sábado, 15 de fevereiro de 2014

Espiritolicismo e "funk"


Qual a relação do "espiritismo" brasileiro com o "funk"? À primeira vista, nenhuma. O "espiritismo" brasileiro, aparentemente, se dedica a valores "elevados" e, musicalmente, sua inclinação é supostamente para as melodias mais elevadas, geralmente de música romântica ou orquestrada.

No entanto, sabemos que existe uma relação, ainda que indireta, entre o controverso ritmo carioca e a doutrina do "amor, paz e caridade". As energias inferiores que a invigilância de um "espiritismo" e seu forte ranço católico-medieval fazem com que se criem condições vibratórias que só fazem alargar o caminho já aberto para os funqueiros.

Se a gente comparar bem, o próprio "funk" também está envolto numa suposta aura de "superioridade", a mesma do Espiritolicismo. E não é muito difícil chegar a essa conclusão, embora muitos espiritólicos se sintam incomodados com a comparação entre sua doutrina e o "funk".

Isso porque há um fortíssimo lobby de intelectuais, artistas, celebridades, acadêmicos e também de jornalistas e cineastas, que fazem até mesmo trabalhos "científicos" para legitimar o "funk" como "manifestação suprema da cultura popular".

Eles argumentam de tudo: que o "funk" é "moderno", é "desafiador" a valores estabelecidos, é "criativo à sua maneira", é "hiperconectado" com o mundo, entre tantas alegações cuja veracidade é muito duvidosa.

Chegam mesmo a atribuir ao "funk" um inexistente caldeirão musical que junta punk rock, hip hop, Tropicalismo, Semana de Arte Moderna, Pop Art, música concreta, psicodelismo, ou mesmo o funk autêntico de James Brown, do qual o "funk" não aproveitou sequer a sombra.

No entanto, embora muitas dessas argumentações soem confusas, contraditórias e inverídicas, a intelectualidade insiste nas mesmas, alegando que o "funk" é "vítima de preconceito", tão "injustiçado" quanto o samba de 1910. Comparar o samba com o "funk" nada tem a ver, até porque são contextos muito diferentes e o samba é um ritmo culturalmente menos fechado e menos rígido que o "funk".

O Espiritolicismo usa os mesmos argumentos de "superioridade" do "funk". E também seu "coitadismo", à sua maneira. Daí a imagem clichê de "velhinho humilde" associada a Chico Xavier, algo que é feito da mesma forma com os astros do "funk", que se valem porque "são pobres" e "são negros" (e isso vale até para um branquelo tipo MC Guimé).

Além disso, só a mania de predestinação do Espiritolicismo, aliada à megalomania do "funk", sugerem um raciocínio socrático. Afinal, se o Espiritolicismo julga o Brasil como o "Eldorado do futuro", através do livro Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, e o "funk" é considerado pela intelectualidade mais influente a "última definição de cultura brasileira", sabe o que isso significa?

Significa que, juntando as peças, o Espiritolicismo prepara a "nação funqueira", criando condições que só favorecem ainda mais o caminho que o poder midiático, o mercado dominante e a corrupção política, aliada à degradação educacional, fazem para fazer nascer e crescer o "funk" e suas baixarias diversas.

O Espiritolicismo apenas "lava as mãos" para os malefícios que o "funk" causar num momento ou em outro. Mas, na prática, permite e consente que esse ritmo cresca e se torne hegemônico na cultura popular brasileira, a ponto do nosso patrimônio cultural verdadeiro estar ameaçado.

Tanto faz. Afinal, os líderes espiritólicos ficam trancados em suas casas ouvindo música orquestrada, indiferentes aos rumos da humanidade. Quanto mais baixarias, melhor, porque assim o Espiritolicismo aciona sua indústria de livros, vídeos, palestras etc para fazer seu proselitismo religioso.

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