quinta-feira, 6 de abril de 2017

A diferença entre a caridade que ajuda o próximo e a "caridade" que promove o "benfeitor"


Certo palestrante "espírita", simpatizante da Teologia do Sofrimento, é conhecido bajulador de figuras avançadas não só da Doutrina Espírita, como em outros movimentos religiosos ou mesmo fora da religião.

A atitude não é pessoal dele, mas ele tem responsabilidade de assumir tal postura através de outros exemplos nos meios "espíritas", em que vemos uma boa centena de palestrantes que não passam de malabaristas da palavra, bajuladores baratos de pessoas lúcidas e atuantes, mas praticantes de ideias e procedimentos obscurantistas e retrógrados.

É muito fácil, por exemplo, elogiar a "surpreendente atualidade" de Allan Kardec e depois partir para a exaltação do deturpador Francisco Cândido Xavier. Ou então destacar a "urgência" de Erasto nos seus alertas sobre a mentira, e depois mergulhar no mais obscurantista igrejismo jesuíta trazido por Emmanuel.

Os "espíritas" se contradizem o tempo todo e acham que é só botar a "caridade" no meio para serem considerados "equilibrados" e "lúcidos". Há aqui uma grande malandragem. Fulano diz uma coisa e faz outra, ou diz uma coisa e diz outra logo em seguida, e se esconde na desculpa da filantropia ou da fraternidade para se passar por "moderado" ou "equilibrado".

Não, a realidade não permite que liguemos ideias opostas com filantropia. Até porque a tão festejada caridade nos meios "espíritas" não passa de conversa para boi dormir, porque, se ela fosse realmente algo profundo e verdadeiro, o Brasil não teria caído na situação decadente de desordem generalizada que atinge até o Poder Judiciário e os mais nobres cenários da grande mídia.

De repente o "espírita" foi exaltar a ativista social Zilda Arns, falecida ao ser soterrada junto a uma multidão pelo desabamento de um prédio durante o terremoto no Haiti, em 2010. Ela foi irmã do sacerdote católico Dom Paulo Evaristo Arns, uma figura progressista que se opôs energicamente à ditadura militar. Os irmãos se consagraram por uma trajetória realmente progressista e humanista e ultrapassaram os limites ideológicos do Catolicismo para defender os direitos humanos.

Aparentemente bem intencionado, o "espírita", perdido ao recolher para seus relatos iniciativas em que aparece palavras como "caridade" e "solidariedade", se esquece que, enquanto Dom Paulo Arns participou de um levantamento de informações sobre vítimas de tortura do regime militar, o "mestre" dos "espíritas", Chico Xavier, aparecia num programa de TV, na mesma época de repressão intensa, para dizer que os generais e torturadores estavam construindo um "reino de amor" para o futuro.

Sim, o endeusado Chico Xavier, "símbolo máximo de amor e humildade", defendia que oremos pelos generais, e esculhambava operários e camponeses como se fosse um golpista ainda nos tempos de João Goulart. Não nos esqueçamos que Chico e a FEB apoiaram, com gosto, a Marcha da Família Unida com Deus pela Liberdade, no Vale do Anhangabaú, São Paulo, em 19 de março de 1964, que foi um evento supostamente ecumênico que pediu a instalação de uma ditadura no Brasil.

ALHOS COM BUGALHOS

Temos que tomar muito cuidado com a retórica da fraternidade, da caridade, do amor. Há muitas armadilhas por trás de palavras com sabor de mel. A mistura de alhos com bugalhos, quando se fala em ativismo social e generosidade humana, é capaz de juntar num mesmo balaio pessoas realmente humanistas com outras que apenas usaram a "caridade" como meio de promoção pessoal.

Há livros que juntam figuras humanistas como o pastor evangélico Martin Luther King e o cineasta e ator inglês Charles Chaplin e figuras de valor duvidoso como Madre Teresa de Calcutá, denunciada nas últimas décadas por ter deixado em condições desumanas aqueles que ela dizia acolher como "filhos".

Junta-se aqueles que mostram uma lição subliminar de caridade, como a arte humanista de Chaplin e sua poesia cômica do vagabundo Charlie - conhecido aqui como Carlitos - , e a tendenciosa "caridade" de Madre Teresa, que viajava com ditadores e magnatas corruptos para receber fortunas e desviar tudo para os cofres do Vaticano, enriquecendo sacerdotes e piorando a vida dos humildes.

Para piorar, quando os "filhos" de Madre Teresa morriam, ela ainda ficava feliz, dizendo que eram "novos anjos no seio do Senhor". Gente tratada de forma desumana, expostas doentes umas diante das outras em colchões desconfortáveis, remediados apenas com aspirina ou paracetamol e recebendo injeções de seringas sujas, lavadas com água de torneira (que não é lá aquela higiene, sobretudo num país como a Índia).

A caridade que realmente ajuda o próximo, ainda que de forma inusitada, não pode ser confundida com a "caridade" em que se nota a assinatura do "benfeitor" ofuscando até mesmo os fraquíssimos resultados alcançados.

Foi uma grande gafe o Fantástico de 2015 com Divaldo Franco tratá-lo como se fosse o "maior filantropo do país" ajudando apenas cerca de 160 mil pessoas. Isso corresponde, mediante um cálculo combinando os anos de existência da Mansão do Caminho (63, na época) com dados populacionais, e chegou-se a uma média anual inferior a 1%. E isso apenas considerando apenas a população de Salvador.

Isso foi uma gafe porque se comemorou demais com pouco. Embora os defensores de Divaldo Franco viessem com mil desculpas e argumentos, o que se está em jogo não é outra coisa senão o prestígio e a promoção pessoal do anti-médium baiano, algo mais típico de fanatismo religioso do que de uma suposta admiração a alguém tido como ativista e filantropo.

Tal postura é grave, porque são justamente as paixões religiosas que corrompem tais percepções. E, no "espiritismo", o que se nota é uma postura hipócrita das pessoas, que elogiam a "caridade" do dito "médium", nem tanto pelos beneficiados, que elas pouco importam serem muitos, poucos ou nenhuns, mas pela figura do próprio "benfeitor", que está acima dos próprios benefícios ou prejuízos.

Isso é como endeusar um ídolo religioso que se acha "acima do bem e do mal". E o "espiritismo" cada vez mais se corrompe, com "médiuns" dotados de culto à personalidade e alçados ao olimpo da idolatria religiosa mais fanática, tomada de emotividade cega apenas dissimulada por arremedos de razão. Daí que no Brasil muitos tentam usar desculpas "racionais" para ideias irracionais. A emoção é muito pior quando tenta usar a razão para sustentar ideias duvidosas.

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