quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014
Ainda sobre a invigilância espiritólica
O que faz do "espiritismo" brasileiro se corromper há mais de um século e afetar a reputação de seus astros, tidos como "espíritos de luz" ou "lideranças iluminadas" (quando encarnados, neste caso), é a falta de vigilância que a doutrina teve, já que ela desde o início sucumbiu a paixões mesquinhas.
Seu "pecado original" - só para citar um termo católico tão ao gosto dos espiritólicos, mesmo os que supostamente são avessos aos exageros do Catolicismo - foi justamente absorver ideias originárias do catolicismo medieval e juntar a eles alguns delírios difundidos pela sinistra figura de Jean-Baptiste Roustaing, do qual até agora faltam imagens na Internet.
A partir daí, o "espiritismo" brasileiro, que se autoproclama "a última e mais elevada definição da fé humana", supostamente simpática a abordagens científicas, foi tentado a uma série de deturpações, erros e fraudes, que o fazem pior do que as religiões católicas e evangélicas, até pelas responsabilidades que tentou assumir como diferencial desses dois sistemas religiosos.
O Catolicismo e o Protestantismo, pelo menos, não se arrogavam em serem as mais modernas crenças da humanidade. Poderiam até desejar alguma supremacia, e o Catolicismo a exerceu durante o longo período da Idade Média, sobretudo com práticas desumanas e sanguinárias cruelmente anti-cristãs.
Vide as Cruzadas (verdadeiras guerras no sentido militar do termo), os enforcamentos e as queimas de pessoas hereges em praça pública, só para citar alguns exemplos mais conhecidos do que foi o Catolicismo medieval que inspirou figuras como o escravista, racista, machista e ditatorial padre Manuel da Nóbrega, o mesmo que, como espírito, adotou a identidade do "luminoso" Emmanuel.
As duas crenças, pelo menos, correspondem a estágios de evolução da humanidade, e se elas hoje, despidas de muitos de seus excessos, estão muito longe de apresentarem uma visão mais coerente e transparente da moral humana, subordinadas ainda a seus antigos dogmas, tentam alguma evolução que faria qualquer "líder espírita" ficar vermelho de vergonha.
O Papa Francisco I já sinaliza algumas mudanças, mesmo dentro dos limites da Igreja Católica, como aceitar as relações homoafetivas e desmentir a existência do mito do "Céu e Inferno", já questionado, há mais de um século, por Allan Kardec.
No lado dos evangélicos, a figura de Rob Bell já começa a se tornar um diferencial, na medida em que procura trazer uma abordagem mais científica e objetiva da realidade, mesmo dentro dos limites das crenças evangélicas.
Estes dois casos são apenas pequenas brechas, mas muito significativas para abrir o leque de crenças antes tão fechadas. Em contrapartida, o "espiritismo" brasileiro, tão "vanguardista", ainda apresenta posturas homofóbicas e uma visão de "céu e inferno" que se torna clara em casos como o livro Nosso Lar, um dos best sellers da FEB.
O Catolicismo e o Protestantismo também mostraram figuras de grande mérito como Irmã Dulce e Martin Luther King, que buscaram a transformação real da humanidade, não com meras "palavras de amor", mas com ações concretas que buscassem a evolução humana e a superação de injustiças.
Já o "espiritismo" brasileiro se estagna em muito falatório, muitas retóricas e rituais que muitas vezes são risíveis. A energia pesada atraída por tamanha multitude de erros faz até mesmo com que médiuns "curandeiros" como os que serviram ao Dr. Adolph Fritz sofram muitas maldições ou que até mesmo devotas de Chico Xavier de repente veem seus filhos morrerem em tragédias desnecessárias.
A invigilância é imensa. Há gente que confunde imaginação fértil com mediunidade. É muito fácil imitar os trejeitos de gente falecida, e mesmo com superficialidade e erros - como em casos como Juscelino Kubitschek, Olavo Bilac e Raul Seixas - , muitos ainda atribuem como "autênticas" mensagens espirituais de procedência duvidosa e cheias de erros e deslizes.
Para piorar, todos os erros são permitidos e aceitos por causa das "palavras de amor". É como se, na corrupção política, se permitissem quaisquer tipos de fraudes, delitos e traições, bastando apenas o parlamentar envolvido ter sido eleito em votação popular e adotar um discurso em "defesa da cidadania".
E alguém imagina que as "palavras de amor" espantam espíritos negativos? Quem acredita nisso está gravemente enganado. Afinal, os espíritos mais duros e violentos veem nessas palavras um acalanto, eles apenas dão um tempo nas suas artimanhas traiçoeiras para descansarem felizes diante de palavras que muitos acreditam assustá-los, mas que na verdade os deixam confortados e felizes.
Daí que o "espiritismo" brasileiro, que nós fizemos por bem denominar Espiritolicismo, não consegue evoluir e já é superado até mesmo por religiões antes fechadas como a católica e a protestante, que, mesmo nos seus limites ideológicos, já se preocupam em se adaptar às mudanças sociais da atualidade.
Cego diante de suas próprias paixões e pela recusa de enxergar seus próprios erros, que são muitíssimos e muitíssimo graves, o Espiritolicismo sucumbe pela invigilância que estimula tanto a prática de erros como a proteção dos mesmos pelo véu das "palavras de amor".
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