domingo, 19 de março de 2017

"Nem todos os que dizem 'Senhor, Senhor' entrarão no Reino dos Céus"

DE TANTA DETURPAÇÃO, OS "ESPÍRITAS" ACABAM SE NIVELANDO AOS SACERDOTES FARISEUS TÃO REPROVADOS POR JESUS.

A deturpação da Doutrina Espírita feita no Brasil causou tantos estragos que representou um retrocesso em relação ao legado de Allan Kardec. Aliás, um retrocesso grave, do qual explicaremos em outra oportunidade, por não só ter feito uma afronta ao trabalho do pedagogo francês, mas também pelos valores medievais que a doutrina brasileira assimilou com muito gosto.

Sob a desculpa de "valorizar a religiosidade brasileira", os "espíritas" fizeram uma marcha-a-ré de tal forma que, assimilando o legado jesuíta do Catolicismo do Brasil colonial, mergulharam fundo na Idade Média e seus palestrantes acabam personificando a mesma extravagância dos antigos sacerdotes que haviam sido reprovados por Jesus de Nazaré em suas diversas conversas com as pessoas.

Ver que os "espíritas" se inclinam mais e mais com a Teologia do Sofrimento e, com toda a bajulação que fazem para Allan Kardec e até para Erasto, se afastam de seus ensinamentos e conselhos, é muito chocante. Mas constatar isso não é demonstração de ódio nem de intolerância, e, por outro lado, os "espíritas" devem também aceitar os efeitos danosos de suas péssimas escolhas.

Prestando atenção no que Jesus, Kardec e Erasto disseram e alertaram, somos obrigados a reconhecer, até em figuras tão adoradas por muitos, como Francisco Cândido Xavier e Divaldo Franco, a personificação dos vícios e caprichos dos velhos sacerdotes que se arrogavam de sua falsa humildade, sonhando com tesouros no Céu.

Todos os aspectos negativos se foram notados em Chico Xavier e Divaldo Franco: ideias excêntricas aos postulados de Kardec, textos empolados, mistificação igrejeira, culto à personalidade, e por mais modestas as cerimônias nos eventos "espíritas", elas também apresentam uma pompa não menos presunçosa do que nos ritos católicos.

Ver que a deturpação do Espiritismo não se deu por boa-fé é estranho para muitos. Mas, pensemos: se os dois "médiuns" tão adorados e festejados foram "ingênuos" na compreensão errada da Doutrina Espírita, então por que eles publicaram centenas e centenas de trabalhos, por longos anos, transmitindo essa deturpação?

Não se faz algo sem querer com centenas de livros e uma longa carreira de palestras. A verdade é que os dois "médiuns" souberam, sim, o que estavam fazendo e há registros de Chico Xavier apoiando a deturpação do Espiritismo pela FEB e um histórico de irregularidades comprova claramente essa prática infeliz.

Atualmente, os palestrantes "espíritas" seguem o mesmo caminho. E tão se arrogam da pretensa humildade e da suposta caridade que ajuda tão pouca gente e serve mais para colocar o benfeitor no pedestal, que só falam para os mais ricos para elogiá-los e nunca cobrá-los qualquer tipo de ação em favor do próximo. Não raro se ouve "espíritas" dizerem em palestras que "os ricos estão cada vez mais ajudando as pessoas", sem que algo neste sentido se fosse observado na prática.

Não estamos fazendo ataques. Estamos fazendo as mesmas críticas severas que naturalmente Jesus de Nazaré, Allan Kardec e Erasto fariam, e eles talvez fossem mais severos nesse sentido. Deixemos a mania infantil de chorarmos quando os "médiuns" mais festejados estão sendo criticados, porque praticar o erro e se esconder sob o escudo do prestígio religioso é muito fácil.

Os brasileiros costumam se deixar dominar pelas paixões religiosas, que mostram emoções muito perigosas, criando uma ilusão de felicidade, lirismo e comoção, que, uma vez desfeita, gera muita raiva e rancor. O rancor não está nos que criticam os "médiuns" brasileiros dotados de culto à personalidade, mas da reação desesperada de seus próprios defensores, feridos pela queda brusca que tiveram do céu estrelado das fantasias religiosas.

Um exemplo de como Jesus, Kardec e Erasto poderiam reprovar Chico e Divaldo está em muitos aspectos observados nas obras kardecianas. Não se recomenda traduções da FEB e IDE, que reduzem o pedagogo francês a um pároco de província, mas a de José Herculano Pires, que se mantém fiel ao texto francês original.

Em O Evangelho Segundo o Espiritismo, no capítulo 18, Muitos os Chamados e Poucos os Escolhidos, Kardec, comentando passagens do Novo Testamento, corroborou os ensinamentos de Jesus que soam como uma facada nos tão aclamados e blindados "espíritas" brasileiros. Vejamos o que diz o item 9:

"Todos os que confessam a missão de Jesus, dizem: Senhor, Senhor! Mas de que vale chamá-lo Mestre ou Senhor, quando não se seguem os seus preceitos? São cristãos esses que o honram através de atos exteriores de devoção, e ao mesmo tempo sacrificam no altar do egoísmo, do orgulho, da cupidez e de todas as suas paixões? São seus discípulos esses que passam os dias a rezar, e não se tornam melhores, nem mais caridosos, nem mais indulgentes para com os seus semelhantes? Não, porque, à semelhança dos fariseus, têm a prece nos lábios e não no coração. Servindo-se apenas das formas, podem impor-se aos homens, mas não a Deus". 

Os "espíritas" se servem das formas e se impõem aos homens de toda forma que estabelecem fascinação obsessiva entre os seguidores e traz subjugação àqueles que tentam investigá-los, como jornalistas, juristas, advogados e acadêmicos, que param no começo do caminho, intimidados pelo aparato de "bondade" que enverniza os deturpadores da Doutrina Espírita.

Lembrando das diferenças de contexto, já que os fariseus modernos capricham muito mais na forma e conseguem até mesmo usar o pretexto dos "bons sentimentos" para respaldar o igrejismo que corroeu o Espiritismo no Brasil, citemos outro trecho, deste mesmo parágrafo:

"É em vão que dirão a Jesus: “Senhor, nós profetizamos, ou seja, ensinamos em vosso nome; expulsamos os demônios em vosso nome; comemos e bebemos convosco!” Ele lhes responderá: “Não sei quem sois. Retirai-vos de mim, vós que cometeis iniquidade, que desmentis as vossas palavras pelas ações, que caluniais o próximo, que espoliais as viúvas e cometeis adultério! Retirai-vos de mim, vós, cujo coração destila ódio e fel, vós que derramais o sangue de vossos irmãos em meu nome, que fazeis correrem as lágrimas em vez de secá-las! Para vós, haverá choro e ranger de dentes, pois o Reino de Deus é para os que são mansos, humildes e caridosos. Não espereis dobrar a justiça do Senhor pela multiplicidade de vossas palavras e de vossas genuflexões. A única via que está aberta, para alcançardes a graça em sua presença, é a da prática sincera da lei do amor e da caridade".

Pode ser que ações explicitamente cruéis não sejam cometidas pelos membros do "movimento espírita", mas a iniquidade existe na maneira em que os "espíritas" não só não se arrependem pela deturpação feita ao trabalhoso legado de Kardec, que deu à doutrina brasileira um caráter de profunda desonestidade em relação à obra kardeciana, como tentam camuflar seus erros e distorções através da bajulação barata ao pedagogo francês, que se intensificou nos últimos anos.

A iniquidade existe quando o "espiritismo" chega a apelar pela pieguice, através de citações tão tendenciosas de ideias de "amor", "caridade" e "fraternidade". "Sejamos irmãos pela deturpação", é o que eles acabam demonstrando. Sermos "fraternos" no erro, cúmplices na distorção dos ensinamentos de Kardec, que no Brasil se reduziu a um padreco de igreja dessas cidades do interior controladas pelo coronelismo.

Desmentem as palavras pelas ações, pois o malabarismo espetacular das belas palavras, que tanto enchem de dinheiro os palestrantes "espíritas", a pregar aos sofredores a aceitação do sofrimento, é desmentido pela prática, pois os próprios palestrantes, tidos como "sábios", nunca aceitariam as desgraças que, "bondosamente", recomendam aos outros.

Querem disfarçar a deturpação com suposta filantropia, um roteiro de pequenas caridades paliativas, que só teriam sentido em países arrasados pela guerra, onde o "pouco" parece "muito" diante do "nada", mas num país como o Brasil, em que se pode fazer mais, "pouco" é "quase nada". E, além disso, se vê que essa "caridade" é mais festejada que praticada, colocando o "benfeitor" acima até mesmo da própria ação filantrópica, ajudando mais ele do que os mais necessitados.

É chocante, mas Chico Xavier e Divaldo Franco apresentam aspectos que causariam em Jesus o mesmo constrangimento que ele sentia em relação aos sacerdotes e escribas do seu tempo. A postura extravagante, o discurso empolado, o aparato de "superioridade moral", ou mesmo a pretensa humildade que dissimula o culto à personalidade muito comum entre os "médiuns" brasileiros, tudo isso já havia sido alertado em outros tempos por Jesus, Kardec e Erasto.

O Brasil tem a mania de dissimular as coisas. O país é dominado pelas paixões religiosas, verdadeiras orgias sem sexo, sem dinheiro, sem drogas, mas tão levianas, tão entorpecentes e tão perigosas na sedução das emoções e dos instintos, em que os êxtases não são sexuais, havendo a "masturbação dos olhos" pela comoção fácil por um mero balé de palavras bonitinhas e imagens de apelo sentimentalista, alegres ou tristes.

O grande desafio é superar as paixões religiosas, em vez de apoiar a ilusão de uma minoria de homens e mulheres que, apoiados pelo prestígio religioso - que simboliza pretensas glórias tão terrenas quanto os bacanais da fortuna e da pornografia - , acham que ganharam o passaporte para o Céu ou, na pior das hipóteses, estão com o caminho encurtado para o Paraíso. E justamente eles, que aceitam e até defendem que os sofredores percam encarnações inteiras com desgraças...

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