LUAN SANTANA E WESLEY SAFADÃO - Música ruim para gerar muito dinheiro.
O Brasil está culturalmente ruim. Bregalização musical, subcelebridades, imprensa marrom, tudo isso monopoliza o imaginário popular e invade os campi universitários e os grandes condomínios. Uma "cultura" sem dignidade, feita apenas para atrair o grande público, mas que é planejada nos escritórios empresariais e são apoiados pelos executivos da grande mídia.
Que esperar de uma suposta supremacia social do Brasil, seja como "coração do mundo", seja como "potência mundial" etc, com uma "cultura" que traz um aspecto claro de ser subordinada a interesses comerciais, baseados em padrões ditados pelo capitalismo dos EUA e combinados com interesses regionais de oligarquias latifundiárias - que "desenham" o imaginário do "povão" que prevalece em suas regiões - , é algo que não dá mesmo para entender.
Só na música o comercialismo se torna intenso e tão intenso que até mesmo a antiga imponente MPB (não a "verdadeira MPB" dos bregas que lotam plateias "facim, facim", mas dos que fazem música brasileira de qualidade, independente do comprovante de renda) passou a compactuar com esse cenário desolador, criando apenas um "terreno restrito" para sua expressão.
Da MPB que brilhava nos festivais de música e nos programas de televisão de 50 anos atrás, nada restou senão de intermináveis tributos que assustam muitos ouvintes por soarem despedidas e terem um ranço saudosista, pela falta de novidades que isso representa. Fora isso, o que se tem é, praticamente, uma sub-Jovem Guarda de apelo pós-Tropicalista, ou um Rock Brasil de sexta categoria.
Para tornar a situação mais grave, certas correntes de analistas consideram "MPB" as gerações de bregas que dominaram as rádios nos anos 80 e 90 com uma falsa sofisticação musical. São cantores românticos, seja da geração Sullivan & Massadas, sejam os "pagodeiros" e "sertanejos" que simbolizaram o que as rádios tocaram na Era Collor.
O preocupante é que a "MPB" que todos eles passaram a fazer não é muito diferente que a fase pasteurizada da própria MPB dos anos 80, ditada pelos interesses da indústria fonográfica, e que, nas mãos dos bregas dos anos 80 e 90, tornou-se ainda mais piorada, piegas, superficial e pedante.
Cria-se, na verdade, uma divisão, um apartheid musical que torna risíveis os apelos de uma intelectualidade pró-brega, que blindava o que era "sucesso popular" nas rádios e TVs mas fingia um desvínculo midiático - o que os fazia investir no proselitismo até na imprensa de esquerda, divergente aos interesses desses intelectuais - , que descrevia a "aceitação do brega" como um "combate" ao separatismo musical. Na prática, a aceitação sugere o contrário.
Afinal, enquanto a música brasileira de qualidade - antes possível em pessoas vindas das classes populares, como Cartola e Jackson do Pandeiro e, num passado menos remoto, aos hoje veteranos Elza Soares e Martinho da Vila - se isola nas elites ainda mais aristocratizadas e especializadas, as músicas mais popularescas alcançam redutos de classe média alta, se aproximando de ricas elites mais "populistas".
E hoje, quando o comercialismo musical passa a ser mais explícito através de Anitta, Luan Santana, Nego do Borel e Wesley Safadão, fora as inúmeras e cada vez mais iguais duplas de "sertanejo universitário", a coisa é de se preocupar. Sinal de que o patrimônio cultural brasileiro está próximo de virar coisa de museu, enquanto a "cultura" se subordina a uma mentalidade economicista.
A confusão de arte ou cultura com entretenimento - termo que corresponde ao sentido consumista de um simples lazer ou diversão - , que deslumbra os chamados "midiotas" das redes sociais, permite isso, da mesma forma que existe a ignorância da crise cultural que o país vive, que não pode ser menosprezada por conta de tantos fenômenos "bem sucedidos".
Não é a profusão de mulheres-frutas, subcelebridades, atores de novela que odeiam ler livros porque "dói na vista" mas adoram ler letrinhas miúdas no WhatsApp do smartphone, apresentadores policialescos que bancam os "justiceiros eletrônicos" e os enchedores de plateias da música brega, todos sob a complacência de acadêmicos e jornalistas culturais que acham que o povo pobre só gosta de pornografia, gente pitoresca e patética e fenômenos aberrantes.
A crise cultural chega aos palcos teatrais, quando há muito mais franquias de desenhos animados e contos-de-fadas, e às páginas literárias, quando a categoria de não-ficção inclui, da forma mais ridícula possível, livros para colorir, é sinal que o cenário cultural brasileiro está calamitoso, apesar dos sorrisos felizes da população que pensa que apreciar cultura é consumir cultura.
Há muita diferença entre consumo e apreciação. A apreciação cultural envolve motivações sociais, relações entre pessoas e compartilhamento de valores humanos. Já o consumismo cultural é apenas um processo de consumo, como um lanche, em que pessoas apenas se juntam em torno de uma mercadoria, sem saber o seu real significado e movidas por uma propaganda midiática no qual esse produto "vale a pena".
E isso não é levado em conta. Afinal, as pessoas que confundem cultura com entretenimento também acreditam cegamente em juristas tendenciosos e medíocres como Sérgio Moro, e ficam felizes diante desse tenebroso governo de Michel Temer que ameaça cortar benefícios sociais dos mais caros à população, embora o presidente tente desmentir aquilo que, com certeza, fará na surdina.
O Brasil precisa ser revisto e abrir mão de muita coisa que está no topo da pirâmide social, sejam religiões, veículos midiáticos, tecnocratas etc. Gente que demonstra ter um desempenho desastroso e cujos erros graves não podem ser relativizados pela desculpa de que "todo mundo erra".
Isso porque os erros que a grande mídia patronal, religiões moralistas, intelectuais da "cultura" brega, ideólogos da pintura padronizada nos ônibus, rentistas e políticos fisiológicos de direita são muitíssimo sérios e preocupantes para serem minimizados. É hora de estabelecer um repúdio mais firme e enérgico a tudo isso, antes que essa gente "muito importante" destrua o Brasil.
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