ARRIVISMO - O "médium" José Medrado (segundo à esq.) e Mário Kertèsz, de paletó cinza, pegando carona no prestígio do escritor e poeta Affonso Romano de Santana (E), nos bastidores de um evento promovido pela Rádio Metrópole FM, de Salvador.
O "espiritismo" tem uma triste peculiaridade. Enquanto influi em energias negativas para pessoas de perfil bastante diferenciado, que não raro são vítimas de tragédias prematuras ou, na mais razoável das hipóteses, sofrem dificuldades praticamente insuperáveis, o "espiritismo" se torna mais benéfico apenas para pessoas que compactuam com o conservadorismo social e moral ou com pessoas de perfil mais atrasado que são dotadas de intenções arrivistas.
O arrivismo ocorre quando um indivíduo ambicioso quer obter uma vantagem pessoal a qualquer custo. Geralmente são pessoas retrógradas que, no contexto de hoje, embarcam em contextos de vanguarda para levar vantagens pessoais e se promover às custas de movimentos, fenômenos e instituições avançadas, pegando carona no progresso alheio, que não é necessariamente o do arrivista.
O Brasil, com sua moral um tanto torta que permite a memória curta e o jeitinho brasileiro, é famoso pela eterna compactuação entre valores retrógrados, decadentes e obsoletos com ideias e tendências inovadoras, de forma que estas têm sempre que se condicionar em favor daqueles, criando uma novidade deturpada em que a essência acaba sendo do movimento que deveria ser extinto mas se recicla sob a capa da aparente novidade.
O "espiritismo" já é consequência disso. A novidade trazida por Allan Kardec foi desfigurada no Brasil. a ponto do "movimento espírita" hoje estar mais inclinado ao Catolicismo jesuíta do Brasil colonial e à Teologia do Sofrimento da Idade Média, inserida originalmente no "espiritismo" pelo deturpador pioneiro Jean-Baptiste Roustaing.
Nota-se a seletividade das energias "espíritas", diante de conteúdo tão retrógrado. Pessoas diferenciadas e de perfil mais avançado são mais vulneráveis a tragédias. E isso piorou diante do mito de Francisco Cândido Xavier, uma figura sombria que não deveria ter sido glorificada como foi e ainda é (com a ajuda tendenciosa de seu padrinho Antônio Wantuil de Freitas e, mais tarde, com a habilidade da Rede Globo em usar o "médium" para competir com os "pastores eletrônicos").
Chico Xavier tinha um fetiche por mortos prematuros. É só verificar que boa parte das supostas psicografias do anti-médium mineiro atribui autoria a falecidos precoces: Humberto de Campos, Casimiro de Abreu, Castro Alves, Cruz e Sousa, Irma de Castro Rocha (Meimei), Auta de Souza, Jair Presente, Augusto dos Anjos.
Várias pessoas, inclusive famosos, que entraram em contato com Chico Xavier tiveram a estranha sina de perder filhos de forma prematura: as atrizes Ana Rosa e Nair Bello, o diretor Augusto César Vannucci, e, mais recentemente, o desenhista Maurício de Souza, que, após colaborar com uma revista em quadrinhos "espírita", teve um filho morto aos 44 anos.
O mau agouro de Chico Xavier se justifica em imagens mais antigas, quando o "médium" não escondia seus olhos salientes. Seus olhares eram agressivos, com ar de maldição. Consta-se que ele passou a usar óculos escuros para esconder o olhar que inspira as piores energias. E, se nos últimos anos ele passou a ter um "olhar tenro", era um marketing religioso inspirado em Madre Teresa de Calcuta, se bem que tanto Chico quanto Teresa eram, no íntimo, pessoas bem ranzinzas.
A energia maléfica de Chico Xavier pode ser constatada confrontando dois ex-presidentes da República, para dar ideia da influência seletiva da mesma. Os casos de Juscelino Kubitschek e Fernando Collor nos põem a pensar sobre tais energias.
JUSCELINO E COLLOR - O MAIS RETRÓGRADO FOI O MAIS FAVORECIDO
Juscelino era amigo de Chico Xavier e lhe dava consideração. O médico mineiro que presidiu o Brasil entre 1956 e 1961 e investiu na construção de Brasília era um político de um partido conservador, o PSD, mas tinha uma inclinação progressista, devido ao seu projeto nacional de desenvolvimento.
Foi só Juscelino dar à Federação "Espírita" Brasileira o título de Instituição de Utilidade Pública, em gratidão à entidade e a Chico Xavier, para a coisa sucumbir ao azar. Juscelino perdeu a continuidade política ao não conseguir eleger seu sucessor, o marechal Henrique Lott, o mesmo que fez um contragolpe, em novembro de 1955, para garantir a posse de JK, que estava ameaçada.
Juscelino, mesmo defendendo o golpe militar de 1964, contrariado com o envolvimento do seu ex-vice presidente João Goulart com o radicalismo de Leonel Brizola, foi um dos primeiros políticos cassados pela ditadura militar.
Pior: a campanha presidencial de 1965, dada como certa, foi cancelada e JK passou a viver infortúnios pessoais diversos, não conseguindo lutar pela redemocratização do país nem sequer conquistar uma cadeira na Academia Brasileira de Letras, a mesma que foi capaz de eleger, anos mais tarde, uma verdadeira futilidade literária que é o comentarista político Merval Pereira.
Juscelino morreu num estranho acidente com aspectos de atentado, embora também investigações oficiais não falem em assassinato. A única filha biológica, Márcia Kubitschek, morreu de câncer em 2000. Mas a má sorte pode também ter contagiado gente direta ou indiretamente ligada a JK.
Henrique Lott teve uma filha, Edna, assassinada numa discussão fútil com um deputado, em 1971. Parceiros de JK na Frente Ampla, o ex-vice João Goulart e o antigo desafeto de ambos, Carlos Lacerda, faleceram em circunstâncias misteriosas. Mas a energia chegou até o ator José Wilker, que interpretou JK numa minissérie da Globo, inesperadamente falecido por infarto fulminante depois que ele, ateu, recorreu a um "centro espírita".
Por outro lado, o ex-presidente e senador Fernando Collor de Mello teve mais sorte. Apoiado por Chico Xavier na campanha eleitoral de 1989, Collor apenas perdeu o mandato devido a um impeachment após denúncias de corrupção. Mas foi favorecido pelas circunstâncias, pouco depois.
Aqueles que o denunciaram, o irmão Pedro Collor e o ex-tesoureiro de campanha, Paulo César Farias, morreram. PC Farias foi ainda a morte mais misteriosa, assassinado com Susana Marcolino num quarto de hotel, numa ocorrência definitivamente sem vestígios, pois uma faxina posterior limpou as marcas do crime.
Collor retomou os direitos políticos em 2000, se elegeu senador em 2006 com o apoio da revista Isto É e das redes sociais e as denúncias de corrupção política parecem não lhe assustar. Para piorar, o seu breve período político (1990-1992) é alvo de saudosismo sócio-cultural, com ídolos do "pagode" e "sertanejo" da época hoje se autopromovendo com tributos à MPB, personalidades como a siliconada Solange Gomes e Gugu Liberato em alta e até um Guilherme de Pádua (que matou a atriz Daniela Perez no mesmo dia do impeachment) vivendo a boa vida da impunidade jurídica e social.
RÁDIO METRÓPOLE E JOSÉ MEDRADO
Por sinal, outra figura em evidência na Era Collor, o baiano Mário Kertèsz, prefeito de Salvador naquela época, também foi beneficiada pelas "energias colloridas": denunciado por um grave esquema de corrupção que paralisou grandes obras de urbanização na capital baiana, ele desviou verbas públicas cujo dinheiro foi usado por ele para adquirir ações em rádios, jornal e numa afiliada de uma rede de televisão.
Tendo sido político lançado pela ditadura militar, apadrinhado por Antônio Carlos Magalhães e filiado à ARENA, Kertèsz ainda foi designado interventor do Jornal da Bahia, jornal de centro-esquerda que marcou história na imprensa baiana. Kertèsz destruiu o jornal, transformando-o num tabloide de péssima qualidade, inspirado no paulista Notícias Populares.
O que poderia ser um inferno astral político foi revertido para uma trajetória arrivista: Kertèsz teve que se desfazer de parte de seu patrimônio midiático e, com o que restou, formou o grupo Metrópole. Direitista, cooptou setores de esquerda para seu apoio, e conseguiu convencer, mediante acordo de divulgação dos livros sobre o Jornal da Bahia, que os autores João Carlos Teixeira Gomes (Joca) e João Falcão, fundadores do periódico, evitassem comentários desfavoráveis ao ex-interventor.
A Rádio Metrópole tem como um dos contratados o "médium" José Medrado, suspeito de irregularidades na construção da Cidade da Luz e cuja obra de supostas pinturas mediúnicas apresenta sérias irregularidades de estilo.
Neste caso, observa-se a sorte que a Rádio Metrópole FM possui, pois, embora a rádio não seja lá uma das mais ouvidas de Salvador nem do interior da Bahia - existe o artifício de forjar um "Ibope alto" comprando sintonias em estabelecimentos comerciais e em categorias profissionais como taxistas, donos de botequins, frentistas de postos de gasolina e motoristas de vans escolares - , ela é blindada pela imprensa local, como os jornais A Tarde, Tribuna da Bahia e Correio da Bahia.
Kertèsz não é considerado um bom jornalista. É tendencioso, parcial, e acusado de promover o culto à personalidade em sua rádio. É obrigado a se assumir, não como editor-chefe, mas como diretor de seus programas noticiosos, para evitar problemas com o Sindicato dos Jornalistas. O talento de Kertèsz, como radiojornalista, é medíocre e apenas imita os clichês do radiojornalismo de âmbito nacional de emissoras como CBN, Jovem Pan e Band News.
Altamente tendencioso, Kertèsz, poucos dias atrás, se autopromoveu, como exímio arrivista, com uma entrevista ao ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, que ganhou repercussão nacional. O direitista Kertèsz agiu com esperteza, pois, embora a entrevista tivesse sido divulgada também por veículos conservadores como Globo e Folha, ela teve cartaz na mídia progressista, solidária a Lula, o que pode ser um risco de uma certa complacência com a tendenciosa Metrópole FM.
Esse é um exemplo de como um arrivista de perfil retrógrado pode embarcar em movimentos progressistas para obter vantagens pessoais. Protegido pelas energias de um contratado "espírita", Kertèsz é um exemplo de como um espírito atrasado é blindado pelo "espiritismo" brasileiro, de forma a pegar carona em movimentos de vanguarda visando a pura promoção pessoal.
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