quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Por que tanto reacionarismo e truculência na Internet?


O cyberbullying é um fenômeno preocupante no mundo inteiro, e mais preocupante ainda no Brasil, quando a retomada dos valores ultraconservadores, não bastasse a "patrulha do estabelecido" que há tempos atua nas redes sociais, aumenta o tom da agressividade digital.

Recentemente, o blogue Escreva Lola Escreva, da professora universitária Lola Aronovich, teve sua conta de e-mail cancelada e as fotos bloqueadas para exibição. Uma armação foi feita envolvendo cyberbullies que criavam contas falsas para forjar falsos comentários ofensivos e posturas intolerantes atribuídos à blogueira para depois denunciá-las por tais mensagens.

A ação de reacionários da Internet já preocupa a opinião pública e chama a atenção de juristas e autoridades policiais há pelo menos dois anos. Muitos blogues de calúnias e difamações são bastante vistos por policiais que investigam o conteúdo dos textos e averiguam os protocolos de Internet de seus responsáveis.

Infelizmente, há farsantes que cometem esses crimes e põem na conta de outro. O fake criado com o nome de Lola Aronovich motivou as denúncias levianas que vitimaram a blogueira, que está com boa parte das fotos sem aparecer na maior parte das postagens. Até a imagem de apresentação, que mostra ela criança, "desapareceu", denunciada pelos farsantes como se fosse "apologia à pedofilia".

A impunidade com que muitos truculentos da Internet vivem ainda é grande. A preocupante adesão de internautas não necessariamente valentões, mas que são iludidos com o aparente senso de humor desses brutamontes digitais faz com que ataques de cyberbullying sejam quase sempre atividades coletivas, com dois ou três valentões recebendo o apoio de um grande número de internautas, geralmente membros de uma comunidade comum.

É assustador que esses valentões tenham prestígio nos seus meios, e, mesmo que sejam advertidos ou punidos, eles reagem com arrogância e aparente naturalidade. Seu refrão diante de toda advertência é a risada em letra escrita: um "K" repetido várias vezes, que quer dizer risada histérica, dada por puro esnobismo.

Numa época de ódio, reacionarismo e um apetite voraz das elites em recuperar seus privilégios e expressar preconceitos sociais cruéis, seja contra pobres, homossexuais, mulheres, negros e índios, preocupa a ocorrência de tudo isso dentro de um contexto em que o Brasil vive retrocessos tão intensos que há o risco até de voltar às condições de mera colônia de exploração, como era em 1500, quando nossas riquezas iam para as mãos dos mercadores estrangeiros.

Hoje o risco é perdermos o pré-sal e ver as empresas de engenharia e infra-estrutura brasileiras serem extintas ou compradas por estrangeiras. E ver que até o satélite de monitoramento à distância do Brasil poderá ser entregue a estrangeiros, que terão acesso a informações estratégicas e confidenciais do governo brasileiro, é uma catástrofe que não pode ser ignorada.

O Brasil aos poucos deixa de ser Brasil e os retrocessos diversos, como o congelamento de verbas públicas e a degradação do trabalho - com aposentadoria adiada para o fim da vida, a precarização do emprego, as perdas salariais e a flexibilização das negociações trabalhistas que favorecerá mais os patrões - , põem os brasileiros num cenário ainda mais sombrio, praticamente o de um pesadelo.

E acrescentando isso a farra dos valentões nas redes sociais, alguns escondidos com fakes e outros assumindo seus nomes, nota-se o clima de terror que existe no Brasil por causa de elites e grupos reacionários e ultraconservadores que não querem abrir mão de sua supremacia e seus abusos. Fala-se na necessidade de um freio para essas ações, sem que prejudique a liberdade na Internet.

Lamentável a conivência do "espiritismo" diante disso, com seus palestrantes mais preocupados em pedir aos sofredores para "aceitarem o sofrimento", "reverem suas necessidades", "abrirem mão de seus desejos" e "perdoar os algozes mais do que nunca", como se estivessem fazendo apologia às injustiças sociais e usando o pretexto da "vida eterna" para fazer apologia da desgraça humana, através da Teologia do Sofrimento.

Na verdade, todas as forças retrógradas que retomaram o poder e os privilégios abusivos deveriam ter limites. Espera-se que a vida mostre as fraquezas de quem força uma guinada para trás, como se fosse possível voltar a 1974, período ditatorial considerado "equilibrado" e "benéfico" para as elites. Essa retomada forçada do passado, a partir do governo de Michel Temer, custará caro para as próprias elites, dos rentistas aos cyberbullies. Citando Cazuza: "o tempo não para".

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