sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Canuto Abreu havia lançado edição que Allan Kardec quis reformular


O jornalista roustanguista Canuto Abreu, um dos homens da FEB,  havia lançado em 1957, pela Editora Ismael - nome do sinistro espírito que seria, segundo os espiritólicos, o "mentor do Brasil" - , a primeira edição do Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, evidentemente com uma tradução mais próxima da domesticação espiritólica dos textos do pedagogo francês.

A capa, bem ao estilo das ficções científicas da década de 1950, ilustra uma nuvem - alegoria para o mundo espiritual, que lança um raio sobre a Terra, passando primeiro pela França e depois atingindo o Brasil, dando a crer da suposta predestinação do país sul-americano para a "espiritualidade", anunciada pelo livro Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho.

Em tese, a publicação é comemorativa dos 100 anos da edição original do Livro dos Espíritos, que continha 501 questões. A publicação brasileira é bilingue, incluindo também o texto original em francês. Mas a edição do livro consiste em um problema.

Esse problema é que a edição havia sido posteriormente descartada por Allan Kardec que, com seu faro de pesquisador e debatedor, havia analisado o conteúdo da obra, além de ter entrado em contato com diversas pessoas interessadas. Acolhendo sugestões e críticas, Kardec reformulou a obra, duplicando o número de questões para a edição definitiva do Livro dos Espíritos, de 1860.

Nada contra o lançamento no Brasil da primeira edição, mas diante da vulnerabilidade dos adeptos do "espiritismo" brasileiro, que a tudo aceitam sem criticar, é muito perigoso lançar um livro desses. As pessoas, agindo numa fé cega e submissa mas que julgam ser "raciocinada", poderiam ficar ainda mais confusas ao lerem o primeiro livro.

Com isso, essas pessoas não terão ideia do porquê de Kardec ter reformulado a obra - numa controversa quantidade de 1018 ou 1019 questões, devido a alterações editoriais - e talvez por ingenuidade tendam a preferir uma ou outra edição, não pela relevância dos textos, mas por alguma opção pessoal mais pueril.

Junte-se a isso o fato de que, nas mãos de Canuto Abreu, a primeira edição do Livro dos Espíritos caiu em mãos erradas, pois se trata de um jornalista comprometido com as deturpações propositais da Doutrina Espírita.

Portanto, a publicação, na época, não valeu, e simplesmente não foi uma homenagem digna aos cem anos de sua edição, até porque foi simplesmente movida pela "paixão" e pela simples bajulação ao prestígio de Allan Kardec, sem considerar os critérios de análise necessários para lançar a primeira edição com a devida prudência de advertir quem queira conhecer o Espiritismo.

Com isso, a publicação foi tão somente uma "curiosidade", e do jeito que foi lançada, no fervor do Espiritolicismo e da popularidade de Chico Xavier, foi uma iniciativa muito arriscada que poderia deixar os iniciantes espíritas ainda mais confusos, como se já não bastassem as confusões próprias trazidas pelo "espiritismo" brasileiro.

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