quinta-feira, 30 de julho de 2015

Oração é só uma janela de emergência


O "espiritismo", pela influência herdada do Catolicismo, superestima a oração como um meio de atrair alívio e consolação. A oração é encarada como um "remédio de alta eficiência" contra qualquer tipo de mal que acontece na vida.

Só que, na verdade, essa visão é dotada de muitos equívocos. Principalmente quando a oração é tida como alternativa para o ativismo social e para o protesto humano, como se recolher num canto e fazer uma prece pudesse resolver, por si só, um problema.

No entanto, a oração não resolve. Na maioria esmagadora das vezes, ela é uma espécie de "água com açúcar" para as pessoas angustiadas. Em muitos casos, é sinônimo de preguiça, de acomodação, de conformismo.

A pessoa, quando reza "Senhor, me dê paciência para aguentar essa pesada dificuldade", não está resolvendo seu problema, não está buscando soluções que, normalmente, poderiam ser obtidas fora da doce retórica das preces. Está, sim, se manifestando seu conformismo e pedindo, isso sim, para que possa se conformar ainda mais com essa dificuldade.

Chico Xavier é desmascarado de vez nessa situação. Tido equivocadamente como "ativista" e "progressista", ele nada fez senão pedir às pessoas para que elas aguentem o sofrimento e que se recolham no silêncio da prece, no comodismo da oração. Achava que um simples ativismo poderia "causar dissabores", e condenava todo tipo de enfrentamento.

Pois o "silêncio da prece" defendido por Chico Xavier revela não um ativismo ou um progressismo, mas uma conformação com os retrocessos da vida, uma censura a todo tipo de intervenção sobre um problema ou transtorno, achando que a oração resolve tudo, mesmo quando a solução poderia ser simplesmente uma ação pela cidadania garantida por lei.

Grande erro pensar assim. A oração é como uma janela de emergência existente num ônibus, ela serve quando algum risco na vida impede a pessoa de poder agir. Se ela é ameaçada por alguém, ela não poderá intervir da maneira desejada, se isso lhe pode significar uma tragédia iminente.

Da mesma forma, se a pessoa está perdida numa floresta, e não se acha em condições de retomar o caminho ou receber algum socorro, a oração pode ser um último recurso para isso. Mas são apenas situações excepcionais que recomendam a prece, ela não deve ser jogada assim a qualquer momento.

O próprio Kardec pensava na prece como uma forma de relaxamento pessoal. Mas certamente, se a pessoa acha que a prece é um meio de combater as injustiças sociais, está perdendo tempo, perdendo uma boa oportunidade de agir para resolver um problema, por mais grave que seja.

Infelizmente, o "espiritismo" parece como um ônibus em que desordeiros ameaçam os passageiros - os tratamentos espirituais mais trazem mau agouro do que qualquer proteção espiritual, tudo para empurrar os sofredores para os "centros espíritas" - e se quebram as janelas de emergência sem a menor necessidade.

Só que isso se torna inútil. Sobretudo quando sabemos que o "espiritismo" não está aí para qualidade de vida. Ela é apenas uma "fábrica de sofredores" para que eles possam ser seduzidos por sua mística moralista "assistencialista". E, se elas recomendam o uso abusivo da prece, significa que elas querem ver pessoas acomodadas e conformistas. Isso não é ativismo.

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