domingo, 5 de março de 2017
"Espiritismo" e pseudo-intelectualismo
Os "espíritas" brasileiros ainda estão indecisos sobre qual corrente vai prevalecer, se é a "fase dúbia", em que há o fingimento de que as bases doutrinárias de Kardec foram recuperadas, mas se pratica o igrejismo, e o neo-roustanguismo, que se fundamenta pela Teologia do Sofrimento de maneira mais explícita e sem disfarces "filosóficos".
Recentemente, diante do aprofundamento da crise no "movimento espírita", os palestrantes e articulistas estão se redobrando para tentar transformar sua doutrina igrejeira num "receituário moral", perdidos em apelar para sofredores aguentarem as desgraças ou em transmitir falsas lições em traduções catolicizadas da obra de Kardec (FEB e IDE, sobretudo).
Os ideólogos "espíritas" sempre são movidos em contradições. Tentam fazer o público crer que promover um engodo em que se misturam conceitos igrejistas do roustanguismo com apreciações superficiais do pensamento original de Kardec e descrições pedantes de temas e personalidades científicos, sob abordagens que mais parecem místicas e esotéricas.
Nos bastidores, consta-se que há um clima de muita apreensão. Afinal, as irregularidades do "movimento espírita" estão sendo amplamente denunciadas na Internet. A ameaça de derrubada de totens e o fim da blindagem que mantém os deturpadores "espíritas" na mais absoluta impunidade e no mais tendencioso vínculo com Allan Kardec já é considerada plausível.
Evidentemente, os "espíritas" reagem com seu exército de palavras bonitas. Tentam mostrar que são "bonzinhos" e reagem às críticas com aparente humildade. Mas há quem espume de raiva por dentro, ao ver que seu igrejismo não convence, mas tenta se controlar e despejar um monte de textos "iluminados" sobre "bondade", "caridade" e "perdão".
As contradições nunca se resolvem, e enquanto isso a "fase dúbia" parece exercer seus últimos suspiros, em sua última resistência. Tão "esclarecedores" textos surgem tentando dar a falsa impressão de que o "movimento espírita" expressa "fidelidade absoluta" e "respeito rigoroso" ao legado de Allan Kardec, mesmo quando derrama um igrejismo entusiasmado e pegajoso.
Houve até desculpas de que a catolicização do Espiritismo se deu porque muitos "espíritas" haviam sido padres, freiras ou coisa parecida em encarnações anteriores e que tal postura é "saudável" por causa das "afinidades com os ensinamentos do Cristo". Só que isso não é saudável.
Afinal, por trás desse igrejismo, veiculam-se ideias e conceitos que contrariam severamente o legado de Allan Kardec. Livros e palestras trazidos por Divaldo Pereira Franco e Francisco Cândido Xavier são exemplos gritantes de ideias anti-kardecianas que são difundidas amplamente e de forma irresponsável, vestindo a capa da "bondade" e da "misericórdia".
As contradições do "espiritismo" brasileiro se alimentam e se sustentam, criando todo um exército de desculpas esfarrapadas que, cheios de palavras bonitinhas, convencem mais por parecerem simpáticas do que por terem qualquer sentido de lógica. É uma tática insólita, porém dotada de esperteza, a dos "espíritas" intimidarem as pessoas com bom-mocismo.
E aí vemos o pseudo-intelectualismo de muitos textos "espíritas", em que fatos, conceitos e personagens científicos são citados, de maneira um tanto pedante e tendenciosa, embora citando informações básicas aqui e ali. Um discurso que parece intelectualizado e comprometido ao conhecimento, mas que sempre termina num apelo igrejista extremado.
A invigilância dos questionadores da deturpação espírita, que não avançam mais do que defender a coerência dos postulados originais, preocupa. Afinal, as pessoas parecem se resignar na hipótese de Divaldo Franco passar a fazer palestras com base nas traduções de José Herculano Pires, como se isso trouxesse a paz e a coerência na Doutrina Espírita.
Ora, isso não traz. Divaldo Franco, assim como Chico Xavier, foram deturpadores severos da Doutrina Espírita e os conceitos que eles veicularam em seus inúmeros livros, e, de parte de Divaldo, espalhados por todo o mundo, já são suficientes para eliminar qualquer crédito a eles.
A deturpação do "espiritismo" criou impasses sérios que a coexistência artificial dos postulados originais kardecianos com ideias deturpadas e igrejeiras, embora persista diante de tanta crise, se tornam cada vez mais frágeis.
Incapaz de resolver ou explicar tais contradições, os "espíritas" se omitem e, ocupados em pregações moralistas sorridentes e pretensamente fraternais, tentam afastar a crise, embora sabe-se que o "movimento espírita" se estagnou em menos de 2% de seguidores brasileiros, segundo dados do Censo do IBGE.
O que não deve se sustentar eternamente é essa contradição de pseudo-intelectualismo e igrejismo, e não é o triunfalismo da "fase dúbia", corrente ainda hegemônica no "movimento espírita", em se achar "vitoriosa" no seu jogo duplo de fingir seguir o rigor kardeciano e praticar o igrejismo, que irá resolver a situação. A verdade é que a situação dos "espíritas", reféns de suas próprias contradições, se complica cada vez mais.
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