domingo, 26 de julho de 2015

Caridade ou envaidecimento "espírita"?


Filas inteiras de pessoas para entrar no "centro espírita" onde Francisco Cândido Xavier atendia as pessoas. Divulgação maciça de tragédias familiares e mensagens aparentemente consoladoras, das quais quase sempre se identificava apenas a caligrafia do "médium" mineiro, além das semelhanças de linguagem e de estilo, fosse quem fosse o falecido em questão.

A "filantropia espírita" é considerada por muitos como um dos mais elevados exemplos de caridade e de amor ao próximo existentes na face da Terra. No entanto, essa visão é bastante equivocada, embora a emotividade histérica de seus seguidores jure que isso seja uma verdade indiscutível.

O perigo que observarmos em diversos casos de "caridade" no "movimento espírita", mesmo fora dos "quintais" da Federação "Espírita" Brasileira, é que eles envolvem processos de ostentação e vaidades pessoais que seus seguidores não conseguem entender.

Tomados de emoção, os adeptos do "espiritismo" brasileiro ou mesmo seguidores "independentes" e "laicos" de Chico Xavier, Divaldo Franco e outros acham que tudo é humildade, bondade, perfeição, beleza e simplicidade. Mas por trás disso tudo há uma mitologia que esconde os mais perigosos procedimentos de ilusionismo, exploração da boa-fé das pessoas e uso leviano da caridade para pura promoção pessoal.

Pesquisamos fotos de Chico Xavier e observamos que os retratos em que ele aparecia sem óculos, sobretudo nos seus primeiros anos como mito "espírita", ele apresentava um semblante muito pesado. Uma foto em que ele aparece olhando de frente chega a ser assustadora.

Tempos depois, observava-se fotos em que ele mostrava um semblante arrogante, como se estivesse se envaidecendo, em "silêncio", com sua popularidade. Certa vez, diante de uma situação bastante polêmica e desfavorável ao anti-médium, Chico afirmou, arrogante, que "bom" era que "as pessoas estavam no seu lado".

Notou-se também que, em muitas fotos, outro anti-médium, Divaldo Franco, mostrava também um semblante arrogante, forjando uma serenidade que mal conseguia esconder um ar esnobe, sobretudo quando ele estava em eventos e era recebido por autoridades e aristocratas.

Ele arrumou mais confusão com sua trajetória. Essa é a verdade. Usar o verniz da bondade não resolve, aliás complica muito mais. E comparar o "espiritismo" brasileiro à ciència que Allan Kardec tão trabalhosamente desenvolveu, mas que foi inteiramente empastelada no Brasil, até por aqueles que se diziam "fiéis" ao professor lionês, é muito, muito preocupante.

As atividades "espíritas" mostram que elas não estão aí para resolver, por definitivo, as coisas. Seu atendimento às comunidades pobres é medíocre, através de medidas paliativas, como doação de cestas básicas, roupas ou material de limpeza, que, além de não serem soluções definitivas, não são inteiramente realizadas pelos membros dos "centros espíritas", mas pelos seus frequentadores.

Que possamos ajudar a doar as coisas, tudo bem. Mas o que se vê no "espiritismo" brasileiro não é uma disposição plena de ajudar as pessoas. Nesse sentido, o ateu e "subversivo" Paulo Freire dá um banho em qualquer "espírita", promovendo um projeto educacional que ensinava as pessoas a pensar, a se mobilizar, a agir e buscar soluções por si mesmas. Covardia comparar Paulo Freire com Chico Xavier. O pernambucano dá um banho no anti-médium mineiro.

PALIATIVOS E OSTENTAÇÃO

O que poucos percebem é que a "caridade espírita" é muito limitada e de efeitos provisórios. Ela acaba mostrando, na verdade, uma exploração hipócrita da pobreza humana, comprovada pela apologia ao sofrimento difundida a partir de Chico Xavier, e serve apenas para promover as vaidades pessoais de seus "humildes filantropos".

Eles usam o pretexto da "vida futura" para defender os sofrimentos das pessoas. Sofrer em prol de um "benefício futuro", provavelmente póstumo, é uma ameaça terrível quando aparece em narrativas como o 1984 de George Orwell. Mas quando a escravidão da alma na vida presente é descrita nos livros e depoimentos de Chico Xavier, tudo vira uma "coisa linda".

Os malefícios ocultos por essa série de "caridades" é tanto que descrever todos num só texto seria complicado. Mas sabe-se que é necessária a existência de pobres e desgraçados dos mais diversos tipos para que o teatrinho da "bondade espírita" fosse encenado para promover a falsa humildade e a generosidade tendenciosa de seus líderes e astros principais.

De um lado, medidas paliativas que não resolvem. Não bastasse as cestas básicas serem dadas praticamente só pelos frequentadores dos "centros espíritas" - há quem, num desses "centros", confisque algum material doado para o usufruto pessoal - , elas são insuficientes para resolver por definitivo a pobreza, não passando de meras esmolas.

As pessoas pobres têm o trabalho de saírem de suas favelas, de suas casas, andar alguns metros e talvez uns certos quilômetros, para o "centro espírita" que fornece tais materiais de doação. E sabe-se que são poucas coisas, e elas se consomem rapidamente. Os pobres continuam sem condições de emancipação, e, quando a doação se esgota, os pobres voltam à mesma condição desgraçada de antes.

Por outro lado, os figurões "espíritas" acabam se vangloriando, à maneira deles, sempre procurando desmentir vaidades pessoais que, no fundo, sentem no íntimo de suas almas. Criam até um clima de pieguice, com trilha sonora e tudo, para criar um verniz de beleza que favoreça a adoração plena de seus seguidores.

Outro caso a observar é a exploração das tragédias familiares, que se torna um caso explícito de sensacionalismo publicitário. A falsa consolação "espírita" não é suficiente para resolver a situação, e os dramas familiares se prolongam pela exploração midiática, porque a sociedade acaba falando dessas tragédias, que poderiam se dissolver em poucos dias na privacidade familiar.

Pouco importam se os "médiuns" inventaram mensagens em que, usando os nomes dos mortos, aleguem que "eles estão bem". Misto de charlatanismo e exploração da comoção dos entes que ficam, eles prolongam demais as tragédias, que passam a ser comentadas em qualquer lugar, multiplicadas pela divulgação midiática, e desta forma o que poderia ser uma tragédia a ser encarada no sossego da privacidade, torna-se um espetáculo a promover o "movimento espírita".

E ainda há a indústria de livros que, a pretexto de produzir mensagens "positivas" e "lindas lições de vida", expressa péssima literatura, difunde valores morais duvidosos e apresenta até mesmo erros históricos, sociológicos e até geográficos grosseiros. É válido emburrecer em nome da caridade?

Tudo acaba virando pretexto para encher "centros espíritas" de adeptos, de promover a fama do suposto médium, usar famílias que vivem na pobreza ou que perderam entes queridos para forjar uma "bondade" que não é mais do que tendenciosa e oportunista. Só que tudo isso não passa de um engenhoso e bem-sucedido golpe de marketing.

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