SLIDE DETURPA O SENTIDO DE "FILOSOFIA ESPIRITUALISTA" COLOCANDO A FOTO DO DETURPADOR CHICO XAVIER.
O que é filosofia? Palavra de origem grega que significa "amigo da sabedoria" ou "amor pelo saber", a expressão é aplicada no Brasil de maneira fútil, no qual o compromisso pela busca do Conhecimento é justamente o que se evita, servindo mais de aparato para ideias mistificadoras, superficiais ou obscurantistas.
Numa mídia decadente como a nossa, "filosofia" acaba se tornando um repertório de frases curtas, pequenos parágrafos, que as pessoas recolhem como avestruz, adquirindo sem raciocinar. Frases e depoimentos inteligíveis, que tanto podem ser declarações coerentes de famosos como recados moralistas e falsamente filosóficos de ídolos religiosos, postos em "memes" - figuras que transmitem alguma mensagem nas redes sociais - , acabam sendo erroneamente vistos como "filosofia".
O Brasil vive uma preguiça intelectual violenta. Cursos de pós-graduação discriminam quem tem um nível afiado de questionamento das coisas. É ilustrativo, por exemplo, que na Universidade Federal de Juiz de Fora, exista um Núcleo de Pesquisas de Saúde e Espiritualidade que não passa de um fã-clube enrustido do deturpador Francisco Cândido Xavier.
O "espiritismo" brasileiro, de raiz roustanguista, se aproveita muito dessa burrice que entende a "filosofia" como um desfile de frases curtas supostamente sábias. Um país que elege uma nulidade como Merval Pereira para a Academia Brasileira de Letras (antiga casa de Humberto de Campos - seria um "presente" do "filantropo da Rede Globo" Chico Xavier?), "filosofia" pode ser tudo, menos "amor pela sabedoria".
"SABEDORIA FAST FOOD"
O que as pessoas entendem como "filosofia" é uma espécie de "sabedoria fast food" feita para quem tem preguiça de pensar. Para quem não quer ler livros, ou, quando os quer, escolhe as obras que fogem de qualquer transmissão de conhecimento, sobretudo sobre "lindas estórias de amor e superação" do religiosismo mais piegas.
A "sabedoria fast food" consiste num recolhimento de frases e depoimentos feitos quase no automático. Frases que variam de um questionamento realmente sensato a pregações moralistas, trazidos por qualquer famoso, e que só servem para dar a impressão de que as redes sociais estão tomadas de sabedoria e inteligência.
É justamente nas redes sociais - que, por sinal, adoram Chico Xavier, tamanhos os "memes" que exibem suas frases e os vídeos mais delirantes a favor dele que se multiplicam feito praga no YouTube - que estão os maiores redutos de reacionarismo de internautas e onde se concentram até mesmo movimentos neonazistas que, aproveitando esse clima de catarse, atraem nada menos do que 150 mil seguidores em apenas uma de suas comunidades.
As redes sociais produziram o fenômeno da "pós-verdade" (post-truth), termo imediatamente dicionarizado pela Universidade de Oxford diante da gravidade que isso representa: um adjetivo que expressa ideias ou situações nas quais os fatos objetivos têm menos importância do que apelos à emoção e crenças pessoais na formação da opinião pública".
O religiosismo no Rio de Janeiro foi uma forma de pós-verdade, na qual medidas na verdade prejudiciais - como a imposição da pintura padronizada nos ônibus municipais, que acoberta a corrupção político-empresarial no setor - são impostas respaldadas pelo status quo de quem idealizou (lá de longe, na "República de Curitiba", por Jaime Lerner, o "pai da pintura padronizada") e por supostos benefícios como ônibus com ar condicionado, concepção avançada e chassis suecos.
A medida dos "ônibus padronizados" (diferentes empresas exibindo uma mesma pintura, causando confusão nos passageiros) foi imposta pelo ex-prefeito Eduardo Paes rompendo princípios legais e forçando o apoio - sustentado também por uma "patrulha ideológica" de busólogos, que criaram até página de ofensas para quem contestar a nefasta medida - da população em troca de uma "mobilidade urbana" espetacularizada feita para o turismo durante os eventos esportivos de 2014 e 2016.
A breve experiência da Rádio Cidade na "cultura rock" também foi resultado no religiosismo. A ideia "milagrosa" de ver o rock "irradiando" na frequência 102,9 mhz no dial FM, que fez relativo sucesso (não para o público de rock, mas para uma parcela pseudo-rebelde da juventude carioca), também foi vista de forma "divinizada", com o apelo à emoção trazido pela promessa de que, com a Cidade como "FM roqueira", o mercado teria medalhões do rock estrangeiro tocando todo ano no Rio de Janeiro.
A pós-verdade se apoia nesse processo de "divinizar" medidas não muito benéficas, por causa de falsas promessas, ou benefícios duvidosos que são superestimados. No plano mundial, se identificam como "pós-verdades" a vitória de Donald Trump - motivada pelo suposto estímulo de "arejar" a política estadunidense com um "não-político" - e o projeto de saída do Reino Unido da União Europeia (denominado "Brexit" - abreviatura de british exit), por suposta autonomia político-econômica.
No "espiritismo" brasileiro, observa-se que um dos maiores pioneiros da pós-verdade no Brasil e, talvez, no mundo inteiro, seja o próprio Chico Xavier. Impune no caso Humberto de Campos, de nada valeu apontar falhas grotescas na suposta psicografia que leva o nome do autor maranhense. A incompreensão de juízes, que só levaram em conta a tese de que "obras do além não rendem direitos autorais a autores já mortos", gerou um empate que favoreceu muito o mito do anti-médium mineiro.
Chico Xavier simbolizou a pós-verdade como ninguém. Fazia apelos à emoção para que sua trajetória atropelasse todo tipo de lógica e bom senso, criando uma legião de fanáticos e forjando uma unanimidade no "movimento espírita" na qual irregularidades no trabalho mediúnico são aceitas sem reservas por causa de "mensagens de amor" e "lições de esperança e fé".
A situação chegou a tal ponto que, se alguém for "espírita" e tem um prestígio considerável entre uma parcela da população, pode cometer fraudes mediúnicas que nenhum processo judicial lhe ameaça. Isso se torna um prato cheio para advogados de defesa que podem usar malabarismos de argumentação jurídica para defender o pretenso "filantropo", que vira "unanimidade" nem tanto pela honestidade mas pelo "amor ao próximo".
Sim, "espiritismo" brasileiro nada tem a ver com Filosofia, Ciência e Moral. Mais parece seguir a tríade Pós-Verdade, Igrejismo e Moralismo. Ver que seus pregadores usam do apelo à emoção (Argumentum Ad Passiones, um dos mais graves tipos de falácia existentes) para justificar suas fraudes, é ilustrativo desses tempos de pós-verdade.
Usar do "amor" e da "caridade" para permitir fraudes "espíritas" de todo tipo, em atividades que apresentam irregularidades evidentes, nem de longe representa filosofia, no sentido de "amigo da sabedoria". Significa, isso sim, a pós-verdade que permite que se explore a emoção e o sentimento para aceitar coisas desprovidas de lógica e bom senso. Daí o sucesso da deturpação do Espiritismo no Brasil.
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