sexta-feira, 14 de outubro de 2016

O que é ser um suposto espírita no Brasil?


O que é ser espírita no Brasil? Dentro da supremacia da roustanguista FEB, oficialmente é "a melhor das coisas", admitindo o mundo espiritual, a vida após a morte e as lições de fraternidade cristã com maior transparência e espontaneidade. É o que muitos entendem, mas a realidade desmente tudo isso.

Ser um suposto espírita no Brasil, um "espírita" catolicizado, é na verdade ser pedante em tudo. Pois o que vemos no "movimento espírita" não são apenas católicos envergonhados, com mais medo de batinas e igrejas revestidas de ouro do que da morte, mas um ajuntamento de incompetentes de toda espécie.

Pelo que se observa, o "espiritismo" brasileiro não é a "religião da bondade" - devemos nos lembrar que bondade não tem religião, não pode ser subproduto da prática religiosa - , mas a "religião da mediocridade". Ela reúne pessoas medíocres em suas habilidades, que querem ter um lampejo de genialidade se apoiando numa seita religiosa que trouxesse, em tese, um caminho curto para o céu.

São cientistas de terceira categoria que se apoiam no "espiritismo" para nele inserir teses esotéricas, misturar um cientificismo bastante confuso, irregular e equivocado, uma compreensão malfeita de conceitos de Física e Química misturadas com devaneios astrológicos e uma Psicologia de clínicas clandestinas, criando um engodo que promete a salvação plena da humanidade.

No mesmo caminho vão os filósofos frustrados, com medo de analisar profundamente os problemas metafísicos, mas habilidosos em criar um malabarismo retórico, de palavras muito bem arrumadas, também misturando cientificismo confuso e misticismo esotérico, mas criando uma verborragia pseudofilosófica que mais parece ter sido tirado de algum stand up comedy que parodiasse a Filosofia.

Há também professores frustrados, incapazes de trazer um ensinamento aprofundado, que se valem de uma oratória hábil e envolvente, bela no aparato de palavras, na beleza dos vocábulos apresentados, no desfile de ideias agradabilíssimas, no nivelar das entonações dramáticas, no simulacro de saber enciclopédico. Temos exemplo disso, Divaldo Franco, com sua retórica organizada a embelezar um vazio de ideias.

Há católicos frustrados, beatos de crenças ortodoxas e até medievais, que parecem ser os primeiros a experimentar os rituais católicos dos tempos do imperador Constantino, mas que de repente passaram a se entediar com o senta-e-levanta das missas em latim e com o luxo extremo das batinas dos padres e sacerdotes e ainda tem hábitos estranhos como a paranormalidade.

Esse também temos exemplo: Francisco Cândido Xavier. Sim, o Chico Xavier tão associado erroneamente ao espiritismo autêntico - na ingenuidade de muitos quererem recuperar as bases kardecianas mantendo Chico e Divaldo no pedestal - , sempre foi um católico de crenças ortodoxas e medievais, que apenas foi excomungado porque afirmou se comunicar com a mãe e com o espírito de um padre jesuíta muito conhecido em nossa História.

Mas há também romancistas e novelistas frustrados, cujo caminho para a Academia Brasileira de Letras é praticamente uma ilusão impossível de ser realizada, com romances medíocres e, em muitos casos, confusos e com erros historiográficos risíveis. O próprio Chico Xavier teria sido um pioneiro nessa baixa literatura, apenas esforçada no desfile de palavras pomposas.

Mas não faz mal. Com uma disposição para a caminhada, pode-se andar em direção à Cinelândia, percorrer o Largo da Carioca e daí se dirigir por uma rua, também chamada de Carioca, indo para a Praça Tiradentes em direção ao Teatro João Caetano e daí seguir o mesmo lado da calçada, pela Avenida Passos, em direção à Federação "Espírita" Brasileira, de braços abertos para acolher escritores frustrados, que só precisam de uns procedimentos muito simples.

O procedimento é o uso de um pseudônimo, inventado ou retirado de algum famoso falecido (tomando cuidado para não arranjar problemas com herdeiros), e a temática pode girar em romances cotidianos quaisquer, mas desde que terminassem com alguma lição moralista voltada para princípios religiosos.

Ser "espírita", portanto, é ser um nada querendo ser tudo. É levar zero em Física e Química na escola ou na faculdade e ser "cientista" com essas compreensões erradas nos artigos escritos em publicações "espíritas".

É levar pau em Redação e em Oficina Literária e "brilhar" na literatura "espírita". É ser um péssimo filósofo e falar em "Filosofia" em palestras "espíritas", criando um engodo verborrágico que nada tem de busca pela verdade de tão confuso, contraditório e fantasioso que é. É ter medo de ser padre católico e desempenhar este mesmo trabalho na condição de "médium espírita", aproveitando seu pedantismo intelectual para bancar o dublê de pensador e conselheiro moral.

Não por acaso os juízes, pelo jeito "ancestrais" de Sérgio Moro e Gilmar Mendes, que por omissão deixaram passar, em 1944, a farsa do falso Humberto de Campos dos livros publicados por Chico Xavier, sentiram a "sintonia energética", eles que tiveram sua incompreensão com a questão jurídica mais óbvia, a de que a obra "espiritual" destoa severamente do estilo do autor maranhense, cabendo invalidá-la e processar os responsáveis (Chico e a FEB) por falsidade ideológica.

O "espiritismo" brasileiro, portanto, é um reflexo da mania de uma boa parcela de brasileiros de mascarar ideias velhas com rótulos novos, no caso o Catolicismo medieval e jesuíta, descartado por correntes modernas da Igreja Católica após o fim do Segundo Império, mascarado pela Doutrina Espírita. Sempre uma novidade lapidada para não ofender um conjunto de ideias obsoletas que, em vez de serem rompidas, são adaptadas ao contexto da aparente novidade.

Do mesmo modo, o "espiritismo" brasileiro também reflete o pretensiosismo de parte dos brasileiros, em dissimular ideias conservadoras em geral, em querer ficar com a última palavra, em abraçar ideais moralistas, em se julgar especialista naquilo que não compreende bem, é dissimular seu pedantismo usurpando e deturpando os melhores conceitos, é se autopromover às custas do que os verdadeiros pensadores dizem e distorcer o sentido de suas mensagens.

O "espiritismo", portanto, é produto desse modelo velho e desgastado de sociedade brasileira, que aposta seu último apelo através do governo de Michel Temer, que oferece uma agenda reacionária que expressa o último recurso de velhas elites recuperarem ou manterem seus privilégios e tradições em processo de perecimento.

Com toda a certeza, o "espiritismo", por simbolizar esse Brasil velho e viciado, comprovou ser incapaz de ser uma doutrina espiritualista de vanguarda, por não esconder aspectos de religiosidade antiquados dignos dos tempos do Brasil colonial.

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