terça-feira, 26 de novembro de 2013
André Luiz pode nunca ter existido
O "espírito" André Luiz, figura conhecida da "falange" de Emmanuel, o dito "orientador" de Chico Xavier, pode na verdade nunca ter existido. O "narrador" do livro Nosso Lar, obra mística e surreal da literatura espiritólica, teria sido um personagem fictício.
Nos meios espiritólicos, há até mesmo "apostas" sobre quem teria sido o suposto espírito. E como no páreo das supostas encarnações anteriores há até mesmo um ex-presidente do Flamengo, há três torcidas correspondentes a cada suposta encarnação anterior de André Luiz.
Antes de mais nada, supõe-se que André Luiz teria sido um médico que, num jantar com sua esposa, por volta de algum ano da década de 1930, teria sofrido um mal-estar que culminou numa parada cardíaca e encerrou sua vida na Terra.
André teria sido um médico que teria tido uma vida promíscua, principalmente com excessos relacionados à bebida, ao tabagismo e ao uso de remédios, principalmente contra a depressão. Há três personalidades atribuídas por diferentes correntes espiritólicas sobre quem teria sido André Luiz.
A primeira corrente toma como personalidade o médico Oswaldo Cruz, conhecido sanitarista brasileiro. A hipótese foi reforçada por uma mensagem "parapsicológica" do padre Oscar González Quevedo, o "padre Quevedo".
No entanto, as informações se contradizem ao se constatar que, enquanto André Luiz se dizia filho de um comerciante, Oswaldo Cruz era filho de um médico militar que havia participado da Guerra do Paraguai.
Num de seus delírios historiográficos, o livro Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho diz que Oswaldo Cruz teria sido, em outra encarnação, o militar português Estácio de Sá, primeiro governador-geral da Capitania do Rio de Janeiro.
A segunda hipótese corresponde ao médico Carlos Chagas, talvez a mais festejada nos meios espiritólicos, por tais informações terem sido difundidas por Waldo Vieira, quando era médium da FEB e parceiro de Chico Xavier, e por Carlos Baccelli, membro da cúpula da FEB.
Waldo teria feito o desenho da foto acima, com traços "parecidos" com os de Carlos Chagas, atribuindo a ele a aparência que teve André Luiz em sua última encarnação. Alguns centros espiritólicos chegam a divulgar André Luiz usando imagem de Carlos Chagas, conhecido por pesquisar a doença transmitida pelo inseto barbeiro e que ganhou o sobrenome do cientista.
Já a terceira hipótese foi difundida pelo escritor e jornalista Luciano dos Anjos, um dos principais divulgadores da vida e obra de Jean-Baptiste Roustaing no Brasil, com livros especializados sobre ele. Luciano teria "descoberto" que André Luiz teria sido Faustino Esporel, médico carioca que teria sido também dirigente esportivo, tendo sido presidente do Clube de Regatas Flamengo.
No entanto, nesse "campeonato" a hipótese que de alguma forma inclui um time de futebol foi a mais perdedora. A maior torcida espiritólica ficou mesmo com Carlos Chagas, por conta da visibilidade e situação de poder de quem a difundiu.
FICTÍCIO
O que se observa é que André Luiz "aparece" como suposto autor dos livros mediúnicos entre 1944 e 1968, através da chamada "Série André Luiz", quando o médium Waldo Vieira era parceiro de Chico Xavier. Um e outro alternavam as tarefas de supostamente psicografar o "espírito", a partir da famosa obra Nosso Lar, de 1944.
Existe até mesmo um livro, lançado em 1955, chamado Nos Domínios da Mediunidade. Pobre professor Allan Kardec!! Como se suas lições precisas e seguras do Livro dos Médiuns não fossem suficientes para serem seguidas, e aí vem o livro "psicografado" lançado sob o pretexto de complementar o livro kardeciano, mas na verdade o renega em sua essência, distorcendo os ensinamentos do professor francês.
André Luiz "desaparece" em 1968, dois anos depois de Waldo Vieira se desligar do espiritolicismo e fundar uma seita bastante esotérica, Projeciologia e Conscienciologia, bem nos moldes das seitas modernas de verniz científico e psicológico, vide a famosa Cientologia. Waldo até hoje está à frente dessa seita que se apoia nesses dois nomes integrados.
O "último livro" da "Série André Luiz" foi E a Vida Continua..., atribuindo a psicografia a Chico Xavier. Teve uma adaptação cinematográfica em 2012. Depois o "espírito" André Luiz supostamente anuncia como "cumprida" a sua missão literária.
No entanto, com tantas especulações, sobretudo pela apropriação da imagem de cientistas, sobretudo Carlos Chagas, o que provavelmente pode ter acontecido é que André Luiz teria sido uma criação de Waldo Vieira, respaldada pela FEB e por Chico Xavier, e portanto um personagem tão fictício quanto, por exemplo, Harry Potter.
A contradição quanto aos dados biográficos - se confrontados com as supostas encarnações atribuídas em suas respectivas hipóteses - e a fértil imaginação mística de Waldo Vieira, que havia também inspirado Xavier, podem ter sido os ingredientes para a construção do "espírito", um dos supostos autores do espiritolicismo que possuem títulos com sucesso de vendas e de adaptação para o teatro e o cinema.
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