sexta-feira, 31 de julho de 2015
"Espiritismo" e a sobrecarga dos jovens
Se o "espiritismo" brasileiro deixa os pais mais ansiosos, ele deixa os jovens sobrecarregados. A ideologia moralista da doutrina tende a criar expectativas demais da vida futura e a sobrecarga nos jovens não raro os leva a tragédias ou a enfrentar dificuldades pesadas e viverem sob pressão.
Os mais jovens quando vão para uma doutrinária, veem os caminhos se fecharem, ao mesmo tempo em que aumentam as pressões para eles agirem. Quanto mais dificuldades, mais pressão. Quando as coisas se tornam impossíveis, mais obrigatória é a ação sobre elas. E, se não houver o jogo de cintura e um certo espírito de condescendência, nada acontece.
Os jovens não podem ser eles mesmos. Eles terão que ceder às convenções e abrir mão de boa parte do aprendizado da vida. Se eles se desiludiram demais, a regra agora é eles se subordinarem às ilusões dos outros.
Pouco importa se as desilusões da vida fizeram um rapaz passar a ouvir Joy Division, a ler livros de Jean-Paul Sartre e a ver filmes de Werner Herzog e RainerWerner Fassbinder. Sua pretendente só pode ser encontrada em festivos eventos de "pagode romântico", ambientes que não lhe são de sua afinidade.
Também pouco importa se a moça é inclinada a ouvir Belle and Sebastian, apreciar a arte de Jackson Pollock ou a poesia de Sylvia Plath, se ela é empurrada a se casar com um empresário insosso que só está preocupado com a próxima festa de gala onde ele irá divulgar seus negócios.
Em muitos casos, os pais acham que os filhos aguentam qualquer parada, que estes são incapazes de se entristecerem, que são muito fortes a suportar qualquer dificuldade, sem fraquejar. Acham que os mais jovens, só porque têm maior vitalidade, não encontram limites de humor e capacidade física ou psicológica para enfrentar dificuldades pesadas.
Se um filho se inicia numa atividade artística, os pais o pressionam para que ele seja um grande sucesso logo no trabalho de estreia. O pai logo tenta agir como um arremedo de empresário do próprio filho. E, se este fica doente por dez dias, ele ainda cobra por que ele não foi divulgar seu trabalho.
Os pais não têm noção do tempo, acham que os filhos podem fazer 120 horas num espaço de 24 horas. Romantizam demais o processo de vencer na vida. Não observam limitações, não se sensibilizam com as tristezas que os filhos encontram no caminho, que nem todo jovem é capaz de ter muito jogo de cintura para encarar qualquer armadilha.
Os jovens acabam sendo sobrecarregados, têm que viver um grande malabarismo na vida, persistir em encarar obstáculos quando eles se tornam cada vez mais difíceis, tentar negociar o inegociável, enquanto seus pais, felizes da vida, acham que seus filhos são guerreiros valentes se jogando nas sombras das selvas urbanas do "mundo cão".
A religião "espírita" mitifica os jovens como sorridentes artífices do futuro. Descreve o mundo exterior como um ambiente turbulento de pesadas dificuldades. Define a família como estruturas pétreas que atravessam encarnações, e pouco está preocupada com as pressões que atingem nossos jovens, vistos quase como invariáveis crianças jogadas ao mundo a esmo.
Daí que os filhos acabam reclamando dos limites do tempo para fazer alguma coisa. Os pais não gostam, acham que isso é desculpa para falta de iniciativa. Os filhos reclamam porque certas empresas são corruptas. Os pais lhe recomendam aderir e ignorar "ideologias". Os filhos reclamam de tristezas e desilusões. Os pais acham que isso é pessimismo sem importância.
O "espiritismo" transforma os caminhos das gerações futuras numa estrada sem asfalto e com muitas pedras. Evidentemente, em muitos trechos os jovens sucumbem. Mas, em outros, eles param no caminho quando são empurrados a seguir adiante, sem haver meios disso.
Assim, a religião que só entende os idosos e adota um moralismo familiarista bastante conservador não consegue entender a natureza dos jovens. O "espiritismo" torna-se uma doutrina velha, mofada, que não percebe a dura relação entre cobrar demais de quem não está no topo da hierarquia familiar e a prevalência das dificuldades pesadas que existem na vida.
quinta-feira, 30 de julho de 2015
Oração é só uma janela de emergência
O "espiritismo", pela influência herdada do Catolicismo, superestima a oração como um meio de atrair alívio e consolação. A oração é encarada como um "remédio de alta eficiência" contra qualquer tipo de mal que acontece na vida.
Só que, na verdade, essa visão é dotada de muitos equívocos. Principalmente quando a oração é tida como alternativa para o ativismo social e para o protesto humano, como se recolher num canto e fazer uma prece pudesse resolver, por si só, um problema.
No entanto, a oração não resolve. Na maioria esmagadora das vezes, ela é uma espécie de "água com açúcar" para as pessoas angustiadas. Em muitos casos, é sinônimo de preguiça, de acomodação, de conformismo.
A pessoa, quando reza "Senhor, me dê paciência para aguentar essa pesada dificuldade", não está resolvendo seu problema, não está buscando soluções que, normalmente, poderiam ser obtidas fora da doce retórica das preces. Está, sim, se manifestando seu conformismo e pedindo, isso sim, para que possa se conformar ainda mais com essa dificuldade.
Chico Xavier é desmascarado de vez nessa situação. Tido equivocadamente como "ativista" e "progressista", ele nada fez senão pedir às pessoas para que elas aguentem o sofrimento e que se recolham no silêncio da prece, no comodismo da oração. Achava que um simples ativismo poderia "causar dissabores", e condenava todo tipo de enfrentamento.
Pois o "silêncio da prece" defendido por Chico Xavier revela não um ativismo ou um progressismo, mas uma conformação com os retrocessos da vida, uma censura a todo tipo de intervenção sobre um problema ou transtorno, achando que a oração resolve tudo, mesmo quando a solução poderia ser simplesmente uma ação pela cidadania garantida por lei.
Grande erro pensar assim. A oração é como uma janela de emergência existente num ônibus, ela serve quando algum risco na vida impede a pessoa de poder agir. Se ela é ameaçada por alguém, ela não poderá intervir da maneira desejada, se isso lhe pode significar uma tragédia iminente.
Da mesma forma, se a pessoa está perdida numa floresta, e não se acha em condições de retomar o caminho ou receber algum socorro, a oração pode ser um último recurso para isso. Mas são apenas situações excepcionais que recomendam a prece, ela não deve ser jogada assim a qualquer momento.
O próprio Kardec pensava na prece como uma forma de relaxamento pessoal. Mas certamente, se a pessoa acha que a prece é um meio de combater as injustiças sociais, está perdendo tempo, perdendo uma boa oportunidade de agir para resolver um problema, por mais grave que seja.
Infelizmente, o "espiritismo" parece como um ônibus em que desordeiros ameaçam os passageiros - os tratamentos espirituais mais trazem mau agouro do que qualquer proteção espiritual, tudo para empurrar os sofredores para os "centros espíritas" - e se quebram as janelas de emergência sem a menor necessidade.
Só que isso se torna inútil. Sobretudo quando sabemos que o "espiritismo" não está aí para qualidade de vida. Ela é apenas uma "fábrica de sofredores" para que eles possam ser seduzidos por sua mística moralista "assistencialista". E, se elas recomendam o uso abusivo da prece, significa que elas querem ver pessoas acomodadas e conformistas. Isso não é ativismo.
quarta-feira, 29 de julho de 2015
O que um Aeróbus de Nosso Lar pode fazer...
Recebendo mensagens de internautas pelo nosso e-mail, nota-se que o "espiritismo" traz más energias até fora de seu âmbito, não bastassem o mau agouro que representam os chamados tratamentos espirituais, verdadeiras "fábricas" de infortúnios.
Ao comentarem sobre busologia, que é o ato de apreciar ônibus, os internautas chamaram a atenção de que um antigo fotolog de ônibus antigos havia decidido publicar uma foto de um desenho do "aeróbus", o transporte coletivo descrito no livro Nosso Lar, ficção não-assumida que descreve, de forma "realista", uma "colônia espiritual" situada sobre o céu do Rio de Janeiro.
A intenção parecia boa. Tomando como base o livro de 1943 que descreve supostos fatos ocorridos entre 1931 e 1939, o responsável pelo fotolog reproduziu uma ilustração (mostrada acima) do "aeróbus", como se fosse um "BRT do além-túmulo" e creditou o veículo a 1933. Tudo feito com uma postagem simpática, mas que depois foi deletada.
Só que a homenagem trouxe energias bastante negativas para o autor do fotolog, e também para os leitores, que eram tantos, dessa página dedicada a ônibus antigos. O servidor da página também foi prejudicado, pois, anos depois, passou a ter problemas para upload e publicação de mensagens, não bastasse outros problemas técnicos que fizeram o portal ficar fora do ar.
"TORRE DE BABEL"
A busologia do Rio de Janeiro passou a ser uma verdadeira "torre de Babel", com desentendimentos feitos entre aqueles que queriam se ascender, a partir de 2010, quando autoridades do PMDB carioca - cujo notório autoritarismo antilegalista é levado às últimas consequências pelo deputado Eduardo Cunha - tentaram "comprar" o apoio de busólogos, através do secretário Alexandre Sansão.
Quando foi anunciado o arbitrário e antipopular projeto de sistema de ônibus pelo prefeito carioca Eduardo Paes - conhecido por suas visões elitistas e contrárias à lei e ao interesse público - , no final de 2009, os busólogos repudiaram totalmente, como que por unanimidade.
Reciclando um projeto do recém-falecido prefeito carioca Luiz Paulo Conde (espécie de Jaime Lerner local), Paes queria impor pintura padronizada nas empresas, dupla função de motorista-cobrador e esquartejamento de trajetos dividindo algumas linhas em "alimentadoras" para o uso do duvidoso Bilhete Único.
O modelo tecnocrático, que hoje revela um trágico fracasso, apesar de não haver aparentes indícios de revogação - é o Rio de Janeiro de Eduardo Cunha, é claro! - , causa confusão entre passageiros, que ainda têm que enfrentar engarrafamentos, acidentes de ônibus, atrasos no trabalho e outros malefícios.
Tudo isso era imposto em nome do "milagre" do BRT. A mania de religiosizar tudo dos cariocas, em que até times de futebol e certas rádios FM (como a "roqueira" Rádio Cidade) são "divinizadas" e se estabeleceu o ato de aceitar qualquer coisa decidida "do alto", fez o BRT, um reles ônibus articulado maior que um ônibus comum, mas bem menor que trens e metros, virar um "totem divino".
Em nome desse "Bezerro Rapid Transit" de ouro, uma parcela de busólogos passou a virar a casaca e a defender o grupo político de Eduardo Paes. Um histérico busólogo da Baixada Fluminense, que era ligado a um projeto "social" de uma prefeitura, mas que havia se envolvido, em 2008, com uma briga em que o encrenqueiro reagiu com uma xingação racista contra outro, tornou-se o mais entusiasmado vira-casaca.
OFENSAS E CALÚNIAS
Nas mídias sociais, esse arrogante busólogo, que fazia o jogo duplo de parecer "disciplinado" e "cordato" em portais de transporte e mobilidade urbana e "amigável" entre um meio-termo de busólogos influentes e grupos independentes, chegou a espalhar visões caluniosas, a jogar alguns busólogos contra outros e a tentar tirar do caminho busólogos emergentes.
O encrenqueiro chegava mesmo a desvirtuar os espaços de busologia, fazendo com que o hobby deixasse de discutir e informar sobre transporte para virar um ringue de ofensas diversas, onde até preconceitos sociais eram difundidos impunemente.
Ele passava a defender a pintura padronizada dos ônibus com um fanatismo fascista, bajulava os políticos com submissão canina e, conforme uma mensagem que recebemos de um internauta amigo dele, as ofensas chegavam à visão discriminatória e pejorativa de que homem que estivesse solteiro por longo tempo era "virgem" ou "homossexual" (o encrenqueiro e um outro busólogo usavam fakes para fazer piadas porno-homofóbicas).
A situação culminou quando o encrenqueiro da Baixada expulsava busólogos dos espaços de discussão nas mídias sociais, só deixando aqueles que se contentassem em ver a busologia se reduzir a um sub-gabinete da Secretaria Municipal de Transportes (SMTR). Um outro busólogo havia nos escrito de rumores que seu secretário Alexandre Sansão iria empregar busólogos em seu gabinete.
VIAGENS DE AERÓBUS E BRT TRANSCARIOCA...
O esquentado busólogo, que "comprava" apoio de seus colegas influentes, chegou a chamar seu coleguinha de piadas porno-homofóbicas através de seu exército de "fakes do bem", como o amigo do encrenqueiro-líder havia denunciado em seu e-mail, para empastelar uma petição digital contrária à pintura padronizada nos ônibus.
O ato lembra muito o que se faziam nos tempos do Orkut, quando membros da comunidade Eu Odeio Acordar Cedo estavam associados a vários atos grupais de divulgar mensagens em bloco com humilhações, ironias e ameaças, e que culminou com os ataques feitos no Facebook contra a jornalista negra Maria Júlia Coutinho, a Maju.
Em seguida, indiferente às leis que identificam e punem os crimes pela Internet, o encrenqueiro chegou a criar um blogue de ofensas, que um dos missivistas definiu como "de comentários críticos", que primeiro iria desmoralizar busólogos emergentes, para depois esculhambar busólogos mais influentes, inclusive aqueles que o encrenqueiro fingia se relacionar com respeito e consideração.
O blogue de calúnias, feito através de um pseudônimo, copiava mensagens de busólogos emergentes que eram acompanhadas de comentários ofensivos de um tal de "crítico". Postagens depreciativas eram também publicadas e, quando o encrenqueiro recebia as primeiras reações negativas, ele havia publicado uma postagem irônica dizendo que seu blogue era "um sucesso".
O blogue foi denunciado para o portal Denúncias.Org da SaferNet, e a identidade do busólogo foi revelada quando um amigo do encrenqueiro, preocupado com as brigas na busologia, o que causou reações de revolta contra o encrenqueiro, que chegaram a refletir em grupos busólogos fora do Rio de Janeiro.
O encrenqueiro, conforme lembra um dos mensageiros em e-mail, ainda "visitava" as cidades de seus desafetos, sob o pretexto de tirar fotos de ônibus, na tentativa de intimidar. No entanto, conforme lembra o mensageiro, "o feitiço se virava contra o feiticeiro e havia uns homens olhando com estranheza para ele, de cara feia mesmo".
Segundo esse missivista, em Niterói, por exemplo, a chamada "máfia das vans" marcava o "valentão" por acreditar ser um forasteiro com "interesses" de fotografar o "trânsito da cidade". O missivista detalhava que "milicianos se escondiam no estacionamento perto do antigo Carrefour para marcar quem fotografasse o trânsito, achando que eles 'tiravam o tempo' para observar o 'mercado das vans'".
"Ficávamos preocupados", disse o missivista. "É a mesma cidade dos assassinos da juíza Patrícia Acioli. A gente via o (prenome do encrenqueiro) tirar as fotos e uns dois ou três caras olhavam para gente e principalmente para ele. Eles têm até vendedor de bala como informante. Se esses durões, que controlam as vans, mataram uma juíza, matar um busólogo é como pisar em barata. Eles não fizeram nada, mas podiam fazer", comenta.
É certo que a situação ficou muito trevosa. A busologia perigava sucumbir ao corporativismo e, da defesa à pintura padronizada, passava-se para a defesa de empresas de ônibus ruins controladas por "peixes grandes", como a Trans1000 (que só foi extinta mediante protestos de moradores das cidades atendidas), e até para medidas claramente impopulares entre os passageiros de ônibus.
Assim, a busologia do Rio de Janeiro, segundo conta um outro missivista, beirava ao ponto de defender a redução dos ônibus em circulação nas ruas - um dos maiores motivos de queixas dos passageiros que ficam longo tempo a esperar por um ônibus - e até a dupla função do motorista-cobrador, responsável por muitos acidentes motivados pela sobrecarga de motoristas que se dividem entre a direção e a cobrança de tarifas.
O busólogo encrenqueiro, depois, saiu desacreditado e, dizem rumores, desempregado depois que a prefeitura a quem ele servia resolveu "enxugar a máquina administrativa". E, segundo os missivistas, acabou sendo visado até pelos milicianos em várias partes do Grande Rio por causa de seu jeito "arrojado" de fotografar ônibus e "procurar" desafetos.
Querendo transformar a busologia em um sub-escritório da SMTR onde só se admitiam "busólogos cabritos" (como um missivista definiu os busólogos atrelados aos donos do poder, em alusão ao "motor de caminhão dos ônibus convencionais, os "cabritos"), o encrenqueiro só agravou os preconceitos que a classe de hobbistas já sofria pela sociedade.
E imaginar que tamanhos incidentes ocorreram porque um autor de fotolog foi inserir uma referência "espírita", de uma doutrina marcada de tantas mistificações e práticas irregulares, em uma página de ônibus antigos...
terça-feira, 28 de julho de 2015
Palestrante deu informação equivocada sobre problema de pele
Certa vez, uma palestrante do Centro Espírita Leon Denis, localizado no bairro de Bento Ribeiro, região de Madureira, Zona Norte do Rio de Janeiro, na sua tentativa de falar sobre assuntos "científicos", como é de praxe em expositores desse tipo, cometeu um grande equívoco.
No decorrer da palestra, feita enquanto as pessoas que tinham marcado tratamento espiritual ficavam em salas isoladas no subsolo, assistindo à palestra pelas telas ali inseridas, a expositora tentou explicar o porque de várias pessoas apresentarem problemas de pele.
Segundo ela, o problema de pele, que entre alguns efeitos há a pele vermelha e ressecada e uma seborreia que se assemelha a flocos de aveia, seria um meio de pessoas se "depurarem espiritualmente" através dessa doença.
Ela argumentou que os problemas de pele seriam um meio de expiação, uma forma do organismo se reajustar à evolução do espírito, através dessa prova que corresponderia a um processo de resgate para o indivíduo.
Essa informação é equivocada e corresponde a um pedantismo "científico" que contagia muitos "espíritas" e faz com que simples donas-de-casa que se tornam palestrantes dos "centros" tentem se passar por entendidas em Ciências, assimilando as bobagens descritas na bibliografia feita no Brasil, sobretudo através da "série André Luiz" de Chico Xavier.
Essa delirante informação não condiz com a realidade, e mostra o quanto o moralismo tenta justificar certas coisas, quando a verdade mostra que o problema de pele é consequência de fatores que envolvem mudança de temperaturas, sensibilidade da pele de alguns indivíduos e por aí vai.
Só porque o problema de pele tem mais facilidade de surgir em pessoas que vivem em estresse e com muitos problemas emocionais, isso não significa que ela ocorra em função de "missões divinas" de "recuperação moral" desses indivíduos.
Em muitos casos, o problema de pele simplesmente ocorre porque a pessoa não tem o hábito de beber água e a pele, portanto, fica desidratada e frágil, ou porque ela não tirou toda a espuma do sabonete da pele, o que faz com que sua composição química produza seborreia.
Quanta ninharia é dita nas palestras "espíritas", quando a realidade da vida mostra coisas mais práticas e mais simples, problemas que podem ser resolvidos facilmente sem essa paranoia de "reajustes espirituais".
segunda-feira, 27 de julho de 2015
Os três tipos de impunidade
IMPUNIDADE SOCIAL - EXEMPLO DISSO É O EX-PRESIDENTE FERNANDO COLLOR, QUE LUTA PARA SER ADORADO PELA MULTIDÃO.
A impunidade é um mal bastante conhecido entre os brasileiros. E causa prejuízos, como recentemente, no caso da ciclista morta na Rodovia Fernão Dias, em Guarulhos, quando passeava com o marido. Os ladrões que a assassinaram estavam em liberdade condicional e já haviam sido presos por roubo outra vez.
Mas isso é apenas um dos exemplos de impunidade. Como o Brasil sofre retrocessos que "avançam" (ou melhor, retrocedem mais ainda) a níveis surreais, observa-se que muitos dos impunes não estão mais satisfeitos com a complacência das leis, e querem também receber a impunidade social, sendo não apenas tolerados, mas vistos como "pessoas simpáticas".
A reboque disso, a impunidade religiosa, como se observa no "movimento espírita", faz com que os algozes sofram uma espécie de "fiado espírita". Eles podem fazer o erro que fazem, a crueldade que julgam poder fazer, que a "punição certa" só virá em outra encarnação, a "justiça da qual não podem escapar" virá daqui a cerca de cem anos, depois de se arrependerem dos seus erros.
Enumeramos aqui os três tipos de impunidade que complicam as situações de justiça no Brasil e prolongam as injustiças sociais e o desequilíbrio da sociedade que faz com que os méritos e benefícios sejam dados a quem não precisa deles e não tem a menor noção do que são as necessidades e vocações humanas.
IMPUNIDADE LEGAL
A impunidade legal é a mais conhecida e a mais criticada na sociedade. Consiste em uma pessoa acusada de crimes diversos ser beneficiada pelas conveniências sociais. Assim, aquele que cometeu um assassinato ou um ato de corrupção responderia formalmente por uma condenação criminal, mas em liberdade condicional, ou seja, não precisaria estar na prisão.
O criminoso, no caso, apenas só precisa comunicar para a Justiça onde está e não sumir feito tatuí em praia movimentada. Se ele for uma pessoa de elite, essa comunicação nem precisa ser feita, pois ele praticamente é uma "pessoa amiga" que "não oferece perigo para a sociedade".
Esse fato de "não oferecer perigo" é relativo, já que, em muitos casos, como no feminicídio, basta um criminoso de grande destaque nos noticiários ser anunciado que não vai ficar na cadeia para outros homens liquidarem suas próprias mulheres, inspirados pela "receita do sucesso". O impune pode até não oferecer perigo, mas torna-se exemplo para uma onda de crimes semelhantes.
Há vários malabarismos da lei para isso. Primeiro, quando o criminoso é réu primário, ou seja, ele não havia cometido um crime antes. Segundo, por não ser pego em flagrante, já que os criminosos "somem" depois do ato e só se apresentam quando o prazo do flagrante expirou. Terceiro, pelo bom comportamento da prisão. E, quarto, pela habilidade de um bom advogado. E por aí vai.
IMPUNIDADE SOCIAL
Desde que o empresário e ex-playboy Doca Street foi lançar, em 2006, seu livro Mea Culpa e entrevistar para a grande mídia, fazendo o papel de "bom velhinho" - ironizado por familiares de sua vítima Ângela Diniz. morta por ele - , os criminosos impunes passaram a sentir insatisfação de receberem apenas a impunidade da lei, buscando o surreal benefício do "apoio da sociedade".
Seis anos antes, em 2000, a imprensa ultraconservadora, a mesma que criminaliza os movimentos sociais e que, na ditadura, apoiava a prisão, tortura e morte de cidadãos inocentes, blindava outro feminicida, o jornalista Antônio Pimenta Neves, evitando colocar o caso do assassinato cometido com ele contra a colega e ex-namorada Sandra Gomide, nas páginas policiais.
O covarde crime, cometido pelo jornalista na "maturidade" de seus 63 anos na época, não podia ser colocado em retrancas policiais, sendo "elegantemente" inserida na retranca "país", como se o homicídio tivesse sido um fato nacional dos mais inocentes, e jocosamente definido pelo seu arrogante autor como "besteira".
Guilherme de Pádua, outro feminicida, que matou a colega (mas esposa de outro homem) Daniella Perez, também passou a ser tratado "elegantemente" pela grande imprensa, sendo por ela blindado quando deixou a prisão.
O ex-ator, assassino da filha da dramaturga Glória Perez e tendo praticado o crime com sua então esposa Paula Thomaz, chegou aos níveis comparáveis ao do franco-atirador que, condenado à morte, foi liberado da cadeia e deu autógrafos para as fãs, no filme O Fantasma da Liberdade, de Luís Buñuel, quando chegou a ameaçar processar a mãe da vítima por danos morais.
A alegação era de que Guilherme "se sentiu ofendido" quando Glória o chamou de psicopata, já que, depois de ter matado Daniella, o ex-ator - com passado de michê e usuário de drogas - foi "consolar" a família por causa da tragédia. Nos últimos anos, Guilherme tenta fazer sucesso como sub-celebridade a criar factoides através de entrevistas pagas pela grande mídia.
O assassinato de Daniella Perez se deu no mesmo dia do impeachment de Fernando Collor, 28 de dezembro de 1992. Collor não cometeu assassinato - no máximo, ele era um amigo de rapazes que haviam matado uma menina, em 1975, entre eles o já falecido Alfredo Buzaid Filho - , mas sim ato de corrupção, que o levou a ficar oito anos sem exercer direitos políticos.
Mas, assim como depois de seis anos de prisão, Guilherme de Pádua foi buscar a popularidade posando de vítima, Fernando Collor, depois de oito anos sem poder se eleger a qualquer cargo político, foi buscar o carisma político sob a bênção de seus opositores. Juntos, Guilherme e Fernando tentam a todo custo embarcar no revisionismo histórico dos anos 90 para ganharem reputação de "heróis da década".
Além desses exemplos, houve a patética divulgação da grande imprensa de um Farah Jorge Farah - médico que esquartejou uma ex-namorada - com cara de coitadinho, mochila de estudante e prometendo ser um "cara simpático".
Da mesma forma, o mandante da morte do ativista Chico Mendes, o fazendeiro Darly Alves, tentou se promover como "pessoa adorável". E o pai do ex-promotor Igor Ferreira (que mandou matar a esposa grávida) tentou afirmar que o filho "está bem", "não oferece perigo para a sociedade" e será um "cara legal". Detalhe: quando estava foragido, Igor chegou a ser procurado pela Interpol.
Em vários desses casos, sobretudo o de Pimenta Neves, Farah e Igor, a blindagem da grande imprensa, ainda carregada de preconceitos sociais, é notável. É a mesma imprensa cujos principais articulistas pregam a prisão perpétua dos ativistas do MST (sem-terra) e MTST (sem-teto) só porque querem um espaço digno para viverem.
IMPUNIDADE RELIGIOSA
Outro caso aberrante é a impunidade religiosa, que adota um julgamento de valor moralista digno de posturas ditatoriais, um resíduo valorativo herdado dos mais sombrios anos da Idade Media, quando se decapitava ou enforcava no claustro, ou se queimava pessoas em praça pública apenas por não seguirem a fé católica.
O "espiritismo" que usa a reencarnação como pretexto para culpabilizar as vítimas - e lembremos bem do perverso dedo acusador do "bondoso" Chico Xavier (isso mesmo), que acusou as vítimas da tragédia de um circo em Niterói, no final de 1961, de terem sido gauleses sanguinários - , chega também a "absolver" os algozes num ato presente.
Chegou-se mesmo a ser produzido, na literatura "espírita", livro que tratasse um feminicida conjugal como um "coitadinho", passando por pequenos reajustes morais que mais parecem ser surtos de angústias e depressões facilmente consoladas e confortadas.
Homicidas ou outros tipos de algozes, sejam internautas reacionários mandando mensagens ofensivas ou patrões prepotentes exigindo demais dos funcionários, são vistos pelos "espíritas" como agentes de "reajustes espirituais" ou "resgates morais" das vítimas, que estariam pagando "por outros crimes".
É o "fiado espírita" que permite que o mau-caráter faça das suas num prazo de uma encarnação, prolongada para completar toda a sua "festa" - isso quando pessoas de bom-caráter chegam a morrer cedo sem completar sua missão de vida - e pagar apenas uma ou duas encarnações depois.
"Ele será punido, com toda a certeza. Da Justiça de Deus, ele não escapa", costuma dizer o "espiritismo" brasileiro sobre cada pessoa que comete crimes ou delitos graves. Mas permite que tal tipo de pessoa fizesse toda a sua festa até o fim e chegar à idade de contar aos seus netos se seus atos valeram a pena ou não.
Mas a essas alturas, até o crime foi relativizado, porque mesmo que se arrependa dos atos na velhice, permite-se e justifica-se qualquer impulso da juventude para cometer algum mal grave, porque de que adianta a gravidade do delito cometido se ao seu autor, por mais remorsos que tenha, sempre possa ter a seu favor o "sossego da velhice", como se tivesse "cumprido bem uma boa missão".
Assim, o crime acaba compensando, seja corrupção, homicídio ou algo tão grave. A lei usa as conveniências para livrar certos culpados da cadeia. A sociedade tenta sorrir para os que se posam de pretensos coitadinhos. A religião "espírita" os denomina "justiceiros do princípio da Causalidade" e até admite punição certa para eles, mas sempre deixa "para depois".
Tais posturas só fazem agravar os desequilíbrios sociais e não contribui para o aperfeiçoamento moral das pessoas, fazendo com que a Justiça, a grande mídia e a religião, servas de sistemas de valores retrógrados, deixem de cumprir sua função de tornar a sociedade menos conflituosa e menos injusta.
A impunidade é um mal bastante conhecido entre os brasileiros. E causa prejuízos, como recentemente, no caso da ciclista morta na Rodovia Fernão Dias, em Guarulhos, quando passeava com o marido. Os ladrões que a assassinaram estavam em liberdade condicional e já haviam sido presos por roubo outra vez.
Mas isso é apenas um dos exemplos de impunidade. Como o Brasil sofre retrocessos que "avançam" (ou melhor, retrocedem mais ainda) a níveis surreais, observa-se que muitos dos impunes não estão mais satisfeitos com a complacência das leis, e querem também receber a impunidade social, sendo não apenas tolerados, mas vistos como "pessoas simpáticas".
A reboque disso, a impunidade religiosa, como se observa no "movimento espírita", faz com que os algozes sofram uma espécie de "fiado espírita". Eles podem fazer o erro que fazem, a crueldade que julgam poder fazer, que a "punição certa" só virá em outra encarnação, a "justiça da qual não podem escapar" virá daqui a cerca de cem anos, depois de se arrependerem dos seus erros.
Enumeramos aqui os três tipos de impunidade que complicam as situações de justiça no Brasil e prolongam as injustiças sociais e o desequilíbrio da sociedade que faz com que os méritos e benefícios sejam dados a quem não precisa deles e não tem a menor noção do que são as necessidades e vocações humanas.
IMPUNIDADE LEGAL
A impunidade legal é a mais conhecida e a mais criticada na sociedade. Consiste em uma pessoa acusada de crimes diversos ser beneficiada pelas conveniências sociais. Assim, aquele que cometeu um assassinato ou um ato de corrupção responderia formalmente por uma condenação criminal, mas em liberdade condicional, ou seja, não precisaria estar na prisão.
O criminoso, no caso, apenas só precisa comunicar para a Justiça onde está e não sumir feito tatuí em praia movimentada. Se ele for uma pessoa de elite, essa comunicação nem precisa ser feita, pois ele praticamente é uma "pessoa amiga" que "não oferece perigo para a sociedade".
Esse fato de "não oferecer perigo" é relativo, já que, em muitos casos, como no feminicídio, basta um criminoso de grande destaque nos noticiários ser anunciado que não vai ficar na cadeia para outros homens liquidarem suas próprias mulheres, inspirados pela "receita do sucesso". O impune pode até não oferecer perigo, mas torna-se exemplo para uma onda de crimes semelhantes.
Há vários malabarismos da lei para isso. Primeiro, quando o criminoso é réu primário, ou seja, ele não havia cometido um crime antes. Segundo, por não ser pego em flagrante, já que os criminosos "somem" depois do ato e só se apresentam quando o prazo do flagrante expirou. Terceiro, pelo bom comportamento da prisão. E, quarto, pela habilidade de um bom advogado. E por aí vai.
IMPUNIDADE SOCIAL
Desde que o empresário e ex-playboy Doca Street foi lançar, em 2006, seu livro Mea Culpa e entrevistar para a grande mídia, fazendo o papel de "bom velhinho" - ironizado por familiares de sua vítima Ângela Diniz. morta por ele - , os criminosos impunes passaram a sentir insatisfação de receberem apenas a impunidade da lei, buscando o surreal benefício do "apoio da sociedade".
Seis anos antes, em 2000, a imprensa ultraconservadora, a mesma que criminaliza os movimentos sociais e que, na ditadura, apoiava a prisão, tortura e morte de cidadãos inocentes, blindava outro feminicida, o jornalista Antônio Pimenta Neves, evitando colocar o caso do assassinato cometido com ele contra a colega e ex-namorada Sandra Gomide, nas páginas policiais.
O covarde crime, cometido pelo jornalista na "maturidade" de seus 63 anos na época, não podia ser colocado em retrancas policiais, sendo "elegantemente" inserida na retranca "país", como se o homicídio tivesse sido um fato nacional dos mais inocentes, e jocosamente definido pelo seu arrogante autor como "besteira".
Guilherme de Pádua, outro feminicida, que matou a colega (mas esposa de outro homem) Daniella Perez, também passou a ser tratado "elegantemente" pela grande imprensa, sendo por ela blindado quando deixou a prisão.
O ex-ator, assassino da filha da dramaturga Glória Perez e tendo praticado o crime com sua então esposa Paula Thomaz, chegou aos níveis comparáveis ao do franco-atirador que, condenado à morte, foi liberado da cadeia e deu autógrafos para as fãs, no filme O Fantasma da Liberdade, de Luís Buñuel, quando chegou a ameaçar processar a mãe da vítima por danos morais.
A alegação era de que Guilherme "se sentiu ofendido" quando Glória o chamou de psicopata, já que, depois de ter matado Daniella, o ex-ator - com passado de michê e usuário de drogas - foi "consolar" a família por causa da tragédia. Nos últimos anos, Guilherme tenta fazer sucesso como sub-celebridade a criar factoides através de entrevistas pagas pela grande mídia.
O assassinato de Daniella Perez se deu no mesmo dia do impeachment de Fernando Collor, 28 de dezembro de 1992. Collor não cometeu assassinato - no máximo, ele era um amigo de rapazes que haviam matado uma menina, em 1975, entre eles o já falecido Alfredo Buzaid Filho - , mas sim ato de corrupção, que o levou a ficar oito anos sem exercer direitos políticos.
Mas, assim como depois de seis anos de prisão, Guilherme de Pádua foi buscar a popularidade posando de vítima, Fernando Collor, depois de oito anos sem poder se eleger a qualquer cargo político, foi buscar o carisma político sob a bênção de seus opositores. Juntos, Guilherme e Fernando tentam a todo custo embarcar no revisionismo histórico dos anos 90 para ganharem reputação de "heróis da década".
Além desses exemplos, houve a patética divulgação da grande imprensa de um Farah Jorge Farah - médico que esquartejou uma ex-namorada - com cara de coitadinho, mochila de estudante e prometendo ser um "cara simpático".
Da mesma forma, o mandante da morte do ativista Chico Mendes, o fazendeiro Darly Alves, tentou se promover como "pessoa adorável". E o pai do ex-promotor Igor Ferreira (que mandou matar a esposa grávida) tentou afirmar que o filho "está bem", "não oferece perigo para a sociedade" e será um "cara legal". Detalhe: quando estava foragido, Igor chegou a ser procurado pela Interpol.
Em vários desses casos, sobretudo o de Pimenta Neves, Farah e Igor, a blindagem da grande imprensa, ainda carregada de preconceitos sociais, é notável. É a mesma imprensa cujos principais articulistas pregam a prisão perpétua dos ativistas do MST (sem-terra) e MTST (sem-teto) só porque querem um espaço digno para viverem.
IMPUNIDADE RELIGIOSA
Outro caso aberrante é a impunidade religiosa, que adota um julgamento de valor moralista digno de posturas ditatoriais, um resíduo valorativo herdado dos mais sombrios anos da Idade Media, quando se decapitava ou enforcava no claustro, ou se queimava pessoas em praça pública apenas por não seguirem a fé católica.
O "espiritismo" que usa a reencarnação como pretexto para culpabilizar as vítimas - e lembremos bem do perverso dedo acusador do "bondoso" Chico Xavier (isso mesmo), que acusou as vítimas da tragédia de um circo em Niterói, no final de 1961, de terem sido gauleses sanguinários - , chega também a "absolver" os algozes num ato presente.
Chegou-se mesmo a ser produzido, na literatura "espírita", livro que tratasse um feminicida conjugal como um "coitadinho", passando por pequenos reajustes morais que mais parecem ser surtos de angústias e depressões facilmente consoladas e confortadas.
Homicidas ou outros tipos de algozes, sejam internautas reacionários mandando mensagens ofensivas ou patrões prepotentes exigindo demais dos funcionários, são vistos pelos "espíritas" como agentes de "reajustes espirituais" ou "resgates morais" das vítimas, que estariam pagando "por outros crimes".
É o "fiado espírita" que permite que o mau-caráter faça das suas num prazo de uma encarnação, prolongada para completar toda a sua "festa" - isso quando pessoas de bom-caráter chegam a morrer cedo sem completar sua missão de vida - e pagar apenas uma ou duas encarnações depois.
"Ele será punido, com toda a certeza. Da Justiça de Deus, ele não escapa", costuma dizer o "espiritismo" brasileiro sobre cada pessoa que comete crimes ou delitos graves. Mas permite que tal tipo de pessoa fizesse toda a sua festa até o fim e chegar à idade de contar aos seus netos se seus atos valeram a pena ou não.
Mas a essas alturas, até o crime foi relativizado, porque mesmo que se arrependa dos atos na velhice, permite-se e justifica-se qualquer impulso da juventude para cometer algum mal grave, porque de que adianta a gravidade do delito cometido se ao seu autor, por mais remorsos que tenha, sempre possa ter a seu favor o "sossego da velhice", como se tivesse "cumprido bem uma boa missão".
Assim, o crime acaba compensando, seja corrupção, homicídio ou algo tão grave. A lei usa as conveniências para livrar certos culpados da cadeia. A sociedade tenta sorrir para os que se posam de pretensos coitadinhos. A religião "espírita" os denomina "justiceiros do princípio da Causalidade" e até admite punição certa para eles, mas sempre deixa "para depois".
Tais posturas só fazem agravar os desequilíbrios sociais e não contribui para o aperfeiçoamento moral das pessoas, fazendo com que a Justiça, a grande mídia e a religião, servas de sistemas de valores retrógrados, deixem de cumprir sua função de tornar a sociedade menos conflituosa e menos injusta.
domingo, 26 de julho de 2015
Caridade ou envaidecimento "espírita"?
Filas inteiras de pessoas para entrar no "centro espírita" onde Francisco Cândido Xavier atendia as pessoas. Divulgação maciça de tragédias familiares e mensagens aparentemente consoladoras, das quais quase sempre se identificava apenas a caligrafia do "médium" mineiro, além das semelhanças de linguagem e de estilo, fosse quem fosse o falecido em questão.
A "filantropia espírita" é considerada por muitos como um dos mais elevados exemplos de caridade e de amor ao próximo existentes na face da Terra. No entanto, essa visão é bastante equivocada, embora a emotividade histérica de seus seguidores jure que isso seja uma verdade indiscutível.
O perigo que observarmos em diversos casos de "caridade" no "movimento espírita", mesmo fora dos "quintais" da Federação "Espírita" Brasileira, é que eles envolvem processos de ostentação e vaidades pessoais que seus seguidores não conseguem entender.
Tomados de emoção, os adeptos do "espiritismo" brasileiro ou mesmo seguidores "independentes" e "laicos" de Chico Xavier, Divaldo Franco e outros acham que tudo é humildade, bondade, perfeição, beleza e simplicidade. Mas por trás disso tudo há uma mitologia que esconde os mais perigosos procedimentos de ilusionismo, exploração da boa-fé das pessoas e uso leviano da caridade para pura promoção pessoal.
Pesquisamos fotos de Chico Xavier e observamos que os retratos em que ele aparecia sem óculos, sobretudo nos seus primeiros anos como mito "espírita", ele apresentava um semblante muito pesado. Uma foto em que ele aparece olhando de frente chega a ser assustadora.
Tempos depois, observava-se fotos em que ele mostrava um semblante arrogante, como se estivesse se envaidecendo, em "silêncio", com sua popularidade. Certa vez, diante de uma situação bastante polêmica e desfavorável ao anti-médium, Chico afirmou, arrogante, que "bom" era que "as pessoas estavam no seu lado".
Notou-se também que, em muitas fotos, outro anti-médium, Divaldo Franco, mostrava também um semblante arrogante, forjando uma serenidade que mal conseguia esconder um ar esnobe, sobretudo quando ele estava em eventos e era recebido por autoridades e aristocratas.
Ele arrumou mais confusão com sua trajetória. Essa é a verdade. Usar o verniz da bondade não resolve, aliás complica muito mais. E comparar o "espiritismo" brasileiro à ciència que Allan Kardec tão trabalhosamente desenvolveu, mas que foi inteiramente empastelada no Brasil, até por aqueles que se diziam "fiéis" ao professor lionês, é muito, muito preocupante.
As atividades "espíritas" mostram que elas não estão aí para resolver, por definitivo, as coisas. Seu atendimento às comunidades pobres é medíocre, através de medidas paliativas, como doação de cestas básicas, roupas ou material de limpeza, que, além de não serem soluções definitivas, não são inteiramente realizadas pelos membros dos "centros espíritas", mas pelos seus frequentadores.
Que possamos ajudar a doar as coisas, tudo bem. Mas o que se vê no "espiritismo" brasileiro não é uma disposição plena de ajudar as pessoas. Nesse sentido, o ateu e "subversivo" Paulo Freire dá um banho em qualquer "espírita", promovendo um projeto educacional que ensinava as pessoas a pensar, a se mobilizar, a agir e buscar soluções por si mesmas. Covardia comparar Paulo Freire com Chico Xavier. O pernambucano dá um banho no anti-médium mineiro.
PALIATIVOS E OSTENTAÇÃO
O que poucos percebem é que a "caridade espírita" é muito limitada e de efeitos provisórios. Ela acaba mostrando, na verdade, uma exploração hipócrita da pobreza humana, comprovada pela apologia ao sofrimento difundida a partir de Chico Xavier, e serve apenas para promover as vaidades pessoais de seus "humildes filantropos".
Eles usam o pretexto da "vida futura" para defender os sofrimentos das pessoas. Sofrer em prol de um "benefício futuro", provavelmente póstumo, é uma ameaça terrível quando aparece em narrativas como o 1984 de George Orwell. Mas quando a escravidão da alma na vida presente é descrita nos livros e depoimentos de Chico Xavier, tudo vira uma "coisa linda".
Os malefícios ocultos por essa série de "caridades" é tanto que descrever todos num só texto seria complicado. Mas sabe-se que é necessária a existência de pobres e desgraçados dos mais diversos tipos para que o teatrinho da "bondade espírita" fosse encenado para promover a falsa humildade e a generosidade tendenciosa de seus líderes e astros principais.
De um lado, medidas paliativas que não resolvem. Não bastasse as cestas básicas serem dadas praticamente só pelos frequentadores dos "centros espíritas" - há quem, num desses "centros", confisque algum material doado para o usufruto pessoal - , elas são insuficientes para resolver por definitivo a pobreza, não passando de meras esmolas.
As pessoas pobres têm o trabalho de saírem de suas favelas, de suas casas, andar alguns metros e talvez uns certos quilômetros, para o "centro espírita" que fornece tais materiais de doação. E sabe-se que são poucas coisas, e elas se consomem rapidamente. Os pobres continuam sem condições de emancipação, e, quando a doação se esgota, os pobres voltam à mesma condição desgraçada de antes.
Por outro lado, os figurões "espíritas" acabam se vangloriando, à maneira deles, sempre procurando desmentir vaidades pessoais que, no fundo, sentem no íntimo de suas almas. Criam até um clima de pieguice, com trilha sonora e tudo, para criar um verniz de beleza que favoreça a adoração plena de seus seguidores.
Outro caso a observar é a exploração das tragédias familiares, que se torna um caso explícito de sensacionalismo publicitário. A falsa consolação "espírita" não é suficiente para resolver a situação, e os dramas familiares se prolongam pela exploração midiática, porque a sociedade acaba falando dessas tragédias, que poderiam se dissolver em poucos dias na privacidade familiar.
Pouco importam se os "médiuns" inventaram mensagens em que, usando os nomes dos mortos, aleguem que "eles estão bem". Misto de charlatanismo e exploração da comoção dos entes que ficam, eles prolongam demais as tragédias, que passam a ser comentadas em qualquer lugar, multiplicadas pela divulgação midiática, e desta forma o que poderia ser uma tragédia a ser encarada no sossego da privacidade, torna-se um espetáculo a promover o "movimento espírita".
E ainda há a indústria de livros que, a pretexto de produzir mensagens "positivas" e "lindas lições de vida", expressa péssima literatura, difunde valores morais duvidosos e apresenta até mesmo erros históricos, sociológicos e até geográficos grosseiros. É válido emburrecer em nome da caridade?
Tudo acaba virando pretexto para encher "centros espíritas" de adeptos, de promover a fama do suposto médium, usar famílias que vivem na pobreza ou que perderam entes queridos para forjar uma "bondade" que não é mais do que tendenciosa e oportunista. Só que tudo isso não passa de um engenhoso e bem-sucedido golpe de marketing.
sábado, 25 de julho de 2015
O caso Sandra Bland, racismo e "reajustes espirituais"
Um caso recente de violência policial e racismo, ocorrido nos EUA já marcados por intensas tensões raciais, um interminável conflito entre a violência policial e os protestos do povo negro que não raro sucumbe a vandalismos e saques, mostra o quanto o país mais poderoso do continente americano ainda não resolveu suas neuroses sociais.
Enquanto o Brasil começa a sentir o macartismo tosco do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, equivalente "tropical" do senador estadunidense Joseph McCarthy (1908-1957), famoso pelo seu reacionarismo descomunal, os EUA de hoje ainda têm a atuação do grupo nazista Klu Klux Klan e uma metodologia policial branca que age com truculência contra negros.
Um negro chegou a ser baleado mortalmente só porque estava correndo e não atendeu a um chamado de um guarda. E agora, é o caso de uma mulher negra que, detida por desobedecer regras de trânsito e de ter dito a um policial que ela tinha o direito de fumar dentro de seu próprio carro, apareceu morta por estrangulamento na sua cela no último dia 13 de julho.
Para piorar, antes de Sandra Bland, a mulher em questão, de apenas 28 anos, ser levada para a prisão, o policial que a deteve a tirou do carro, jogou-a no chão e ainda a ameaçou com uma arma de choque elétrico. O episódio chocou a sociedade mundial e impulsionou hashtags (palavras-chave) nas mídias sociais, como #WhatHappenedtoSandyBland e #JusticeforSandy.
POLICIAIS QUE MATARAM SANDRA BLAND USARAM A MESMA DESCULPA DOS MILITARES BRASILEIROS QUE MATARAM O JORNALISTA VLADIMIR HERZOG: QUE A VÍTIMA "SE SUICIDOU".
Cínicos e hipócritas, os policiais alegaram que a vítima encontrada morta "se suicidou", na tentativa vã de não assumirem a culpa pela morte dela. É a mesma desculpa que, há 40 anos (a serem completados em outubro), os militares do DOI-CODI, órgão de repressão da ditadura militar, usaram para "explicar" a morte do jornalista Vladimir Herzog, diretor da TV Cultura de São Paulo.
Herzog foi condenado à prisão porque boicotou uma cerimônia de inauguração de uma obra do Governo de São Paulo, manifestando um claro protesto contra a hipocrisia ditatorial. Na Assembleia Legislativa paulista, alguns parlamentares discursavam irritados contra o boicote, e entre os que pediram a prisão de Herzog foi José Maria Marín, hoje dirigente esportivo envolvido em corrupção.
PROTESTOS
Vários famosos se manifestaram contra o assassinato de Sandra Bland. A modelo e atriz Cara Delevigne, as atrizes Chloe Grace Moretz (de Kick Ass 1 e 2, a Invenção de Hugo Cabret e Se Eu Ficar) e as negras Gabrielle Union (de As Apimentadas) Amandla Stenberg (de Jogos Vorazes), a modelo brasileira Carol Trentini e a cantora Nicky Minaj expressaram solidariedade à vítima.
Também negros, o rapper Snoop Dogg e a atriz Kerry Washington (do seriado Scandal) também se manifestaram contra a violência, que foi mais um dos inúmeros fatos que expressam a tragédia envolvendo racismo nos EUA.
Recentemente, um jovem branco que assistiu a uma missa protestante negra decidiu assassinar nove pessoas por puro ódio. Ele foi detido e aguarda julgamento pelo ato. O jovem usou um revólver que havia recebido de presente de aniversário do pai.
Fatos como este e a absolvição de policiais brancos que assassinaram negros causam intensas revoltas sociais, que variam desde protestos pacíficos por iniciativa de populações negras até casos em que pobres negros revoltados chegam a incendiar carros e saquear mercados, indignados com a impunidade.
"REAJUSTES ESPIRITUAIS"
O "movimento espírita" brasileiro não tem uma visão generosa da negritude. Tenta "apreciá-la" de maneira "positiva", mas sua apreciação é contraditória, já que ideologicamente a doutrina encara o fato de ser negro como um "castigo" e uma forma de "expiação" por pecados cometidos em relação a questões raciais ou sócio-econômicas.
A doutrina também peca pela ênfase na culpabilidade das vítimas. Seus membros tentam argumentar que as vítimas "merecem atenção, respeito e carinho", mas não deixam de apontar o dedo acusador supondo nos sofredores alguma punição do passado, generalizando a suposição de que todo brasileiro teria sido um cidadão romano em alguma encarnação passada.
Por isso, o "espiritismo" brasileiro tornou-se a pior doutrina religiosa para quem quiser se livrar de algum sofrimento ou empecilhos na vida. Quem faz tratamento espiritual acaba não apenas se livrando desses problemas, como acaba contraindo outros, após uns poucos dias de "tranquilidade" após a tendenciosa terapia.
E o que os "espíritas" dirão de Sandra Bland? Que ela é reencarnação de uma aristocrata romana? Que ela "atraiu" seu destino porque foi agressiva com o policial? Ou porque ela teria que cumprir essa "triste sina" para expiar e fazer os seus "resgates morais".
Evidentemente, os ideólogos "espíritas", vivendo no seu conforto vital, não percebem os sofrimentos e o desrespeito que outros têm que encarar. Menosprezam o verdadeiro sentido das injustiças e tentam arrumar desculpas para a gravidade de muitos sofrimentos.
Além disso, eles condenam severamente o suicídio, enquanto relativizam o homicídio como "forma de pagamento de crimes". Tentam argumentar que os homicidas "terão o que merecem", mas para daqui a cem anos. Visão não menos cruel do que policiais que matam detentos inocentes e alegam que eles "se suicidaram". As vítimas acabam ficando com o lado pior da culpa.
sexta-feira, 24 de julho de 2015
Chico Xavier e sua "ajuda" depois do "leite derramado"
O sensacionalismo, quando relacionado à produção de comoção popular e histeria fanática em torno de uma figura religiosa, é um fenômeno considerado bem-sucedido num país com pouco esclarecimento até entre os que se supõem relativamente esclarecidos.
Pois é esse sensacionalismo que faz Francisco Cândido Xavier estar acima de todas as coisas. Seus seguidores mais apaixonados, ou mesmo os espíritas autênticos esforçados, mas pouco vigilantes, endeusam o anti-médium como um suposto consolador e um pretenso misto de pensador e filantropo.
Se autopromovendo pela ostentação das tragédias humanas e pela sua suposta missão de consolador, Chico Xavier sempre foi conhecido como "o homem que enxugou lágrimas". Grande coisa. Pois o que ele fez foi apenas propaganda de si mesmo às custas da exploração das desgraças alheias, impedindo que pessoas sofressem as perdas de entes queridos na privacidade.
Com a ostentação, Chico Xavier prolongava os efeitos chorosos das tragédias, e sua pretensa consolação expunha o caráter patético de pessoas de boa-fé, pegas desprevenidas na sua tristeza extrema, agora obrigadas a ver suas reações levada a público, para o "bem" (ou melhor, o mal) do pernicioso sensacionalismo "espírita".
As pessoas não podem mais chorar no seu íntimo, na sua privacidade. A perda dos entes queridos se torna um espetáculo circense. As mortes prematuras se tornam um espetáculo de puro exotismo, simbolizando uma morbidez que beira ao sensualismo que Chico Xavier tanto dizia "condenar".
Pois não há volúpia maior do que explorar as mortes de jovens geralmente de aparência atraente e cheios de planos na vida e, com isso, movimentar toda uma indústria de "cartas espirituais" que só vinham das mentes de supostos médiuns, um mau exemplo que já foi puxado por Chico Xavier, da forma mais explícita e escancarada possível.
Aí que está o pior. As famílias não podem sofrer a perda de entes queridos na privacidade. Já é um grande trabalho, por exemplo, comunicar a parentes sobre o falecimento de um filho, "graças" ao "todo-maravilhoso" Chico Xavier essas famílias estão sujeitas a expor até à imprensa policialesca a respeito disso. A tragédia que poderia durar uma semana se prolonga por vários anos.
E aí, quando essas famílias acreditam que recebem mensagens espirituais dos próprios entes queridos, elas não passam de um reles propagandismo religioso que lembra muito o estilo dos respectivos supostos médiuns que as escreveram, mas pouco ou nada lembram, com fidelidade, o que os mortos haviam sido, e mesmo as semelhanças não escondem aberrantes diferenças.
As "mensagens espirituais" viraram uma grande indústria, feita para vender livros e enriquecer os dirigentes "espíritas". Aparentemente, Chico Xavier abria mão dos lucros, mas recebia da FEB todo o conforto e, da grande mídia, a reputação de um verdadeiro astro pop. Tinha fama, virava celebridade, e se vangloriava disso. E fingia uma humildade que seus seguidores juram ser "verdadeira".
Um exemplo dessa indústria é o livro Enxugando Lágrimas, de 1978, aparentemente um trabalho conjunto entre Xavier e Elias Barbosa, outro suposto médium. Nesse livro aparecem supostas cartas de entes queridos falecidos, que mostram o habitual propagandismo religioso, que corresponde ao sutil e habilidoso proselitismo "espírita", geralmente nunca assumido.
Pois é muito fácil "enxugar lágrimas" quando a tragédia aconteceu. Botar a mão no ombro de quem perdeu tudo ou perdeu algo muito importante, é facílimo, porque é extremamente fácil o socorro vir depois que algum grave prejuízo aconteceu.
Daí que não é muito difícil percebermos, ao ver programas de TV do especialista em sobrevivência humana, o militar inglês Edward "Bear" Grylls, e constatar que o britânico está muito à frente de Chico Xavier, porque, enquanto este só "chega" depois da tragédia ocorrida, Bear Grylls previne tragédias.
Os programas de Bear Grylls são um grande preventivo de tragédias. É claro que ninguém vai sair por aí imitando o que ele faz sem ter preparo nem cautela, mas Bear permite que estudemos os meios de sobreviver a um infortúnio, evitar o perigo e nos protegermos contra males e prejuízos diversos.
O "espiritismo", tão "iluminado" e "sábio", nem consegue prevenir as pessoas de não sofrer um acidente automobilístico aqui, um latrocínio ali, ou se casar com cônjuges que não passam de inimigos mortais em potencial. E, sádico, ainda inventa que, se houve algum infortúnio, é porque a vítima estava cometendo um "reajuste espiritual".
Por isso Chico Xavier perdeu muito e não merece ter a reputação que possui, de vez em quando seduzindo até aqueles que se dizem ou pretendam ser espíritas autênticos. Chico, se fosse bombeiro, só viria depois que tudo fosse reduzido a cinzas e os moradores das casas fossem mortos pelo fogo. Isso é consolação? Não. Mais parece desolação, mesmo.
quinta-feira, 23 de julho de 2015
'Cinco Dias no Umbral' e 'Colônia Espiritual Amor e Caridade' reciclam temática de Nosso Lar
Quando a indústria de livros "espíritas" parecia ter se esgotado, eis que novos lançamentos tentam repetir as mesmas temáticas místicas e surreais da espiritualidade, sempre juntando propaganda religiosa e pseudo-ciência mais próximo do esotérico.
O "médium" niteroiense Osmar Barbosa divulga dois livros que exploram a mesma temática de Nosso Lar, com todos os aspectos surreais da pretensa vida espiritual, com dados imaginários trazidos através das obras de "André Luiz" por Chico Xavier e descritos e desenvolvidos à revelia da Ciência Espírita de Allan Kardec e do Espírito de Verdade.
Só que, em vez de colocar umbral e colônia espiritual num mesmo livro, Osmar, talvez visando produzir mais livros em vez de um e vender mais "para a caridade", dividiu a narrativa em dois: Cinco Dias no Umbral e Colônia Espiritual Amor & Caridade.
O primeiro livro, atribuído ao "espírito" Nina Brestonini, conta a história desta jovem, que teria falecido aos 24 anos de um problema no coração. Era muito bonita e atraente, segundo sugere a modelo que posou para a capa do referido livro.
A menina teria se despertado numa enfermaria da Colônia Espiritual Amor & Caridade, recebendo tratamento durante um tempo e, uma vez recuperada, foi designada a acompanhar um grupo de missionários, definidos como "caravana de luz", que passariam cinco dias em uma região sombria de espíritos mórbidos que os "espíritas" entendem como "umbral".
Sabe-se que correntes do "movimento espírita" se desentendem quanto ao nível moral do "umbral", para uns vistos como "inferno", outros como "purgatório". Mas, a julgar por obras como Nosso Lar e o livro de Osmar, o "umbral" é visto como na primeira opção, a do "inferno".
A ideia é mostrar aquela mesma pregação "espírita" dos "reajustes espirituais" e "resgates morais", envolvendo perigos, sofrimentos e trazendo a "lição" de que "por que nem sempre compreendemos as lições das esferas superiores", eufemismo para entender que, quando tudo ocorre errado em nossas vidas, temos que aceitar tudo isso porque é uma forma de "reajuste espiritual".
Então, vem o segundo livro, que Osmar não credita a autoria a um "espírito" específico. Trata-se do "explicativo" livro Colônia Espiritual Amor & Caridade, que descreve "diálogos" com "espíritos diversos" reportando sobre a suposta colônia e detalhando os aspectos que viram lá, desde a arquitetura "futurista" até a hierarquia funcional e seus trabalhos.
A capa já sugere isso, com uma cidade feita à maneira das ficções científicas, com pessoas vestindo roupões azulados. Uma criança (?!) aparece falando com alguém que está de costas. Há árvores e arbustos ao redor, além de uma relva com um caminho para os transeuntes percorrerem seu campo.
Esteticamente, lembra muito o que se via nos desenhos da Família Halley, que tentou fazer sucesso através de um especial da Rede Globo de 30 anos atrás, cuja trilha sonora incluiu a interessante "Planeta Morto" dos Titãs e uma versão "rock de arena" de "A Canção do Senhor da Guerra", da Legião Urbana, reprovada pelo grupo do saudoso Renato Russo.
ALLAN KARDEC NUNCA FALOU QUE UMBRAL EXISTIA
A ilustração acima, usada pela editora Fraternidade Espírita, pertencente à instituição do mesmo nome, reforça o pretensiosismo que a atual fase do "movimento espírita", adotada desde 1975, expressa: o suposto rigor na fidelidade ao pensamento de Allan Kardec.
Há um círculo envolvendo a foto do pedagogo francês com as expressões "Fraternidade Espiritualista" e "Amor e Caridade" escritas no idioma do país europeu. Tudo para forjar um vínculo "rigoroso" com a doutrina original de Kardec, que na prática, todavia, não ocorre.
Afinal, nunca em suas obras Kardec havia descrito que o umbral existia, nem falou sobre a existência das colônias espirituais. É verdade que ele viveu num tempo em que não foram alcançadas muitas das descobertas de hoje, tanto na tecnologia quanto no âmbito do desconhecimento, mas Kardec continua atualíssimo ao descrever a vida espiritual como diferente de nossa compreensão materialista.
É ainda um grande mistério a vida espiritual, mas o que se sabe é que não existem zonas geológicas inferiores, como muitos tentam imaginar através da figura fictícia de ambientes que misturam cavernas, esgotos e áreas pedregosas e selvagens. Não existem pesquisas que possam afirmar como realmente é o mundo espiritual.
O que é certo, tomando como base o raciocínio deixado por Allan Kardec na sua trabalhosa obra em que ele procurou nos esclarecer o máximo possível sobre a natureza espírita, é que o "umbral", na verdade, não passa de uma sensação emocional do espírito atormentado, nada tendo a ver com um ambiente equiparado a uma dimensão física no mundo espiritual.
Ou seja, não há uma zona cavernosa, um lodaçal ou uma selva na vida espiritual. O que há é uma sensação de mal-estar de espíritos que faleceram deixando como legado, na vida terrena encerrada, erros gravíssimos e prejuízos sérios.
A vida terrena nos dá essa sensação de humor. Na vida cotidiana, há dias de sol que parecem bastante horríveis, porque estamos mal-humorados, brigamos com alguém ou tivemos algum prejuízo sério. Por outro lado, podem haver dias de tempestade maravilhosíssimos, em que estamos com bom humor e ao lado de pessoas que gostamos e com as quais estabelecemos excelente relação social.
O que Allan Kardec quer dizer é que, no mundo espiritual, o que há são sensações espirituais de bem ou mal-estar, conforme a situação. Nada a ver com umbrais ou colônias espirituais, que não passam de formas ficcionais de cunho materialista, uma espécie de ficção científica ruim e feita sob a pretensão de parecer "realista", "científica" e "verídica".
quarta-feira, 22 de julho de 2015
Brasil, país estatisticamente varonil
CICLISTA FOI ASSASSINADA POR LADRÕES QUANDO PASSEAVA COM O MARIDO NUMA CICLOVIA DA RODOVIA FERNÃO DIAS, EM SÃO PAULO.
O Brasil tem mais mulheres que homens na sua população? Oficialmente, sim, e isso aparentemente alivia tanto os machistas quanto as feministas, porque os primeiros têm a "mulherada" em fartura para escolherem para o ato sexual e as segundas porque ganham mais "quórum" para sua mobilização política.
Mas um dado estranhíssimo põe em xeque a questão. Segundo dados do CENSO do IBGE de 1960, portanto, 55 anos atrás, do total de 70.070.457 brasileiros, 35.055.457 eram homens e 35.015.000 mulheres. Era uma proporção de cerca de 102 homens para cada grupo de 100 mulheres.
De acordo com o Censo 2010, a população hoje é estimada em 190.755.799 habitantes. sendo 93.406.990 homens e 97.348.809 mulheres. Ou seja, uma proporção de 96 homens para 100 mulheres, de acordo com os dados oficiais.
Só que existe um grande problema. Em 1960, as mulheres praticamente viviam "reclusas". Hoje em dia, é certo que as mulheres têm maior liberdade do que há 55 anos, mas elas também se tornaram mais vulneráveis a tragédias das mais diversas.
Os noticiários mostram uma altíssima mortalidade de mulheres, seja por feminicídio, acidentes de trânsito, erros médicos, latrocínio, balas perdidas e outras tragédias, que desde os anos 1970 são intensas e constantes. Só pelo feminicídio, entre 2000 e 2010, 43 mil mulheres foram vítimas, segundo dados divulgados pela Comissão Mista Parlamentar de Inquérito da Câmara dos Deputados sobre a violência contra a mulher.
É verdade que também muitos homens acabam sendo mortos em maior quantidade que em 1960, mas não chega a ser com diferença "estratosférica" do que antes. Além do mais, na vida social, observa-se mais homens solteiros do que mulheres solteiras, e a carência amorosa dos homens é mais frequente, como se observa nas mídias sociais.
Por outro lado, as mulheres, quando reclamam que "está faltando homem", estão cometendo um eufemismo, já que, na vida noturna - que o "dialeto" dos barões da grande mídia define como "balada" - elas costumam ser assediadas por uma média de três homens a cada noite.
"Não haver homem", neste caso, é apenas um eufemismo correspondente a "não bebo" em relação a "não consumir bebidas alcoólicas". Há uma elipse, pois, da mesma forma que certas pessoas "não bebem (bebida alcoólica)", "não existem homens (atraentes)" nas casas noturnas. "Atraente" e "bonito" são os termos ocultos da elipse.
CRITÉRIOS DA DITADURA
A grande queixa que se faz do Censo do IBGE é que, a partir de 1970, começaram a valer critérios de avaliação estatística duvidosos, que naquele tempo atendiam a interesses turísticos e econômicos estratégicos, afinal, era a época do "milagre brasileiro" e dos arbítrios surreais do AI-5.
Era o auge da ditadura militar e o Brasil, apesar dos reflexos da Contracultura mundial, ainda se mantinha "careta". Naqueles tempos, ainda resistiam valores voltados ao machismo e ao racismo, e os dados estatísticos eram manipulados assim como se manipulavam, por meio da censura, as pautas a serem publicadas pela imprensa ou pelo entretenimento em geral, sobretudo de rádio e TV.
A partir do Censo de 1970, a ideia de "domicílio" passou a ser confusa. Se você, por exemplo, está lanchando um pastel numa confeitaria e declarar para o recenseador na ocasião, você é "habitante" desta confeitaria.
Outro dado neste sentido é quando, numa casa onde moram uma mulher, seu marido e seus filhos, o marido ainda não chegou em casa, ele "não existe". Ele "não habita" a casa, logo, ele "não existe" porque simplesmente não estava em casa quando o recenseador entrou no recinto para entrevistar a família.
Enquanto isso, nota-se que, quem se desloca daqui e ali de maneira indefinida, à revelia dos recenseadores, simplesmente "não existe" no Censo. Principalmente homens. E aí nota-se um número enorme de homens que, por migrarem de longínquas cidades do interior para morar nas entranhas das favelas ou viver sob as pontes e sobre os calçadões das ruas, "não existem" para o IBGE.
Interesses políticos de coronéis do interior evitam que os emigrantes de suas pequenas cidades, quando passam a viver nas capitais, sejam creditados às populações destas. Por isso é que as capitais nordestinas, por exemplo, são tidas como de população "majoritariamente feminina" quando a realidade aponta o contrário.
Para reforçar o mito das "cidades-mulheres" litorâneas, a "indústria" do censo aliada ao mercado hoteleiro ou mesmo ao entretenimento, apelam até mesmo para visões fora da realidade, como a do homem do interior que "não faz questão" de viver próximo à praia e de mulheres igualmente interioranas que ainda brincam de boneca e vão sozinhas para viver nas capitais.
MACHISMO E RACISMO
Hoje, o Censo do IBGE ainda não superou os critérios vigentes na ditadura militar e não consegue explicar por que, com o aumento de mortes violentas contra mulheres, além de infortúnios como acidentes de trânsito e erros médicos, elas "são maioria" na população.
Por outro lado, é de se surpreender que tantos homens, negros e pobres, vindos sobretudo de cidades perdidas no interior, não chegam sequer a serem números no Censo, e só se tornam a ser estatisticamente identificáveis quando aparecem mortos em alguma ocorrência criminal.
Muitas mulheres que aparecem "vivas" no Censo de 2010 já foram mortas por algum motivo, não raro ainda na tenra idade. Os últimos noticiários apontavam, entre outras coisas, uma menina gaúcha de 11 anos misteriosamente assassinada no Rio Grande do Sul e uma ciclista morta por um ladrão quando ela passeava com o marido numa ciclovia na Rodovia Fernão Dias (SP).
E se as mulheres que hoje são mortas ainda "vivem" nos papéis estatísticos do IBGE, o que significa que, se existem oito mulheres para cada homem, só mesmo sendo médium para se relacionar com metade delas, homens que nem números estatísticos puderam ser só são "alguém na vida" (ou melhor, na morte) através dos boletins policiais.
Há que se destacar também os homens que viajam a negócios, que, por estarem virtualmente em aviões ou outros meios de transporte, também "não existem" no Censo. Tidos como "cidadãos do mundo", eles nem "fazem falta" para os dados estatísticos, apesar de vários deles serem brasileiros ou residentes no país e serem muito bem casados por mulheres que acabam tendo status de "solteiras" nos papéis estatísticos.
A herança ditatorial do método de recensear o Brasil, reflexo dos interesses políticos aliados ao mercado turístico e à geração de empregos criou essas manobras que impedem que se registre a população "no fundo" das favelas.
Esta omissão seria uma forma de evitar o aumento da dívida social, já que, se creditarem as centenas de milhares de homens que moram em áreas pobres e de difícil acesso, denunciaria um quadro que obrigaria os governantes a investirem mais para reduzir casos de desemprego e miséria a aparecerem nestes casos.
Só que, sendo a maioria deles negros, índios ou mestiços de qualquer tipo, há um aspecto racista promovido pelo método ditatorial. A intenção racista pode ter desaparecido nos censos mais recentes, mas o método não, já que os critérios de 1970 continuam valendo até hoje.
A ideia machista marcada pelo mercado turístico - vamos deixar de ser politicamente corretos, já que a erotização, desde que seja mais sutil e implícita, é estimulada pelo turismo, assim como existem manifestações machistas na publicidade e na "cultura popular" difundida pela grande mídia - também é um dado a se refletir.
Afinal, a ênfase da ideia fantasiosa das "cidades sensuais", como se atribui a capitais como Rio de Janeiro, Recife e Salvador, à maneira do que se faz com o Caribe e com Miami, nos EUA, é uma forma de atrair investidores e empregados (sobretudo da construção civil), majoritariamente masculinos.
Esconde-se uma multidão surpreendentemente enorme de homens pobres, vindos do interior mas estatisticamente a ele vinculados, por debaixo do tapete suburbano que não cabe ser mostrado nos releases turísticos, embora seja de gente com iguais condições de trabalhar pelo turismo em relação aos forasteiros que o turismo quer atrair.
Na verdade, os interesses do mercado hoteleiro e da especulação imobiliária fazem com que se manipulem os dados estatísticos que garantem o sono tranquilo de machistas sexualmente afoitos e feministas sedentas de engajamento político.
Mas, em compensação, um preocupantemente grande número de mulheres, muitas delas ainda jovens, preenche os obituários juntamente com homens, sobretudo negros e pobres, surgidos do "nada" estatístico para os boletins policiais, escondidos por debaixo do tapete do fantasioso "Brasil-mulher" que o Censo do IBGE acaba impondo como pretensa realidade.
O Brasil estatisticamente varonil é muito indigesto para os interesses do mercado e da especulação imobiliária.
O Brasil tem mais mulheres que homens na sua população? Oficialmente, sim, e isso aparentemente alivia tanto os machistas quanto as feministas, porque os primeiros têm a "mulherada" em fartura para escolherem para o ato sexual e as segundas porque ganham mais "quórum" para sua mobilização política.
Mas um dado estranhíssimo põe em xeque a questão. Segundo dados do CENSO do IBGE de 1960, portanto, 55 anos atrás, do total de 70.070.457 brasileiros, 35.055.457 eram homens e 35.015.000 mulheres. Era uma proporção de cerca de 102 homens para cada grupo de 100 mulheres.
De acordo com o Censo 2010, a população hoje é estimada em 190.755.799 habitantes. sendo 93.406.990 homens e 97.348.809 mulheres. Ou seja, uma proporção de 96 homens para 100 mulheres, de acordo com os dados oficiais.
Só que existe um grande problema. Em 1960, as mulheres praticamente viviam "reclusas". Hoje em dia, é certo que as mulheres têm maior liberdade do que há 55 anos, mas elas também se tornaram mais vulneráveis a tragédias das mais diversas.
Os noticiários mostram uma altíssima mortalidade de mulheres, seja por feminicídio, acidentes de trânsito, erros médicos, latrocínio, balas perdidas e outras tragédias, que desde os anos 1970 são intensas e constantes. Só pelo feminicídio, entre 2000 e 2010, 43 mil mulheres foram vítimas, segundo dados divulgados pela Comissão Mista Parlamentar de Inquérito da Câmara dos Deputados sobre a violência contra a mulher.
É verdade que também muitos homens acabam sendo mortos em maior quantidade que em 1960, mas não chega a ser com diferença "estratosférica" do que antes. Além do mais, na vida social, observa-se mais homens solteiros do que mulheres solteiras, e a carência amorosa dos homens é mais frequente, como se observa nas mídias sociais.
Por outro lado, as mulheres, quando reclamam que "está faltando homem", estão cometendo um eufemismo, já que, na vida noturna - que o "dialeto" dos barões da grande mídia define como "balada" - elas costumam ser assediadas por uma média de três homens a cada noite.
"Não haver homem", neste caso, é apenas um eufemismo correspondente a "não bebo" em relação a "não consumir bebidas alcoólicas". Há uma elipse, pois, da mesma forma que certas pessoas "não bebem (bebida alcoólica)", "não existem homens (atraentes)" nas casas noturnas. "Atraente" e "bonito" são os termos ocultos da elipse.
CRITÉRIOS DA DITADURA
A grande queixa que se faz do Censo do IBGE é que, a partir de 1970, começaram a valer critérios de avaliação estatística duvidosos, que naquele tempo atendiam a interesses turísticos e econômicos estratégicos, afinal, era a época do "milagre brasileiro" e dos arbítrios surreais do AI-5.
Era o auge da ditadura militar e o Brasil, apesar dos reflexos da Contracultura mundial, ainda se mantinha "careta". Naqueles tempos, ainda resistiam valores voltados ao machismo e ao racismo, e os dados estatísticos eram manipulados assim como se manipulavam, por meio da censura, as pautas a serem publicadas pela imprensa ou pelo entretenimento em geral, sobretudo de rádio e TV.
A partir do Censo de 1970, a ideia de "domicílio" passou a ser confusa. Se você, por exemplo, está lanchando um pastel numa confeitaria e declarar para o recenseador na ocasião, você é "habitante" desta confeitaria.
Outro dado neste sentido é quando, numa casa onde moram uma mulher, seu marido e seus filhos, o marido ainda não chegou em casa, ele "não existe". Ele "não habita" a casa, logo, ele "não existe" porque simplesmente não estava em casa quando o recenseador entrou no recinto para entrevistar a família.
Enquanto isso, nota-se que, quem se desloca daqui e ali de maneira indefinida, à revelia dos recenseadores, simplesmente "não existe" no Censo. Principalmente homens. E aí nota-se um número enorme de homens que, por migrarem de longínquas cidades do interior para morar nas entranhas das favelas ou viver sob as pontes e sobre os calçadões das ruas, "não existem" para o IBGE.
Interesses políticos de coronéis do interior evitam que os emigrantes de suas pequenas cidades, quando passam a viver nas capitais, sejam creditados às populações destas. Por isso é que as capitais nordestinas, por exemplo, são tidas como de população "majoritariamente feminina" quando a realidade aponta o contrário.
Para reforçar o mito das "cidades-mulheres" litorâneas, a "indústria" do censo aliada ao mercado hoteleiro ou mesmo ao entretenimento, apelam até mesmo para visões fora da realidade, como a do homem do interior que "não faz questão" de viver próximo à praia e de mulheres igualmente interioranas que ainda brincam de boneca e vão sozinhas para viver nas capitais.
MACHISMO E RACISMO
Hoje, o Censo do IBGE ainda não superou os critérios vigentes na ditadura militar e não consegue explicar por que, com o aumento de mortes violentas contra mulheres, além de infortúnios como acidentes de trânsito e erros médicos, elas "são maioria" na população.
Por outro lado, é de se surpreender que tantos homens, negros e pobres, vindos sobretudo de cidades perdidas no interior, não chegam sequer a serem números no Censo, e só se tornam a ser estatisticamente identificáveis quando aparecem mortos em alguma ocorrência criminal.
Muitas mulheres que aparecem "vivas" no Censo de 2010 já foram mortas por algum motivo, não raro ainda na tenra idade. Os últimos noticiários apontavam, entre outras coisas, uma menina gaúcha de 11 anos misteriosamente assassinada no Rio Grande do Sul e uma ciclista morta por um ladrão quando ela passeava com o marido numa ciclovia na Rodovia Fernão Dias (SP).
E se as mulheres que hoje são mortas ainda "vivem" nos papéis estatísticos do IBGE, o que significa que, se existem oito mulheres para cada homem, só mesmo sendo médium para se relacionar com metade delas, homens que nem números estatísticos puderam ser só são "alguém na vida" (ou melhor, na morte) através dos boletins policiais.
Há que se destacar também os homens que viajam a negócios, que, por estarem virtualmente em aviões ou outros meios de transporte, também "não existem" no Censo. Tidos como "cidadãos do mundo", eles nem "fazem falta" para os dados estatísticos, apesar de vários deles serem brasileiros ou residentes no país e serem muito bem casados por mulheres que acabam tendo status de "solteiras" nos papéis estatísticos.
A herança ditatorial do método de recensear o Brasil, reflexo dos interesses políticos aliados ao mercado turístico e à geração de empregos criou essas manobras que impedem que se registre a população "no fundo" das favelas.
Esta omissão seria uma forma de evitar o aumento da dívida social, já que, se creditarem as centenas de milhares de homens que moram em áreas pobres e de difícil acesso, denunciaria um quadro que obrigaria os governantes a investirem mais para reduzir casos de desemprego e miséria a aparecerem nestes casos.
Só que, sendo a maioria deles negros, índios ou mestiços de qualquer tipo, há um aspecto racista promovido pelo método ditatorial. A intenção racista pode ter desaparecido nos censos mais recentes, mas o método não, já que os critérios de 1970 continuam valendo até hoje.
A ideia machista marcada pelo mercado turístico - vamos deixar de ser politicamente corretos, já que a erotização, desde que seja mais sutil e implícita, é estimulada pelo turismo, assim como existem manifestações machistas na publicidade e na "cultura popular" difundida pela grande mídia - também é um dado a se refletir.
Afinal, a ênfase da ideia fantasiosa das "cidades sensuais", como se atribui a capitais como Rio de Janeiro, Recife e Salvador, à maneira do que se faz com o Caribe e com Miami, nos EUA, é uma forma de atrair investidores e empregados (sobretudo da construção civil), majoritariamente masculinos.
Esconde-se uma multidão surpreendentemente enorme de homens pobres, vindos do interior mas estatisticamente a ele vinculados, por debaixo do tapete suburbano que não cabe ser mostrado nos releases turísticos, embora seja de gente com iguais condições de trabalhar pelo turismo em relação aos forasteiros que o turismo quer atrair.
Na verdade, os interesses do mercado hoteleiro e da especulação imobiliária fazem com que se manipulem os dados estatísticos que garantem o sono tranquilo de machistas sexualmente afoitos e feministas sedentas de engajamento político.
Mas, em compensação, um preocupantemente grande número de mulheres, muitas delas ainda jovens, preenche os obituários juntamente com homens, sobretudo negros e pobres, surgidos do "nada" estatístico para os boletins policiais, escondidos por debaixo do tapete do fantasioso "Brasil-mulher" que o Censo do IBGE acaba impondo como pretensa realidade.
O Brasil estatisticamente varonil é muito indigesto para os interesses do mercado e da especulação imobiliária.
terça-feira, 21 de julho de 2015
Desespero atinge "movimento espírita"
A multiplicação dos questionamentos acerca dos erros que o "movimento espírita" fez em 131 anos de existência, vários deles gravíssimos e que geraram muitos escândalos, faz com que os seguidores reagissem com desespero e apreensão.
Agora, a Internet não somente relembra os antigos escândalos, como os amplia, da mesma forma como divulga e amplia os mais recentes, assim como revela outros mais antigos que estavam ocultos até agora. E como reagem os "espíritas" diante de tudo isso?
Reagem da pior forma possível. Mantém-se a postura contraditória que passaram a ter nos últimos 40 anos, quando a crise roustanguista fez com que o "movimento espírita" deixasse a defesa entusiasmada ao advogado que primeiro distorceu a Doutrina Espírita para adotar uma postura dúbia. E olha que a cúpula da Federação "Espírita" Brasileira voltou a ser abertamente roustanguista.
Essa postura dúbia da maior parte dos "espíritas", manifesta em muitos blogues e depoimentos à imprensa, além de, é claro, nas palestras em "centros espíritas" ou congressos relacionados à doutrina, consiste em uma aparente defesa da fidelidade doutrinária a Allan Kardec, mas mantendo práticas que correspondem à linha roustanguista, mas de uma maneira mais acanhada.
De um lado, evocações um tanto pedantes à ciência e um grande desfile de citações de personalidades intelectuais genuínas, sejam filósofos, físicos, sociólogos, químicos, astrofísicos, ou mesmo poetas de grandiosa relevância cultural. Ativistas de grande valor também apareciam nos textos "espíritas".
De outro, havia a manutenção da credulidade de uma falsa mediunidade, tida como verídica mesmo quando distorções graves, como o estilo do suposto médium e o propagandismo religioso, são facilmente identificáveis.
Tudo vira um círculo vicioso. Enquanto há todo um blablablá em prol da ciência, enquanto seus adeptos pregam "coerência espírita", citando Kardec, Erasto e até o Controle Universal do Ensino dos Espíritos, há também o endeusamento a Chico Xavier, Divaldo Franco e à crendice nas suas mistificações.
Essa eterna contradição, que já era latente desde quando o roustanguismo começou a ser combatido com intensidade nos anos 1940, se consolidou nas últimas quatro décadas e agora não conseguem abafar a crise, fazendo os "espíritas" se afundarem com reações que já se tornam repetitivas.
Pesquisando as páginas "espíritas", a ênfase na "conduta moral" tornou-se seu escudo, com textos falando de apelos à fraternidade, superação do orgulho e do egoísmo, manutenção e renovação da fé cristã, entre outras coisas. No entanto, é o mesmo "espiritismo" que provocou as desordens que agora se voltam contra ele, pelos inúmeros erros, não obstante gravíssimos, que cometeu.
São ações desesperadas, e esses apelos são carregados de pieguice, com ilustrações que variam entre paisagens celestes, crianças formando roda ao se darem as mãos e até um regador de flores jogando água sobre uma rosa. Mas seu conservadorismo faz com que os "espíritas" parem no tempo, principalmente quando tentam argumentar que "mais vale ouvir do que falar".
O caráter repetitivo de suas reações chorosas, o medo da desqualificação de Chico Xavier, os desentendimentos contra quem quer que Chico Xavier seja "acima do que ele foi" e os seguidores pretensamente "realistas" faz a crise do "movimento espírita" aumentar, se aproximando dos níveis insustentáveis.
Eles reclamam até mesmo de serem supostas vítimas de intolerância religiosa, sem perceberem que as críticas pesadas ao "movimento espírita" não se devem pelo fato de não suportarmos a doutrina como movimento religioso, mas por não tolerarmos a prática de mentiras, fraudes, mistificações e valores retrógrados que a ênfase exagerada na religiosidade pelos "espíritas" permite fazer.
Nossa intolerância é, na verdade, contra a mentira, a fraude, a mistificação e o moralismo retrógrado.
segunda-feira, 20 de julho de 2015
"Espiritismo" está ficando velho e ultrapassado
ATÉ O ANTI-MÉDIUM BAIANO, JOSÉ MEDRADO, JÁ TEM 54 ANOS.
O "movimento espírita" está ficando velho, perecendo como uma doutrina antiquada, que preferiu se fundamentar no repertório moralista do Catolicismo português que prevalecia no Segundo Império brasileiro (época de fundação da FEB) e de uma suposta mediunidade inspirada em práticas duvidosas de movimentos heréticos também medievais.
Completamente divorciado do pensamento de Allan Kardec, apesar de todas as declarações que tentem desmentir isso, o "movimento espírita" parou no tempo e vê perder, aos poucos, seus membros veteranos, vinculados ou não a ele.
Recentemente, faleceu o antigo parceiro de Francisco Cândido Xavier, Waldo Vieira, depois de internado com acidente vascular cerebral. O próprio Chico Xavier já está morto há 13 anos. Roustanguistas como Luciano dos Anjos e Antônio Wantuil de Freitas também, da mesma forma que Nilton Pereira, o "Tio Nilton", parceiro de Divaldo Franco na Mansão do Caminho.
Sem poder acompanhar as transformações do tempo e confuso nas orientações que escolheu, preferindo o moralismo religioso e o misticismo improvisado de uma falsa mediunidade, o "espiritismo" que produziu uma literatura irregular em que praticamente tudo é destinado ao lixo (inclusive livros de Chico Xavier e Divaldo Franco) vive a mais grave crise de sua história.
A religião que pretendia renovar a espiritualidade dos brasileiros não conseguiu crescer em popularidade, e se alimenta através do sensacionalismo místico-religioso que promove em parceria com a grande mídia.
Mesmo assim, nota-se a explícita exploração das tragédias familiares, ostentando dramas que poderiam ser melhor resolvidos no íntimo da privacidade. A ostentação das mesmas acaba mais prejudicando do que beneficiando e as mensagens de "consolo", além de causarem um falso alívio que a publicidade do caso só atrapalha, elas ainda são feitas de forma fraudulenta.
A postura dúbia da suposta fidelidade ao cientificismo de Allan Kardec e do apego à religiosidade conservadora de Chico Xavier, postura que substituiu, em 1975, o roustanguismo abertamente assumido dos primórdios da FEB, já se mostra repetitiva e seus apelos para contornar a crise cada vez mais infrutíferos.
Na melhor das hipóteses, o "espiritismo" só está atraindo dissidentes das religiões neopentecostais desiludidos com as denúncias envolvendo figuras como Marco Feliciano, Silas Malafaia e o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, que não conseguem esconder seus surtos de profunda intolerância social.
Essa postura se assemelha com a antiga migração de católicos desiludidos - então descontentes com figuras como o ultraconservador Gustavo Corção e com a repetitividade dos ritos e dogmas religiosos - para o "espiritismo", o qual entendiam como umas espécie de "catolicismo" mais flexível, sem batina e sem a obrigatoriedade do senta-e-levanta das missas.
O que se observa é que o "espiritismo" está atraindo não-espíritas, que se tornam espiritualistas de primeira viagem, ao passo que os espíritas autênticos cada vez mais se afastam da doutrina, embora tenha alguns com vontade débil que ainda "sentem peninha" de Chico Xavier e acreditam na vã fantasia de buscar as bases kardecianas sem romper com o chiquismo.
Não há renovação de ideias e mesmo o relativo acompanhamento do "espiritismo" com os fatos e tendências da atualidade soa pedante, distanciado, oportunista, tendencioso e equivocado. No caso da migração de africanos para a Europa, o jornal Correio Espírita preferiu acusá-los de terem sido tiranos no passado e acusou a negritude como um "castigo".
Não há renovação de pessoas. Os mais carismáticos são muito idosos. e restam poucos como Divaldo Franco, que já está em idade avançada e se aposentou como "médium". Figuras como Geraldo Lemos Neto e Carlos Baccelli já são idosas, mas não possuem grande carisma. José Medrado é carismático, mas já tem 54 anos.
Além disso, a média de palestrantes regionais com algum carisma que seja considerado significativo, ainda que em âmbito local, é de cerca de 50 anos. Quanto aos jovens, não ocorreu a chegada do suposto "novo Emmanuel", provavelmente um rapaz de cerca de 15 anos de idade.
CAMINHO SEM VOLTA
Do contrário que o Catolicismo e o Protestantismo, que mesmo dentro de seus limites conseguiram se renovar, sobretudo através, do lado católico, do exemplo do Papa Francisco, o "espiritismo" parece ter um caminho sem volta no seu desgaste, porque ele foi o mal que esteve em sua raiz, um roustanguismo que, por mais enrustido que fosse hoje, nunca desapareceu nem desaparecerá.
Isso se deve nas atividades "espíritas" que se limitam a ser meros receituários moralistas, abordagens já retrógradas que mal conseguem esconder um ranço católico-medieval, uma falsa mediunidade que mais parece uma chorosa propaganda religiosa e outras coisas que se repetem e se desgastam, embora parecessem "novas" para quem tornou-se "espírita" de primeira viagem.
Nem mesmo a inclusão de roqueiros brasileiros em supostas psicografias, a divulgação de "mensagens espirituais" mais descontraídas ou o fato de José Medrado contar piadas e fazer propaganda do Kibe Loco nas palestras da Cidade da Luz, em Salvador, conseguem renovar o "espiritismo" brasileiro, até porque tudo isso é apenas nova embalagem para conteúdo velho.
O apego a Chico Xavier torna-se irracional e, por incrível que pareça, não rigorosamente através de suas obras, porque seus seguidores seguem a linha das pessoas ao mesmo tempo conservadoras, de fraco hábito de leitura e completamente acomodadas e submissas às convenções sociais e ao poder do mercado, da mídia e da tecnocracia.
Um dado a observar é que os seguidores de Chico Xavier, em maioria, não são pessoas de profundo ativismo social e preguiçosas o bastante para preferirem buscar "bons exemplos" nas frases adocicadas do anti-médium, mesmo quando ele faz apologia ao sofrimento humano.
O apego viciado ao anti-médium é uma forma dessas pessoas de esconderem seus defeitos pessoais, suas debilidades e omissões, através de um pretenso símbolo de bondade, um "bom velhinho" cuja adoração dá a impressão aos outros de que muitos chiquistas, capazes de desprezar os velhos que com eles vivem (pais, tios, avós, sogros, patrões etc), são "muito bonzinhos".
Nada se justifica tamanha adoração e a viscosa emotividade em torno do figurão de Pedro Leopoldo, depois "exilado" em Uberaba até o fim da vida. Até porque as pessoas nem chegam a prestar muito atenção às frases de Chico Xavier, tão seduzidas e hipnotizadas por seu mito e pelo sedutor estereótipo de amor, bondade, humildade e compaixão a ele vinculado.
Não é essa adoração que irá renovar o "espiritismo". Pelo contrário, ele reflete também que seus seguidores andam antiquados. O Brasil vive um surto de provincianismo desde os anos 90, que se acentuou quando escândalos recentes, que vão da corrupção da FIFA até o caso Eduardo Cunha, passando pela mídia policialesca e pela bregalização musical, tornaram-se mais explícitos.
Afinal, não foi Chico Xavier que se tornou, mesmo postumamente, "progressista", "avançado", "renovador" ou "transformador". Os chiquistas é que se tornaram mais antiquados ou, se eram pessoas modernas, mostraram esse lado conservador de louvar o homem que queria que "sofrêssemos em silêncio", como num taylorismo espiritualista com prêmios a serem ganhos no além-túmulo.
Tudo no "espiritismo" tornou-se velho, antiquado, mofado. E, ao que tudo indica, não existe saída. O verdadeiro Espiritismo, de Allan Kardec, verdadeiramente renovador e progressista, quase não é apreciado no Brasil.
Querer que a Doutrina Espírita autêntica seja apreciada sem o rompimento com os totens "espíritas" brasileiros, sobretudo Chico Xavier, corresponde a colocar uma laranja nova ao lado das laranjas podres de tanto bolor. Colocar o renovador Kardec na estrutura podre do "espiritismo" brasileiro só vai manter a podridão e contagiar a podridão na fruta nova.
É assim que tornou-se inútil associar Chico Xavier a "profecias" supostamente científicas, como a tal da "Data-Limite", tentar criar um braço "acadêmico-cientista" ligado ao "movimento espírita" ou usar roqueiros brasileiros mortos para supostas psicografias. Mesmo o novo "apodrece" se associado ao contexto ultrapassado do "espiritismo" brasileiro.
O "movimento espírita" está ficando velho, perecendo como uma doutrina antiquada, que preferiu se fundamentar no repertório moralista do Catolicismo português que prevalecia no Segundo Império brasileiro (época de fundação da FEB) e de uma suposta mediunidade inspirada em práticas duvidosas de movimentos heréticos também medievais.
Completamente divorciado do pensamento de Allan Kardec, apesar de todas as declarações que tentem desmentir isso, o "movimento espírita" parou no tempo e vê perder, aos poucos, seus membros veteranos, vinculados ou não a ele.
Recentemente, faleceu o antigo parceiro de Francisco Cândido Xavier, Waldo Vieira, depois de internado com acidente vascular cerebral. O próprio Chico Xavier já está morto há 13 anos. Roustanguistas como Luciano dos Anjos e Antônio Wantuil de Freitas também, da mesma forma que Nilton Pereira, o "Tio Nilton", parceiro de Divaldo Franco na Mansão do Caminho.
Sem poder acompanhar as transformações do tempo e confuso nas orientações que escolheu, preferindo o moralismo religioso e o misticismo improvisado de uma falsa mediunidade, o "espiritismo" que produziu uma literatura irregular em que praticamente tudo é destinado ao lixo (inclusive livros de Chico Xavier e Divaldo Franco) vive a mais grave crise de sua história.
A religião que pretendia renovar a espiritualidade dos brasileiros não conseguiu crescer em popularidade, e se alimenta através do sensacionalismo místico-religioso que promove em parceria com a grande mídia.
Mesmo assim, nota-se a explícita exploração das tragédias familiares, ostentando dramas que poderiam ser melhor resolvidos no íntimo da privacidade. A ostentação das mesmas acaba mais prejudicando do que beneficiando e as mensagens de "consolo", além de causarem um falso alívio que a publicidade do caso só atrapalha, elas ainda são feitas de forma fraudulenta.
A postura dúbia da suposta fidelidade ao cientificismo de Allan Kardec e do apego à religiosidade conservadora de Chico Xavier, postura que substituiu, em 1975, o roustanguismo abertamente assumido dos primórdios da FEB, já se mostra repetitiva e seus apelos para contornar a crise cada vez mais infrutíferos.
Na melhor das hipóteses, o "espiritismo" só está atraindo dissidentes das religiões neopentecostais desiludidos com as denúncias envolvendo figuras como Marco Feliciano, Silas Malafaia e o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, que não conseguem esconder seus surtos de profunda intolerância social.
Essa postura se assemelha com a antiga migração de católicos desiludidos - então descontentes com figuras como o ultraconservador Gustavo Corção e com a repetitividade dos ritos e dogmas religiosos - para o "espiritismo", o qual entendiam como umas espécie de "catolicismo" mais flexível, sem batina e sem a obrigatoriedade do senta-e-levanta das missas.
O que se observa é que o "espiritismo" está atraindo não-espíritas, que se tornam espiritualistas de primeira viagem, ao passo que os espíritas autênticos cada vez mais se afastam da doutrina, embora tenha alguns com vontade débil que ainda "sentem peninha" de Chico Xavier e acreditam na vã fantasia de buscar as bases kardecianas sem romper com o chiquismo.
Não há renovação de ideias e mesmo o relativo acompanhamento do "espiritismo" com os fatos e tendências da atualidade soa pedante, distanciado, oportunista, tendencioso e equivocado. No caso da migração de africanos para a Europa, o jornal Correio Espírita preferiu acusá-los de terem sido tiranos no passado e acusou a negritude como um "castigo".
Não há renovação de pessoas. Os mais carismáticos são muito idosos. e restam poucos como Divaldo Franco, que já está em idade avançada e se aposentou como "médium". Figuras como Geraldo Lemos Neto e Carlos Baccelli já são idosas, mas não possuem grande carisma. José Medrado é carismático, mas já tem 54 anos.
Além disso, a média de palestrantes regionais com algum carisma que seja considerado significativo, ainda que em âmbito local, é de cerca de 50 anos. Quanto aos jovens, não ocorreu a chegada do suposto "novo Emmanuel", provavelmente um rapaz de cerca de 15 anos de idade.
CAMINHO SEM VOLTA
Do contrário que o Catolicismo e o Protestantismo, que mesmo dentro de seus limites conseguiram se renovar, sobretudo através, do lado católico, do exemplo do Papa Francisco, o "espiritismo" parece ter um caminho sem volta no seu desgaste, porque ele foi o mal que esteve em sua raiz, um roustanguismo que, por mais enrustido que fosse hoje, nunca desapareceu nem desaparecerá.
Isso se deve nas atividades "espíritas" que se limitam a ser meros receituários moralistas, abordagens já retrógradas que mal conseguem esconder um ranço católico-medieval, uma falsa mediunidade que mais parece uma chorosa propaganda religiosa e outras coisas que se repetem e se desgastam, embora parecessem "novas" para quem tornou-se "espírita" de primeira viagem.
Nem mesmo a inclusão de roqueiros brasileiros em supostas psicografias, a divulgação de "mensagens espirituais" mais descontraídas ou o fato de José Medrado contar piadas e fazer propaganda do Kibe Loco nas palestras da Cidade da Luz, em Salvador, conseguem renovar o "espiritismo" brasileiro, até porque tudo isso é apenas nova embalagem para conteúdo velho.
O apego a Chico Xavier torna-se irracional e, por incrível que pareça, não rigorosamente através de suas obras, porque seus seguidores seguem a linha das pessoas ao mesmo tempo conservadoras, de fraco hábito de leitura e completamente acomodadas e submissas às convenções sociais e ao poder do mercado, da mídia e da tecnocracia.
Um dado a observar é que os seguidores de Chico Xavier, em maioria, não são pessoas de profundo ativismo social e preguiçosas o bastante para preferirem buscar "bons exemplos" nas frases adocicadas do anti-médium, mesmo quando ele faz apologia ao sofrimento humano.
O apego viciado ao anti-médium é uma forma dessas pessoas de esconderem seus defeitos pessoais, suas debilidades e omissões, através de um pretenso símbolo de bondade, um "bom velhinho" cuja adoração dá a impressão aos outros de que muitos chiquistas, capazes de desprezar os velhos que com eles vivem (pais, tios, avós, sogros, patrões etc), são "muito bonzinhos".
Nada se justifica tamanha adoração e a viscosa emotividade em torno do figurão de Pedro Leopoldo, depois "exilado" em Uberaba até o fim da vida. Até porque as pessoas nem chegam a prestar muito atenção às frases de Chico Xavier, tão seduzidas e hipnotizadas por seu mito e pelo sedutor estereótipo de amor, bondade, humildade e compaixão a ele vinculado.
Não é essa adoração que irá renovar o "espiritismo". Pelo contrário, ele reflete também que seus seguidores andam antiquados. O Brasil vive um surto de provincianismo desde os anos 90, que se acentuou quando escândalos recentes, que vão da corrupção da FIFA até o caso Eduardo Cunha, passando pela mídia policialesca e pela bregalização musical, tornaram-se mais explícitos.
Afinal, não foi Chico Xavier que se tornou, mesmo postumamente, "progressista", "avançado", "renovador" ou "transformador". Os chiquistas é que se tornaram mais antiquados ou, se eram pessoas modernas, mostraram esse lado conservador de louvar o homem que queria que "sofrêssemos em silêncio", como num taylorismo espiritualista com prêmios a serem ganhos no além-túmulo.
Tudo no "espiritismo" tornou-se velho, antiquado, mofado. E, ao que tudo indica, não existe saída. O verdadeiro Espiritismo, de Allan Kardec, verdadeiramente renovador e progressista, quase não é apreciado no Brasil.
Querer que a Doutrina Espírita autêntica seja apreciada sem o rompimento com os totens "espíritas" brasileiros, sobretudo Chico Xavier, corresponde a colocar uma laranja nova ao lado das laranjas podres de tanto bolor. Colocar o renovador Kardec na estrutura podre do "espiritismo" brasileiro só vai manter a podridão e contagiar a podridão na fruta nova.
É assim que tornou-se inútil associar Chico Xavier a "profecias" supostamente científicas, como a tal da "Data-Limite", tentar criar um braço "acadêmico-cientista" ligado ao "movimento espírita" ou usar roqueiros brasileiros mortos para supostas psicografias. Mesmo o novo "apodrece" se associado ao contexto ultrapassado do "espiritismo" brasileiro.
domingo, 19 de julho de 2015
"Mobilidade urbana" do autoritário PMDB carioca e seus "reajustes espirituais"
No Rio de Janeiro marcado pelo neo-coronelismo do PMDB local, de Eduardo Paes, Luiz Fernando Pezão, Sérgio Cabral Filho, Carlos Roberto Osório e, sobretudo, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, o direito de ir e vir tornou-se, nos últimos cinco anos, uma aventura muito perigosa.
Pois a "mobilidade urbana" desse grupo político vive nos tempos das diligências. A pintura padronizada nos ônibus segue a lógica do gado bovino que o "coronel" quer botar tudo igualzinho e imprimir em cada boi o carimbo do seu latifúndio. Assim, cada ônibus, espécie de "boi sobre rodas", como imaginariam os antigos indígenas, recebe também o carimbo da Prefeitura do Rio de Janeiro.
A péssima ideia da formação de consórcios mostra o quanto a união forçada não significa necessariamente solidariedade. Se muitos reclamam dos grupos empresariais formados por interesses privados, os consórcios, grupos empresariais comandados pelo Estado e formados por interesses políticos, só tornam a coisa mais complicada e mais perigosa.
Afinal, se as empresas de ônibus não podem mais apresentar a identidade visual, acobertadas pelo manto da pintura padronizada que desmascara o caráter de licitação que vemos, que deveria mostrar as empresas e no entanto as esconde, então o empresariado tem uma compensação: aumenta o poder político junto aos governantes do Estado do Rio de Janeiro.
O perigo é que o jogo eleitoral volte aos parâmetros da República Velha e se volte aos interesses dos detentores do poder, manipulando a máquina eletiva para favorecer sempre seus representantes, em detrimento do interesse do povo. O que mais revolta é que esses políticos ficam sempre jurando defender o povo e a lei, mas na prática agem completamente pelo contrário.
INTERESSES POLÍTICOS
A Transportes Paranapuan mostra o caso de como esse sistema de ônibus marcado pelo autoritarismo e pela tecnocracia mais atrasada - na qual a modernidade da "mobilidade urbana" é apenas desculpa para impor medidas arbitrárias, pseudo-futuristas mas essencialmente retrógradas - esconde uma situação que não é tão simples quanto parece.
A empresa é uma das recordistas em reclamações dos passageiros. Já sofreu um trágico acidente em 2013, quando uma briga entre um passageiro e um motorista-cobrador (a tal dupla função) por causa de troco fez o ônibus perder a direção, cair do viaduto Brigadeiro Trompowsky (que liga Bonsucesso à Ilha do Governador) e matar oito pessoas.
Recentemente, um ônibus da Paranapuan teve uma das rodas soltas que, caindo de outro viaduto, o trecho da Linha Amarela que passa sobre São Cristóvão, atingindo um passageiro, o comerciário Ananias Henriques, de 64 anos, na última segunda-feira. Ferido gravemente, Ananias morreu depois de ficar em coma durante quatro dias.
Mas a Paranapuan não tinha um histórico ruim, como não tinham a Verdun, a Bangu, a Vila Isabel e a Pégaso, outras empresas que hoje são alvo de muitas reclamações. A formação dos consórcios virou uma "torre de babel" de interesses conflitantes e falta de transparência e de autonomia, complicando ainda mais o sistema de ônibus.
Esses consórcios (Internorte, Intersul, Santa Cruz e Transcarioca) são apenas "aglomerações" políticas para o poder estatal exercer sua concentração de poder, mostrando um claro autoritarismo que nada tem a ver com fiscalização e disciplina. Fiscalizar e controlar os abusos é uma coisa, mandar com mãos de ferro é outra.
É um sério caso de interesses políticos usando a desculpa da "mobilidade urbana" e da "moralidade do transporte coletivo". Pois, se o sistema de ônibus carioca não era perfeito antes de 2010, ele perdeu o que tinha de bom e os defeitos que haviam continuaram, se tornaram piores e ainda se somaram a outros defeitos, também calamitosos.
Daí que o PMDB carioca de Eduardo Cunha só poderia gerar secretários de Transporte do porte de Alexandre Sansão e Carlos Roberto Osório, o primeiro com ares de retrógrado tecnocrata, o segundo com ares de chefão policialesco.
E eles agem sob o comando de Eduardo Paes que impôs pintura padronizada contra a vontade da população, à revelia das leis, numa votação às escuras na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro e, não bastando tudo isso, Paes ainda acusou a diversidade visual de "poluição sonora" e ofendeu os portugueses com o adjetivo pejorativo de "embalagem de azeite português". Isso quando adota um leiaute de "embalagem de remédio" na já tenebrosa medida de padronização visual.
Seus defensores louvaram esse projeto de transporte coletivo trazido pela embalagem da pintura padronizada e lançando medidas antipopulares que haviam sido divulgadas em 1998 pelos tecnocratas ligados ao COPPE/UFRJ e fascinados com a tecnocracia do "filhote da ditadura" Jaime Lerner.
Criaram até uma "religião", já que o hábito do Rio de Janeiro, mergulhado numa maré de atraso e provincianismo, de lojas escuras, desabastecimento de produtos, fanatismo no futebol e pessoas demais fumando em excesso, é de "religiosizar" as coisas, tratando as decisões que vêm "de cima" como se equiparassem a uma vontade divina.
OS CONFLITOS
A Paranapuan chamou a atenção para os conflitos existentes nos consórcios. O dono da empresa parece se expressar contra a pintura padronizada, como outros empresários lesados, entre eles o da Novacap. Apenas poucos e mais poderosos empresários é que usam do véu da pintura padronizada para enganar e confundir os passageiros e articular conchavos com as autoridades que "disciplinam" (ou melhor, mandam) no sistema de ônibus carioca.
Mesmo assim, não é difícil ver o quanto empresas de ônibus pioraram o serviço depois que receberam o "uniforme da Prefeitura", vinculando sua imagem ao poder estatal que concede as linhas de ônibus mas, simbolicamente, "fica" com as frotas de ônibus que só podem mostrar a imagem do "poder público".
Tijuca, Real, São Silvestre, Acari, Matias, Alpha, etc, todas rodam com ônibus sucateados, não da forma escancarada que Paranapuan e Pégaso mostram nos noticiários. Uma Matias já mostrou a diferença para pior com seus carros percorrendo lugares como Vila Isabel numa disparada antes impensável e com carros sacudindo como se estivessem com parafusos quase soltos.
A Paranapuan chegou a exigir do consórcio Internorte uma prestação de contas, alegando falta de transparência administrativa. A formação dos consórcios também complicou o sistema de renovação de frotas, que agora é por decisão da secretaria de Transportes, que com sua burocracia e arbitrariedade, faz demorar a substituição dos carros para acumular uma grande quantidade só para fazer propaganda política em cima dos carros novos.
Há falcatruas financeiras, disputas políticas e outras barbaridades que fazem com que linhas de ônibus passem a ser operadas por tantas empresas que, se houver uma irregularidade, os passageiros saem confusos demais para fazer alguma denúncia. Isso sem falar que linhas trocam de empresas, empresas trocam de nome ou são extintas, e outras empresas são criadas, tudo isso à revelia dos passageiros, sempre os últimos a saber.
Se for cumprida a ameaça de cassação da concessão da Paranapuan, o "carnaval" de empresas se dará de forma semelhante ao que já ocorre depois que empresas como Translitorânea (quase extinta), Rio Rotas (extinta), Andorinhas (extinta) e Pégaso perderam linhas. Tudo virou uma disputa de terrenos, como se servir zonas de bairros não fosse uma segmentação operacional e sim uma busca de "currais" viários.
A pintura padronizada eliminou a transparência, agravou a corrupção e ainda aumentou o poder de "especialistas" que só defendem ideias contrárias ao interesse público: dupla função motorista-cobrador, extinção de linhas longas funcionais, substituídas por "alimentadoras" e redução de ônibus em circulação nas ruas (o que aumenta o tempo de espera, um dos maiores sofrimentos dos passageiros).
OS "REAJUSTES ESPIRITUAIS"
Essa "mobilidade urbana" do "coração do mundo", portanto, só está causando dor e transtornos diversos, que as autoridades, sádicas, entendem como "sacrifícios necessários" em nome do espetáculo sensacionalista dos BRTs, que podem parecer "super-ônibus", mas perto do paradigma de trens e metrôs, não passam de "reles micrões".
A pintura padronizada faz pessoas pegarem ônibus errados e se atrasarem ao trabalho ou terem que saltar até em áreas perigosas. A dupla-função do motorista-cobrador está causando acidentes pela sobrecarga que o trabalho representa ao motorista, que não raro sofre ataque cardíaco com o ônibus em movimento.
Não fosse a dupla-função, não haveria a discussão que provocou a tragédia da linha 328 da Paranapuan, em 2013, que matou oito pessoas e refletiu nos noticiários do Brasil e do mundo, divulgando a péssima imagem do sistema de ônibus implantado em 2010, cujo autoritarismo nem o reacionário Carlos Lacerda seria capaz de fazer, pois o antigo líder udenista, como governador da Guanabara, implantou um sistema melhor e mais humano que o de Eduardo Paes.
A mutilação de linhas de ônibus como 332 Castelo / Taquara (via Copacabana), 465 Cascadura / Gávea, 676 Méier / Penha, 689 Méier / Campo Grande, 910 Bananal / Madureira e 952 Penha / Praça Seca, só para citar algumas com itinerários sem similares, substituídas por "alimentadoras" que esquartejaram os percursos originais, só está causando atrasos dos passageiros a seus compromissos e provocando superlotação em BRTs que não cobrem as frotas das antigas linhas.
Além disso, as linhas longas e de trajetos sem similares eram rentáveis e sua mutilação deu prejuízo, porque o transporte envolve custos de manutenção e combustível, que agora ficam pendentes, o que faz aumentarem as pressões para os aumentos das passagens de ônibus. As "alimentadoras", por sua vez, não raro não passam de clones de percursos já existentes, sendo linhas como 332A, 676A e outras meros "tampões" para não deixar as empresas "na mão".
A sobrecarga dos motoristas, que agora também cobram passagens, diante de uma cidade congestionada e a pressão da tirania do tempo, fazem com que os acidentes sejam comuns (apenas uma parte é noticiada pela imprensa), com uma média de 20 passageiros por ônibus e um histórico de mortos de arrepiar.
Até um atleta olímpico e uma produtora da TV Globo morreram atropelados por ônibus, e isso pelas "boas empresas" da Zona Sul. E, nos últimos dias, com acidentes diferentes envolvendo ônibus da Vila Isabel, Bangu e Paranapuan (este matando um homem atingido por um pneu solto), o "moderno" modelo de sistema de ônibus do Rio de Janeiro não consegue esconder sua falência.
Será que se vai argumentar que os passageiros que saem feridos ou mortos, ciclistas que morrem atropelados, transeuntes abatidos por rodas, ônibus que batem em postes ou invadem lojas, ônibus que enguiçam no meio do caminho (às vezes, até na perigosa pista expressa da Av. Brasil), estão sofrendo "reajustes espirituais" e que os políticos que impõem esse sistema são "tão bonzinhos"?
O que se sabe é que esse sistema mostra o quanto pessoas podem ser cruéis e fazer todo um discurso tentando afirmar o contrário. Pessoas que não estão aí se os outros estão sendo prejudicados ou não, apenas criam uma política de mentiras, demagogias e apelos sensacionalistas. Se Eduardo Paes, Carlos Roberto Osório, Pezão e outros andam de BRT, nós sabemos quem é seu motorista: Eduardo Cunha.
sábado, 18 de julho de 2015
Sociopatia digital e a mudança dos tempos
EMBORA MUITOS NÃO ASSUMAM E HÁ QUEM TENTE PROVAR O CONTRÁRIO, REINALDO AZEVEDO, DA VEJA E DA JOVEM PAN, É UM DOS MAIORES ÍDOLOS DOS ENCRENQUEIROS DA INTERNET.
Até pouco tempo atrás, a prática ocorria impunemente. Em nome de valores considerados vigentes ou retrógrados, um internauta dotado de relativa visibilidade nas mídias sociais combina com vários parceiros uma campanha de humilhação contra um contestador ou contra algum emergente que lhes escapa dos estereótipos.
De repente, um simples questionamento que alguma pessoa escreve nas mídias sociais é combatido por mensagens em série. São comentários irônicos, piadas grosseiras, ofensas ou paródias, e depois ameaças e xingações, de um grupo de internautas reacionários, provavelmente liderados pelo encrenqueiro mais "carismático".
A situação, às vezes, culmina quando esse líder encrenqueiro resolve fazer um blogue de ofensas, se achando no direito de usar imagens ou atividades diversas - como produção de textos - de seu desafeto, com o intuito de caluniá-lo, difamá-lo e causar danos morais sérios.
Houve quem se queixasse que, no caso da busologia (ato de apreciar ônibus), um encrenqueiro do meio havia, além de criado um blogue de calúnias e ofensas contra seus desafetos que não pensavam igual ao valentão, este ainda ia para as cidades de suas vítimas a pretexto de tirar fotos de ônibus, só para intimidar.
É certo que a ostentação tinha um preço - o busólogo era discretamente visado pela "máfia das vans" que o confundiam com um rival em potencial - , mas o preço dos encrenqueiros digitais por seus atos abusivos só muito recentemente começou a ser estabelecido pela Justiça.
É como nas humilhações infanto-juvenis de valentões escolares, em que foi preciso haver chacinas ou suicídios nos EUA relacionados a tais atrocidades para a sociedade alertar para esse tipo de prática, conhecida hoje como 'bullying', infelizmente sem ter um equivalente em português, embora sugestões houvessem ("implicância", "valentonismo", "delinquência moral" etc).
Na Internet brasileira, foi preciso que esses encrenqueiros e seus "bovinos" parceiros que lhe acompanham nas atrocidades verbais apelarem para humilhações racistas para que a opinião pública começasse a se preocupar contra essas "inocentes brincadeirinhas".
Pois se era preocupante que esses desordeiros digitais se tornassem "cães de guarda" do "estabelecido", defendendo da gíria "balada" à pintura padronizada nos ônibus do Rio de Janeiro, passando por modismos e famosos em evidência - durante um tempo, um homem que dissesse que não se interessa por "mulheres-frutas" era humilhado nas redes sociais - , o racismo, o machismo e outros preconceitos sociais mais evidentes tornaram-se sinal de alerta.
O estopim foram os ataques feitos à jornalista Maria Júlia Coutinho, com as habituais piadinhas racistas dos valentões digitais que, tempos atrás, se escondiam no Orkut e no Facebook para zelar, como pitbulls digitais, tudo que era estabelecido pelo poder político, pela tecnocracia, pelo mercado, pela mídia e pela indústria do entretenimento.
Os truculentos digitais são apenas uma versão "dente-de-leite" do que acontece na imprensa brasileira ou mesmo em programas humorísticos, através de personalidades como Reinaldo Azevedo, Danilo Gentili e, mais recentemente, o roqueiro Lobão.
Os ídolos da "gangue digital" - seus membros podem até serem dispersos internautas que moram distantes um do outro, mas se unem pela comunicação na rede de computadores - variam entre Jair Bolsonaro, Rodrigo Constantino, Yoani Sanchez e Luciano Huck.
Até pouco tempo atrás, quando o PT não vivia a crise de hoje, os encrenqueiros digitais, até para tentar agradar colegas de esquerda em várias comunidades das redes sociais, fingiam também repudiar "o imperialismo, o FMI, Tio Sam e George W. Bush".
Houve reacionários que se autoproclamavam "esquerda-liberal", quando eram na verdade de extrema-direita, e houve quem ensaiasse falsos ataques à revista Veja e à Rede Globo só para agradar os amigos, enquanto fingiam seguir veículos e personalidades da mídia progressista como a Caros Amigos e o sociólogo Emir Sader.
Mas isso era quando se permitia fazer o mimetismo ideológico, porque as mesmas pessoas, tomadas do mesmo surto que, há mais de 50 anos, havia sofrido o sargento José Anselmo dos Santos, o "Cabo Anselmo", o "apaixonado marxista" que se revelou depois agente da CIA, os mesmos "esquerdistas-liberais" de QI direitista que "atacavam o Imperialismo" e "odiavam o FMI" passaram a pedir, nos últimos meses, intervenção militar para depor a presidenta Dilma Rousseff.
O caso Maria Júlia Coutinho - que revela o quanto esses supostos "inimigos da Rede Globo" adoram o Jornal Nacional - revela as contradições e os novos impasses que os encrenqueiros digitais, conhecidos também como sociopatas, têm que enfrentar e assumir.
A estranheza em ver uma bela negra se destacando no telejornal rompeu levemente com os paradigmas conservadores da eugenia midiática do qual esses internautas acreditavam, despertando o reacionarismo desses "miguxos" que, todavia, gerou um efeito bastante contrário.
Pois a campanha #SomosTodosMaju foi uma primeira grande derrota daqueles que acreditavam que poderiam vencer sempre humilhando alguém. E expôs os internautas à sua falta de percepção dos efeitos de seus atos.
Sempre quando eram advertidos de alguma coisa, reagiam com gracejos do tipo "Huahuahuahuah" ou "kkkkkkkkkkk", fáceis de digitar no primário internetês, espécie de português grosseiramente simplificado e mal escrito por esses encrenqueiros digitais.
Depois de casos como o de Maju Coutinho, entre outros casos em que, além do racismo, problemas como a violação da privacidade e a provocação de outros danos morais mais explícitos, mostram que os valentões digitais já começam a viver um clima de insegurança e apreensão.
Afinal, começa uma tendência que, em breve, fará com que vândalos digitais se "reúnam" virtualmente para praticar humilhações digitais contra alguém, mesmo em prol de algo estabelecido pela mídia, pela tecnocracia e pelo mercado e aparentemente são "socialmente aceitos", e amanheçam com a polícia batendo à porta da casa de cada um dos envolvidos com voz de prisão e ordem para recolher os computadores.
Isso sem falar quando algum cúmplice da humilhação digital, que foi na onda por algum interesse - por achar o líder valentão "divertido" e "legal" e achar "ridícula" a crítica feita pelo discordante a ser humilhado - , mas se arrepende vendo a cilada em que se meteu, e poucos anos depois perde noites de sono sabendo que seu protocolo de Internet manteve as "provas" do crime do qual se arrependeu e cujos vestígios não podem mais ser total e facilmente apagados.
Daí que, não obstante, a "divertida" e descontrolada humilhação digital provocada por "irados" internautas nas mídias sociais e apoiadas por quem acha que isso é uma "inocente brincadeira" pode render aos seus envolvidos um grande trauma no futuro, além do fato de que, a qualquer momento, esses "miguxos" possam ser detidos pela polícia ou ao menos terem seus computadores confiscados para investigação pela Justiça.
Até pouco tempo atrás, a prática ocorria impunemente. Em nome de valores considerados vigentes ou retrógrados, um internauta dotado de relativa visibilidade nas mídias sociais combina com vários parceiros uma campanha de humilhação contra um contestador ou contra algum emergente que lhes escapa dos estereótipos.
De repente, um simples questionamento que alguma pessoa escreve nas mídias sociais é combatido por mensagens em série. São comentários irônicos, piadas grosseiras, ofensas ou paródias, e depois ameaças e xingações, de um grupo de internautas reacionários, provavelmente liderados pelo encrenqueiro mais "carismático".
A situação, às vezes, culmina quando esse líder encrenqueiro resolve fazer um blogue de ofensas, se achando no direito de usar imagens ou atividades diversas - como produção de textos - de seu desafeto, com o intuito de caluniá-lo, difamá-lo e causar danos morais sérios.
Houve quem se queixasse que, no caso da busologia (ato de apreciar ônibus), um encrenqueiro do meio havia, além de criado um blogue de calúnias e ofensas contra seus desafetos que não pensavam igual ao valentão, este ainda ia para as cidades de suas vítimas a pretexto de tirar fotos de ônibus, só para intimidar.
É certo que a ostentação tinha um preço - o busólogo era discretamente visado pela "máfia das vans" que o confundiam com um rival em potencial - , mas o preço dos encrenqueiros digitais por seus atos abusivos só muito recentemente começou a ser estabelecido pela Justiça.
É como nas humilhações infanto-juvenis de valentões escolares, em que foi preciso haver chacinas ou suicídios nos EUA relacionados a tais atrocidades para a sociedade alertar para esse tipo de prática, conhecida hoje como 'bullying', infelizmente sem ter um equivalente em português, embora sugestões houvessem ("implicância", "valentonismo", "delinquência moral" etc).
Na Internet brasileira, foi preciso que esses encrenqueiros e seus "bovinos" parceiros que lhe acompanham nas atrocidades verbais apelarem para humilhações racistas para que a opinião pública começasse a se preocupar contra essas "inocentes brincadeirinhas".
Pois se era preocupante que esses desordeiros digitais se tornassem "cães de guarda" do "estabelecido", defendendo da gíria "balada" à pintura padronizada nos ônibus do Rio de Janeiro, passando por modismos e famosos em evidência - durante um tempo, um homem que dissesse que não se interessa por "mulheres-frutas" era humilhado nas redes sociais - , o racismo, o machismo e outros preconceitos sociais mais evidentes tornaram-se sinal de alerta.
O estopim foram os ataques feitos à jornalista Maria Júlia Coutinho, com as habituais piadinhas racistas dos valentões digitais que, tempos atrás, se escondiam no Orkut e no Facebook para zelar, como pitbulls digitais, tudo que era estabelecido pelo poder político, pela tecnocracia, pelo mercado, pela mídia e pela indústria do entretenimento.
Os truculentos digitais são apenas uma versão "dente-de-leite" do que acontece na imprensa brasileira ou mesmo em programas humorísticos, através de personalidades como Reinaldo Azevedo, Danilo Gentili e, mais recentemente, o roqueiro Lobão.
Os ídolos da "gangue digital" - seus membros podem até serem dispersos internautas que moram distantes um do outro, mas se unem pela comunicação na rede de computadores - variam entre Jair Bolsonaro, Rodrigo Constantino, Yoani Sanchez e Luciano Huck.
Até pouco tempo atrás, quando o PT não vivia a crise de hoje, os encrenqueiros digitais, até para tentar agradar colegas de esquerda em várias comunidades das redes sociais, fingiam também repudiar "o imperialismo, o FMI, Tio Sam e George W. Bush".
Houve reacionários que se autoproclamavam "esquerda-liberal", quando eram na verdade de extrema-direita, e houve quem ensaiasse falsos ataques à revista Veja e à Rede Globo só para agradar os amigos, enquanto fingiam seguir veículos e personalidades da mídia progressista como a Caros Amigos e o sociólogo Emir Sader.
Mas isso era quando se permitia fazer o mimetismo ideológico, porque as mesmas pessoas, tomadas do mesmo surto que, há mais de 50 anos, havia sofrido o sargento José Anselmo dos Santos, o "Cabo Anselmo", o "apaixonado marxista" que se revelou depois agente da CIA, os mesmos "esquerdistas-liberais" de QI direitista que "atacavam o Imperialismo" e "odiavam o FMI" passaram a pedir, nos últimos meses, intervenção militar para depor a presidenta Dilma Rousseff.
O caso Maria Júlia Coutinho - que revela o quanto esses supostos "inimigos da Rede Globo" adoram o Jornal Nacional - revela as contradições e os novos impasses que os encrenqueiros digitais, conhecidos também como sociopatas, têm que enfrentar e assumir.
A estranheza em ver uma bela negra se destacando no telejornal rompeu levemente com os paradigmas conservadores da eugenia midiática do qual esses internautas acreditavam, despertando o reacionarismo desses "miguxos" que, todavia, gerou um efeito bastante contrário.
Pois a campanha #SomosTodosMaju foi uma primeira grande derrota daqueles que acreditavam que poderiam vencer sempre humilhando alguém. E expôs os internautas à sua falta de percepção dos efeitos de seus atos.
Sempre quando eram advertidos de alguma coisa, reagiam com gracejos do tipo "Huahuahuahuah" ou "kkkkkkkkkkk", fáceis de digitar no primário internetês, espécie de português grosseiramente simplificado e mal escrito por esses encrenqueiros digitais.
Depois de casos como o de Maju Coutinho, entre outros casos em que, além do racismo, problemas como a violação da privacidade e a provocação de outros danos morais mais explícitos, mostram que os valentões digitais já começam a viver um clima de insegurança e apreensão.
Afinal, começa uma tendência que, em breve, fará com que vândalos digitais se "reúnam" virtualmente para praticar humilhações digitais contra alguém, mesmo em prol de algo estabelecido pela mídia, pela tecnocracia e pelo mercado e aparentemente são "socialmente aceitos", e amanheçam com a polícia batendo à porta da casa de cada um dos envolvidos com voz de prisão e ordem para recolher os computadores.
Isso sem falar quando algum cúmplice da humilhação digital, que foi na onda por algum interesse - por achar o líder valentão "divertido" e "legal" e achar "ridícula" a crítica feita pelo discordante a ser humilhado - , mas se arrepende vendo a cilada em que se meteu, e poucos anos depois perde noites de sono sabendo que seu protocolo de Internet manteve as "provas" do crime do qual se arrependeu e cujos vestígios não podem mais ser total e facilmente apagados.
Daí que, não obstante, a "divertida" e descontrolada humilhação digital provocada por "irados" internautas nas mídias sociais e apoiadas por quem acha que isso é uma "inocente brincadeira" pode render aos seus envolvidos um grande trauma no futuro, além do fato de que, a qualquer momento, esses "miguxos" possam ser detidos pela polícia ou ao menos terem seus computadores confiscados para investigação pela Justiça.