quinta-feira, 31 de agosto de 2017
O que pensa o topo da pirâmide social?
O que pensa o topo da pirâmide social quanto ao futuro? Sabe-se que esse topo corresponde a uma parcela da sociedade se julga privilegiada e predestinada, por atributos que vão do porte de armas ao prestígio religioso, passando pelo dinheiro, pela fama, pelo diploma, pelo poder político e empresarial, e por aí vai.
Há um ano, a presidenta Dilma Rousseff foi definitivamente afastada da Presidência da República, consagrando o poder de uma elite que não aceitava as transformações sociais obtidas. Vários agentes sociais, como rentistas, machistas, racistas, fascistas, criminosos ricos e até ídolos religiosos (que se autoproclamam estarem a um passo de Deus ou, ao menos, num caminho menos longo a ele) reclamaram a recuperação de antigos privilégios.
O topo da pirâmide mostrou ser um repositório da sordidez humana. Vários escândalos e crimes e inúmeras irregularidades das mais graves - como um juiz feminicida que, mesmo afastado do emprego, ganha R$ 307 mil na função - permanecem e não causam muita revolta (fora o "ativismo de sofá" das redes sociais, que não traz resultados concretos), isso num país em que as pessoas se irritaram facilmente ao verem um membro do Partido dos Trabalhadores (PT) em ação.
O topo da pirâmide social apodrece e se torna mofado e velho. Mostra sua decadência, sua obsolescência, seu ocaso. Ultimamente há um clima de "ninguém sai", como no famoso conto de Luiz Fernando Veríssimo sobre um jogo de baralho, pois as velhas ordens sociais, mesmo acumulando encrencas e escândalos, faz todo o possível para se permanecer em pé.
Inferindo nos pontos de vista dos detentores dos mais diversos privilégios sociais, nota-se que eles se consideram pessoas "modernas" que conquistaram o poder social pleno por volta de 1974, quando aquilo que entendiam ser um período de "limpeza dos excessos sociais" - eles podem ser tanto o comunismo quanto movimento hippie, por exemplo - , foi consolidado.
Mesmo os crimes cometidos são feitos mediante alegações que remetem a "busca de facilidades" (corrupção) ou juízos de valor (homicídios), e não é surpresa que o topo da pirâmide sempre age de imediato para garantir a proteção social e os menores danos sociais a seus detentores. Daí os casos de impunidade não só na Justiça, como também na preocupação mais recente de criminosos e corruptos de elite obterem também a simpatia da sociedade.
No "espiritismo", há até um famoso "médium" que lança quadros de pintura fake, que não correspondem aos estilos originais dos pintores mortos e, invariavelmente, apresentam apenas a caligrafia pessoal do "espírita" em questão. Ele expôs um dos quadros abertamente num programa de TV, como se fosse um troféu, e a Justiça não mexe com ele. Juízes e advogados só se aproximam do "médium" para lhe abraçarem, posarem para fotos e, pasmem, até para pedir conselhos.
Os critérios éticos, estéticos, morais e sociais do topo da pirâmide se tornam desgastados. O velho moralismo, o darwinismo social, vícios tipicamente brasileiros como o "jeitinho" e a "memória curta" (que protege antigos algozes da decadência, mudando sua imagem social perante a sociedade) tentam a todo custo livrar a plutocracia (o conjunto de privilegiados que ocupa a parte superior da pirâmide) do prejuízo sócio-econômico, do desprezo público e até da morte.
Sim, porque, aparentemente, o topo da pirâmide social não pode ter mortos prematuros e seus detentores, mesmo com problemas de saúde, têm quase sempre esforços hercúleos para adiarem o falecimento para o mais tarde possível, mesmo quando o organismo "pede pra sair" há décadas. Há dois políticos famosos da ditadura militar e três famosos homicidas (estes com histórico de sérios problemas de saúde) que, mesmo idosos, em tese, não parecem destinados a morrer tão cedo.
Políticos conservadores também tentam a todo custo abafar encrencas e infortúnios, tentando sobreviver a escândalos e impasses diversos. Seja o presidente Michel Temer ou os parlamentares Aécio Neves e Jair Bolsonaro (e os filhos deste, Flávio e Eduardo), seja o jurista Gilmar Mendes, entre outros, há todo um esforço de abafar situações negativas e sobreviver quase ileso no cume da pirâmide social.
E mesmo em religiões como as seitas neopentecostais (como a Igreja Universal do Reino de Deus) e até o "espiritismo", as confusões em que se metem seus ídolos religiosos sempre são abafadas. Sobretudo os "médiuns espíritas", de trajetória cheia de confusões graves nos bastidores, mas sempre se empenhando em passar, para a sociedade, uma imagem "limpa" de pretensos filantropos e uma reputação comparável à de fadas-madrinhas de contos de fadas.
Isso é um reflexo de uma mentalidade na qual a plutocracia não querer sequer perder seus totens. Há um tipo de sociedade marcada pela obtenção de privilégios elevados e métodos confusos e desonestos de ascensão social, nos padrões que fariam mais sentido nos anos 1970, que não quer que seus ilustres ídolos se tornem coisas do passado.
O medo que essa sociedade tem de ser passada para trás, de ver, mesmo nos seus membros mais idosos, a sombra do passado batendo suas portas, deixando que os privilegiados de toda ordem obtenham protagonismo ou mesmo coadjuvação para o futuro, pelo menos como "modelos a serem seguidos" pelos futuros privilegiados.
O topo da pirâmide social vive sua decadência, quando os diversos setores de privilégios sociais mostram toda a sua sordidez. O velho conservadorismo social que parecia liquidado nos anos 1960 mas retomou seu caminho na década seguinte luta para sobreviver nos tempos atuais, reclamando para si uma "modernidade" que lhes escapa das mãos.
É por isso que as velhas ordens sociais tentam a todo custo permanecer no "barco", evitando sua própria ruína e buscando a maior totalidade de "sobreviventes" possível, nesses tempos de impasses e inseguranças. E, com isso, revelam o medo de, perdendo a posse antecipada do futuro, serem tragadas pelo passado, deixando de exercer influência dominante na sociedade.
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