico, mesmo sob o pretexto "científico" atribuído ao "espiritismo" brasileiro - o assunto se popularizou através das paletras de Divaldo Franco - , não garante a relevância científica necessária para legitimar o assunto.
Além disso, a questão das "crianças-índigo" cai na mesma armadilha das "mulheres-alfa", de mulheres "especiais" dotadas de muita inteligência e sensibilidade. E torna-se uma forma sutil de discriminação social, separando pessoas "especiais" das outras, criando uma elite de pessoas "predestinadas" em detrimento de outras.
O assunto tornou-se bastante confuso, aliás, uma vez que as "evoluidíssimas crianças-índigo" sofrem lapsos de atenção e são muito agitadas e temperamentais. Em certo momento, seus pregadores são incapazes de dizer se elas são moralmente evoluídas ou não.
De outra forma, também os pregadores não conseguem definir quem realmente são as "crianças-índigo". São aquelas que usam Internet desde os quatro anos de idade ou menos? Eles se incluem entre os blogueiros esclarecedores ou são troleiros a bagunçar as mídias sociais? São pessoas que apenas são superinformadas ou aquelas que conseguem processar melhor o conhecimento?
Daí, a "maravilhosa novidade" trazida pelo "sempre sábio" Divaldo Franco perde totalmente seu sentido válido como novo conhecimento científico para entendermos a humanidade. Tudo vira um mero sensacionalismo místico para boi e espiritólico dormirem.
Sem uma explicação coerente, e sem qualquer tipo de comprovação científica, o mito das "crianças-índigo" se mostra uma grande farsa, que passa por cima dos verdadeiros problemas sociais, sobretudo de ordem educacional, que atingem nossas crianças, e que são o verdadeiro motivo de que poucas se tornem mais inteligentes que muitas outras.
Melhor teria agido Allan Kardec, que sempre pregou ser possível haver pessoas mais evoluídas do que outras, mas não da forma aberrantemente mística das "crianças-índigo", coisa que o professor lionês nunca previu, do contrário que certos delirantes espiritólicos.
E o próprio Kardec queria popularizar a Educação, pretendendo impulsionar a verdadeira evolução moral e intelectual, que independe de rótulos diferenciados, até porque significa democratizar o saber e tornar um maior número de pessoas capaz de se evoluir de maneira digna e segura.