terça-feira, 25 de agosto de 2015
Difícil falar de rosas num país de espinhos
O "movimento espírita" perde tempo disfarçando sua prática irregular da Doutrina Espírita com receituários moralistas e familiaristas e "mensagens positivas" cheias de palavras melífluas e conselhos pretensamente edificantes.
Quantas vezes se pronuncia a palavra "Amor", nessa religião que amor...daça. Afinal, seu princípio maior é aguentar os infortúnios em silêncio, sem questionamentos nem queixas, e aceitar as imposições da vida, nem sempre justas ou meritórias, como se fossem "desígnios superiores".
As irregularidades do "espiritismo" brasileiro são denunciadas, suas contradições se tornam cada vez mais evidentes, e os "espíritas" tentam reagir com textos "lindos", ilustrados por paisagens floridas, crianças sorridentes e céus ensolarados. Não conseguem enfrentar os dilemas que ocorrem num país complexo como o Brasil.
Querer mostrar rosas para um país de espinhos é complicado. E, além disso, quando a doutrina de "amor e luz" consegue ser pior do que muitas seitas neo-pentecostais que, de tão ridículas, pelo menos acabam se tornando divertidas (com boa vontade, dá para ver R. R. Soares como um humorista de stand up comedy), é bom se alertar.
Isso porque são pessoas que não entendem de mediunidade, não entendem de Ciência Espírita e muito menos sabem o que é a vida espiritual que tentam se passar por profundos entendedores de tudo isso, inventando fantasias e simulacros que só é verídico para eles e para quem, desinformado, vier de carona.
O desconhecimento das lições verdadeiramente trazidas por Allan Kardec é disfarçado por todas as bajulações que os "espíritas" fazem ao professor. Bajulações baratas, em que o autêntico Espiritismo é defendido no discurso, quando é ofendido na prática. Sim, porque não adianta elogiar o mestre se despreza ou desrespeita seus ensinamentos.
Da mesma forma, também é inútil esculhambar um outro mestre e seguir direitinho as lições deste. Jean-Baptiste Roustaing virou um "palavrão" no "movimento espírita", por causa de polêmicas radicais como os tais "criptógamos carnudos". Fora a alta cúpula da FEB, os "espíritas" tentam fugir de Roustaing como, na alegoria católica, o diabo foge da cruz.
O roustanguismo está quase todo na obra de Chico Xavier e Divaldo Franco (que afirma "não ter tido tempo" para ler o autor de Os Quatro Evangelhos), sobretudo no primeiro. A ideia da vida carnal como um castigo, a apologia ao sofrimento, o beatismo religioso como única forma de salvação, tudo isso é herança explícita do roustanguismo, queiram ou não queiram seus seguidores.
Afinal, a questão não é assumir uma ideia e fingir que não a defende. Usar posturas para contradizer ou dissimular práticas é algo muito comum no Brasil, mas expressa uma grave hipocrisia. Os que praticam o roustanguismo, eliminando ou minimizando pontos polêmicos, tentam a todo custo dar a falsa impressão de que "seguem rigorosamente o pensamento de Allan Kardec".
Os "espíritas" dizem uma coisa e fazem outra e, quando são desmascarados, se escondem em artigos de palavras lindíssimas, mas vazios de sentido. Pedir para que todos "demos as mãos" é muito, muito fácil. No entanto, solicitar a "fraternidade em Cristo" é tão oco e inútil diante de um país cheio de conflitos.
Da mesma forma, as espetaculares "mensagens mediúnicas" e os sensacionais "estudos acadêmicos" (com metodologias falhas e duvidosas) que surgem tentando legitimar Chico Xavier, aliados ao aparente bom-mocismo das páginas "espíritas", se multiplicam como se quisessem provar algo que não conseguem provar.
Tudo vira um ciclo vicioso, pois o Espiritismo tão leviana e precariamente praticado tenta compensar isso com o suposto bom-mocismo, com filantropias que quase nunca ajudam de verdade, só realizando ajudas provisórias e inócuas. Ou com mensagens bonitinhas cheias de bichinhos, crianças, flores, apelos vagos à fraternidade que não resolvem injustiças nem conflitos.
Daí que nem o bom-mocismo resolve a crise violenta que o "espiritismo" brasileiro sofre, e que faz até com que seus palestrantes e líderes não tenham mais o que dizer. Jurar fidelidade absoluta a Kardec e trair seu pensamento o tempo todo são demonstrações de desonestidade doutrinária que nenhum aparato de "amor e bondade" conseguem disfarçar. A coisa está feia, mesmo.
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