terça-feira, 20 de setembro de 2016

O Rio de Janeiro de torcedores barulhentos, poluição e gente fumando muito


O Estado do Rio de Janeiro sofre uma decadência vertiginosa nos últimos tempos. Com muito sacrifício teve que desfazer, relativamente, da presença do deputado Eduardo Cunha no cenário nacional. Relativamente, porque há o risco da influência nefasta do ex-presidente da Câmara dos Deputados continuar existindo nos bastidores da política.

O Rio de Janeiro sofreu uma série de retrocessos e sucumbe também por causa do conformismo do seu povo, não de todo ele, mas de uma maioria influente, que parece viver num "paraíso" enquanto o Estado se transforma num inferno.

Já na saída de casa os cariocas têm que dobrar a atenção ao pegar os ônibus padronizados, com empresas se escondendo por trás de uma pintura única, confundindo os passageiros que ainda têm que enfrentar acidentes de ônibus cada vez mais constantes e perigosos. Um deles, há poucos dias, em Brás de Pina, deixou 23 feridos, quatro deles com gravidade.

Os cariocas estão aceitando qualquer coisa, embora também seu conformismo revele indiferença e descaso a tudo. Contraditoriamente, a juventude estava satisfeita com a existência de uma "rádio rock" medíocre, a Rádio Cidade, mas de tão ocupados com WhatsApp e festas com "sertanejo", também deixaram a rádio morrer de podre, sem deixar muita saudade.

O Rio de Janeiro assiste a um cenário político neocoronelista e a pistolagem da Baixada Fluminense é uma realidade, com vários pré-candidatos a cargos políticos assassinados. A violência corre solta nas zonas suburbanas e favelas e houve até arrastão no novo túnel Marcello Alencar, no Centro da outrora Cidade Maravilhosa.

Mas as pessoas estão felizes no Rio de Janeiro, uma alegria que já é viciada, sem motivo, marcada apenas por "glórias passadas" - a paisagem tropical, o status de capital sócio-cultural, os antigos holofotes do mundo inteiro e o glamour que só existiu, de fato, em 1958 - , sem saber que tudo mudou, e para pior.

Ou então, quando sabem, se comportam como determinados senhores que transformam problema em piada porque não são eles que sofrem tais infortúnios. Lendo as manchetes de jornais, esses senhores esnobes parecem despejar uma ponta de ironia quando falam sozinhos diante dos jornais nas bancas: "o Rio de Janeiro não tem jeito, mesmo".

Como nos filmes de Buñuel, o antes glamouroso carioca, famoso por sua cordialidade, passou a dar lugar a um estereótipo grosseiro reforçado por um comportamento dominante nas ruas e nas redes sociais. Cariocas que já não se importam com o fedor de fezes de cachorros ou de carros de lixo muito mal conservados - na "preguiçosa" Salvador, na Bahia, caminhões de lixo circulam sem exalar mau cheiro - também demonstram comportamento agressivo, sarcástico e ameaçador.

O que chama a atenção nesse cenário trágico do Rio de Janeiro é que a decadência atinge todos os aspectos, que vão muito mais que a crise econômica e de segurança que aparecem nos jornais, e se manifestam até em famílias felizes que vão para o restaurante diante de um caminhão de lixo exalando fumaças de fedor tóxico ou entram entusiasmados ao McDonald's comprar combos de valor nutricional duvidoso de funcionários que trabalham em condições subumanas.

Há também o contexto de Niterói, cidade que chegou a ser capital do Estado do Rio de Janeiro durante décadas enquanto o Rio de Janeiro era capital do país e da Guanabara. Com a fusão imposta pela ditadura militar, o município do índio Arariboia só agora se resignou em ser uma cidade de um provincianismo doentio, conformada em ser um mero quintal caipira da vizinha do outro lado da Baía da Guanabara.

No Grande Rio, se vê gente berrando, em pleno final de noite, por causa do fanatismo do futebol carioca, que, por causa de seus poderosos dirigentes, os "cartolas", sempre arrumam um jeito para os quatro times cariocas (Flamengo, Fluminense, Vasco e Botafogo) saírem vitoriosos. Não podem "comprar" vitórias o tempo todo, para não despertar desconfiança, mas começa a ser notória a indústria de manipulação de resultados que sempre põe os quatro clubes em boas posições nas tabelas.

O fanatismo do futebol é tratado como uma ideologia totalitária, que se torna fator determinante para as relações sociais a ponto de haver discriminação e constrangimentos sociais contra quem nem sequer curte futebol. Um sentimento doentio, que faz com que torcedores berrem feito trogloditas quando o respectivo time favorito faz um gol numa partida.

E isso vai sobretudo nas quartas-feiras à noite, e mesmo quando um jogo se arrasta até 23h45, se houver um gol a favor do time carioca envolvido, a gritaria é ensurdecedora, com pessoas berrando de maneira estridente, ignorando que há pessoas querendo dormir para trabalhar no dia seguinte.

E isso se torna grave quando houve rumores de que o governo Michel Temer iria aumentar a carga horária de trabalho, o que forçaria as pessoas a dormir e acordar bem mais cedo. Diante da pressão da sociedade, Temer e sua equipe ultimamente andaram tentando desmentir o fim ou diminuição de vários direitos trabalhistas.

Mesmo assim, isso não justifica que o fanatismo doentio e obsessivo dos torcedores de futebol lhes dê direito de gritar nas altas horas da noite, de maneira cega, sem observar o direito do outro, que precisa de silêncio para dormir. Para piorar, os torcedores, só por "pirraça", chegam a ficar em silêncio em um bom momento de jogo, até que o gol faça voltar, do nada, a irritante barulheira.

O Rio de Janeiro é considerado Estado onde existe maiores abusos e maior intolerância vindas de jovens de classes abastadas ou mesmo de classe média que sempre corroboram com os interesses dos mais ricos ou de setores sociais retrógrados. Para piorar, os retrocessos ocorridos no território fluminense não impedem do Estado ser considerado "modelo" para o país, o que pode ser um risco de medidas e hábitos retrógrados e viciados serem "exportados" para o resto do país.

Um dado grave no Grande Rio é que a poluição chega a superar a Grande São Paulo. Segundo relato da agência de notícias Reuters, o ar do Rio de Janeiro é "sujo e mortal", e é na ex-Cidade Maravilhosa que se mostra a maior parte das mortes relativamente prematuras que atingem brasileiros, por causa de doenças respiratórias, cardíacas ou vários tipos de câncer.

Observa-se até estranhas "neblinas" na paisagem carioca vista de Niterói ou vice-versa. As duas cidades vizinhas mostram um ar tão sujo que basta andar pelas ruas e depois experimentar cheirar a palma da mão ou o braço para sentir um odor parecido com fumaça de carro ou de nicotina. Mesmo não-fumantes têm esse odor, o que é uma séria ameaça à saúde.

Mas o pior é a arrogância que uma boa parcela de cariocas tem para fumar cigarro. Os niteroienses, por conseguinte, seguem o mau exemplo. Uma quantidade considerável de pessoas fumando nas ruas, com a fumaça e o odor contagiando não-fumantes, que se tornam fumantes passivos com sério risco de morrerem pelo cigarro que por si não fumaram.

A coisa chega a ser tão ridícula que os vaidosos fumantes - que parecem ter dinheiro de sobra para comprar os terríveis maços que contém até veneno de rato como uma de suas substâncias - chegam, só de sacanagem, a andar quarteirões só com o cigarro na mão, e, em ruas quase fechadas, tragam os cigarros soltando uma fumaça que incomoda quem está ao lado.

Isso já é um cenário trágico, de catástrofe, e prova que o Rio de Janeiro está decadente, como o restante do Sul e Sudeste brasileiros, regiões antes associadas ao desenvolvimento social e econômico, mas que sofreram surtos violentos de provincianismo e ultraconservadorismo que reflete até no decadente cenário político que vivemos, com o decadente governo de Michel Temer.

Todo esse cenário decadente de plutocratas no poder, com tucanos esperançosos em devorar ainda mais o dinheiro público com privatizações e outros mecanismos, é servido a todo o Brasil como um presente de grego das elites do Sul e Sudeste que, em nome da moralidade, permitiram a ascensão de políticos como Eduardo Cunha, que ajudaram a pôr o Brasil na deriva de hoje.

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