sábado, 8 de fevereiro de 2014
Como se pode verificar uma mediunidade?
De palavras de amor, o umbral está cheio. A falta de verificação nas mensagens mediúnicas é um fenômeno muito perigoso, porque como acontece no "espiritismo" brasileiro, as mensagens espirituais são difundidas num clima de pompa e até de estrelismo, enquanto por trás dessas mensagens "maravilhosas" existem armadilhas diversas.
Há a mediunidade feita por espíritos farsantes, alguns que realmente têm a identidade presumida - como Emmanuel, que em muitos aspectos coincide muito com o Padre Manuel da Nóbrega dos tempos do Brasil colonial - , mas querem bagunçar a Doutrina Espírita, e outros que apelam para a falsidade ideológica se travestindo de personagens ilustres.
Há também a não-mediunidade, de supostos médiuns que inventam que receberam espíritos e apenas sofreram algum delírio após um estado de transe ou que simplesmente tiveram a imaginação fértil suficiente para lançar personagens fictícios que tais escritores atribuem como os "amigos do além".
A falta de questionamento é tanta, e, para piorar, recomendada pelo "superior" Emmanuel - que utiliza os mesmos métodos do antigo jesuíta, que absorvem crenças alheias para destrui-las inserindo nelas dogmas de sua crença dominadora - , que vemos a banalização da mediunidade cada vez mais aleatória e irresponsável, mas protegida pelas tais "palavras de amor".
E como é que a ciência pode verificar a autenticidade ou não de tais obras? Infelizmente, ouve-se falar, a boataria ganha verniz de "certeza", as meias-verdades ganham verniz de "verdades indiscutíveis" e se "amor e caridade" tornaram-se pretextos para essa farra toda, é preciso algum exame muito cauteloso.
Os espiritólicos inventam que existem exames que "comprovam indiscutivelmente" a autenticidade das mensagens espirituais, mas não dão detalhes. Diz-se que a ciência comprovou e, quando muito, divulgam uma instituição que nem é assim tão confiável.
Tudo fica na suposição, nas meias-verdades, pois "o amor tudo permite". Até mesmo contradições de personalidade entre espíritos e seus suportos encarnados de outrora, erros históricos grotescos, deslizes no estilo poético, expressões artísticas medíocres e tudo o mais.
Primeiro, supõe-se que o espírito de tal pessoa mandou mensagem. Ninguém questiona e tudo fica como está. Mas aí alguém questiona e os espiritólicos "encomendam" um "exame científico", e anunciam no periódico "espírita" de sua cidade que a ciência "comprovou" a autoria da mensagem mediúnica.
Este festival de omissões faz com que se deixe que qualquer espírito se passe por alguém ilustre, ou que o prestígio de tal médium garanta, por si só, a veracidade da mensagem recebida. O status do médium-estrela garante a presunção de veracidade, mesmo que realmente tenha ocorrido uma fraude.
Por exemplo, pouco importa se o "Raul Seixas" que o tal Zílio dizia ser era abobalhado demais para ter sido realmente o roqueiro baiano. Zílio "foi Raul Seixas e ponto final", por causa do prestígio que Nelson Moraes goza em seu meio, muitos pensam que ele não seria capaz de cometer tal fraude.
Foi assim que Chico Xavier construiu seu estrelato perseguindo e amolando a figura de Humberto de Campos, a ponto até mesmo de parodiar um antigo codinome do escritor, Conselheiro XX, para fazer o "Irmão X" quando a coisa começava a piorar do lado chiquista (ou chiqueiro?).
Xavier plagiava Humberto de Campos e ainda reivindicava a impunidade deixando fazer crer que o "espírito de Humberto" é que havia reescrito trechos de suas principais obras. E botava na conta de Humberto uma literatura espiritual confusa, piegas, exageradamente religiosa (mesmo para os padrões daqueles tempos, os anos 1940-1950) e em muitos momentos medíocre.
E o que consiste a cautela quanto às expressões mediúnicas? Simples. Primeiro, deve-se verificar a identidade do espírito e pesquisar a fundo sua personalidade, não se limitando a macetes e tomando muito cuidado em assimilar aspectos estereotipados que não correspondiam ao que o indivíduo foi em vida.
Segundo, deve-se verificar se a mensagem foi mediúnica ou não, se não foi invenção do suposto médium, fruto de algum delírio ou de algum outro interesse leviano por conta de burocratas e chefões do "espiritismo" de sua localidade.
Terceiro, deve-se mesmo verificar se os exames científicos ocorreram ou foram feitos por entidades de reputação rigorosamente reconhecida. Não basta o "líder espírita" dizer que tal entidade é "renomada" e "da mais absoluta confiança". Isso não é suficiente, e pode haver muita mentira por trás dessas declarações em que a austeridade se limita ao tom das palavras ditas ou escritas.
A mensagem espiritual, além disso, deveria ultrapassar os limites religiosos e atingir o público laico, que em compensação inclui verdadeiros especialistas em reconhecer as identidades dos falecidos. Como, no caso de Raul Seixas, corresponde aos seus fãs que, em boa parte, são indivíduos ateus e que compartilham da visão cética que o roqueiro baiano teve no final da vida.
Se o tal Zílio, por exemplo, não consegue repercutir - ou, se chega a tanto, é de maneira negativa - entre os fãs de Raul Seixas, que logo de cara veem nele uma paródia grosseira do roqueiro baiano, então não há veracidade. A paródia de Raul, neste caso, é tão grosseira que destoa até mesmo do Patropi que o criador do Fofão, Orival Pessini, popularizou no humorismo brasileiro.
Verificar, perguntar, questionar. Isso Allan Kardec fez, e muito, mas o "padre Emmanuel da Nóbrega" desaconselhou a fazer. Isso é uma contradição que invalida o "espiritismo" brasileiro, que provou querer se livrar do professor francês e descaraterizar a doutrina do Espírito da Verdade transformando-a num sub-catolicismo piegas e perverso, ainda dotado de ranços medievais.
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