terça-feira, 4 de abril de 2017
As encrencas das elites que "fazem o que querem"
Vivemos uma grave crise envolvendo aqueles que estão associados a um tipo de prestígio social. Aqueles que detém o privilégio da fama, do dinheiro, da toga, do poder político e empresarial, do carisma interno nas redes sociais e até mesmo do prestígio religioso ou do porte de armas, sofrem todo tipo de decadência, de maneira avassaladora, ainda que tivessem ainda a ilusão de contornar os piores escândalos.
Ninguém está acima da lei e, na natureza dos privilégios, ninguém está acima da humanidade. As pessoas que fazem o que querem, como uma parcela das elites endinheiradas que, depois de pedir a saída de uma governante que não os agradava, a presidenta Dilma Rousseff, e agora torcem por projetos de depreciação dos serviços públicos e do mercado de trabalho, não sabem as armadilhas em que estão se metendo.
Recentemente, uma delação de um ex-executivo da Odebrecht citou que o senador Aécio Neves, presidente nacional do PSDB e candidato derrotado à Presidência da República em 2014, teria recebido propina e transferido o dinheiro para a conta de sua irmã, Andrea Neves. Assustados com o fim da impunidade se aproximando, Aécio e a irmã postaram vídeos apelando para o vitimismo.
Outro exemplo é a boataria da "carne podre", da Operação Carne Fraca, que revelou o desejo de promoção pessoal de membros da Polícia Federal, como a Operação Lava Jato o faz, não só com a PF, mas também com o Judiciário e o Ministério Público e, da mesma forma, ambos os casos também revelam a própria promoção do poder midiático, sempre em busca de um sensacionalismo político desse porte, principalmente se servir para depreciar o Partido dos Trabalhadores (PT).
O status quo está desmoronando e as elites estão se preocupando. Até mesmo, num contexto mais simplório, os cyberbullies das redes sociais estão apavorados diante da péssima repercussão de seus comentários preconceituosos e de páginas ofensivas que atingem desafetos pessoais. Correm contra o tempo para apagar postagens escritas sob seus impulsos, o que em muitos casos é tarde demais, com seus conteúdos reproduzidos até nos arquivos da Polícia Federal.
Se até Divaldo Franco cometeu deslize fazendo um julgamento de valor contra os refugiados do Oriente Médio, um preconceito partido de gente dotada do privilégio do prestígio religioso, uma vantagem elitista como tantas outras, pela presunção do "contato direto com Deus", então se observa a crise que se nota quando os privilegiados tentaram reassumir o poder.
A realização forçada de seus anseios, como a aprovação do duvidoso Alexandre de Moraes para ministro do Supremo Tribunal Federal, e a instituição dos cortes de gastos públicos, fazendo a festa da iniciativa privada, que, a pretexto de socorrer a Educação e Saúde públicas, investem na privatização e na transferência de custo à população, a pagar mensalidades caras e custear até as festas de gala de médicos e professores particulares, também é um símbolo dessa decadência.
Muita gente não entende, outras pessoas ignoram e outras tentam desmentir, mas o que se nota é o desgaste de um paradigma de privilégios, vantagens e prestígios que só fizeram sentido há 40 anos atrás, mas hoje decaem de maneira irrecuperável, embora haja todo tipo de tentativa para os decadentes do topo da pirâmide passarem por cima, nem que seja rasgando a Constituição ou cometendo assassinato de reputação.
Se até feminicidas conjugais, que um dia se regojizavam de ter tirado a vida de suas mulheres, por causa da "defesa de honra", passam a ter medo da morte quando eles são os "contemplados", a ponto de apelar para a mídia não noticiar seus óbitos, se por ventura ocorrerem, esse quadro também ilustra o incêndio que está devastando o topo da pirâmide, num dos âmbitos mais extremos, que é o de alguém, por seu privilégio, se achar no direito de tirar a vida até de seu cônjuge.
A desordem política também está ocorrendo, não poupando os "caciques" do PSDB nem emergentes políticos como Jair Bolsonaro, cada vez mais vítimas de escândalos e sofrendo o profundo desgaste público com esses incidentes. A situação está tão grave que "não-políticos" como o empresário João Dória Jr., prefeito de São Paulo, se tornam uma das apostas para as eleições presidenciais de 2018.
A crise no topo da pirâmide está começando e, por enquanto, vários setores que cometem abusos contra a humanidade ainda alimentam a ilusão de passarem por cima e voltarem ilesos de qualquer escândalo. Acham justo "fazerem o que querem", de sites caluniosos a esquemas de propinas, e nunca serem punidos com isso.
Todavia, o "furacão" também está a caminho deles, o que fará com que a sociedade brasileira terá que redesenhar, do zero, toda uma estrutura de beneficiados, recriando uma sociedade de privilegiados que não se relacione a abusos nem erros graves. Isso causará dor, pois fará nas classes médias uma total reinvenção de percepções e uma mudança nos exemplos humanos a serem seguidos.
A resistência das velhas estruturas sociais se dá em diversos aspectos, seja pelo reacionarismo nas redes sociais, seja nas orações desesperadas pelos velhos totens religiosos, seja pela impunidade social que reforça a impunidade jurídica dos culpados por crimes graves, se dá por uma ampla mobilização daqueles que querem forçar os retrocessos sociais, na busca paranoica dos tempos em que elas viviam tranquilas na estabilidade forçada do conservadorismo social.
Dos "coxinhas" pedindo intervenção militar aos "espíritas" cada vez mais adeptos da medieval Teologia do Sofrimento, passando pelas pressões do empresariado para impor a terceirização total que precariza a vida dos trabalhadores, a velha sociedade tenta um único recurso para fazer o Brasil voltar para trás o mais amplamente possível, para recuperar os padrões obsoletos do período colonial.
Essas mudanças causarão impacto sério, mas a sociedade terá que rever conceitos, totens, ídolos, valores diversos. Um velho Brasil ainda resiste, desesperado, ao seu desgaste, enquanto tem a seu dispor as últimas condições que lhes permitem superar encrencas e escândalos. Mas, na medida em que há maior esclarecimento entre as pessoas, nem o prestígio religioso permanece de pé, diante dos abusos dos detentores do "poder da fé". O Brasil tem que renascer do zero.
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