REGISTRO DA POSSE DE HUMBERTO DE CAMPOS (D) NA ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS, NO RIO DE JANEIRO, EM 1920.
A obsessão de Francisco Cândido Xavier por Humberto de Campos e por outros espíritos falecidos, agindo como uma espécie de brincadeira que até hoje é levada a sério demais, tornou-se um dos mais graves casos de apropriação de identidade de alguém na História do Brasil.
Que mesmo pessoas distantes, uma encarnada e outra desencarnada, podem se afeiçoar, isso é possível. Mas, no caso de Humberto de Campos, isso nunca aconteceu, e o Chico Xavier que chamava seus contestadores de "levianos", mostrando que o "homem chamado amor" tinha também suas palavras venenosas, mostrava que tudo que escreveu sob o nome do outro era falso.
É só pesquisar com muita atenção os livros que Humberto de Campos lançou em vida. Seu estilo era bem próprio. Referenciais culturais eruditos, narrados com um leve tom coloquial, quase sempre descontraídos, dotados de eventual humor que poderia ser brincalhão e, por vezes, sarcástico, como no polêmico Diário Secreto (Vols. 1 e 2), lançado postumamente em 1954.
Já o suposto espírito de Humberto de Campos, por sua vez, destoa completamente do estilo que marcou o escritor em vida, já que todos os textos atribuídos ao "espírito Humberto de Campos" soam excessivamente religiosos, tristonhos, cansativos e deprimentes, sem manifestar um milésimo do senso de humor que marcou a vida e obra do escritor.
Antes que analisemos a gravura acima, publicada numa reportagem de O Globo, de 25 de abril de 1935, meses após o falecimento do escritor, que foi em 05 de dezembro de 1934, com apenas 48 anos de idade, um fato explica que Chico Xavier nem de longe se preocupou em reproduzir o estilo descontraído de Humberto de Campos.
Segundo informações trazidas pela reportagem, Chico Xavier, pelo menos até 1935, só conhecia Humberto de Campos pelos artigos publicados em jornais. Nunca leu os livros do autor, e na época esperava a encomenda de dois livros que um amigo prometeu lhe enviar.
Sem apresentar provas, o livro A Vida Triunfa, de Paulo Lopes Severino, que analisa "cientificamente" as ditas psicografias de Chico Xavier, descreve que, de 45 cartas que Chico Xavier "recebeu" mostrando assinaturas, 19 (42,2%) eram diferentes, 10 (22,2%) eram semelhantes e 16 (35,6%) eram idênticas. Os dados, em si, não garantem veracidade, e a não apresentação de provas faz com que o relato seja, no mínimo, duvidoso.
Quanto às assinaturas comparadas pela reportagem de O Globo, já em 1935, quase uma década antes do caso Humberto de Campos causar problemas judiciais contra Chico e a Federação "Espírita" Brasileira, é aberrante a diferença entre as duas assinaturas, a grafada por Xavier e a do escritor em vida. Vamos reproduzir as assinaturas na imagem em destaque
Note-se que as caligrafias são extremamente diferentes, sendo, acima, a suposta assinatura do "espírito Humberto de Campos", e, abaixo, a que o verdadeiro Humberto teve em vida. O modo de escrever é completamente diferente, e a assinatura acima ainda mostra um estilo de caligrafia próximo ao de Chico Xavier quando escrevia de forma apressada.
Mesmo quando se admite "defeito no aparelho", no caso o suposto médium, era de se esperar o máximo de semelhança possível, comparável ao da assinatura que uma mesma pessoa escreve várias vezes, com suas devidas diferenças pontuais, que não comprometem os aspectos de identidade e personalidade do assinante.
Portanto, a assinatura do suposto espírito simplesmente não procede. A caligrafia é de uma diferença aberrante, assim como o estilo literário entre o suposto espírito e o legado deixado por Humberto de Campos na Terra.
São diferenças que nos fazem concluir, com segurança: Humberto de Campos nunca esteve ligado às "psicografias" que leva seu nome e que ele mesmo, cauteloso, se afastou de Chico Xavier desde os poucos meses de falecido, receoso da exploração leviana que o anti-médium fez do escritor maranhense.
sábado, 28 de fevereiro de 2015
sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015
Apego obsessivo a Divaldo Franco faz mãe sofrer de raiva
Recebemos uma mensagem de um internauta aflito que pediu para não ser identificado e solicitou também que não reproduzisse seu texto, mas apenas que relatássemos seu caso, um problema familiar provocado pelo apego ao "espiritismo" brasileiro e seus totens.
A mãe dele costumava ouvir no seu toca-CDs, em altos volumes, os discursos verborrágicos de Divaldo Franco gravados na Internet. Todo aquele aparato retórico, palavras bem arrumadas, argumentos aparentemente perfeitos, suposta capacidade de ter respostas para todas as coisas, um simulacro de erudição de palavras rebuscadas e mensagens dóceis e piegas.
De repente, o rapaz, um ex-"espírita" que sofreu muito azar quando seguia a doutrina, atraindo energias negativas a cada doutrinária e tratamento espiritual que recebia e a casa sessão de passes que sugava todas suas energias, decidiu jogar fora os CDs de Divaldo que arrumou para sua mãe ouvir.
Certo dia, depois de ver a reportagem do Fantástico sobre a Mansão do Caminho, a mãe do rapaz sentiu falta dos CDs do Divaldo e o filho confessou que havia jogado fora os CDs, revelando que tudo que Divaldo falava era mistificação barata e cheia de mentiras e inverdades.
A mãe ficou chocada e triste, ficou arrasada e além disso ficou brigada com o rapaz, alegando que não o conhecia até aquela ocasião, sentindo-se traída e agredida com o ato. Ela disse que o filho jogou fora os CDs sem sua permissão.
O internauta nos pergunta que amor inspiram as palavras de Divaldo se, à primeira adversidade, ocorrem reações de raiva, ódio e revolta? Que palavras doces são essas que não conseguem fazer o coração permanecer sereno por muito tempo, ao esgotamento de tais palavras o veneno do ódio retorna com mais força?
O que o internauta chama a atenção é que sua mãe tanto afirmava não sentir apego material por coisa alguma. Ela sempre lhe dizia que sempre teve desapegada a tudo. Mas, com o incidente, ela se mostrou tão obsessivamente apegada ao estereótipo material de "velho sábio" de Divaldo Franco e ao igual materialismo das palavras dóceis que nada fazem senão adoçar instintos.
Segundo ele, essa foi a pior demonstração de apego material, dos mais obsessivos e dos mais desesperados, que uma pessoa é capaz de sentir, com o agravante de que essa mesma pessoa se julgava desapegada de tudo.
Ela poderia ser desapegada de tudo, mas era obsessivamente apegada ao estereótipo de um pseudo-professor idoso e de palavras ao mesmo tempo cultas e dóceis, É como se fosse uma viciada em bebidas alcoólicas, mas que, no lugar das bebidas, estão as palavras de Divaldo Franco.
Isso mostra o grave prejuízo que pode causar o "espiritismo" no Brasil, uma doutrina que brinca com os mortos e usa levianamente os nomes deles para mensagens apócrifas de propagandismo religioso. Tudo camuflado pelo mais grosso manto de "amor" e "caridade".
Daí não ser exagero que os pseudo-sábios do "movimento espírita", como Divaldo Franco e Chico Xavier, são portadores de tão tenras palavras que podem até adoçar almas, mas envenenam vidas. Daí o "amor" limitado à retórica mas que não consegue fazer os corações de seus seguidores permanecerem puros e serenos por muito tempo. Num dado momento, ocorre o desequilíbrio.
quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015
"Espiritismo" usa "caridade" para abafar fraudes de Chico Xavier e Divaldo Franco
A reportagem transmitida há poucos dias pelo Fantástico da Rede Globo sinaliza a campanha desesperada do "movimento espírita" tentar salvar a abalada reputação dos anti-médiuns Chico Xavier e Divaldo Franco, enquanto tenta "endeusar" esse último, que já está no seu final de vida, perto de completar 88 anos de idade.
A Federação "Espírita" Brasileira corre contra o tempo para lançar sua Contra-Reforma, como meio de manter o Brasil escravizado no seu suposto espiritismo, na verdade uma forma reciclada do antigo Catolicismo medieval que vigorou nos tempos em que nosso país era colônia portuguesa.
Com isso, mil apelações estão sendo feitas, desde parcerias com Maurício de Souza para fazer a Turma da Mônica ensinar de forma "mastigada" o "espiritismo da FEB", até monografias que, de uma maneira malandra, atribuir ao fictício André Luiz um pioneirismo científico de seis décadas, sem que seus autores consultassem as fontes bibliográficas originais publicadas antes do livro Missionários da Luz, de 1945.
Os chefões da FEB tentam hoje inserir Francisco Cândido Xavier, ainda que postumamente, no seleto clube de cientistas, como se ele tivesse sido algum parente ou "amigo de infância" de Stephen Hawking. Tudo da maneira mais malandra, usando da tática da contradição discursiva que sempre transformou Chico Xavier em "gênio" e "divindade" às custas de suas fraquezas.
Enquanto se tentam afirmar supostos prodígios científicos de Chico Xavier, tenta-se ao menos colocar Divaldo Franco como "filantropo", através de um projeto que nada tem de revolucionário, submete a alfabetização e o ensino profissional ao proselitismo religioso, e só beneficiou até agora menos de 1% da população de uma grande cidade como Salvador.
É evidente que Chico também será inserido no âmbito da "filantropia", mas como ela em si não foi esclarecida, a não ser pelas atividades já conhecidas em Uberaba, a FEB prefere, antes, transformá-lo em "cientista" para depois enfatizar ainda mais sua imagem "filantrópica".
São medidas de propaganda, feitas para preservar os dois tótens, ligados a anti-médiuns que eram entusiasmados, porém não devidamente assumidos, seguidores de Jean-Baptiste Roustaing e que, com o tempo, pegaram carona, oportunistas, com aqueles que reivindicavam a recuperação das bases kardecianas.
Ninguém é ingênuo para acreditar, seriamente, que Chico e Divaldo "leram mal Kardec" e "prometeram aprender melhor". Eles se mantiveram longe de Kardec, apenas usando-o tendenciosamente para interpretar mal suas ideias em favor dos interesses mesquinhos dos dois anti-médiuns. Ficaram elogiando Kardec e autoproclamando "fiéis" a seus ensinamentos, enquanto o apunhalavam pelas costas.
E como seus procedimentos em prol da Doutrina Espírita foram muito traiçoeiros (os de Divaldo ainda são), os dois tentam agora se autopromover pela "filantropia" e "amor ao próximo", lembrando toda a campanha que o Catolicismo da Idade Média fazia com seus sacerdotes com sua "filantropia" feita sob o sangue dos hereges ("reajustes espirituais"?).
No fundo, essa "filantropia" é apenas uma campanha pomposa para defender esses tótens, num processo muito mal-disfarçado de idolatria, de culto materialista enrustido, que se apoia em estereótipos de humildade, sabedoria, fragilidade e serenidade que cerca essas duas figuras que tão docilmente empastelaram as ideias de Allan Kardec.
E isso prova que os seguidores de Chico Xavier e Divaldo Franco são os que mais radicalmente estão apegados à matéria. Apegadíssimos. Presos à matéria dos corpos frágeis e das reputações terrenas simbolizadas pelos dois "médiuns".
A "superioridade espiritual" de Chico e Divaldo são apenas uma impressão terrena de seus caprichos religiosos, uma impressão que, com toda a certeza, se dissolve feito castelo de areia tragado pelo mar, quando se deixa a Terra para ir ao mundo espíritual.
quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015
O desprezo às identidades no Brasil que quer ser o "Coração do Mundo"
Suposta psicografia com a assinatura na mesma caligrafia do suposto médium. Empresas de ônibus diferentes exibindo a mesma pintura padronizada imposta por prefeituras ou órgãos estaduais. Cultura supostamente popular que, na verdade, reflete interesses empresariais ocultos. Rádios para segmentos específicos, como o rock, que nem de longe traduzem a realidade do público enfocado.
O que é a identidade? O que são os desejos, os interesses, os aspectos pessoais? Num Brasil em crise de valores, isso nada vale, ninguém sabe mais o que realmente quer ou deseja, vivemos a crise do desejo, da representatividade, e isso faz com que as coisas se submetam ao império da incoerência, do surrealismo, da mistificação.
Relativizamos demais porque muitos de nós não sabemos sequer o que exigiremos. Por outro lado, as autoridades - como as que impõem a pintura padronizada nos ônibus, vetando a cada empresa a apresentação de sua própria identidade visual (que facilitaria o reconhecimento pelos passageiros) - não sabem o que o povo quer ou não quer e ainda assim querem decidir tudo por ele.
Que Brasil é esse que não conhece a si mesmo? Mesmo o conceito de auto-conhecimento, defendido pelo "espiritismo" brasileiro, mais parece o de auto-conformismo e uma pressão "amorosa" para que aceitemos os piores absurdos, que sejamos prejudicados a todo momento e ainda assim tivéssemos que sorrir o tempo inteiro e orar em silêncio, de preferência agradecendo cada infortúnio que abate nossas almas.
Há muito relativismo, porque uns veem coerência onde não existe, apenas superestimando pequenas semelhanças entre o falso e o verdadeiro. Outros veem altruísmo em seu egoísmo, camuflando seus interesses pessoais em "estudos que verificaram atendimento ao interesse público" por coisas que só atendem ao interesse privado de uns corruptos.
Muitos manipulam as palavras para justificar injustiças graves como se fossem "algo justo". E há gente agressiva, despejando mensagens violentas contra quem arrisca o menor questionamento, ou falsas provas científicas que tentam e alegam conseguir provar o que é impossível de tal condição.
Se vê essa mania toda em vários aspectos da vida no Brasil. Não sabemos o que realmente queremos, o que realmente precisamos, nem como e com que intensidade somos traídos ou prejudicados. Até na chamada "cultura popular", observa-se o "funk" que não passa de um empreendimento empresarial que transforma jovens pobres em fantoches, tido como "livre expressão das periferias".
Que identidade vamos cobrar para uma empresa de ônibus ou para um texto "psicográfico" se muitas pessoas não sabem sequer quem elas são, se camuflando em fakes de Internet ou moldando seus desejos pelo que os executivos de televisão, rádio e imprensa determinam que desejássemos.
Não sabemos o que é verdade. Ela acaba sendo deixada de lado pelo que o establishment define como "verdade", que não passa de um gnomo que some e aparece, que não tem a menor identidade e se camufla nos seus sumiços estratégicos para reaparecer no momento inesperado.
Mentiras e meias-verdades tornam-se "verdadeiras" pela preguiçosa relativização que as pessoas fazem. Nas supostas psicografias, as pessoas se comportam como os juízes de 1944, com medo de analisar os conteúdos, com mais medo ainda de identificar fraudes que prejudiquem a reputação do "bondoso médium" de frases açucaradas despejadas em doses diabéticas nas mídias sociais.
Daí que não temos diversidade, não temos o respeito às diversas identidades. Em pleno século XX, o livro Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, que se autoproclamava "futurista" e antecipava as "previsões" de Data-Limite Segundo Chico Xavier, negros e índios eram vistos como "animais", num retrógrado preconceito social.
Não sabemos a diferença entre uma cultura artesanal e uma cultura manufaturada. Consideramos o falso como "verdadeiro" por causa de umas leves semelhanças. Achamos que medidas prejudiciais a nós devem prevalecer por causa de um benefício que nunca vem e que acreditamos apenas demorar para chegar. E aderimos ao primeiro demagogo que falar "em nosso favor".
Aceitamos decisões "de cima" sem questionar, apenas por causa de um "critério técnico" aqui, uma "melhor estrutura" ali, uma "garantia de sucesso" acolá. Se uma fábrica lançar uma cicuta com sabores de frutas cítricas diversas, muitos ainda correrão para bares, mercados e farmácias para comprar o veneno achando que é um novo tipo de refresco.
Que condições temos para comandar o mundo, como sonhou tanto Chico Xavier? Não conseguimos verificar irregularidades, absurdos, limitações, prejuízos, aberrações. Construímos uma realidade surreal e consentimos com nossas próprias limitações, sem agirmos contra cada prejuízo que, em doses homeopáticas, se impõe às nossas vidas, para que soframos dor sem gemer.
Quantas famílias desperdiçaram suas lágrimas ao lerem falsas psicografias, que só têm a caligrafia do "médium" (nem Chico Xavier era exceção à regra, aliás ele mesmo era a regra), na ânsia desesperada de saber notícias de seus falecidos entes, dando crédito ao primeiro farsante que escreve usando o nome dos saudosos finados!
E as melhores famílias empurrando pornografia para as crianças, porque acreditaram que os ritmos musicais que a lançaram são "inocentes expressões das periferias", sem medir escrúpulos diante da erotização das crianças e adolescentes, que se refletirá nos piores impulsos sexuais do futuro.
Falta discernimento, questionamento, contestação, análises, desconfianças. Falta esse empenho cético que fez Allan Kardec o pedagogo exemplar que foi, questionador, autocrítico, analisador e verificador das coisas.
Enquanto isso, sobra relativismo, mesmo o relativismo suicida, em que as pessoas se matam aos poucos quando veem sendo prejudicadas em pequenas doses pelas decisões arbitrárias que autoridades políticas, empresários do entretenimento e mesmo líderes religiosos acabam fazendo nas vidas das pessoas comuns.
Dessa forma, o Brasil não poderá sequer pensar em ascensão sócio-política. Sabemos que isso é supérfluo mas, independente disso, o país marcado por essa submissão e falta de coragem para sair das zonas de conforto de "aguentar o pior em doses graduais" não pode sequer fantasiar alguma suposta liderança, porque falta ao povo aprender a conhecer seus próprios interesses e, portanto, não dá para o país ensinar ao mundo aquilo que o próprio Brasil não sabe de si mesmo.
terça-feira, 24 de fevereiro de 2015
Outra prova de que Chico Xavier teve livros reparados por editores da FEB
Mais duas frases comprovam que Francisco Cândido Xavier não escrevia os livros sozinho. A tese de que ele contou com a colaboração de Antônio Wantuil de Freitas, então presidente da Federação "Espírita" Brasileira, de editores da instituição e de consultores literários e até científicos, embora seja vista como "absurda" pelos meios "espíritas", faz muito sentido de verdade.
Só essa hipótese, lançada à opinião pública pelo escritor Alceu Amoroso Lima - que eventualmente usava o pseudônimo Tristão de Ataíde - , do Centro Dom Vital (instituição católica fundada por seu amigo Jackson de Figueiredo), já desfaz as dúvidas que deixavam Chico Xavier num ponto neutro da polêmica sobre sua suposta mediunidade.
Isso porque, quando vieram reações de dúvida sobre o trabalho mediúnico de Chico Xavier, a tese de que ele teria feito tudo sozinho fazia crer que a mediunidade podia ser "verdadeira", pela associação de seus trabalhos a diferentes personalidades literárias falecidas.
Isso faria crer que Chico Xavier teria sido muito sofisticado para fazer, sozinho, tantos e tantos pastiches, o que fez a FEB se aproveitar dessa hipótese e trabalhar o mito de Chico Xavier para construir um carisma que se manifesta nas frases açucaradas publicadas nas mídias sociais, como o Facebook.
Mas, levando em conta que Chico tinha colaboradores editoriais, como revela a "inconcebível" tese de Alceu Amoroso Lima, isso derruba o ponto nebuloso da antiga denúncia, afinal Chico Xavier seria incapaz de fazer sozinho os trabalhos "psicográficos" se eles tivessem sido fraudulentos. Mas também seu trabalho não seria verídico porque há sérios conflitos de estilo entre as mensagens espirituais e o estilo dos supostos autores verificado em seus legados terrenos.
Nomes como Olavo Bilac, Humberto de Campos, Auta de Souza e outros apresentaram, nas obras atribuídas a seus espíritos, evidentes e gravíssimos conflitos de estilo. Só em Humberto de Campos, a diferença é gritante: no lugar do escritor descontraído, de escrita ao mesmo tempo erudita e coloquial, entra um cronista tristonho que mais parecia ter sido, na Terra, algum padre católico.
Se observarmos a análise de conteúdo, com rigor e precisão, se verificará que os livros de Chico Xavier apresentam muitas fraudes. São pastiches, porque tentam imitar o estilo de autores falecidos e apresentam sérios problemas, porque imitação não é igual o original.
Especialistas literários dos mais conceituados denunciam tais fraudes. E não se trata de perseguição, calúnia ou intolerância, mas constatações feitas quando os estudiosos verificaram, nas obras espirituais lançadas por Chico Xavier, contradições e equívocos gravíssimos, que destoam completamente dos estilos que os autores atribuídos tiveram em vida.
Não podemos ser tolos e acreditar que, na vida espiritual, os espíritos perdem a identidade e o estilo, ou doam seu último patrimônio pessoal, seu talento, visando a tal "linguagem universal do amor". Esse argumento é ridículo e estúpido, porque é totalmente desprovido de lógica.
Chico Xavier soube dessa repercussão negativa dos livros por ele lançados e do aberrante caso de Humberto de Campos, cujos livros, pudemos constatar neste blogue, se aproximam mais em estilo a um trabalho conjunto de Chico e Wantuil do que de qualquer aspecto pessoal do autor de O Brasil Anedótico. Tanto que, certa vez, escreveu o seguinte para Wantuil, em 24 de agosto de 1947:
"Nosso gesto poderia traduzir, para muitos, temor ou excessiva consideração para com o bloco que nos acusa de interpolar os textos mediúnicos, porque não tendo havido uma providência desta, em qualquer edição dos livros recebidos em Pedro Leopoldo, desde a publicação do 'Parnaso', há quinze anos, a mudança seria extremamente chocante. (...) De uma coisa poderemos estar certos - é de que nunca estaremos livres da perseguição e da leviandade dos nossos adversários gratuitos. Mais vale recebê-los com paternal vigilância que dispensar-lhes excessiva consideração.(...)".
Claro, contestar Chico Xavier é "perseguição" e "leviandade", daí o perigo que o endeusamento de Chico entre seus seguidores pode significar no futuro, diante de um "fundamentalismo chiquista" que pode produzir os terroristas de amanhã.
Chico é um tanto astuto e com seu lado traiçoeiro que é verdadeiro, embora revelá-lo seja chocante para seus seguidores. Ele fala em "paternal vigilância" como alguém que parece calado e quieto, mas que se mantém em guarda contra seus contestadores, estes, embora enérgicos, os verdadeiros humildes da situação.
Chico Xavier não consegue ter coerência nem sensatez para justificar suas atividades, e os contestadores têm a seu favor o argumento lógico e a capacidade de poder explicar, com clareza e verificação, Mas num Brasil onde se mistifica e mitifica tudo, Chico tem a seu favor toda uma mística que cria um "território de fantasias" onde o raciocínio lógico é proibido de investigar.
Mas a frase abaixo é mais uma prova de que o trabalho de Chico Xavier não envolveu almas do além - com exceção de Emmanuel, o jesuíta que Chico evocou e que tornou tirano pessoal do anti-médium - , mas uma equipe de editores e consultores. Segue a frase:
"Restituí-te o livro ontem com todas as corrigendas que fizeste e podes crer que esses reajustamentos e todos os outros que puderes fazer, no "Brasil, Coração do Mundo"e em todos os outros livros, representam motivo de imenso prazer e de indefinível conforto para mim.Deus te recompense".
Isso prova a tese "absurda" de Alceu Amoroso Lima, mas que a realidade lógica reconhece como verdade. Considerar essa hipótese como verdadeira nada tem a ver com perseguições nem leviandades, mas a busca de uma coerência lógica dos fatos e um esforço para não deixar o religiosismo aprisionar certos fenômenos e atividades no cativeiro da mistificação e da fé cega.
segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015
A expansão do "funk" no projeto de "Coração do Mundo"
VALESCA POPOZUDA É ENTREVISTADA PARA DOCUMENTÁRIO FEITO PELA ATRIZ NORTE-AMERICANA ELLEN PAGE.
Que elevada cultura terá o país que quer ser o "coração do mundo"? A mediocrização cultural cresce que nem bola de neve e, de repente, tem até cartaz no mundo, não necessariamente uma popularidade no exterior, porque lá o povo não é bobo, mas uma relativa visibilidade que é baixa lá fora, mas que aqui soa como a conquista de espaços inimagináveis.
Enquanto ressoam campanhas para transformar o "funk carioca" em patrimônio cultural do Estado do Rio de Janeiro, num processo claramente de clentelismo político-partidário envolvendo empresários do ritmo, os grandes músicos que brilhariam no nosso país precisam fazer outros trabalhos para ter uma renda que mal dá para divulgar seu trabalho.
O "funk", que usa dos mesmos discursos "elevados" que Chico Xavier descreve do "coração do mundo" - "nova moralidade", "solidariedade" e "grandes valores sociais" - e sobrevive imune nas suas baixarias (até o astro-mirim MC Pedrinho, de 12 anos, pouco está ligando com o escândalo que causa interpretando baixarias), há muito tempo tenta chamar a atenção do mundo.
Até funqueiros surgidos do nada eram colocados para fazer turnê em casas noturnas decadentes da Europa, dessas que se podem marcar apresentações usando a Internet e indo até em portais, mas como forma de autopromoção ou pelo menos de alimentar a vaidade dos fãs brasileiros.
Recentemente, a estrela Valesca Popozuda - que foi empurrada para uma parcela "intelectualizada" dos apreciadores de "funk" - , enquanto espera seu próprio filme-documentário, foi entrevistada pela atriz norte-americana Ellen Page para um filme sobre a causa LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros).
O "funk", com sua estrutura sonora constrangedora, marcada por um amontoado de sons e vocais medíocres, se vale mais do marketing do que de qualquer suposta sinceridade artística. Tendencioso, o "funk" alega que só expressa a "realidade das periferias", mas isso não é mais do que conversa para fazer sucesso, já que seus intérpretes são controlados por empresários rigorosos.
O "funk" não tem artistas, tem fetiches. E, durante o tempo em que gozou de intensa blindagem intelectual - entre 2003 e 2014, descontando um texto de uma desesperada Bia Abramo em 2001, que preferiu defender funqueiras do que profissionais de Enfermagem que as processavam devido a paródias pornográficas - , o ritmo tentou seduzir um público intelectualmente mais "qualificado".
Enquanto as boas expressões musicais a cada ano se perecem num cenário de preocupantes homenagens - dando a crer que a MPB e nosso rico patrimônio musical desaparecerão para sempre - , o "funk" é o que mais parece concretizar o que há de subliminar nos devaneios chiquistas de verem o Brasil "mais poderoso do mundo" depois da "data-limite" de 2019.
Chico Xavier garantia que os grandes artistas iriam florescer no Brasil do "novo milênio". Que novos artistas? O que se observam são sub-artistas de discursos articulados e muito bem empresariados. Se eles ameaçam cair no ostracismo, os empresários sacam dinheiro e arrumam uma apresentação "histórica" em qualquer lugar.
Se causam escândalo, os empresários abafam e todo um esquema de Assessoria de Comunicação é feito, ainda que se obrigue a deixar o "artista" sumido da mídia por umas três semanas, para reaparecer "triunfante" como se nada tivesse acontecido.
O "funk" criou reservas de mercado que envolvem universitários, socialites, fashionistas, cientistas sociais, jogadores de futebol, suburbanos em geral e até mesmo turistas, intelectuais e celebridades estrangeiros em busca de algum exotismo qualquer fora do Primeiro Mundo, como se etnografia fosse movida pelo sensacionalismo.
No "funk", baixarias, grosserias e leviandades são despejadas, banalizadas e expostas para todos, até mesmo para crianças, e as reclamações são abafadas até por ativistas e educadores que creditam a exposição ao público infantil a uma "saudável (sic) educação sexual das periferias".
Daí a onda de surrealismos que acontece no Brasil, e que traz muitas dúvidas se nosso país realmente está preparado para comandar a "comunidade das nações". Será que o "silêncio da prece" poderá chamar a fada madrinha para transformar abóboras em carruagens? Quanta ingenuidade.
Que elevada cultura terá o país que quer ser o "coração do mundo"? A mediocrização cultural cresce que nem bola de neve e, de repente, tem até cartaz no mundo, não necessariamente uma popularidade no exterior, porque lá o povo não é bobo, mas uma relativa visibilidade que é baixa lá fora, mas que aqui soa como a conquista de espaços inimagináveis.
Enquanto ressoam campanhas para transformar o "funk carioca" em patrimônio cultural do Estado do Rio de Janeiro, num processo claramente de clentelismo político-partidário envolvendo empresários do ritmo, os grandes músicos que brilhariam no nosso país precisam fazer outros trabalhos para ter uma renda que mal dá para divulgar seu trabalho.
O "funk", que usa dos mesmos discursos "elevados" que Chico Xavier descreve do "coração do mundo" - "nova moralidade", "solidariedade" e "grandes valores sociais" - e sobrevive imune nas suas baixarias (até o astro-mirim MC Pedrinho, de 12 anos, pouco está ligando com o escândalo que causa interpretando baixarias), há muito tempo tenta chamar a atenção do mundo.
Até funqueiros surgidos do nada eram colocados para fazer turnê em casas noturnas decadentes da Europa, dessas que se podem marcar apresentações usando a Internet e indo até em portais, mas como forma de autopromoção ou pelo menos de alimentar a vaidade dos fãs brasileiros.
Recentemente, a estrela Valesca Popozuda - que foi empurrada para uma parcela "intelectualizada" dos apreciadores de "funk" - , enquanto espera seu próprio filme-documentário, foi entrevistada pela atriz norte-americana Ellen Page para um filme sobre a causa LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros).
O "funk", com sua estrutura sonora constrangedora, marcada por um amontoado de sons e vocais medíocres, se vale mais do marketing do que de qualquer suposta sinceridade artística. Tendencioso, o "funk" alega que só expressa a "realidade das periferias", mas isso não é mais do que conversa para fazer sucesso, já que seus intérpretes são controlados por empresários rigorosos.
O "funk" não tem artistas, tem fetiches. E, durante o tempo em que gozou de intensa blindagem intelectual - entre 2003 e 2014, descontando um texto de uma desesperada Bia Abramo em 2001, que preferiu defender funqueiras do que profissionais de Enfermagem que as processavam devido a paródias pornográficas - , o ritmo tentou seduzir um público intelectualmente mais "qualificado".
Enquanto as boas expressões musicais a cada ano se perecem num cenário de preocupantes homenagens - dando a crer que a MPB e nosso rico patrimônio musical desaparecerão para sempre - , o "funk" é o que mais parece concretizar o que há de subliminar nos devaneios chiquistas de verem o Brasil "mais poderoso do mundo" depois da "data-limite" de 2019.
Chico Xavier garantia que os grandes artistas iriam florescer no Brasil do "novo milênio". Que novos artistas? O que se observam são sub-artistas de discursos articulados e muito bem empresariados. Se eles ameaçam cair no ostracismo, os empresários sacam dinheiro e arrumam uma apresentação "histórica" em qualquer lugar.
Se causam escândalo, os empresários abafam e todo um esquema de Assessoria de Comunicação é feito, ainda que se obrigue a deixar o "artista" sumido da mídia por umas três semanas, para reaparecer "triunfante" como se nada tivesse acontecido.
O "funk" criou reservas de mercado que envolvem universitários, socialites, fashionistas, cientistas sociais, jogadores de futebol, suburbanos em geral e até mesmo turistas, intelectuais e celebridades estrangeiros em busca de algum exotismo qualquer fora do Primeiro Mundo, como se etnografia fosse movida pelo sensacionalismo.
No "funk", baixarias, grosserias e leviandades são despejadas, banalizadas e expostas para todos, até mesmo para crianças, e as reclamações são abafadas até por ativistas e educadores que creditam a exposição ao público infantil a uma "saudável (sic) educação sexual das periferias".
Daí a onda de surrealismos que acontece no Brasil, e que traz muitas dúvidas se nosso país realmente está preparado para comandar a "comunidade das nações". Será que o "silêncio da prece" poderá chamar a fada madrinha para transformar abóboras em carruagens? Quanta ingenuidade.
domingo, 22 de fevereiro de 2015
Mansão do Caminho fez muito pouco para superar a pobreza em Salvador
ENTRADA DA MANSÃO DO CAMINHO, EM PAU DA LIMA, SALVADOR.
Hoje à noite, no programa Fantástico, da Rede Globo de Televisão, aparecerá uma reportagem sobre Divaldo Franco e a Mansão do Caminho que servirá de propaganda para a "caridade" promovida pelo anti-médium baiano, no bairro de Pau da Lima, uma das regiões mais violentas de Salvador.
Tendo anunciado sua aposentadoria das atividades "mediúnicas", Divaldo é considerado a última cartada da Federação "Espírita" Brasileira, dentro de uma série de campanhas de Contra-Reforma que tentam recuperar sua supremacia na Doutrina Espírita no Brasil, que a entidade trabalha de forma deturpada e inspirada no Catolicismo medieval.
Enfatizando a ação "filantrópica", dentro de padrões paliativos que, a rigor, não trazem grandes transformações para a sociedade, a reportagem de Marcelo Canellas - ver, abaixo, mensagem publicada por ele nas mídias sociais - é uma parte da campanha de "divinizar" Divaldo, que já conta com 88 anos de idade, a serem completos em alguns meses.
A reportagem tentará supervalorizar os dados estatísticos, de que o projeto de Divaldo Franco beneficiou "mais de 160 mil pessoas" em 60 anos de existência, e o dado, tido como "muito positivo", na verdade é ínfimo e inexpressivo, se verificarmos a natureza da cidade do Salvador e sua imensa população.
Considerando que a Mansão do Caminho tem 63 anos de existência. Se distribuirmos os 160 mil em cada ano, daria aproximadamente 2.540. Se levarmos em conta que Salvador tem hoje oficialmente 2,902.927 habitantes - fora os que vêm do interior baiano, sobretudo homens negros e pobres, que não são contabilizados no Censo - , a situação então se complica.
Isso porque, se considerarmos que Salvador tem três milhões de habitantes, a Mansão do Caminho não chega a ajudar 1% da população, atingindo um índice de 0,08%. Muito pouco para quem quer ser reconhecido por sua "campanha filantrópica da mais elevada importância".
Vendo suas instalações, no entorno da Rua Jayme Vieira Lima, observa-se que a Mansão do Caminho mais parece uma fortificação medieval, com direito até a cerca de arame farpado que, pelo jeito, só não é elétrica.
Algumas casas parecem internatos, embora simpáticas à primeira vista e a mansão não parece estabelecer uma interação comunitária com o restante do bairro de Pau da Lima, que segue com sua pobreza e violência.
MURALHA DÁ UM ASPECTO "PRISIONAL" À MANSÃO DO CAMINHO.
E que tipo de filantropia é feita? Aparentemente, há escola, cursos profissionalizantes, ensinamentos morais "edificantes" e tudo mais. Nada que outras seitas religiosas não o façam, o que não é mérito para Divaldo Franco, porque pelo alarde que se faz à sua figura, esperaria-se que ele fizesse o diferencial do diferencial do diferencial. E não faz.
Não há como festejar muito fazendo coisas modestas e paliativas. Afinal, apesar da educação gratuita, do ensino profissionalizante etc, há o preço do proselitismo religioso, da pregação do moralismo neo-católico próprio do "espiritismo à brasileira" do qual Divaldo faz parte.
Não é um trabalho transformador, sendo muito mais uma obrigação do que um projeto que tenta nos fazer crer que seja revolucionário. Os efeitos são apenas modestos: criam-se pessoas apenas boas, mas que serão mais umas na multidão que se perde pelas ruas e se apaga pelo tempo. E aí temos que recorrer a Allan Kardec, quando disse que "muito se dará àquele que tem".
Afinal, a uma figura considerada culta e "elevada" como Divaldo Franco se exigem responsabilidades maiores. Como figura considerada "de grande envergadura", ele, em seu projeto "filantrópico", nada faz do que produzir pessoas inofensivas que conseguem sobreviver razoavelmente, algo abaixo do que sugere um projeto considerado "grandioso".
Quantitativamente e qualitativamente, o projeto da Mansão do Caminho apenas obtém resultados medíocres. Para um projeto que se anuncia como transformador, ele não resolveu o problema da pobreza nem cria cidadãos além da mera missão de sobreviver com um mínimo de dignidade. Sempre o "mínimo".
Perto do que seria o Método Paulo Freire, do Movimento de Cultura Popular de Pernambuco, a Mansão do Caminho perde feio, porque o método do saudoso educador Paulo Freire realmente foi transformador, pois não ensinava pessoas a lerem, escreverem e produzirem renda para serem apenas mais umas na multidão.
Paulo Freire ensinava a pensar de forma crítica o mundo. A pensar de maneira questionadora, contestatória e mobilizadora. Ensinava a articular mutirões, a combater injustiças. Muito do contrário de um projeto religioso como o da Mansão do Caminho, que apenas mantém as pessoas no limite insosso da sobrevivência básica, o que não é ruim mas é insuficiente.
E ver que um projeto como esse é exaltado porque conseguiu beneficiar, a cada ano, menos de 1% da população de Salvador. Se levar em conta o fato de que Divaldo Franco é considerado "cidadão do mundo", isso não é motivo de orgulho, mas de vergonha.
Hoje à noite, no programa Fantástico, da Rede Globo de Televisão, aparecerá uma reportagem sobre Divaldo Franco e a Mansão do Caminho que servirá de propaganda para a "caridade" promovida pelo anti-médium baiano, no bairro de Pau da Lima, uma das regiões mais violentas de Salvador.
Tendo anunciado sua aposentadoria das atividades "mediúnicas", Divaldo é considerado a última cartada da Federação "Espírita" Brasileira, dentro de uma série de campanhas de Contra-Reforma que tentam recuperar sua supremacia na Doutrina Espírita no Brasil, que a entidade trabalha de forma deturpada e inspirada no Catolicismo medieval.
Enfatizando a ação "filantrópica", dentro de padrões paliativos que, a rigor, não trazem grandes transformações para a sociedade, a reportagem de Marcelo Canellas - ver, abaixo, mensagem publicada por ele nas mídias sociais - é uma parte da campanha de "divinizar" Divaldo, que já conta com 88 anos de idade, a serem completos em alguns meses.
A reportagem tentará supervalorizar os dados estatísticos, de que o projeto de Divaldo Franco beneficiou "mais de 160 mil pessoas" em 60 anos de existência, e o dado, tido como "muito positivo", na verdade é ínfimo e inexpressivo, se verificarmos a natureza da cidade do Salvador e sua imensa população.
Considerando que a Mansão do Caminho tem 63 anos de existência. Se distribuirmos os 160 mil em cada ano, daria aproximadamente 2.540. Se levarmos em conta que Salvador tem hoje oficialmente 2,902.927 habitantes - fora os que vêm do interior baiano, sobretudo homens negros e pobres, que não são contabilizados no Censo - , a situação então se complica.
Isso porque, se considerarmos que Salvador tem três milhões de habitantes, a Mansão do Caminho não chega a ajudar 1% da população, atingindo um índice de 0,08%. Muito pouco para quem quer ser reconhecido por sua "campanha filantrópica da mais elevada importância".
Vendo suas instalações, no entorno da Rua Jayme Vieira Lima, observa-se que a Mansão do Caminho mais parece uma fortificação medieval, com direito até a cerca de arame farpado que, pelo jeito, só não é elétrica.
Algumas casas parecem internatos, embora simpáticas à primeira vista e a mansão não parece estabelecer uma interação comunitária com o restante do bairro de Pau da Lima, que segue com sua pobreza e violência.
MURALHA DÁ UM ASPECTO "PRISIONAL" À MANSÃO DO CAMINHO.
E que tipo de filantropia é feita? Aparentemente, há escola, cursos profissionalizantes, ensinamentos morais "edificantes" e tudo mais. Nada que outras seitas religiosas não o façam, o que não é mérito para Divaldo Franco, porque pelo alarde que se faz à sua figura, esperaria-se que ele fizesse o diferencial do diferencial do diferencial. E não faz.
Não há como festejar muito fazendo coisas modestas e paliativas. Afinal, apesar da educação gratuita, do ensino profissionalizante etc, há o preço do proselitismo religioso, da pregação do moralismo neo-católico próprio do "espiritismo à brasileira" do qual Divaldo faz parte.
Não é um trabalho transformador, sendo muito mais uma obrigação do que um projeto que tenta nos fazer crer que seja revolucionário. Os efeitos são apenas modestos: criam-se pessoas apenas boas, mas que serão mais umas na multidão que se perde pelas ruas e se apaga pelo tempo. E aí temos que recorrer a Allan Kardec, quando disse que "muito se dará àquele que tem".
Afinal, a uma figura considerada culta e "elevada" como Divaldo Franco se exigem responsabilidades maiores. Como figura considerada "de grande envergadura", ele, em seu projeto "filantrópico", nada faz do que produzir pessoas inofensivas que conseguem sobreviver razoavelmente, algo abaixo do que sugere um projeto considerado "grandioso".
Quantitativamente e qualitativamente, o projeto da Mansão do Caminho apenas obtém resultados medíocres. Para um projeto que se anuncia como transformador, ele não resolveu o problema da pobreza nem cria cidadãos além da mera missão de sobreviver com um mínimo de dignidade. Sempre o "mínimo".
Perto do que seria o Método Paulo Freire, do Movimento de Cultura Popular de Pernambuco, a Mansão do Caminho perde feio, porque o método do saudoso educador Paulo Freire realmente foi transformador, pois não ensinava pessoas a lerem, escreverem e produzirem renda para serem apenas mais umas na multidão.
Paulo Freire ensinava a pensar de forma crítica o mundo. A pensar de maneira questionadora, contestatória e mobilizadora. Ensinava a articular mutirões, a combater injustiças. Muito do contrário de um projeto religioso como o da Mansão do Caminho, que apenas mantém as pessoas no limite insosso da sobrevivência básica, o que não é ruim mas é insuficiente.
E ver que um projeto como esse é exaltado porque conseguiu beneficiar, a cada ano, menos de 1% da população de Salvador. Se levar em conta o fato de que Divaldo Franco é considerado "cidadão do mundo", isso não é motivo de orgulho, mas de vergonha.
sábado, 21 de fevereiro de 2015
A inculturação em 'Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho'
PREGAÇÃO RELIGIOSA DE JESUÍTAS NUMA COMUNIDADE INDÍGENA.
O livro Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, que descobriu-se não ser de autoria de Humberto de Campos por comparações de análise de conteúdo que revelaram disparates de estilos entre o suposto espírito e o que Humberto havia escrito em vida, além de claros indícios de plágios, é um problemático documento sobre a História do Brasil.
Inspirado em uma abordagem de nossa história já considerada deficitária e fantasiosa para os padrões da época (1938), mas fortemente defendida por nossas elites de então, o livro foi um dos primeiros manifestos do devaneio ufanista de Francisco Cândido Xavier, três décadas antes do sonho que inspirou o tendencioso documentário Data-Limite Segundo Chico Xavier.
Usando a mesma visão histórica que tratava personalidades medianas ou até mesmo corruptas do nosso país como se fossem supostos heróis com missão pretensamente divina, o livro ainda peca por uma visão racista que tratava os índios como "puros de coração" (eufemismo para "ingênuos") e os negros vindos da África como "selvagens indóceis".
Nessa época já começavam a surgir abordagens antropológicas que desfizeram tais visões, como a História das Mentalidades de Marc Bloch e Lucien Febvre, e que reconheceram em tribos de negros africanos e índios americanos aspectos típicos de comportamento civilizado e uma estrutura social admiravelmente organizada em vários desses agrupamentos.
Em muitos casos, os negros trazidos pelo tráfico escravagista eram vindos de comunidades organizadas, com estruturas familiares e um sistema educacional e moral que, mesmo dentro de estruturas consideradas primitivas para o padrão europeu, eram comprovadamente de notável organização sociológica.
Diante desse quadro, é estarrecedor que muitos brasileiros, hoje, ainda atribuem a Chico Xavier uma missão supostamente progressista, diante de uma personalidade claramente conservadora - até além do limite, pois Xavier defendeu a ditadura militar quando ela se mostrava mais evidentemente repressiva - que se revela explicitamente nos livros que levam o seu crédito.
A "inculturação", estratégia dos padres da Companhia de Jesus para manipular o povo indígena e deturpar sua cultura em prol do Catolicismo dominante oriundo de Portugal - e dotado de valores e procedimentos medievais - , é um processo lamentável, mas que aparece elogiado no referido livro que Chico Xavier botou na conta de Humberto, incapaz este de escrever uma obra como esta.
Segue o trecho reproduzido na página 53 do livro, correspondente ao capítulo "Pombal e os jesuítas", que mostra o quanto a intenção de converter os índios ao Catolicismo era elogiado com muito entusiasmo por uma obra que se autoproclama "uma das mais importantes da Doutrina Espírita".
Nota-se que, no final deste trecho, há uma lamentação de que a Companhia de Jesus não tem mais a mesma alta reputação de antes, o que subentende o descontentamento que os espíritos de seus integrantes tiveram e que os fizeram, através do mesmo processo de "inculturação", transformar o Espiritismo numa forma reciclada dos antigos valores e procedimentos jesuíticos.
O atentado a que se refere o começo do trecho é o sofrido pelo então rei Dom José I, ferido por um grupo de revoltosos, em 1758.
==========
"Pombal aproveita o ensejo que se lhe oferece para justificar a expulsão dos jesuítas, apontando-os como autores indiretos do atentado e D. José I, a instâncias do seu valido, assina sem hesitar o decreto de banimento. Esse ato de Pombal se reflete largamente na vida do Brasil. Todo o movimento de organização social se devia, na colônia, aos esforços dos dedicados missionários. O clero comum possuía escravos numerosos e chegava a defender o suposto direito dos escravagistas, incentivando a caça aos índios e abençoando a carga misérrima dos navios negreiros. Os jesuítas, porém, sempre trabalharam, no início da organização brasileira, dentro dos mais amplos sentimentos de humanidade. Aldeavam os índios, aprendiam a “língua geral”, a fim de influenciarem mais diretamente no ânimo deles, trazendo as tabas rústicas às comunidades da civilização e foram, talvez, naqueles tempos longínquos, os únicos refletores dos ensinamentos do Alto, advogando o seu verbo inspirado a causa de todos os infelizes. A sua expulsão do Brasil retardou de muito tempo a educação das classes desfavorecidas e, se o ministro de D. José I estendeu algumas vezes o seu dinamismo renovador até a Pátria do Evangelho, sua ação poucas vezes ultrapassou o terreno material, tanto que, mesmo alguns melhoramentos introduzidos no Rio de Janeiro pelo Conde de Bobadela, que levantou aí a primeira oficina tipográfica do país, foram por ele destruídos, à força de decretos que constituíam sérios obstáculos à facilidade de educação no território da colônia. A esse tempo, observando a anulação dos seus esforços, os missionários humildes da cruz procuraram Ismael com instantes apelos. Seus trabalhos eram abandonados, por força das determinações do ministro arbitrário. Suas intenções ficavam incompreendidas, suas ações baldadas, no sentido de espalharem entre os sofredores as claridades consoladoras do ensino de Jesus. Mas, o generoso mensageiro pondera bondosamente aos seus dedicados colaboradores:
— Irmãos — diz ele — muitas vezes, os próprios Espíritos que escolhemos para determinados labores terrestres não resistem à sedução do dinheiro e da autoridade. Sentem-se traídos em suas próprias forças e se entregam, sem resistência, ao inimigo oculto que lhes envenena o coração. Deixai aos déspotas da Terra a liberdade de agir sob o império da sua prepotência. Por mais que operem dentro das suas possibilidades no plano físico, a vitória pertencerá sempre a Jesus, que é a luminosidade tocante de todos os corações. Temos, porém, de considerar, a par da tirania política que tenta destruir a nossa ação, o lamentável desvio dos nossos irmãos incumbidos de velar pelo patrimônio do Evangelho, no mundo europeu. Infelizmente, não têm eles procurado levar a luz espiritual às almas aflitas e sofredoras, clareando a estrada dos ignorantes e abençoando o rude labor dos simples; ao contrário, buscam influenciar os príncipes do planeta, disputando os mais altos lugares de domínio no banquete dos poderes temporais, em todos os países onde milita a igreja do Ocidente. Peçamos a Jesus pelos tiranos e pelos nossos companheiros desviados da consciência retilínea. Se terminamos, agora, uma etapa da nossa tarefa, em que aproveitamos os elementos que nos oferecia a disciplina da Companhia fundada por Loiola, prosseguiremos o nosso trabalho dentro de novas modalidades. Deixemos aos mortos o cuidado de enterrar seus mortos, como ensinou o Divino Mestre em suas lições sublimes. Vossos irmãos, transformando a cruz do Cristo num símbolo de opressão e despotismo, nos tribunais malditos da Inquisição, cavam a sepultura moral de suas almas, que se amoldam ao sacrilégio e à ignomínia. Quanto aos políticos, esses têm uma órbita de ação que não lhes é possível ultrapassar; o tempo e a experiência, com a dor, eterna aliada de ambos, ensinarão às suas consciências a lei de fraternidade e de amor, que esqueceram nos dias do fastígio e da glória efêmera sobre a face do mundo. Oremos por eles e que Jesus, na sua bondade infinita, nos acolha os corações sob o manto da sua misericórdia.
Enquanto oravam, gotas suaves de luz se derramavam do céu sobre os caminhos tenebrosos da Terra e a palavra profética de Ismael teve, em breve, a sua confirmação. A Companhia de Jesus foi suprimida pelo próprio Papa Clemente XIV, em 1773, para reaparecer somente em 1814, com Pio VII. Nunca mais, todavia, puderam os jesuítas readquirir o imenso prestígio que possuíram no Ocidente."
O livro Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, que descobriu-se não ser de autoria de Humberto de Campos por comparações de análise de conteúdo que revelaram disparates de estilos entre o suposto espírito e o que Humberto havia escrito em vida, além de claros indícios de plágios, é um problemático documento sobre a História do Brasil.
Inspirado em uma abordagem de nossa história já considerada deficitária e fantasiosa para os padrões da época (1938), mas fortemente defendida por nossas elites de então, o livro foi um dos primeiros manifestos do devaneio ufanista de Francisco Cândido Xavier, três décadas antes do sonho que inspirou o tendencioso documentário Data-Limite Segundo Chico Xavier.
Usando a mesma visão histórica que tratava personalidades medianas ou até mesmo corruptas do nosso país como se fossem supostos heróis com missão pretensamente divina, o livro ainda peca por uma visão racista que tratava os índios como "puros de coração" (eufemismo para "ingênuos") e os negros vindos da África como "selvagens indóceis".
Nessa época já começavam a surgir abordagens antropológicas que desfizeram tais visões, como a História das Mentalidades de Marc Bloch e Lucien Febvre, e que reconheceram em tribos de negros africanos e índios americanos aspectos típicos de comportamento civilizado e uma estrutura social admiravelmente organizada em vários desses agrupamentos.
Em muitos casos, os negros trazidos pelo tráfico escravagista eram vindos de comunidades organizadas, com estruturas familiares e um sistema educacional e moral que, mesmo dentro de estruturas consideradas primitivas para o padrão europeu, eram comprovadamente de notável organização sociológica.
Diante desse quadro, é estarrecedor que muitos brasileiros, hoje, ainda atribuem a Chico Xavier uma missão supostamente progressista, diante de uma personalidade claramente conservadora - até além do limite, pois Xavier defendeu a ditadura militar quando ela se mostrava mais evidentemente repressiva - que se revela explicitamente nos livros que levam o seu crédito.
A "inculturação", estratégia dos padres da Companhia de Jesus para manipular o povo indígena e deturpar sua cultura em prol do Catolicismo dominante oriundo de Portugal - e dotado de valores e procedimentos medievais - , é um processo lamentável, mas que aparece elogiado no referido livro que Chico Xavier botou na conta de Humberto, incapaz este de escrever uma obra como esta.
Segue o trecho reproduzido na página 53 do livro, correspondente ao capítulo "Pombal e os jesuítas", que mostra o quanto a intenção de converter os índios ao Catolicismo era elogiado com muito entusiasmo por uma obra que se autoproclama "uma das mais importantes da Doutrina Espírita".
Nota-se que, no final deste trecho, há uma lamentação de que a Companhia de Jesus não tem mais a mesma alta reputação de antes, o que subentende o descontentamento que os espíritos de seus integrantes tiveram e que os fizeram, através do mesmo processo de "inculturação", transformar o Espiritismo numa forma reciclada dos antigos valores e procedimentos jesuíticos.
O atentado a que se refere o começo do trecho é o sofrido pelo então rei Dom José I, ferido por um grupo de revoltosos, em 1758.
==========
"Pombal aproveita o ensejo que se lhe oferece para justificar a expulsão dos jesuítas, apontando-os como autores indiretos do atentado e D. José I, a instâncias do seu valido, assina sem hesitar o decreto de banimento. Esse ato de Pombal se reflete largamente na vida do Brasil. Todo o movimento de organização social se devia, na colônia, aos esforços dos dedicados missionários. O clero comum possuía escravos numerosos e chegava a defender o suposto direito dos escravagistas, incentivando a caça aos índios e abençoando a carga misérrima dos navios negreiros. Os jesuítas, porém, sempre trabalharam, no início da organização brasileira, dentro dos mais amplos sentimentos de humanidade. Aldeavam os índios, aprendiam a “língua geral”, a fim de influenciarem mais diretamente no ânimo deles, trazendo as tabas rústicas às comunidades da civilização e foram, talvez, naqueles tempos longínquos, os únicos refletores dos ensinamentos do Alto, advogando o seu verbo inspirado a causa de todos os infelizes. A sua expulsão do Brasil retardou de muito tempo a educação das classes desfavorecidas e, se o ministro de D. José I estendeu algumas vezes o seu dinamismo renovador até a Pátria do Evangelho, sua ação poucas vezes ultrapassou o terreno material, tanto que, mesmo alguns melhoramentos introduzidos no Rio de Janeiro pelo Conde de Bobadela, que levantou aí a primeira oficina tipográfica do país, foram por ele destruídos, à força de decretos que constituíam sérios obstáculos à facilidade de educação no território da colônia. A esse tempo, observando a anulação dos seus esforços, os missionários humildes da cruz procuraram Ismael com instantes apelos. Seus trabalhos eram abandonados, por força das determinações do ministro arbitrário. Suas intenções ficavam incompreendidas, suas ações baldadas, no sentido de espalharem entre os sofredores as claridades consoladoras do ensino de Jesus. Mas, o generoso mensageiro pondera bondosamente aos seus dedicados colaboradores:
— Irmãos — diz ele — muitas vezes, os próprios Espíritos que escolhemos para determinados labores terrestres não resistem à sedução do dinheiro e da autoridade. Sentem-se traídos em suas próprias forças e se entregam, sem resistência, ao inimigo oculto que lhes envenena o coração. Deixai aos déspotas da Terra a liberdade de agir sob o império da sua prepotência. Por mais que operem dentro das suas possibilidades no plano físico, a vitória pertencerá sempre a Jesus, que é a luminosidade tocante de todos os corações. Temos, porém, de considerar, a par da tirania política que tenta destruir a nossa ação, o lamentável desvio dos nossos irmãos incumbidos de velar pelo patrimônio do Evangelho, no mundo europeu. Infelizmente, não têm eles procurado levar a luz espiritual às almas aflitas e sofredoras, clareando a estrada dos ignorantes e abençoando o rude labor dos simples; ao contrário, buscam influenciar os príncipes do planeta, disputando os mais altos lugares de domínio no banquete dos poderes temporais, em todos os países onde milita a igreja do Ocidente. Peçamos a Jesus pelos tiranos e pelos nossos companheiros desviados da consciência retilínea. Se terminamos, agora, uma etapa da nossa tarefa, em que aproveitamos os elementos que nos oferecia a disciplina da Companhia fundada por Loiola, prosseguiremos o nosso trabalho dentro de novas modalidades. Deixemos aos mortos o cuidado de enterrar seus mortos, como ensinou o Divino Mestre em suas lições sublimes. Vossos irmãos, transformando a cruz do Cristo num símbolo de opressão e despotismo, nos tribunais malditos da Inquisição, cavam a sepultura moral de suas almas, que se amoldam ao sacrilégio e à ignomínia. Quanto aos políticos, esses têm uma órbita de ação que não lhes é possível ultrapassar; o tempo e a experiência, com a dor, eterna aliada de ambos, ensinarão às suas consciências a lei de fraternidade e de amor, que esqueceram nos dias do fastígio e da glória efêmera sobre a face do mundo. Oremos por eles e que Jesus, na sua bondade infinita, nos acolha os corações sob o manto da sua misericórdia.
Enquanto oravam, gotas suaves de luz se derramavam do céu sobre os caminhos tenebrosos da Terra e a palavra profética de Ismael teve, em breve, a sua confirmação. A Companhia de Jesus foi suprimida pelo próprio Papa Clemente XIV, em 1773, para reaparecer somente em 1814, com Pio VII. Nunca mais, todavia, puderam os jesuítas readquirir o imenso prestígio que possuíram no Ocidente."
sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015
Biografia de Bezerra de Menezes é parcial e fantasiosa
Muito estranho o "movimento espírita", tão seletivo em suas informações, a exemplo do que faz a grande imprensa reacionária, como a revista Veja, o Jornal Nacional da Rede Globo e O Estado de São Paulo. Dependendo dos interesses, o "espiritismo" brasileiro oculta ou revela, ou mesmo inventa.
Não temos um retrato do jovem Amauri Pena, o sobrinho de Chico Xavier, isso apesar de haver fotos divulgadas de seus familiares. Mas há um desenho (?!) de André Luiz, acompanhado da atitude arrogante de alguns "espíritas" de usar fotos de Carlos Chagas para atribuí-lo a identidade de tal personagem.
Mas ninguém foi beneficiado por esse jogo de revelar e ocultar conforme as conveniências que o antigo presidente da Federação "Espírita" Brasileira, o médico, militar e político Adolfo Bezerra de Menezes, cuja mania de memória curta típica dos brasileiros fez prevalecer uma visão romântica e nada realista do "dr. Bezerra".
Segundo os opositores do religiosismo roustanguista da Federação "Espírita" Brasileira, a visão que se tem de Bezerra de Menezes é falsa, tendo muito mais de fantasiosa e piegas, e quase nada de realista. Além disso, apresenta pontos muito obscuros e nada esclarecidos.
Primeiro, Bezerra de Menezes era membro de uma aristocracia cearense. Em sua árvore genealógica, envolve pessoas marcadas por sua forte inclinação ao Catolicismo, para o qual Adolfo não foi exceção, tendo sido ele mesmo um católico assumido e entusiasmado antes de se converter para o que ele entendia como "espiritismo", através não de Allan Kardec, mas de Jean-Baptiste Roustaing.
Há até mesmo um silêncio sobre que parentesco poderia ter tido o advogado e ativista católico Geraldo Bezerra de Menezes e o "dr. Bezerra" do "movimento espírita". Quem Geraldo teria sido, em relação ao "Bezerra de Menezes espírita"? Sobrinho? Primo de segundo grau? Ou vão dizer que o sobrenome Bezerra de Menezes não passa de uma desprezível coincidência?
"PAPAI NOEL" BRASILEIRO
Bezerra de Menezes é "isolado" do seu clã e é visto como um ser "excepcional", para o qual só cabem dados positivos, mesmo que seja fantasiosos, mesmo que ele seja descrito como a versão brasileira do Papai Noel, o "bom velhinho" que alegra a criançada na época do Natal.
Quando os dados se aproximam do "realismo", limita-se a descrever Bezerra de Menezes como um parlamentar do Segundo Império, e suas atividades no debate sobre o Abolicionismo. Ele deu alguma contribuição, tendo escrito até um livro em 1869, A escravidão no Brasil e as Medidas que Convém Tomar para Extingui-la sem Dano para a Nação.
No entanto, até seu trabalho foi superestimado pelo "movimento espírita", até porque não consta em muitas fontes bibliográficas que Adolfo Bezerra de Menezes tenha sido um dos maiores militantes abolicionistas do país, que os "espíritas" creditam ao lado da Princesa Isabel (?) e do imperador Dom Pedro II (??).
Seu papel teria sido menor, embora o referido livro tenha sido citado pelo militar e membro-fundador do ISEB (Instituto Superior de Estudos Brasileiros), Nelson Werneck Sodré, numa das edições do livro O Que Se Deve Ler para Conhecer o Brasil?.
Imaginemos os trabalhos parlamentares de hoje. Imaginemos tantos livros com propostas de figuras políticas menores são lançados. Imaginemos que mesmo um político de credibilidade duvidosa hoje como o senador tucano paranaense Álvaro Dias, empenhado na CPI do Futebol, feita para investigar a corrupção dos dirigentes esportivos.
Às vezes um político faz uma coisa e nem por isso é brilhante. Fez apenas algum trabalho porque em certos momentos um assunto de relevância nacional impulsiona os parlamentares a mostrarem serviço. Mas nota-se que a História não registra o dr. Bezerra como o super-militante da Abolição, talvez até pegando carona no que outros ativistas fizeram com mais ousadia.
Mas, se faltam dados realistas, sobram fantasias, sobretudo relatos atribuídos ao suposto espírito de Bezerra de Menezes, evocado em falsas psicofonias que numa comparação recente entre dois "médiuns" baianos, José Medrado e Divaldo Franco, apresentaram diferenças tão gritantes de estilos pessoais que é difícil não suspeitar de meros falsetes nada mediúnicos.
Fantasias descrevem o doutor Bezerra de Menezes ora como um dublê de caminhoneiro a atender um chamado de Chico Xavier para levar alimentos para a população carente, ou como alguém que se "materializou" para chamar a polícia para prender uma gangue de rapazes que iriam estuprar uma jovem. Fora outras passagens "lindas" e "comoventes".
QUEM REALMENTE TERIA SIDO O "DR. BEZERRA"?
Nada, porém, é descrito de maneira realista ou objetiva. A biografia de Adolfo Bezerra de Menezes é extremamente dotada de dados parciais, fantasiosos, exagerados. Na verdade, é um amontoado de dóceis relatos, que não corresponderam à realidade, e faz com que os que foram deixados para trás pela turma roustanguista se indignassem até hoje.
Bezerra de Menezes é descrito como um pretenso santo, uma pessoa aparentemente meiga, com trejeitos de Papai Noel, do qual se atribui tão somente a uma filantropia que, se foi praticada por ele, não foi da maneira intensa e comovente como seus seguidores tentam crer e fazer outros crerem. E mostra que a fé, no Brasil, tenta se julgar acima da razão e da coerência dos fatos.
Nas últimas décadas, houve até mesmo a "reabilitação" tendenciosa de Bezerra de Menezes como um suposto kardecista, em supostas psicofonias e psicografias, armadas por dissidentes da cúpula da FEB sob a colaboração de Divaldo Franco e Francisco Cândido Xavier.
Essa manobra oportunista e tendenciosa foi feita quando os dirigentes da FEB, como Francisco Thiesen e Luciano dos Anjos, levaram o roustanguismo às últimas consequências, criando uma crise que fez seus antigos defensores saírem do "barco que afunda". Através da manobra, criou-se um Bezerra "arrependido" que, no "mundo espiritual", trocou Roustaing por Kardec.
Assim, os roustanguistas convictos na prática mas não assumidos no discurso, Divaldo e Chico, puderam se livrar da encrenca adotando a postura oportunista de se autopromoverem às custas da campanha pela recuperação das bases de Allan Kardec. Justamente os dois que NUNCA expressaram verdadeira fidelidade às pesquisas e ideias transmitidas pelo professor lionês.
No entanto, se observarmos os relatos de vários opositores do roustanguismo febiano, inclusive herdeiros como Carlos de Brito Imbassahy, cujo pai, Carlos Imbassahy, foi um dos que combateram severamente os desvios religiosistas da FEB, a história de Bezerra de Menezes era bem outra.
Político de pouca expressão, ele era apenas um parlamentar mediano, que eventualmente cometia corrupção e fazia "caridade" visando a vitória eleitoral, processo que conhecemos como "compra de votos". Bezerra era temperamental e sua atitude "conciliatória" na FEB foi, na verdade, uma tentativa de expurgar os que eram fiéis às bases científicas de Allan Kardec.
Falta escrever um livro mostrando o lado sombrio de Adolfo Bezerra de Menezes. Isso pode soar "ofensivo", "depreciador" e "injusto", mas esse é o preço dos estragos que a memória curta no Brasil causa nas pessoas, que acabam acreditando mais numa visão tendenciosa construída a posteriori do que na realidade "desagradável" que havia ocorrido em seu tempo.
Isso acontece em vários ramos da atividade humana no Brasil. E que acaba reabilitando e até "canonizando" pessoas que não eram tão admiráveis assim. E se até o baiano Mário Kertèsz (que tem José Medrado como contratado em rádio) e Fernando Collor (apoiado por Chico Xavier), dois vergonhosos ícones da corrupção política, são "santificados" por setores da opinião pública, o caso de Bezerra de Menezes merece uma investigação muito cautelosa.
Por isso, seria preciso uma pesquisa jornalística, bibliográfica e documental que despisse de adorações, temeridades e sentimentalismos piegas, para que pudesse apresentar uma imagem mais realista de Adolfo Bezerra de Menezes porque, até agora, sua biografia está muito mais próxima de um conto de fadas do que de qualquer relato histórico. Convém agirmos.
quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015
A inveja e o coitadismo no país que quer ser o "Coração do Mundo"
O que é a inveja? É simplesmente sentir alguma aversão a algum benefício do outro, certo? Ou seria então o desejo de se estar no lugar de algum beneficiado, correto? Não, necessariamente. A inveja, por incrível que pareça, é um sentimento que não pode ser interpretado assim, de maneira tão simplista.
O Brasil tem um contexto marcado pela surrealidade, em que os verdadeiros invejosos, na verdade, não necessitam sentir inveja. Vamos esclarecer isso. Normalmente, a inveja parte de alguém que não teve as mesmas condições de obter algum benefício e vê a pessoa que o conquistou de forma um tanto odiosa, desejando a esta algum tipo de prejuízo.
No entanto, o Brasil é marcado pela mediocridade, quando, em várias ocasiões, pessoas dotadas de mediocridade ou de mau-caratismo são favorecidas a obter privilégios e vantagens, pelos diversos mecanismos conhecidos do status quo e da impunidade aqui no país.
Dessa forma, os beneficiados no Brasil, na maior parte das vezes, não são aqueles que possuem o dom natural para determinada causa e nem o mérito, seja vocacional ou ético, de conseguir alguma vantagem ou privilégio na vida.
Protege-se os medíocres e os canalhas, e se dá a eles todo tipo de oportunidade. Eles obtém privilégios, conquistam o poder e, com isso, aqueles que têm intenções, habilidades, méritos e vocações acabam ficando de fora.
Até nas conquistas amorosas, homens que mataram suas antigas companheiras acabam levando a melhor, na conquista de novas e melhores namoradas, para outros que, dotados das mais dignas, admiráveis e respeitosas intenções de vida conjugal, acabam ficando sozinhos e chorando pelos cantos.
Com isso, aqueles que ficam de fora do sucesso de medíocres e canalhas, na medida em que procuram reagir a esses fenômenos das vantagens facilmente obtidas pelas conveniências ou pelo "jeitinho" de amigos e pessoas influentes, acabam ficando com o papel "inverso", supostamente como "invejosos".
Ou seja, vivemos um contexto surreal em que os invejosos estão no poder, e, por isso, não podem sentir inveja, e aqueles que perderam seus benefícios, porque não conseguem estabelecer relações de conveniências e troca de favores, é que são vistos como "invejosos" mesmo quando não têm a menor intenção de sentir inveja.
Como sentir inveja ao privilégio dos medíocres? Inveja pressuporia querer estar no lugar do privilegiado, por si só. Assim como as pessoas dotadas de talento, ética, vocação e respeito e conhecimento de causa não iriam querer alcançar os privilégios dos que lhes passaram as pernas da mesma forma ridícula e facilitada que estes.
INVEJA ADORMECIDA...E DESCANSADA
Os homens realmente amorosos, para conseguirem novas namoradas, não vão produzir cadáveres de mulheres para depois driblar condenações penais ajudados pelas brechas das leis brasileiras, da mesma forma que os verdadeiros músicos não irão dançar "na boquinha da garrafa" e os verdadeiros cientistas não irão produzir asneiras textuais para conseguir a visibilidade que desejam.
Mas quem tem dom, quem tem vocação, excelentes intenções de progresso em alguma coisa e por aí vai, é que acaba sendo visto, equivocadamente, como "invejoso", se reclama e protesta ao ver pessoas incompetentes lhes tomarem os benefícios e vantagens.
Quem quer agir pelo progresso do país ou da sociedade, ou pelo progresso pessoal de alguém, não é possibilitado a fazê-lo. Em vez disso, tem que se contentar com medidas paliativas ou compactuar com falsas oportunidades, em que benefícios bem mais restritivos e menores são obtidos sem que possam acrescentar alguma coisa relevante para tal pessoa.
Por exemplo, se alguém queria transformar as pessoas divulgando novas ideias e ampliando a produção de conhecimento, terá que se contentar dando sopinhas para famílias carentes, sem que pudesse fazer muito para superá-las de suas limitações sociais.
Se alguém tem um grande projeto profissional, terá que abrir mão de boa parte dele, na medida em que só consegue contrair emprego cujo patrão é alguém bem menos qualificado e bem menos identificado com os projetos de seu empregado, e este será obrigado a tão somente seguir as ordens, mesmo que contrarie seus princípios e seu idealismo.
O privilégio dos incompetentes e dos desmerecidos revela, portanto, o vulcão adormecido da inveja descansada, adoçada pelo privilégio concedido sem que se considerem competências, vocações nem vontades, e quem justamente não quer tal benefício é que acaba ganhando. É como diz o ditado popular: "Deus dá as asas para quem não sabe nem quer voar".
Momentaneamente, os invejosos são poupados de sentir inveja, não porque foram assistidos em suas debilidades, mas porque foram favorecidos pelas conveniências que lhes permitem obter privilégios sem vocação nem vontade, apenas com o objetivo de satisfazer vaidades pessoais, que chegam a ser dissimuladas pela mentirosa alegação de que "conquistaram seu lugar pelo seu esforço".
E NO "MOVIMENTO ESPÍRITA"?
Muitos palestrantes "espíritas" descrevem a inveja como sentimentos venenosos, capazes de produzir calúnias, maus pensamentos, más vibrações. Dissimuladora, traiçoeira, agressiva, hipócrita ou interesseira, a inveja seria a "arma dos fracos" que palestrantes como os anti-médiuns Divaldo Franco e Chico Xavier haviam pregado em muitos textos.
Mas o "espiritismo" brasileiro é o próprio exemplo da conquista desmerecida de privilégios, desde que preferiu abandonar a essência da doutrina original de Allan Kardec em troca de um religiosismo de inspiração católica, inicialmente feita para agradar o Catolicismo dominante no Brasil, seja para depois se tornar um neo-catolicismo travestido de "doutrina espírita".
E aí, também nesse caso os "invejosos" acabam sendo os que estão de fora, pessoas com melhor vocação, competência e conhecimento de causa que reclamam dos desvios que o lado privilegiado comete em vários aspectos.
Assim, uma figura como o autêntico espírita Angeli Afonso Torteroli foi deixado de lado, enquanto os espiritólicos fizeram prevalecer uma série de fantasias sobre Adolfo Bezerra de Menezes, um dos primeiros que "catolicizou" o Espiritismo no Brasil, e que, político fisiológico, conta a seu favor uma biografia parcial e tendenciosa, quase um conto de fadas sobre sua trajetória pessoal que escondeu o lado sombrio do político temperamental e oportunista que ele foi.
Se os que "estão no poder" cometem estragos sérios, se os que estão "de fora" reagem pedindo respeito à causa traída, os privilegiados respondem dizendo que são "vítimas de inveja", tomados da "mais pura intriga daqueles que não reconhecem o esforço dos que conquistaram seu lugar".
Através dessa alegação, os "espíritas" acabam por envenenar a imagem daqueles que querem recuperar as bases kardecianas perdidas, atribuindo a estes uma reputação de "venenosos opositores", de "fabricantes de intrigas" que agem contra a "seara do bem" dos que reduzem a doutrina de Kardec a um gosmento religiosismo moralista.
Daí o coitadismo dos que enganam, iludem e ludibriam, com suas sedutoras "palavras de amor", que escondem práticas traiçoeiras de mistificação e enganação pelo "sobrenatural", promovendo fantasias para entorpecer a fé humana, para depois seus próprios responsáveis posarem de "vítimas", quando as denúncias lhes chegam, a ameaçar seus privilégios e seu poder.
Daí reações como um Chico Xavier bancando o "choroso" diante de acusações, sérias e consistentes, de que ele teria cometido ou estimulado as piores fraudes, de ter usurpado ao seu bel prazer dos carismas de Humberto de Campos, Meimei e outros, para promover moralismo religioso às custas da boa-fé do povo, enganá-lo e depois se passar por "vítima de perseguição".
Fraudes mediúnicas são feitas, inclusive deixando vazar irregularidades sérias, principalmente assinaturas que nada lembram a dos entes falecidos, e quem quiser examiná-las de maneira honesta, apontando tais equívocos, é rebaixado, pelo julgamento severo dos que pedem para "não julgar", a artífice dos "juízos terrenos das paixões humanas".
É como se a ciência não pudesse contrariar os abusos e mistificações feitas pelo "movimento espírita". E, no fundo, é isso mesmo. A ciência só é aceita no "espiritismo" brasileiro nos limites em que ela não desafia as crenças e procedimentos de caráter surreal que acobertam as diversas irregularidades, não obstante gravíssimas, cometidas pelos "espíritas" brasileiros.
Com isso, é lamentável que quem queira investigar o que está de errado, e muitíssimo errado, no "movimento espírita" em seus mais de 130 anos de existência, apenas com o honesto trabalho do raciocínio lógico e da análise do conteúdo, seja tido como "invejoso" e dotado de "sentimentos peçonhentos e intrigantes".
Só por buscarmos a coerência e a verdade dos fatos, somos vistos como "produtores de escândalos", "caluniadores", "perseguidores de gente do bem" e outros adjetivos maléficos, tudo porque o honesto trabalho de raciocínio questionador vai contra procedimentos abusivos e mistificadores que são todavia consagrados no "espiritismo" e seus seguidores.
Dessa feita, o vulcão adormecido da inveja descansada reage a uma erupção catastrófica de ódio e rancor, vindo dos que juram "não sentir ódio nem rancor", de pessoas que, dotadas de discurso realmente traiçoeiro, se julgam "vítimas de inveja" e outras coisas ruins.
Mas são eles os invejosos latentes que, ameaçados de perder seus privilégios e de serem desmascarados pela opinião pública, que acabam reagindo com desespero e fúria, revelando a inveja que lhes restou de suas mentes enganadoras: a inveja motivada por sua incapacidade de terem a visão coerente e realista de seus opositores.
quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015
Divaldo Franco apoiou visão machista e materialista de Deus
Em mais um de seus atos falhos, o anti-médium baiano Divaldo Franco, que no último dia 29 de janeiro se encontrou com o Papa Francisco, no Vaticano, para um cumprimento rápido do pontífice com diversas personalidades, reafirmou suas convicções explicitamente católicas.
Divaldo escreveu, em seu comunicado, que concordava com uma declaração do Papa Francisco, que num discurso rápido diante dos convidados, lamentou o fato de que os jovens estão gradualmente abandonando a religião católica. Prestemos atenção neste trecho:
"Ele (o Papa Francisco) falou belamente sobre a família, o papel do Pai, recordando-se que Deus é o nosso Pai e que os genitores masculinos deixam os filhos órfãos de sua assistência e, por isso, os jovens perdem o rumo. Plenamente correto".
O "medium" que sonhava ser um Orlando Drummond (famoso dublador e comediante brasileiro), mas teve que se contentar com suas pseudofonias risíveis de personalidades do século XIX que não deixaram registros sonoros, achou "plenamente correto" o comentário do pontífice.
Da forma como Divaldo escreveu, há um sentido ambíguo. "Os genitores masculinos deixam os filhos órfãos de sua assistência" poderia atribuir "sua assistência" a Deus, esquecendo-se da forma católica de usar os pronomes possessivos com a letra maiúscula, num contexto em que é comum textos cultos separarem sujeito do predicado com uma vírgula.
Mas, em contrapartida, "sua assistência" pode também se referir aos "genitores masculinos", referindo-se aos pais que se separam de suas mulheres para a criação de seus filhos. Um comentário totalmente generalista, e também expressando um machismo ainda presente nos ideais católicos.
Sabe-se que o desnorteamento dos jovens não se refere necessariamente ao fato de casais serem separados ou não. Outros contextos envolvem tais desvios. O roqueiro Cazuza, que na conta do julgamento católico, foi um jovem que "perdeu o rumo", usando drogas, fumando, bebendo e cometendo promiscuidade sexual, tinha pai e mãe ainda casados, em toda a vida do cantor.
Além disso, os desequilíbrios conjugais e não-conjugais mostram que a situação é bem mais complexa do que se imagina. O entretenimento brega e a pregação intelectual associada desejava que os casais afins não existissem nas comunidades pobres e pregavam a solteirice forçada e prejudicial de muitas mães, que se sacrificam cuidando de muitos filhos sem a presença do companheiro.
Por outro lado, há casais sem afinidade, nas classes abastadas, que se arrastam em casamentos que duram muito mais pelo medo de que o divórcio seja oneroso e conflituoso, havendo todo esforço de disfarçar o desgaste por toda sorte de conveniências, enquanto maridos falam mal das esposas pelas costas e estas fazem o mesmo em relação aos maridos.
Num contexto em que 80% dos casamentos sólidos não possuem afinidade conjugal, a declaração machista do Papa Francisco, além de descrever a forma materialista de Deus, como um ente antropomorfizado e transformado num "Grande Pai" (ou no "Maior Vovô do Mundo"? Vocês decidem), revela as distorções que existem quando se fala do tema Família.
Família é uma espécie de "primeira-escola" do indivíduo humano, não sendo a "Igreja portátil" que o Catolicismo e mesmo o "movimento espírita" brasileiro querem atribuir. A "Igreja portátil", o status "pétreo" das relações parentais, isso nada tem a ver com a verdadeira natureza humana, que não vê nas estruturas familiares simbólicos "cativeiros" sociais.
Além do mais, juntando as ideias do Deus antropomórfico e do patriarcalismo - que é o que o Papa Francisco lamentou faltar nas gerações atuais - , nota-se que isso cria diversos problemas sociais, que vão desde a ideia de um ente invisível a dar ordens para a humanidade até mesmo à reprovação de famílias homossexuais que, em muitos casos, se relacionam com admirável amor e respeito humano.
E se Divaldo Franco concordou com tudo isso, sua posição mostra o quanto o anti-médium baiano sempre esteve divorciado da Doutrina Espírita, e que nunca teve identificação natural com as ideias de Allan Kardec, que se limitava a ser bajulado pelo baiano, de maneira leviana e oportunista.
Por outro lado, Divaldo Franco mostrou seu entusiasmo pelo Catolicismo, com todos os seus conceitos e preconceitos mais conservadores.
terça-feira, 17 de fevereiro de 2015
A "Cidade da Luxúria": o sonho "carnavalesco" de Chico Xavier
Trinta e cinco antes do surgimento da axé-music, conta-se que Francisco Cândido Xavier teve um sonho que havia comunicado com Newton Boechat. É aquele mesmo papo do sonho de 1969, que ele contou a Geraldo Lemos Neto, e que deu no livro deste e de Marlene Nobre, Não Será em 2012 e que inspirou o documentário Data-Limite Segundo Chico Xavier, de Fábio Medeiros.
É um sonho comum de alguém que dorme, dos quais parece supostamente prever alguma coisa, algo que nada tem de especial, assim. Até porque todo mundo sonha com supostas previsões e se tivéssemos que atribuir profecia a cada um desses sonhos, o mundo seria um caos.
Mas Chico Xavier, dotado de status altíssimo, como um mega-astro pop do "movimento espírita", graças à idolatria de seus fanáticos seguidores, é tido como "profeta" a cada sonho seu e, quando dorme, dizem que ele "não sonha", mas sofre "desdobramentos espirituais", fenômeno que não é devidamente estudado no Brasil.
Vamos narrar o sonho. Era uma vez Chico Xavier em casa em 1950, dormindo na sua noite de sono tranquilo, quando é convidado a "viajar" com seu mentor, o jesuíta Emmanuel, para regiões sombrias que entendem como o "umbral", que o "movimento espírita" descreve como um controverso equivalente católico, seja do inferno, seja do purgatório (condição esta que outras fontes atribuem a Nosso Lar).
As palavras de Newton Boechat narrando o que Chico Xavier teria lhe dito dão uma ideia de como tudo que Chico sonha vira "profecia", até se ele sonhar com um coelho gigante com tromba de elefante, dentes caninos e cauda de jacaré, provavelmente uma "previsão" de uma harmoniosa e fraternal reprodução de quatro tipos de animais. Diz Newton:
"Em um dos constantes desdobramentos astrais ocorridos com nosso querido médium, durante o sono, Emmanuel conduziu o duplo-astral de Chico Xavier a uma imensa cidade espiritual, situada na região do Umbral. Esta lhe pareceu extremamente inferior e bastante próxima da crosta planetária. Era uma cidade estranha não só pelo aspecto desarmônico e antiestético, como pelas manifestações de luxúria, degradação de costumes e sensualidade de seus habitantes, exibidas em todos os logradouros públicos, ruas, praças, etc. Emmanuel informou ao Chico que aquela vasta comunidade espiritual era governada por entidades mentalmente vigorosas porém negativas em termos de ética e sentimentos humanos. Eram estes maiores que davam as ordens e faziam-se obedecer, exercendo sobre aquelas entidades um poder do tipo das sugestões hipnóticas, ao qual tais Espíritos estariam submetidos, ainda mesmo depois de reencarnados. Pelas ruas da referida cidade estranha, desfilavam, de maneira semelhante a cordões carnavalescos, multidões compostas de entidades que se esmeravam em exibições de natureza pornográfica, erótica e debochada. Os maiorais eram conduzidos em andores ou tronos colocados sobre carros alegóricos, cujos formatos imitavam os órgãos sexuais masculinos e femininos. Uma euforia generalizada parecia dominar aquelas criaturas, ou mais aproximadamente, assistia-se a uma “festa de despedida” de uma multidão revelando a certeza da aproximação de um fim inexorável, que extinguiria a situação cômoda até então usufruída por todos. De fato, aqueles Espíritos, sem exceção, haviam recebido um aviso de que estava determinado, de maneira irrevogável pelos “Planos da Espiritualidade Superior”, o seu próximo reingresso à vida carnal na Terra. A esse decreto inapelável não iriam escapar nem os próprios maiorais".
Vamos por partes. Cidade maltrapilha e suja, situada na crosta terrestre, talvez próximo ao centro da Terra, com gente tão atrasada que se supõe ser capaz de viver em ambientes correspondentes a um forno superaquecido. Governada por entidades de mente "vigorosa" mas sem ética e um povo submisso e fútil.
Aí há desfiles cujas pessoas expressavam baixarias pornográficas. As autoridades desfilam sobre tronos, em carros alegóricos, que imitavam formatos de órgãos sexuais masculinos e femininos. Loucura. E aí há toda uma euforia e uma suposição de que era uma "festa de despedida" e que a "espiritualidade superior" preparava o fim de tudo e o regresso de todos para a Terra.
Preferimos acreditar que não são os moradores da crosta terrestre que cumpririam tal reencarnação, talvez no Brasil, o país preferido do "bom velhinho" dos espiritólicos, mas aqueles que haviam falecido depois do apogeu do macartismo nos EUA e que reencarnaram no Brasil com a missão de implantar um neo-macartismo pós-tropicalista às custas de "funk", axé-music e tudo de brega.
Mas questionar os pontos de vista de Francisco Cândido Xavier fariam irritar seus cães de guarda, quer dizer, seus seguidores extremados. O grande problema é se o desfecho prenuncia um fim ou um recomeço, já que existe o tal "reingresso" à vida carnal.
O "espiritismo" é dúbio. Como religião herdada de conceitos medievais do Catolicismo português, ele tem também seu carnevale, um lado "avesso" aos valores moralistas que defende, já que essa doutrina não é "pura", já que mesmo no lado moralista existem vários aspectos sombrios, como o mito dos "reajustes morais" que transformam vítimas de crimes ou infortúnios em "culpadas".
Portanto, não é de se admirar que o Brasil que está prestes a ser o tal "Coração do Mundo", se levarmos a sério a patriotada astral de Chico Xavier, parece abrigar um cenário sustentável de eventos de imbecilização sócio-cultural, de baixarias e breguices, que no âmbito festivo envolvem os carnavais da axé-music, os "bailes funk", as vaquejadas, choppadas, "forrós eletrônicos" etc.
E tudo isso não parece ser uma "festa de despedida", apesar das crises sucessivas que se vê, sobretudo, na axé-music. Pelo contrário, o que se observa é a campanha de "bom mocismo" que envolve axézeiros, funqueiros e similares, Ou seja, todos parecendo capazes de passar no teste depois que o mundo se espatifasse e só restasse o Brasil como nação poderosa e iluminada do planeta.
E aí, quem serão os "grandes artistas", os "brilhantes cientistas" e as "mais elevadas personalidades" que comandarão a ascensão da Terra como um mundo melhor, a partir da ascensão do Brasil tão sonhada por Chico Xavier? Funqueiros e axézeiros? Escritores de auto-ajuda? Sub-celebridades?
E que recado eles trarão para a humanidade? "Vamos nos unir na fraternidade em Cristo", "vamos nos dar as mãos". Difícil é explicar como popozudas, escritores de auto-ajuda, integrantes do Big Brother Brasil irão trazer um grande cenário de progresso cultural para o país.
E a música erudita, como será? Chitãozinho & Xororó com orquestra sinfônica a massacrar o legado dos grandes mestres da música? Isso quando o Latino não fizer sua "festa do apê" no Teatro Municipal ou Mr. Catra não se aventurar num tributo a Heitor Villa-Lobos. Valesca Popozuda faria tributo à Bossa Nova? Kleber Bambam seria reitor de universidade?
Difícil explicar. O confuso sonho de Chico Xavier diz que a festa do umbral vai acabar e todo mundo vai voltar à vida carnal. A crosta terrestre sofrerá uma limpeza por determinação da "espiritualidade superior". E a patota que lá vivia voltará, conforme o que conhecemos de CX, ao Brasil, que o anti-médium mineiro entende como o "centro do universo".
Se a patota do umbral vai reencarnar para ser liquidada em seguida, ou vai se converter num aparente bom-mocismo que fará o "povo do umbral" reencarnado no Brasil conduzir a evolução da Terra, isso não está devidamente esclarecido. Mas Chico Xavier não quer esclarecimento, já que reprovava o questionamento, preferindo o "silêncio da prece". Assim virou bagunça.
segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015
A "reforma íntima" como desculpa para o conformismo
Um dos clichês do "espiritismo" brasileiro é toda a conversa sobre "reforma íntima" e "autoconhecmento", usadas como pretextos para o suposto melhoramento moral das pessoas, diante das dificuldades da vida.
Através dessas ideias, vale tanto o discurso pseudocientífico, no qual se apropriam alguns elementos da Psicologia mesclados com conceitos astrológicos e arremedos de terapias hospitalares, ou no simples moralismo religioso que se expressa principalmente nas doutrinárias.
A ideia é essa: está tudo dando errado na vida de alguém, ocorrem mil absurdos, as dificuldades são maiores do que a capacidade de alguém de suportá-las, mas aí vem o "caridoso espírita" dizer que basta apenas a "reforma íntima" e o "autoconhecimento" para tornarem a vida "bem melhor".
Em outras palavras: faça da pimenta que arde seus olhos um refresco para sua alma. Se tudo ocorre de errado em sua vida, conforme-se. A "reforma íntima" e o "autoconhecimento" são apenas eufemismos para o que, na verdade, se entende com uma palavra só: conformismo.
"Reforma íntima" é uma maneira de dizer, que complementa o "autoconhecimento", este a primeira etapa de uma "lavagem cerebral espírita" que faz com que as pessoas passem a ficar contentes com seu sofrimento e nada façam para superá-lo, ou, quando muito, sejam permitidas apenas a minimizar seus aspectos danosos.
O "autoconhecimento" consiste na identificação de desejos, crenças e princípios que tal pessoa tem, que para o "espiritismo" servem para serem eliminados. A "reforma íntima" aparece então como o processo de eliminação, que se baseia no princípio de "esquecer tudo que aprendeu na vida" para reaprender a sobreviver na selva das injustiças e dos absurdos da vida contemporânea.
Com isso, se você aprendeu a ter um projeto de vida profissional, esqueça tudo. Se você tem nível universitário, é culto e deseja trabalhar em jornalismo, só lhe resta aquela rádio corrupta na qual você um dia tem liberdade de trabalhar um jornalismo responsável e dinâmico, no outro você terá que se submeter a um patrão que entende menos de jornalismo que você e passar a fazer tudo que ele quer.
Na vida amorosa, se o seu modelo de mulher é o da atriz Emma Watson e você possui razões para querer uma mulher não só atraente, mas com afinidades com sua personalidade, esqueça. Vá namorar uma "mulher-fruta" a qual você sente repulsa e não vê proveito algum numa relação de namoro sequer.
Se sua vida é como um filme de Luís Buñuel, um livro de Franz Kafka ou uma nota do Febeapá de Stanislaw Ponte Preta, tudo o que lhe resta, à luz do "espiritismo" brasileiro, é você orar para aguentar todo tipo de aberração em sua vida - porque, neste caso, as dificuldades se transmutaram em absurdos - e ter paciência para não se sabe quando, talvez para daqui a 200 anos e duas encarnações.
A "reforma íntima" é uma desculpa para você aceitar as coisas como realmente são. A ideia é evitar que você tente mudar alguma coisa, o "espiritismo" diz que estamos no "mundo cão" e que o que nos resta é aceitarmos tudo e ficarmos lendo os livros horríveis de Chico Xavier, sobretudo os textos abomináveis de Emmanuel, e deixarmos à nossa sorte.
Afinal, os inocentes são os culpados, a Terra é uma grande penitenciária e o que nos espera na vida futura é o caminho para um mundo espiritual dotado de um complexo igrejístico com hospital, colônias e um grande campo de golfe para caminharmos à toa com companheiros de nome pseudo-latino.
O que nos resta, dentro da perspectiva "espírita", é ficarmos conformados com nossa situação desgraçada e abrirmos mão das duras lições que obtivemos na vida, que nos fizeram humanos, conscientes, críticos e autocríticos às custas das desilusões que moldaram nossos desejos e expectativas.
Temos que desaprender as coisas e, de preferência, nos submetermos às ilusões e caprichos de outrem, nos escravizando aos abusos alheios para nos "resgatar espiritualmente" e caminharmos para uma "felicidade" que não sabemos se haverá nem como será.
Dessa forma, o "espiritismo" nos deixa presos a um túnel escuro, cegos pela "luz religiosa" de seus "ensinamentos", escravos de um conformismo e uma culpabilidade que mais nos torna infelizes, forçando-nos a seguir um sentimento masoquista em relação aos próprios sofrimentos. "Reforma íntima" é apenas desculpa para ficarmos conformados com nossos próprios problemas.
domingo, 15 de fevereiro de 2015
Divaldo Franco se encontrou com Papa Francisco em recepção coletiva
DIVALDO FOI SE ENCONTRAR COM O OUTRO CHICO.
Um rápido encontro ocorreu no dia 29 de janeiro último entre o anti-médium baiano Divaldo Franco e o Papa Francisco, no Vaticano. Celebrando a aparente tolerância do "movimento espírita" para com a Igreja Católica mas, na verdade, celebrando sua herança ideológica, Divaldo apenas cumprimentou o pontífice.
Foi uma cerimônia coletiva, ao lado de diversas personalidades, nas quais o Papa Francisco apenas recebeu com cordialidade e sorriu, mas, pelos compromissos pessoais do pontífice, não houve oportunidade para uma conversa ou uma reunião com qualquer das personalidades.
Divaldo foi um deles e estava excursionando com familiares pela Itália, e escreveu o seguinte relato por meio de seu comunicado oficial:
Há quatro meses, graças à interferência de amigos, concordei que fosse estudada a possibilidade de um encontro com o Papa Francisco. Ante a impossibilidade de um encontro pessoal, pela sua Agenda superlotada e de alto significado com autoridades de todo tipo do mundo que o buscam, concordei em participar da audiência pública no Salão Paulo VI com a família com a qual estou viajando.
Quando da entrada do Papa Francisco pelo corredor superlotado, ele foi abraçando crianças, doentes e apertando mãos. Ao passar por mim, porque estivesse numa posição privilegiada, distendi-lhe a minha e ele a apertou e sorriu.
Nada mais houve além disso. Não trocamos uma palavra sequer, nem seria possível.
Qualquer comentário que seja adicionado é resultado da imaginação de quem o fizer.
Ele falou belamente sobre a família, o papel do Pai, recordando-se que Deus é o nosso Pai e que os genitores masculinos deixam os filhos órfãos de sua assistência e, por isso, os jovens perdem o rumo. Plenamente correto.
Agradecimentos,
Divaldo.
==========
Divaldo Franco anunciou sua aposentadoria das atividades ditas mediúnicas envolvendo a mentora Joana de Angelis (que, do contrário do caso de Chico Xavier, cujo mentor Emmanuel foi o jesuíta padre Manuel da Nóbrega, não foi Joana Angélica, porque neste caso as caraterísticas pessoais eram diferentes) este ano.
Segundo a tese oficial, Joana de Angelis estaria se preparando para "reencarnar" na vida terrena, como uma suposta missionária, e Divaldo já estaria bastante idoso para consumir suas energias psíquicas, e completará 88 anos este ano.
No entanto, pelos bastidores do "movimento espírita", o que ocorre é que a aposentadoria de Divaldo Franco, por causa de sua velhice física, usou o motivo da "reencarnação" de Joana de Angelis como um pretexto para que ela não fosse mais utilizada por outros "médiuns".
Um rápido encontro ocorreu no dia 29 de janeiro último entre o anti-médium baiano Divaldo Franco e o Papa Francisco, no Vaticano. Celebrando a aparente tolerância do "movimento espírita" para com a Igreja Católica mas, na verdade, celebrando sua herança ideológica, Divaldo apenas cumprimentou o pontífice.
Foi uma cerimônia coletiva, ao lado de diversas personalidades, nas quais o Papa Francisco apenas recebeu com cordialidade e sorriu, mas, pelos compromissos pessoais do pontífice, não houve oportunidade para uma conversa ou uma reunião com qualquer das personalidades.
Divaldo foi um deles e estava excursionando com familiares pela Itália, e escreveu o seguinte relato por meio de seu comunicado oficial:
Há quatro meses, graças à interferência de amigos, concordei que fosse estudada a possibilidade de um encontro com o Papa Francisco. Ante a impossibilidade de um encontro pessoal, pela sua Agenda superlotada e de alto significado com autoridades de todo tipo do mundo que o buscam, concordei em participar da audiência pública no Salão Paulo VI com a família com a qual estou viajando.
Quando da entrada do Papa Francisco pelo corredor superlotado, ele foi abraçando crianças, doentes e apertando mãos. Ao passar por mim, porque estivesse numa posição privilegiada, distendi-lhe a minha e ele a apertou e sorriu.
Nada mais houve além disso. Não trocamos uma palavra sequer, nem seria possível.
Qualquer comentário que seja adicionado é resultado da imaginação de quem o fizer.
Ele falou belamente sobre a família, o papel do Pai, recordando-se que Deus é o nosso Pai e que os genitores masculinos deixam os filhos órfãos de sua assistência e, por isso, os jovens perdem o rumo. Plenamente correto.
Agradecimentos,
Divaldo.
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Divaldo Franco anunciou sua aposentadoria das atividades ditas mediúnicas envolvendo a mentora Joana de Angelis (que, do contrário do caso de Chico Xavier, cujo mentor Emmanuel foi o jesuíta padre Manuel da Nóbrega, não foi Joana Angélica, porque neste caso as caraterísticas pessoais eram diferentes) este ano.
Segundo a tese oficial, Joana de Angelis estaria se preparando para "reencarnar" na vida terrena, como uma suposta missionária, e Divaldo já estaria bastante idoso para consumir suas energias psíquicas, e completará 88 anos este ano.
No entanto, pelos bastidores do "movimento espírita", o que ocorre é que a aposentadoria de Divaldo Franco, por causa de sua velhice física, usou o motivo da "reencarnação" de Joana de Angelis como um pretexto para que ela não fosse mais utilizada por outros "médiuns".
sábado, 14 de fevereiro de 2015
Por que os acadêmicos da UFJF erraram ao atribuir pioneirismo científico a André Luiz
JORGE CECÍLIO DAHER, DA ASSOCIAÇÃO MÉDICA ESPÍRITA, UM DOS QUE APOSTARAM NO SUPOSTO PIONEIRISMO DE "ANDRÉ LUIZ" EM DADOS SOBRE A GLÂNDULA PINEAL.
Há dois anos atrás, os pesquisadores da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), entre os quais Jorge Cecílio Daher Jr. e Giancarlo e Alessandra Luccheti, lançaram uma tese que atribui ao suposto espírito de André Luiz o pioneirismo em 13 ou 60 anos nos estudos sobre a glândula pineal, através do livro Missionários da Luz, lançado por Francisco Cândido Xavier em 1945.
Segundo os autores, os estudos sobre a glândula pineal nos anos 1940 eram "extremamente escassos e altamente conflitantes", e, segundo eles, as informações "trazidas" por "André Luiz" (que, sabemos, não passa de personagem fictício) só "seriam confirmadas" a partir de 1958. Além disso, o argumento da aparente ignorância do "médium" Chico Xavier é exposto desta forma:
"O fato de que um texto escrito por um indivíduo inculto sem formação acadêmica ou envolvimento no campo da saúde, que residia no interior do Brasil numa época em que o acesso aos artigos foi limitado (o caso do Sr. Francisco Cândido Xavier), fornece altamente conceitos complexos e informações sobre a fisiologia da glândula pineal 60 anos antes de qualquer confirmação científica,
levanta questões mais profundas quanto à verdadeira fonte de esta informação."
Antes de analisarmos duas passagens que selecionamos para questionarmos a "vitoriosa" hipótese, deve-se verificar que muito do que Chico Xavier escreveu contou com a ajuda de editores da FEB e de consultores literários ou científicos. Ainda estamos analisando até que ponto o então adolescente Waldo Vieira poderia também ter colaborado para construir o mito de André Luiz.
Vamos mostrar a primeira passagem do livro Missionários da Luz, mais curta, e depois a segunda, mais longa, que estão entre os trechos que os autores consideram de "pioneirismo científico bastante complexo". A primeira passagem foi reproduzida pelos autores como "prova" da "tese pioneira".
Ambas estão no capítulo A Epífise, um dos capítulos pesquisados pelos acadêmicos, e correspondem aos diálogos, dotados do mais evidente panfletarismo religioso (observado na segunda passagem selecionada), puxados pelo "instrutor do mundo espiritual", chamado Alexandre.
No caso descrito no referido livro de "André Luiz", a epífise não se refere a uma parte de um osso, mas a um tipo de glândula, a glândula epífise, que é o outro nome da glândula pineal, correspondente a um pequeno corpúsculo em formato oval situado no interior do cérebro.
A glândula pineal tem como funções regular as atividades hormonais, principalmente aquelas que interferem na sensação do cansaço que leva os indivíduos a terem sono, ou às sensações referentes à atividade sexual. Consta-se que, desde os tempos do Egito Antigo, a glândula também era conhecida como o Terceiro Olho, à qual se atribuía contatos com o mundo espiritual.
Seguem as passagens, a pequena e a mais longa, antes de mais análises:
"São demasiadamente mecânicas, para guardarem os princípios sutis e quase imponderáveis da geração. Acham-se absolutamente controladas pelo potencial magnético de que a epífise é a fonte fundamental. As glândulas genitais segregam os hormônios do sexo, mas a glândula pineal, se me posso exprimir assim, segrega «hormônios psíquicos» ou «unidades-força» que vão atuar, de maneira positiva, nas energias geradoras. Os cromossomos da bolsa seminal não lhe escapam a influenciação absoluta e determinada".
Há dois anos atrás, os pesquisadores da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), entre os quais Jorge Cecílio Daher Jr. e Giancarlo e Alessandra Luccheti, lançaram uma tese que atribui ao suposto espírito de André Luiz o pioneirismo em 13 ou 60 anos nos estudos sobre a glândula pineal, através do livro Missionários da Luz, lançado por Francisco Cândido Xavier em 1945.
Segundo os autores, os estudos sobre a glândula pineal nos anos 1940 eram "extremamente escassos e altamente conflitantes", e, segundo eles, as informações "trazidas" por "André Luiz" (que, sabemos, não passa de personagem fictício) só "seriam confirmadas" a partir de 1958. Além disso, o argumento da aparente ignorância do "médium" Chico Xavier é exposto desta forma:
"O fato de que um texto escrito por um indivíduo inculto sem formação acadêmica ou envolvimento no campo da saúde, que residia no interior do Brasil numa época em que o acesso aos artigos foi limitado (o caso do Sr. Francisco Cândido Xavier), fornece altamente conceitos complexos e informações sobre a fisiologia da glândula pineal 60 anos antes de qualquer confirmação científica,
levanta questões mais profundas quanto à verdadeira fonte de esta informação."
Antes de analisarmos duas passagens que selecionamos para questionarmos a "vitoriosa" hipótese, deve-se verificar que muito do que Chico Xavier escreveu contou com a ajuda de editores da FEB e de consultores literários ou científicos. Ainda estamos analisando até que ponto o então adolescente Waldo Vieira poderia também ter colaborado para construir o mito de André Luiz.
Vamos mostrar a primeira passagem do livro Missionários da Luz, mais curta, e depois a segunda, mais longa, que estão entre os trechos que os autores consideram de "pioneirismo científico bastante complexo". A primeira passagem foi reproduzida pelos autores como "prova" da "tese pioneira".
Ambas estão no capítulo A Epífise, um dos capítulos pesquisados pelos acadêmicos, e correspondem aos diálogos, dotados do mais evidente panfletarismo religioso (observado na segunda passagem selecionada), puxados pelo "instrutor do mundo espiritual", chamado Alexandre.
No caso descrito no referido livro de "André Luiz", a epífise não se refere a uma parte de um osso, mas a um tipo de glândula, a glândula epífise, que é o outro nome da glândula pineal, correspondente a um pequeno corpúsculo em formato oval situado no interior do cérebro.
A glândula pineal tem como funções regular as atividades hormonais, principalmente aquelas que interferem na sensação do cansaço que leva os indivíduos a terem sono, ou às sensações referentes à atividade sexual. Consta-se que, desde os tempos do Egito Antigo, a glândula também era conhecida como o Terceiro Olho, à qual se atribuía contatos com o mundo espiritual.
Seguem as passagens, a pequena e a mais longa, antes de mais análises:
"São demasiadamente mecânicas, para guardarem os princípios sutis e quase imponderáveis da geração. Acham-se absolutamente controladas pelo potencial magnético de que a epífise é a fonte fundamental. As glândulas genitais segregam os hormônios do sexo, mas a glândula pineal, se me posso exprimir assim, segrega «hormônios psíquicos» ou «unidades-força» que vão atuar, de maneira positiva, nas energias geradoras. Os cromossomos da bolsa seminal não lhe escapam a influenciação absoluta e determinada".
"Segregando delicadas energias psíquicas -prosseguiu ele -, a glândula pineal conserva ascendência em todo o sistema endocrínico. Ligada à mente, através de princípios eletromagnéticos do campo vital, que a ciência comum ainda não pode identificar, comanda as forças subconscientes sob a determinação direta da vontade. As redes nervosas constituem-lhe os fios telegráficos para ordens imediatas a todos os departamentos celulares, e sob sua direção efetuam-se os suprimentos de energias psíquicas a todos os armazéns autônomos dos órgãos. Manancial criador dos mais importantes, suas atribuições são extensas e fundamentais. Na qualidade de controladora do mundo emotivo, sua posição na experiência sexual é básica e absoluta. De modo geral, todos nós, agora ou no pretérito, viciamos esse foco sagrado de forças criadoras, transformando-o num imã relaxado, entre as sensações inferiores de natureza animal. Quantas existências temos despendido na canalização de nossas possibilidades espirituais para os campos mais baixos do prazer materialista? Lamentavelmente divorciados da lei do uso, abraçamos os desregramentos emocionais, e daí, meu caro amigo, a nossa multimilenária viciação das energias geradoras, carregados de compromissos morais, com todos aqueles a quem ferimos com os nossos desvarios e irreflexões. Do lastimável menosprezo a esse potencial sagrado, decorrem os dolorosos fenômenos da hereditariedade fisiológica, que deveria constituir, invariavelmente, um quadro de aquisições abençoadas e puras. A perversão do nosso plano mental consciente, em qualquer sentido da evolução, determina a perversão de nosso psiquismo inconsciente, encarregado da execução dos desejos e ordenações mais íntimas, na esfera das operações automáticas. À vontade desequilibrada desregula o foco de nossas possibilidades criadoras. Daí procede a necessidade de regras morais para quem, de fato, se interesse pelas aquisições eternas nos domínios do Espírito. Renúncia, abnegação, continência sexual e disciplina emotiva não representam meros preceitos de feição religiosa. São providências de teor científico, para enriquecimento efetivo da personalidade. Nunca fugiremos à lei, cujos artigos e parágrafos do Supremo Legislador abrangem o Universo. Ninguém enganará a Natureza. Centros vitais desequilibrados obrigarão a alma à permanência nas situações de desequilíbrio. Não adianta alcançar a morte física, exibindo gestos e palavras convencionais, se o homem não cogitou do burilamento próprio. A Justiça que rege a Vida Eterna jamais se inclinou. É certo que os sentimentos profundos do extremo instante do Espírito encarnado cooperam decisivamente nas atividades de regeneração além do túmulo, mas não representam a realização precisa".
Os autores alegam, em relação à curta passagem, que a separação de "hormônios psíquicos" ou "unidades-força" pela glândula pineal, para atuar, de maneira positiva, nas energias geradoras, era uma tese só "confirmada" no trabalho de A. Lerner e outros autores, "Isolation of Melatonin, the pineal gland factor that lightens melanocytes", publicado em 1958 no Journal of the American Chemical Society, entidade sediada hoje em Nova York.
Na segunda e longa passagem, a tese "científica" de "André Luiz" se submete ao panfletarismo religioso, às pregações típicas de um Catolicismo enrustido e bem ao gosto de Chico Xavier, como um remanescente da ideologia medieval adaptada aos tempos atuais, que não chega a classificar a ciência como heresia a ser exterminada, mas a subjuga pelo império da fé católica.
MISSIONÁRIOS DA LUZ NÃO TEM PIONEIRISMO DE 60 ANOS, MAS DEFASAGEM DE DOIS ANOS
Os autores do trabalho da UFJF erram ao definir que os trabalhos sobre glândula pineal publicados nos anos 1940 eram "extremamente escassos e altamente conflitantes", como pretexto para que se considere como "pioneiras" as "teses científicas" notadas no livro de "André Luiz".
Esse erro se dá porque, na verdade, o assunto da glândula pineal foi longamente analisado ao longo dos tempos, e com os conceitos contemporâneos trazidos a partir de René Descartes, e seria impossível que "André Luiz" teria antecipado teses científicas.
Podemos garantir isso, porque a suposta escassez bibliográfica não impede que tais pontos "complexos" sejam bastante conhecidos. Autores como Wolfgang Bargmann, a partir de 1943, já lançaram trabalhos bastante expressivos que realizaram amplos debates na época, seja por livros ou por artigos.
Chega a ser risível que os autores definam os registros bibliográficos sobre a glândula pineal como "altamente conflitantes", sem descrever em que ponto eles entram em conflito. Primeiro, porque se trata mesmo de um debate, e, segundo, porque em algum momento a "tese de André Luiz" repousa em algum desses documentos publicados antes de 1945.
É bem provável que o livro de Bargmann de 1943, em alguma tradução em inglês, tenha chegado às mãos da FEB. Sabe-se que Chico Xavier tinha boas relações com pessoas que falam inglês e italiano (entre eles o místico espiritualista "independente" - ou seja, não declaradamente "espírita" - Pietro Ubaldi) e, por isso, algum colaborador pode ter fornecido conceitos de Bargmann para o livro de "André Luiz".
A aparentemente pouca escolaridade de Chico Xavier, aliada a um hábito regular de leitura de livros, nada diz de afirmativo ou negativo em si para a "tese pioneira" dos "complexos conhecimentos científicos" que divulgou.
Em compensação, diz muito o fato de que Chico Xavier trabalhava com consultores literários e científicos, que no caso dos literários o próprio Chico deixou vazar em carta para o então presidente da FEB, Wantuil de Freitas, tornando duvidosa a veracidade de muitos trabalhos atribuídos à sua suposta psicografia.
No caso de Missionários da Luz, é muito bem provável que as ideias de Bargmann lançadas em 1943 teriam influenciado nos dados citados no livro, que não causam surpresa senão para os leigos, porque a comunidade científica já trabalhava as teses de "André Luiz" muito antes de 1945.
Concluindo: isso faz Missionários da Luz, em vez de ter o alegado pioneirismo de seis décadas, ter, em verdade, uma defasagem de, pelo menos, dois anos. O que tira completamente o mérito da tese dos pesquisadores da UFJF, que analisaram um livro que já apresentava hipóteses testadas e analisadas em 1943 e, muito provavelmente, até antes.