domingo, 22 de fevereiro de 2015

Mansão do Caminho fez muito pouco para superar a pobreza em Salvador

ENTRADA DA MANSÃO DO CAMINHO, EM PAU DA LIMA, SALVADOR. 

Hoje à noite, no programa Fantástico, da Rede Globo de Televisão, aparecerá uma reportagem sobre Divaldo Franco e a Mansão do Caminho que servirá de propaganda para a "caridade" promovida pelo anti-médium baiano, no bairro de Pau da Lima, uma das regiões mais violentas de Salvador.

Tendo anunciado sua aposentadoria das atividades "mediúnicas", Divaldo é considerado a última cartada da Federação "Espírita" Brasileira, dentro de uma série de campanhas de Contra-Reforma que tentam recuperar sua supremacia na Doutrina Espírita no Brasil, que a entidade trabalha de forma deturpada e inspirada no Catolicismo medieval.

Enfatizando a ação "filantrópica", dentro de padrões paliativos que, a rigor, não trazem grandes transformações para a sociedade, a reportagem de Marcelo Canellas - ver, abaixo, mensagem publicada por ele nas mídias sociais - é uma parte da campanha de "divinizar" Divaldo, que já conta com 88 anos de idade, a serem completos em alguns meses.

A reportagem tentará supervalorizar os dados estatísticos, de que o projeto de Divaldo Franco beneficiou "mais de 160 mil pessoas" em 60 anos de existência, e o dado, tido como "muito positivo", na verdade é ínfimo e inexpressivo, se verificarmos a natureza da cidade do Salvador e sua imensa população.


Considerando que a Mansão do Caminho tem 63 anos de existência. Se distribuirmos os 160 mil em cada ano, daria aproximadamente 2.540. Se levarmos em conta que Salvador tem hoje oficialmente 2,902.927 habitantes - fora os que vêm do interior baiano, sobretudo homens negros e pobres, que não são contabilizados no Censo - , a situação então se complica.

Isso porque, se considerarmos que Salvador tem três milhões de habitantes, a Mansão do Caminho não chega a ajudar 1% da população, atingindo um índice de 0,08%. Muito pouco para quem quer ser reconhecido por sua "campanha filantrópica da mais elevada importância".

Vendo suas instalações, no entorno da Rua Jayme Vieira Lima, observa-se que a Mansão do Caminho mais parece uma fortificação medieval, com direito até a cerca de arame farpado que, pelo jeito, só não é elétrica.

Algumas casas parecem internatos, embora simpáticas à primeira vista e a mansão não parece estabelecer uma interação comunitária com o restante do bairro de Pau da Lima, que segue com sua pobreza e violência.


MURALHA DÁ UM ASPECTO "PRISIONAL" À MANSÃO DO CAMINHO.

E que tipo de filantropia é feita? Aparentemente, há escola, cursos profissionalizantes, ensinamentos morais "edificantes" e tudo mais. Nada que outras seitas religiosas não o façam, o que não é mérito para Divaldo Franco, porque pelo alarde que se faz à sua figura, esperaria-se que ele fizesse o diferencial do diferencial do diferencial. E não faz.

Não há como festejar muito fazendo coisas modestas e paliativas. Afinal, apesar da educação gratuita, do ensino profissionalizante etc, há o preço do proselitismo religioso, da pregação do moralismo neo-católico próprio do "espiritismo à brasileira" do qual Divaldo faz parte.

Não é um trabalho transformador, sendo muito mais uma obrigação do que um projeto que tenta nos fazer crer que seja revolucionário. Os efeitos são apenas modestos: criam-se pessoas apenas boas, mas que serão mais umas na multidão que se perde pelas ruas e se apaga pelo tempo. E aí temos que recorrer a Allan Kardec, quando disse que "muito se dará àquele que tem".

Afinal, a uma figura considerada culta e "elevada" como Divaldo Franco se exigem responsabilidades maiores. Como figura considerada "de grande envergadura", ele, em seu projeto "filantrópico", nada faz do que produzir pessoas inofensivas que conseguem sobreviver razoavelmente, algo abaixo do que sugere um projeto considerado "grandioso".

Quantitativamente e qualitativamente, o projeto da Mansão do Caminho apenas obtém resultados medíocres. Para um projeto que se anuncia como transformador, ele não resolveu o problema da pobreza nem cria cidadãos além da mera missão de sobreviver com um mínimo de dignidade. Sempre o "mínimo".

Perto do que seria o Método Paulo Freire, do Movimento de Cultura Popular de Pernambuco, a Mansão do Caminho perde feio, porque o método do saudoso educador Paulo Freire realmente foi transformador, pois não ensinava pessoas a lerem, escreverem e produzirem renda para serem apenas mais umas na multidão.

Paulo Freire ensinava a pensar de forma crítica o mundo. A pensar de maneira questionadora, contestatória e mobilizadora. Ensinava a articular mutirões, a combater injustiças. Muito do contrário de um projeto religioso como o da Mansão do Caminho, que apenas mantém as pessoas no limite insosso da sobrevivência básica, o que não é ruim mas é insuficiente.

E ver que um projeto como esse é exaltado porque conseguiu beneficiar, a cada ano, menos de 1% da população de Salvador. Se levar em conta o fato de que Divaldo Franco é considerado "cidadão do mundo", isso não é motivo de orgulho, mas de vergonha.

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