sábado, 30 de setembro de 2017
O médico Leonid Rogozov foi muito mais digno que o "médium" João de Deus
"Barbeiro corta o próprio cabelo?", perguntou, cinicamente, o "médium" João Teixeira de Faria, o João de Deus, o mais novo "sacerdote da Rede Globo" e o terceiro, depois de Chico Xavier e Divaldo Franco, a receber o culto à personalidade blindado pela poderosa corporação midiática e associado a um conceito de "bondade" mais apropriado para dramalhões de novela.
A pergunta se refere ao fato do "médium" - que muitos consideram ter dado o "beijo da morte" à ex-primeira-dama Marisa Letícia Lula da Silva, já que João de Deus é latifundiário e protegido da mídia reacionária - ter recorrido aos cirurgiões de um hospital de São Paulo para curar-se de um tumor, em vez dele mesmo realizar uma autocirurgia.
A declaração de João de Deus contraria sua imagem "santificada" de terceiro "médium" blindado, símbolo da pretensa meiguice promovida pelo discurso midiático-religioso e que pega muita gente boa desprevenida, diante de um "espiritismo" que vive de mitomania e dissimulação com maior intensidade desde os anos 1970, quando os "espíritas" passaram a bajular Kardec, se dizerem "fiéis aos postulados espíritas originais" mas praticarem o igrejismo roustanguista.
Pois a História registra a trajetória do médico russo Leonid Rogozov, o "barbeiro que resolveu cortar o próprio cabelo" num momento de grande dificuldade. Aos 27 anos, em 1961, ele descobriu sofrer de uma grave apendicite quando sua equipe trabalhava na Antártida.
Rogozov não poderia viajar de avião, sob risco de sofrer choque de temperatura e morrer durante a viagem. Mas também não tinha cirurgiões de plantão, a não ser ele mesmo. Ele, então, resolveu recorrer apenas a dois assistentes: um para segurar o espelho, e outro para fornecer os equipamentos, enquanto o próprio Rogozov, com paciência surpreendente, realizou sua própria cirurgia.
A cirurgia, em circunstâncias muito mais difíceis, complicadas e arriscadas, foi bem sucedida. Não havia sequer garantia de êxito, pois o ambiente era muito frio e o estágio da doença estava avançado. Mas tudo deu certo e Rogozov só morreu em 2000, com os efeitos naturais da velhice, aos 76 anos.
Já João de Deus, mundialmente conhecido - seus fãs estrangeiros até o apelidam de "John of God" - , tinha a sua aparente grandeza e as condições favoráveis para fazer autocirurgia. Poderia mesmo usar sua fé para retirar seu próprio tumor, usando de instrumentos que diz utilizar para operar outras pessoas. Poderia até sair divinizado com isso. E poderia até ter evocado o próprio espírito de Rogozov!
Mas isso revela a farsa que é o "espiritismo" brasileiro e seus "médiuns" idolatrados como se fossem mocinhos de novela da Rede Globo. Ainda se vai analisar as supostas cirurgias espirituais e seus efeitos placebos - desconfia-se que os "médiuns" não curam, mas a autocura de pessoas esperançosas, que poderiam ter outras crendices que o efeito seria o mesmo - e fatos estranhos como o fato de cirurgias não curarem as paralisias dos movimentos de braços e pernas.
Infelizmente, as atividades "mediúnicas" são irregulares e até mais corrompidas do que se atribui às políticas do Partido dos Trabalhadores pela mesma mídia que endeusa os "médiuns espíritas". Psicografias fake, pinturas falsas e supostas psicofonias que mais parecem imitações de stand up comedy.
E isso com supostas cirurgias sem métodos nem efeitos confiáveis, feitas ao arrepio da Ciência como se a fé pudesse criar, para si, uma "ciência paralela". Não pode. Somos seres humanos e não podemos aceitar que haja uma realidade que sobrevivesse alheia à nossa capacidade de raciocinar, criando um terreno do surreal e do absurdo atribuído ao sobrenatural, mesmo sob as mais deslumbradas alegações próprias da fascinação religiosa.
Portanto, o exemplo de Leonid Rogozov tornou-se mil vezes mais digno e corajoso do que o do festejado João de Deus. E isso mostra que é fora das paixões religiosas que se encontram exemplos que são bem mais humanistas do que o falso humanismo apaixonado atribuído aos ídolos religiosos tomados de pleno culto à personalidade.
sexta-feira, 29 de setembro de 2017
Reportagem omite nome de João de Deus e sugere blindagem da Globo ao "médium"
Cinco anos atrás, um caso de uma austríaca de 80 anos que faleceu na Casa Dom Inácio, "centro espírita" de Abadiânia, Goiás, em circunstâncias misteriosas - apesar do falecimento ter ocorrido durante idade considerada avançada - , rendeu uma reportagem do portal G1, das Organizações Globo, que no entanto resolveu omitir o nome do "médium" que atende o lugar, o famosíssimo João Teixeira de Faria, o João de Deus.
A reportagem chega a citar o nome da casa, do lugar e do fato de que ela atende milhares de pessoas e "realiza cirurgias espirituais". Mas em nenhuma passagem é citada o nome de João de Deus, se limitando apenas a mencionar o nome de seu secretário, Francisco Lobo Sobrinho, o Chico Lobo.
A ideia não é necessariamente omitir a relação com João de Deus, mas dificultar a busca na Internet. João de Deus é o terceiro "médium" blindado pela Rede Globo de Televisão, que transforma os "médiuns espíritas" em sacerdotes à paisana, promovidos a ídolos religiosos com um discurso filantrópico que lembra o duvidoso Criança Esperança com toques de dramaturgia de novela.
Com Francisco Cândido Xavier, o Chico Xavier, morto, e com Divaldo Franco se aposentando de suas atividades, João de Deus é hoje a terceira aposta da Globo, no seu empenho em promover um ídolo religioso tido como "acima de todas as crenças e todas as ideologias", como num processo sutil de passar a rasteira nos pastores eletrônicos neopentecostais que atuam nas emissoras concorrentes.
==========
Austríaca morre dentro de centro espírita de Abadiânia, em Goiás
Polícia Civil instaurou inquérito para apurar morte da mulher de 80 anos. Estrangeira veio ao Brasil para fazer tratamento espiritual com o médium.
Do Portal G1 - 10 de fevereiro de 2012, com informações da TV Anhanguera (afiliada da Rede Globo em Goiás)
A Polícia Civil de Abadiânia, a 85 quilômetros de Goiânia, instaurou inquérito para apurar a morte de uma austríaca de 80 anos, a pedido do Ministério Público. Ela morreu na última quinta-feira (2) na Casa Dom Inácio, centro religioso mundialmente conhecido pelos tratamentos espirituais.
Segundo testemunhas, a mulher estava na Casa Dom Inácio na última quinta, quando, por volta das 22h, teria passado mal e sido socorrida pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Os enfermeiros tentaram reanimá-la, mas ela não resistiu.
Secretário do médium reponsável pelos atendimentos espirituais, Francisco Lobo Sobrinho, conhecido como Chico Lobo, falou sobre o caso à reportagem da TV Anhanguera. Ao contrário do que consta no inquérito, ele negou que estivesse no local na hora da morte da austríaca. Segundo Chico Lobo, o médium também não estava presente.
De acordo com a polícia, a forma que o corpo da austríaca teria sido retirado de dentro da casa chama a atenção. Segundo uma testemunha, um funcionário de uma funerária de Anápolis, identificado apenas como Júnior, teria feito o transporte do corpo em uma camionete descaracterizada.
Tratamento
A austríaca estava hospedada numa pousada em Abadiânia desde o dia 21 de janeiro. Ela veio ao Brasil, juntamente com duas amigas, para fazer um tratamento espiritual com o médium responsável pela casa.
Mais de mil pessoas são atendidas todos os dias na Casa Dom Inácio, 80% delas estrangeiras. Além de atendimento espiritual, o centro oferece até cirurgias.
quarta-feira, 27 de setembro de 2017
Idosos têm mais dificuldade para se desiludir de seus ídolos do que os jovens
JOVENS SÃO OS QUE MELHOR ACEITAM A DESILUSÃO DIANTE DE ANTIGOS ÍDOLOS, COMO O ANTIGO ESQUERDISTA ANTÔNIO PALOCCI.
Uma discussão familiar foi marcada por uma polêmica em que uma mãe expressava sua devoção a Madre Teresa de Calcutá e o questionamento do filho, que revelou as denúncias de que ela teria deixado seus alojados em condições sub-humanas.
Deu-se uma discussão séria, na qual os pais ficaram profundamente irritados com os relatos do filho, alegando que ele foi "manipulado" por "textos da Internet" (mentiras como as páginas de fake news e de teorias conspiratórias) e que a mãe tinha "liberdade" de acreditar no ídolo religioso que quiser.
As convicções religiosas de idosos em relação a certas "vacas sagradas" da fé extremada e da pretensa caridade, como Madre Teresa, Francisco Cândido Xavier e Divaldo Franco, são tão ferrenhas que nem se Jesus de Nazaré voltasse, com o traje de sua época, para dar os mesmos alertas, seria ouvido ou aceito em suas advertências.
É muito mais fácil dizer para uma criança que Papai Noel não existe do que alertar aos mais velhos que as supostas psicografias de Chico Xavier são fakes. Isso pode parecer surreal, uma vez que os mais velhos parecem mais realistas e as crianças, ou os mais jovens, mais inclinados à fantasia.
Mas a verdade é que a consolidação de ideias e valores sociais, que existe nos mais velhos, faz com que totens e paradigmas se tornem fixos, permanentes e quase inflexíveis. Nas crianças, há valores em formação, assim como nos jovens, o que faz com que eles estivessem mais preparados para abrir mão de ilusões e aceitar melhor a decepção diante de tantos ídolos caídos.
Na louca intolerância de pessoas conservadoras, os mais velhos ficam perguntando, diante da denúncia de irregularidades relacionadas a ídolos políticos, lúdicos ou religiosos. Ficam perguntando, em desesperada irritação: "Quem foi que lhe disse isso? Quem publicou a denúncia?", mas quando se busca responder de forma adequada, os mais velhos, mesmo assim, acham a resposta mentirosa. A denúncia pode vir, por exemplo, de um Nobel da Paz, que não dariam ouvidos de jeito algum.
E olha que são poucos os ídolos religiosos abertamente denunciados, se comparados com os ídolos que caem diariamente do imaginário dos mais jovens. O Rock Brasileiro, por exemplo, tem um considerável elenco de antigos ídolos que causaram muita decepção, como Lobão, Roger Moreira, Dinho Ouro Preto e Samuel Rosa, que manifestaram posições políticas lamentáveis.
Muitos atores de televisão e da música brasileira, antes totens inabaláveis entre os fãs de relativa pouca idade - jovens adultos, diga-se de passagem - decepcionam seus próprios admiradores, que até se acostumam com as sucessivas frustrações de seus antigos "heróis".
A naturalidade da frustração dos mais jovens com seus ídolos inspira até mesmo o mercado de quadrinhos, em que há até mesmo o episódio em que Batman e Superman, antes inabaláveis amigos e aliados na Liga da Justiça, se tornam inimigos mortais.
Entre os mais velhos, porém, o que se vê é, ironicamente, uma adoração digna de contos de fadas a ídolos religiosos como Madre Teresa e Chico Xavier, associados a um aparato de palavras lindas e imagens agradáveis, além da imagem divinizada construída habilidosamente pela grande mídia, mas que evoca sempre sensações agradáveis e confortáveis que deixam os mais velhos tão emocionalmente envolvidos que se enfurecem diante do menor questionamento.
Eles reagem querendo perguntar quais as fontes de denúncias de escândalos, e duvidam de sua veracidade. Mesmo quando, no famoso caso do escritor Humberto de Campos, as obras "psicográficas" não batem, em estilo e linguagem, com o acervo original deixado pelo autor maranhense, os mais velhos se irritam com tal constatação e chegam a reagir com perguntas absurdas como "e se o escritor tivesse decidido mudar de estilo depois de morrer?".
A ironia disso tudo é que os mais jovens são expostos a visões e abordagens fantasiosas, mas aceitam com naturalidade realista a desilusão com seus ídolos. Os mais velhos, expostos a visões a abordagens mais realistas e objetivas, são os que mais resistem à desilusão, mantendo, de maneira preocupantemente persistente, a idolatria em dimensões fabulosas aos seus mitos.
Uma discussão familiar foi marcada por uma polêmica em que uma mãe expressava sua devoção a Madre Teresa de Calcutá e o questionamento do filho, que revelou as denúncias de que ela teria deixado seus alojados em condições sub-humanas.
Deu-se uma discussão séria, na qual os pais ficaram profundamente irritados com os relatos do filho, alegando que ele foi "manipulado" por "textos da Internet" (mentiras como as páginas de fake news e de teorias conspiratórias) e que a mãe tinha "liberdade" de acreditar no ídolo religioso que quiser.
As convicções religiosas de idosos em relação a certas "vacas sagradas" da fé extremada e da pretensa caridade, como Madre Teresa, Francisco Cândido Xavier e Divaldo Franco, são tão ferrenhas que nem se Jesus de Nazaré voltasse, com o traje de sua época, para dar os mesmos alertas, seria ouvido ou aceito em suas advertências.
É muito mais fácil dizer para uma criança que Papai Noel não existe do que alertar aos mais velhos que as supostas psicografias de Chico Xavier são fakes. Isso pode parecer surreal, uma vez que os mais velhos parecem mais realistas e as crianças, ou os mais jovens, mais inclinados à fantasia.
Mas a verdade é que a consolidação de ideias e valores sociais, que existe nos mais velhos, faz com que totens e paradigmas se tornem fixos, permanentes e quase inflexíveis. Nas crianças, há valores em formação, assim como nos jovens, o que faz com que eles estivessem mais preparados para abrir mão de ilusões e aceitar melhor a decepção diante de tantos ídolos caídos.
Na louca intolerância de pessoas conservadoras, os mais velhos ficam perguntando, diante da denúncia de irregularidades relacionadas a ídolos políticos, lúdicos ou religiosos. Ficam perguntando, em desesperada irritação: "Quem foi que lhe disse isso? Quem publicou a denúncia?", mas quando se busca responder de forma adequada, os mais velhos, mesmo assim, acham a resposta mentirosa. A denúncia pode vir, por exemplo, de um Nobel da Paz, que não dariam ouvidos de jeito algum.
E olha que são poucos os ídolos religiosos abertamente denunciados, se comparados com os ídolos que caem diariamente do imaginário dos mais jovens. O Rock Brasileiro, por exemplo, tem um considerável elenco de antigos ídolos que causaram muita decepção, como Lobão, Roger Moreira, Dinho Ouro Preto e Samuel Rosa, que manifestaram posições políticas lamentáveis.
Muitos atores de televisão e da música brasileira, antes totens inabaláveis entre os fãs de relativa pouca idade - jovens adultos, diga-se de passagem - decepcionam seus próprios admiradores, que até se acostumam com as sucessivas frustrações de seus antigos "heróis".
A naturalidade da frustração dos mais jovens com seus ídolos inspira até mesmo o mercado de quadrinhos, em que há até mesmo o episódio em que Batman e Superman, antes inabaláveis amigos e aliados na Liga da Justiça, se tornam inimigos mortais.
Entre os mais velhos, porém, o que se vê é, ironicamente, uma adoração digna de contos de fadas a ídolos religiosos como Madre Teresa e Chico Xavier, associados a um aparato de palavras lindas e imagens agradáveis, além da imagem divinizada construída habilidosamente pela grande mídia, mas que evoca sempre sensações agradáveis e confortáveis que deixam os mais velhos tão emocionalmente envolvidos que se enfurecem diante do menor questionamento.
Eles reagem querendo perguntar quais as fontes de denúncias de escândalos, e duvidam de sua veracidade. Mesmo quando, no famoso caso do escritor Humberto de Campos, as obras "psicográficas" não batem, em estilo e linguagem, com o acervo original deixado pelo autor maranhense, os mais velhos se irritam com tal constatação e chegam a reagir com perguntas absurdas como "e se o escritor tivesse decidido mudar de estilo depois de morrer?".
A ironia disso tudo é que os mais jovens são expostos a visões e abordagens fantasiosas, mas aceitam com naturalidade realista a desilusão com seus ídolos. Os mais velhos, expostos a visões a abordagens mais realistas e objetivas, são os que mais resistem à desilusão, mantendo, de maneira preocupantemente persistente, a idolatria em dimensões fabulosas aos seus mitos.
segunda-feira, 25 de setembro de 2017
Morte de Farah Jorge Farah expõe fragilidade dos feminicidas
FOTOGRAFIA IRÔNICA MOSTRA O EX-MÉDICO E FEMINICIDA FARAH JORGE FARAH SAINDO DE UM CONDOMÍNIO. A IMAGEM DIANTE DAS GRADES DA PORTA DE ENTRADA PODE SER CONFUNDIDA COM GRADES DE PRISÃO.
O suicídio de Farah Jorge Farah, ex-médico que em 2003 esquartejou uma amante, em São Paulo, depois de ter recebido sentença de prisão em regime fechado, revela a fragilidade de homens que matam mulheres, sejam elas suas companheiras, amantes ou apenas amigas e colegas de trabalho, por conta de algum ciúme doentio.
Numa sociedade bastante conservadora como a brasileira, casos de feminicídios vêm crescendo de maneira assustadora, atingindo sobretudo regiões como João Pessoa, Vitória, Goiânia, São Paulo (e as cidades do interior de seu Estado).
Contraditoriamente, a grande mídia denuncia mas "protege" os feminicidas, eventualmente definidos como "pessoas simpáticas" como se ainda pudessem ser os "bons partidos que os pais desejariam para suas filhas". É ilustrativo, por exemplo, o caso de Antônio Pimenta Neves, cujo crime de homicídio contra sua ex-namorada Sandra Gomide, em 2000, nunca foi publicado nas retrancas "policiais", mas nas retrancas de "Brasil" ou "país", relacionada aos fatos políticos de âmbito nacional.
Outro caso surreal é a reportagem sobre o crime que matou a socialite Ângela Diniz, por uma combinação de ciúme doentio e aparente homofobia (Ângela teria tido um caso com outra mulher) do empresário e "playboy" Raul Fernando do Amaral Street, o Doca Street, no final de 1976.
As coberturas do caso na imprensa, nos últimos anos, não noticiam o paradeiro do empresário, com o passado de intenso tabagismo e consumo de cocaína que fazia preocupar os amigos já em 1977 e que faziam crer que Doca não iria chegar aos 60 anos de idade. Ele, aliás, fumou os mesmos cigarros que mataram um who is who de celebridades brasileiras e estrangeiras que tiveram evidência nos anos 1970.
Oficialmente, o paradeiro de Doca é o mesmo de 2006. Não há uma menção oficial de que ele estaria fazendo tratamento com câncer, o que, por razões lógicas, deveria ser uma doença que o acompanhasse há, pelo menos, 30 anos. Nada se comenta a respeito, mas não ocorreu a habitual "nova entrevista" com ele, que de dez em dez anos em relação à época de seu crime era entrevistado para "explicar" os motivos do assassinato. Machista ainda tem vez até para falar a sua "verdade".
Mas os anos passam e em 2006 até figuras como Paul Walker e Heath Ledger e, no Brasil, o ator José Wilker - que, provavelmente, morreu por consumir um terço do que Doca teria consumido em cigarros - também estavam vivos e em evidência. No primeiro semestre de 2006, Bussunda também estava vivo e saudável na estreia de mais uma temporada de Casseta & Planeta Urgente.
Doca parece ser a celebridade brasileira que muitos moralistas têm medo de associar a alguma sina trágica. Algo como Charles Manson nos EUA. No começo deste ano, o líder da macabra seita "hippie" que matou, entre outros, a atriz Sharon Tate em 1969, sofreu um gravíssimo problema de saúde, tendo sido noticiado como "extremamente frágil", aos 82 anos de idade. Depois dessa notícia, nada se disse a respeito.
Num contexto amalucado da grande mídia, em que páginas de fake news se multiplicam como "satélites" da grande imprensa reacionária - ela, apesar de seu suporte "empresarial" e sua conduta "profissional", está cada vez mais voltada para factoides, mentiras e juízos de valor - , Street e Manson perigam se tornar sujeitos do que a Semiótica poderia muito bem definir como "não-mortes" ou "não-tragédias".
Não é ofensivo dizer que homicidas de algum status e projeção social significativos possam morrer um dia. Como também não é ofensivo dizer que eles podem adoecer gravemente um dia, ou morrer prematuramente, se for o caso. Ainda mais se eles é que criam, em seus organismos, condições para contrair doenças, sofrer acidentes trágicos etc.
A sociedade conservadora é que tenta defini-los como "fortes", acreditando que um ato de tirar a vida de outro é apenas um "desabafo", com alguma "motivação", e depois o criminoso fica calminho e se torna um "cara legal". No caso dos feminicidas, há setores da sociedade que os defendem sob a desculpa da "defesa da honra masculina" ou da punição a quem "trai os valores da Família e do Amor (sic)".
Esse conservadorismo permitiu até que um comercial sobre uma marca de televisão, transmitido nos intervalos do Jornal Nacional, fizesse apologia ao feminicídio. Um menino, na saída de um cinema, gritava: "A mocinha morre no final. E quem matou foi o marido!". Denúncias obrigaram a marca a cancelar o comercial, em 1994, muito antes da palavra "feminicídio" ser adotada pelo movimento feminista.
Os feminicidas ricos agem tomados por um acúmulo de tensões psicológicas que os fazem explodir de ódio, tremer de medo e cometer imprudências aqui e ali. Como cometem homicídios sabendo do erro que isso significa e dos danos que podem causar, sofrem as consequências mais pesadas, e procuram viver "socialmente sedados", evitando qualquer incômodo, tentando (em vão) viver mais sossegados que os familiares das vítimas, traumatizados com tão violentas perdas.
Em muitos casos, há o envelhecimento físico evidente. No julgamento de 1981 que o livrou da cadeia, Doca Street já estava visivelmente envelhecido para seus 47 anos, parecendo 20 anos mais velho até para os padrões da idade na época, quando não se imaginava que homens desta idade tivessem a aparência de "garotões" de hoje em dia.
Recentemente, foram divulgadas imagens recentes com o juiz paulista afastado Marco Antônio Tavares, condenado por ter assassinado a esposa em 1997 e que recebe uma remuneração de R$ 27,5 mil, mesmo depois de deixar o cargo. Ele estava visivelmente envelhecido para seus 62 anos de idade. Até o cantor Kid Vinil, falecido na mesma idade, parecia mais jovial.
Há muitos casos dando indícios de fragilidade dos feminicidas, conjugais ou não. Enquanto estava foragido antes de ser incluído nas listas da Interpol, o promotor Igor Ferreira, que mandou matar a esposa Patrícia Longo, em 1998, apresentava, segundo testemunhas, sinais de abatimento físico e magreza extrema. Ao deixar a cadeia em 2016, o pai do promotor disse que o filho "estava bem", soando como aqueles eufemismos que sugerem que "alguém está doente e precisa de repouso".
Os feminicidas conjugais não têm um levantamento oficial para definir o nível e a frequência das tragédias que eles sofrem. Infere-se que os feminicidas têm apenas 80% de expectativas de vida dos brasileiros comuns, e que as tragédias associadas a feminicidas são, além do suicídio, o infarto, o câncer e os acidentes de trânsito. Em certos casos, eles também podem ser assassinados por outros.
O que se pode concluir é que a atitude de certos homens de tirar as vidas de suas mulheres encontram raízes nos valores conservadores e nas desigualdades sociais. Casais errados se formam pelas conveniências sociais, e valores machistas ainda prevalecem até no imaginário de mulheres com algum senso de feminismo. O machismo procura se impor pela violência, mas não consegue esconder também o seu lado trágico e frágil. O caso Farah Jorge Farah é um precedente disso.
O suicídio de Farah Jorge Farah, ex-médico que em 2003 esquartejou uma amante, em São Paulo, depois de ter recebido sentença de prisão em regime fechado, revela a fragilidade de homens que matam mulheres, sejam elas suas companheiras, amantes ou apenas amigas e colegas de trabalho, por conta de algum ciúme doentio.
Numa sociedade bastante conservadora como a brasileira, casos de feminicídios vêm crescendo de maneira assustadora, atingindo sobretudo regiões como João Pessoa, Vitória, Goiânia, São Paulo (e as cidades do interior de seu Estado).
Contraditoriamente, a grande mídia denuncia mas "protege" os feminicidas, eventualmente definidos como "pessoas simpáticas" como se ainda pudessem ser os "bons partidos que os pais desejariam para suas filhas". É ilustrativo, por exemplo, o caso de Antônio Pimenta Neves, cujo crime de homicídio contra sua ex-namorada Sandra Gomide, em 2000, nunca foi publicado nas retrancas "policiais", mas nas retrancas de "Brasil" ou "país", relacionada aos fatos políticos de âmbito nacional.
Outro caso surreal é a reportagem sobre o crime que matou a socialite Ângela Diniz, por uma combinação de ciúme doentio e aparente homofobia (Ângela teria tido um caso com outra mulher) do empresário e "playboy" Raul Fernando do Amaral Street, o Doca Street, no final de 1976.
As coberturas do caso na imprensa, nos últimos anos, não noticiam o paradeiro do empresário, com o passado de intenso tabagismo e consumo de cocaína que fazia preocupar os amigos já em 1977 e que faziam crer que Doca não iria chegar aos 60 anos de idade. Ele, aliás, fumou os mesmos cigarros que mataram um who is who de celebridades brasileiras e estrangeiras que tiveram evidência nos anos 1970.
Oficialmente, o paradeiro de Doca é o mesmo de 2006. Não há uma menção oficial de que ele estaria fazendo tratamento com câncer, o que, por razões lógicas, deveria ser uma doença que o acompanhasse há, pelo menos, 30 anos. Nada se comenta a respeito, mas não ocorreu a habitual "nova entrevista" com ele, que de dez em dez anos em relação à época de seu crime era entrevistado para "explicar" os motivos do assassinato. Machista ainda tem vez até para falar a sua "verdade".
Mas os anos passam e em 2006 até figuras como Paul Walker e Heath Ledger e, no Brasil, o ator José Wilker - que, provavelmente, morreu por consumir um terço do que Doca teria consumido em cigarros - também estavam vivos e em evidência. No primeiro semestre de 2006, Bussunda também estava vivo e saudável na estreia de mais uma temporada de Casseta & Planeta Urgente.
Doca parece ser a celebridade brasileira que muitos moralistas têm medo de associar a alguma sina trágica. Algo como Charles Manson nos EUA. No começo deste ano, o líder da macabra seita "hippie" que matou, entre outros, a atriz Sharon Tate em 1969, sofreu um gravíssimo problema de saúde, tendo sido noticiado como "extremamente frágil", aos 82 anos de idade. Depois dessa notícia, nada se disse a respeito.
Num contexto amalucado da grande mídia, em que páginas de fake news se multiplicam como "satélites" da grande imprensa reacionária - ela, apesar de seu suporte "empresarial" e sua conduta "profissional", está cada vez mais voltada para factoides, mentiras e juízos de valor - , Street e Manson perigam se tornar sujeitos do que a Semiótica poderia muito bem definir como "não-mortes" ou "não-tragédias".
Não é ofensivo dizer que homicidas de algum status e projeção social significativos possam morrer um dia. Como também não é ofensivo dizer que eles podem adoecer gravemente um dia, ou morrer prematuramente, se for o caso. Ainda mais se eles é que criam, em seus organismos, condições para contrair doenças, sofrer acidentes trágicos etc.
A sociedade conservadora é que tenta defini-los como "fortes", acreditando que um ato de tirar a vida de outro é apenas um "desabafo", com alguma "motivação", e depois o criminoso fica calminho e se torna um "cara legal". No caso dos feminicidas, há setores da sociedade que os defendem sob a desculpa da "defesa da honra masculina" ou da punição a quem "trai os valores da Família e do Amor (sic)".
Esse conservadorismo permitiu até que um comercial sobre uma marca de televisão, transmitido nos intervalos do Jornal Nacional, fizesse apologia ao feminicídio. Um menino, na saída de um cinema, gritava: "A mocinha morre no final. E quem matou foi o marido!". Denúncias obrigaram a marca a cancelar o comercial, em 1994, muito antes da palavra "feminicídio" ser adotada pelo movimento feminista.
Os feminicidas ricos agem tomados por um acúmulo de tensões psicológicas que os fazem explodir de ódio, tremer de medo e cometer imprudências aqui e ali. Como cometem homicídios sabendo do erro que isso significa e dos danos que podem causar, sofrem as consequências mais pesadas, e procuram viver "socialmente sedados", evitando qualquer incômodo, tentando (em vão) viver mais sossegados que os familiares das vítimas, traumatizados com tão violentas perdas.
Em muitos casos, há o envelhecimento físico evidente. No julgamento de 1981 que o livrou da cadeia, Doca Street já estava visivelmente envelhecido para seus 47 anos, parecendo 20 anos mais velho até para os padrões da idade na época, quando não se imaginava que homens desta idade tivessem a aparência de "garotões" de hoje em dia.
Recentemente, foram divulgadas imagens recentes com o juiz paulista afastado Marco Antônio Tavares, condenado por ter assassinado a esposa em 1997 e que recebe uma remuneração de R$ 27,5 mil, mesmo depois de deixar o cargo. Ele estava visivelmente envelhecido para seus 62 anos de idade. Até o cantor Kid Vinil, falecido na mesma idade, parecia mais jovial.
Há muitos casos dando indícios de fragilidade dos feminicidas, conjugais ou não. Enquanto estava foragido antes de ser incluído nas listas da Interpol, o promotor Igor Ferreira, que mandou matar a esposa Patrícia Longo, em 1998, apresentava, segundo testemunhas, sinais de abatimento físico e magreza extrema. Ao deixar a cadeia em 2016, o pai do promotor disse que o filho "estava bem", soando como aqueles eufemismos que sugerem que "alguém está doente e precisa de repouso".
Os feminicidas conjugais não têm um levantamento oficial para definir o nível e a frequência das tragédias que eles sofrem. Infere-se que os feminicidas têm apenas 80% de expectativas de vida dos brasileiros comuns, e que as tragédias associadas a feminicidas são, além do suicídio, o infarto, o câncer e os acidentes de trânsito. Em certos casos, eles também podem ser assassinados por outros.
O que se pode concluir é que a atitude de certos homens de tirar as vidas de suas mulheres encontram raízes nos valores conservadores e nas desigualdades sociais. Casais errados se formam pelas conveniências sociais, e valores machistas ainda prevalecem até no imaginário de mulheres com algum senso de feminismo. O machismo procura se impor pela violência, mas não consegue esconder também o seu lado trágico e frágil. O caso Farah Jorge Farah é um precedente disso.
domingo, 24 de setembro de 2017
O que é mesmo a Escola Sem Partido "espírita"?
PASSANDO A BORRACHA NO QUESTIONAMENTO DO ALUNO.
Sabemos que as forças conservadoras defendem um modelo de pedagogia chamado Escola Sem Partido, um projeto educativo no qual só se ensinam coisas "básicas" como leitura, escrita e algum ofício ou profissão, sem que se estimule o debate da realidade e as transformações da sociedade brasileira.
O projeto é desenvolvido a partir de propostas trazidas, em separado, pelo político Magno Malta e pelo advogado Miguel Najib. Seu embrião foi uma proposta legislativa de 1996, mas o projeto em si é de 2004 e tornou-se público depois que o ator Alexandre Frota o apresentou para o ministro da Educação do governo Michel Temer, José Mendonça Filho.
A Escola Sem Partido é uma causa defendida por evangélicos, e seu caráter conservador pelo menos permitiu que se conhecesse o sentido da educação que poucos conheciam, que era o ensino indo além de meros processos de aprender a ler, escrever e trabalhar. Mas o projeto é também sutilmente apoiado pelos "espíritas", rendendo um trocadilho com a sigla do projeto com as três primeiras letras de "espiritismo".
Nas redes sociais, um seguidor do "médium" Divaldo Franco que se infiltrou numa comunidade de ateus (?!), talvez para fazer proselitismo, tentou defender o ídolo "espírita" dizendo que "já é bom demais" a Mansão do Caminho ter um projeto educacional que apenas ensine a ler, escrever e trabalhar.
Fanático, o rapaz queria defender o prestígio do seu ídolo, tentando rebater questionamentos mais lógicos, coisa muito comum em ambientes como o Facebook e o WhatsApp, onde pessoas conservadoras ou reacionárias, mesmo não estando com a razão, fazem a chamada "ginástica intelectual", tentando rebater o máximo possível qualquer questionamento, arrumando desculpas para qualquer coisa.
Analisando a realidade, observa-se que o "espiritismo" brasileiro reduziu-se a meros artifícios linguísticos, ideológicos e pragmáticos. Além de todo um embelezamento de palavras nas palestras nos "centros espíritas" e nas publicações do gênero, observa-se recursos como o falacioso "bombardeio de amor", o demagógico Assistencialismo e a asséptica Escola Sem Partido.
Paciência. A sociedade brasileira revelou-se bastante conservadora. Até o conceito de bondade que muitos acreditam é inspirado em novelas que trazem lições moralistas bastante conservadoras, por mais que apresentem conteúdo "subversivo" ou "escandaloso". Mas a ideia de bondade vem também de contos de fadas narrados de maneira bem conservadora nas infâncias de muitos brasileiros.
E o que é a Escola Sem Partido "espírita"? Sabe-se que o discurso da Escola Sem Partido é bem sutil, como é também da Teologia do Sofrimento, outra causa defendida pelos "espíritas". Dissimula-se tudo, num país em que até estupradores, se forem de boa aparência e boa classe social, escapam da cadeia alegando que as vítimas gritaram com eles na ocasião do assédio. Quantas armadilhas podem apresentar um discurso cheio de palavras aparentemente bem intencionadas e agradáveis?
A Escola Sem Partido, no conjunto da obra, não transformará a Educação como um todo numa sucursal da Escola Superior de Guerra. Não, o Exército que agora exerce função de polícia nas ruas do Grande Rio não será designado para "botar ordem" no ensino público. O que ocorrerá é a retomada dos velhos padrões hierárquicos de ensino, cancelando a mudança de relações entre professores e alunos que se desenvolvia a partir dos anos 1960, antes do golpe militar.
Nesse velho padrão pedagógico, o professor é considerado um possuidor do saber. O saber não é algo socialmente compartilhado, de maneira horizontal - igualmente entre pessoas - , mas transmitido de forma vertical - de cima para baixo, com o saber sendo de "propriedade" do professor - , o que significa distinção hierárquica, um velho padrão social que o Método Paulo Freire buscava superar.
Não há, portanto, o estímulo aos debates sociais. O aluno tem que se fazer crer que aquilo que o professor transmite está certo, que o docente está sempre com a razão e que as transformações sociais são absolutamente uma expressão de patologias sociais trazidas pela liberação dos instintos humanos.
COMO O "ESPIRITISMO" ADOTARIA A ESCOLA SEM PARTIDO?
A Escola Sem Partido pode, e já é, acolhida pelo "espiritismo" na sua essência. Claro que os "espíritas", dissimuladores, se fazem de "progressistas" e nunca irão assumir, na cara dura, que acolhem esse projeto de retomada conservadora na Educação. Mas, na prática, os "espíritas" demonstram estarem afinados com o ultraconservadorismo vigente desde 2016, vide o otimismo com que a doutrina aborda os sombrios tempos atuais.
Muito do conteúdo da Escola Sem Partido já era defendido em livros de Emmanuel lançados por Francisco Cândido Xavier. O próprio Chico Xavier é expressão de uma sociedade ultraconservadora, reacionária, beata e moralista, não cabendo sequer a menor cogitação de que o "médium" era uma figura "progressista" e "avançada", como muitos incautos chegaram a fazer, na sua boa-fé.
Emmanuel sempre condenava o questionamento, uma postura que, sabemos, era contra os postulados espíritas originais (Kardec defendia o debate e não temia ser ele mesmo questionado), mas eram de profunda e explícita concordância por parte de Chico Xavier, ele mesmo um inimigo do bom senso e do questionamento crítico e lógico, um anti-espírita por excelência.
O aspecto principal da Escola Sem Partido é evitar o debate sócio-político, mas permitir a manutenção de crenças religiosas, não obstante fantasiosas. O projeto tem como pretexto evitar conflitos e garantir a transmissão de "valores sociais positivos" e "respeito à hierarquia", mas tem como efeito danoso uma compreensão atrofiada da realidade, através de convicções e, frequentemente, crenças surreais, como o "mar se partindo" na época de Moisés.
No "espiritismo", o que está em jogo é manter as crenças igrejeiras, a hierarquia conservadora, a beatitude religiosa e o misticismo da fé. Como uma religião dissimuladora, há o discurso de que a doutrina brasileira "permite o debate público e a apreciação das transformações sociais", e em várias casas e atividades "espíritas" há arremedos de debates como forma de manter o aparato de racionalidade do "movimento espírita" brasileiro.
Mesmo assim, os "debates" são anódinos, mais parecendo os próprios "debates" permitidos pela própria Escola Sem Partido, dentro dos limites em que os alunos enunciam situações adversas para que o professor explique o "equívoco" das mesmas e fazer prevalecer o projeto pedagógico dominante.
Nota-se que os "espíritas" sempre costumam fugir de acusações de adotarem posturas ultraconservadoras. No caso da Teologia do Sofrimento, corrente católica medieval que faz apologia da desgraça humana como forma de "chegar mais rápido ao Céu", os "espíritas" defendem suas ideias, mas reagem com "muita tristeza" quando alguém os declara adeptos desta corrente do Catolicismo.
Mas os próprios partidários católicos da Teologia do Sofrimento também usam as mesmas desculpas dos "espíritas": "não defendemos o sofrimento das pessoas, mas o lado positivo do sofrimento humano". As alegações neste sentido são as mesmas e o malabarismo das palavras tenta relativizar o que era declarado taxativo e firme na véspera.
Na Escola Sem Partido, é a mesma coisa. Os "espíritas", mais uma vez, se sentem "horrorizados" com "tão infeliz associação", mas os próprios partidários evangélicos da Escola Sem Partido também negam que "estejam desestimulando o debate entre alunos", apenas defendendo que "não haja doutrinação ideológica por parte de grupos de esquerda, comprometidos com a guerrilha (sic) e com a militância político-partidária".
Em muitos casos, nem as alegações que os "espíritas" fazem para desmentir suas posturas conservadoras, abertamente praticadas mas nunca assumidas no discurso, são originais. Se os palestrantes "espíritas", com sua natural choradeira, desmentem que estejam aderindo à Teologia do Sofrimento ou à Escola Sem Partido, as explicações usadas são exatamente as mesmas que os partidários das duas causas defendem para estabelecer sua validade social.
Mas a prática mostra que o "espiritismo", que se reduziu a uma religião igrejista que recupera não os postulados kardecianos originais, mas os velhos e obsoletos paradigmas do Catolicismo jesuíta que prevaleceu no Brasil colonial, tem profunda simpatia com a Escola Sem Partido.
Seja defendendo o sofrimento ou "pregando a esperança", os "espíritas" estão solidários com a retomada conservadora atual. Defendem as reformas conservadoras de Michel Temer, definiram os "coxinhas" com roupas da CBF como "intuídos por espíritos superiores" (vá entender que um sujeito como Kim Kataguiri foi intuído por benfeitores espirituais) e acham que o Brasil entrou em "período de regeneração".
Só falta os "espíritas" definirem algum dos dois filhos homens de Jair Bolsonaro como "reencarnação de Emmanuel" para a farra ficar completa.
Sabemos que as forças conservadoras defendem um modelo de pedagogia chamado Escola Sem Partido, um projeto educativo no qual só se ensinam coisas "básicas" como leitura, escrita e algum ofício ou profissão, sem que se estimule o debate da realidade e as transformações da sociedade brasileira.
O projeto é desenvolvido a partir de propostas trazidas, em separado, pelo político Magno Malta e pelo advogado Miguel Najib. Seu embrião foi uma proposta legislativa de 1996, mas o projeto em si é de 2004 e tornou-se público depois que o ator Alexandre Frota o apresentou para o ministro da Educação do governo Michel Temer, José Mendonça Filho.
A Escola Sem Partido é uma causa defendida por evangélicos, e seu caráter conservador pelo menos permitiu que se conhecesse o sentido da educação que poucos conheciam, que era o ensino indo além de meros processos de aprender a ler, escrever e trabalhar. Mas o projeto é também sutilmente apoiado pelos "espíritas", rendendo um trocadilho com a sigla do projeto com as três primeiras letras de "espiritismo".
Nas redes sociais, um seguidor do "médium" Divaldo Franco que se infiltrou numa comunidade de ateus (?!), talvez para fazer proselitismo, tentou defender o ídolo "espírita" dizendo que "já é bom demais" a Mansão do Caminho ter um projeto educacional que apenas ensine a ler, escrever e trabalhar.
Fanático, o rapaz queria defender o prestígio do seu ídolo, tentando rebater questionamentos mais lógicos, coisa muito comum em ambientes como o Facebook e o WhatsApp, onde pessoas conservadoras ou reacionárias, mesmo não estando com a razão, fazem a chamada "ginástica intelectual", tentando rebater o máximo possível qualquer questionamento, arrumando desculpas para qualquer coisa.
Analisando a realidade, observa-se que o "espiritismo" brasileiro reduziu-se a meros artifícios linguísticos, ideológicos e pragmáticos. Além de todo um embelezamento de palavras nas palestras nos "centros espíritas" e nas publicações do gênero, observa-se recursos como o falacioso "bombardeio de amor", o demagógico Assistencialismo e a asséptica Escola Sem Partido.
Paciência. A sociedade brasileira revelou-se bastante conservadora. Até o conceito de bondade que muitos acreditam é inspirado em novelas que trazem lições moralistas bastante conservadoras, por mais que apresentem conteúdo "subversivo" ou "escandaloso". Mas a ideia de bondade vem também de contos de fadas narrados de maneira bem conservadora nas infâncias de muitos brasileiros.
E o que é a Escola Sem Partido "espírita"? Sabe-se que o discurso da Escola Sem Partido é bem sutil, como é também da Teologia do Sofrimento, outra causa defendida pelos "espíritas". Dissimula-se tudo, num país em que até estupradores, se forem de boa aparência e boa classe social, escapam da cadeia alegando que as vítimas gritaram com eles na ocasião do assédio. Quantas armadilhas podem apresentar um discurso cheio de palavras aparentemente bem intencionadas e agradáveis?
A Escola Sem Partido, no conjunto da obra, não transformará a Educação como um todo numa sucursal da Escola Superior de Guerra. Não, o Exército que agora exerce função de polícia nas ruas do Grande Rio não será designado para "botar ordem" no ensino público. O que ocorrerá é a retomada dos velhos padrões hierárquicos de ensino, cancelando a mudança de relações entre professores e alunos que se desenvolvia a partir dos anos 1960, antes do golpe militar.
Nesse velho padrão pedagógico, o professor é considerado um possuidor do saber. O saber não é algo socialmente compartilhado, de maneira horizontal - igualmente entre pessoas - , mas transmitido de forma vertical - de cima para baixo, com o saber sendo de "propriedade" do professor - , o que significa distinção hierárquica, um velho padrão social que o Método Paulo Freire buscava superar.
Não há, portanto, o estímulo aos debates sociais. O aluno tem que se fazer crer que aquilo que o professor transmite está certo, que o docente está sempre com a razão e que as transformações sociais são absolutamente uma expressão de patologias sociais trazidas pela liberação dos instintos humanos.
COMO O "ESPIRITISMO" ADOTARIA A ESCOLA SEM PARTIDO?
A Escola Sem Partido pode, e já é, acolhida pelo "espiritismo" na sua essência. Claro que os "espíritas", dissimuladores, se fazem de "progressistas" e nunca irão assumir, na cara dura, que acolhem esse projeto de retomada conservadora na Educação. Mas, na prática, os "espíritas" demonstram estarem afinados com o ultraconservadorismo vigente desde 2016, vide o otimismo com que a doutrina aborda os sombrios tempos atuais.
Muito do conteúdo da Escola Sem Partido já era defendido em livros de Emmanuel lançados por Francisco Cândido Xavier. O próprio Chico Xavier é expressão de uma sociedade ultraconservadora, reacionária, beata e moralista, não cabendo sequer a menor cogitação de que o "médium" era uma figura "progressista" e "avançada", como muitos incautos chegaram a fazer, na sua boa-fé.
Emmanuel sempre condenava o questionamento, uma postura que, sabemos, era contra os postulados espíritas originais (Kardec defendia o debate e não temia ser ele mesmo questionado), mas eram de profunda e explícita concordância por parte de Chico Xavier, ele mesmo um inimigo do bom senso e do questionamento crítico e lógico, um anti-espírita por excelência.
O aspecto principal da Escola Sem Partido é evitar o debate sócio-político, mas permitir a manutenção de crenças religiosas, não obstante fantasiosas. O projeto tem como pretexto evitar conflitos e garantir a transmissão de "valores sociais positivos" e "respeito à hierarquia", mas tem como efeito danoso uma compreensão atrofiada da realidade, através de convicções e, frequentemente, crenças surreais, como o "mar se partindo" na época de Moisés.
No "espiritismo", o que está em jogo é manter as crenças igrejeiras, a hierarquia conservadora, a beatitude religiosa e o misticismo da fé. Como uma religião dissimuladora, há o discurso de que a doutrina brasileira "permite o debate público e a apreciação das transformações sociais", e em várias casas e atividades "espíritas" há arremedos de debates como forma de manter o aparato de racionalidade do "movimento espírita" brasileiro.
Mesmo assim, os "debates" são anódinos, mais parecendo os próprios "debates" permitidos pela própria Escola Sem Partido, dentro dos limites em que os alunos enunciam situações adversas para que o professor explique o "equívoco" das mesmas e fazer prevalecer o projeto pedagógico dominante.
Nota-se que os "espíritas" sempre costumam fugir de acusações de adotarem posturas ultraconservadoras. No caso da Teologia do Sofrimento, corrente católica medieval que faz apologia da desgraça humana como forma de "chegar mais rápido ao Céu", os "espíritas" defendem suas ideias, mas reagem com "muita tristeza" quando alguém os declara adeptos desta corrente do Catolicismo.
Mas os próprios partidários católicos da Teologia do Sofrimento também usam as mesmas desculpas dos "espíritas": "não defendemos o sofrimento das pessoas, mas o lado positivo do sofrimento humano". As alegações neste sentido são as mesmas e o malabarismo das palavras tenta relativizar o que era declarado taxativo e firme na véspera.
Na Escola Sem Partido, é a mesma coisa. Os "espíritas", mais uma vez, se sentem "horrorizados" com "tão infeliz associação", mas os próprios partidários evangélicos da Escola Sem Partido também negam que "estejam desestimulando o debate entre alunos", apenas defendendo que "não haja doutrinação ideológica por parte de grupos de esquerda, comprometidos com a guerrilha (sic) e com a militância político-partidária".
Em muitos casos, nem as alegações que os "espíritas" fazem para desmentir suas posturas conservadoras, abertamente praticadas mas nunca assumidas no discurso, são originais. Se os palestrantes "espíritas", com sua natural choradeira, desmentem que estejam aderindo à Teologia do Sofrimento ou à Escola Sem Partido, as explicações usadas são exatamente as mesmas que os partidários das duas causas defendem para estabelecer sua validade social.
Mas a prática mostra que o "espiritismo", que se reduziu a uma religião igrejista que recupera não os postulados kardecianos originais, mas os velhos e obsoletos paradigmas do Catolicismo jesuíta que prevaleceu no Brasil colonial, tem profunda simpatia com a Escola Sem Partido.
Seja defendendo o sofrimento ou "pregando a esperança", os "espíritas" estão solidários com a retomada conservadora atual. Defendem as reformas conservadoras de Michel Temer, definiram os "coxinhas" com roupas da CBF como "intuídos por espíritos superiores" (vá entender que um sujeito como Kim Kataguiri foi intuído por benfeitores espirituais) e acham que o Brasil entrou em "período de regeneração".
Só falta os "espíritas" definirem algum dos dois filhos homens de Jair Bolsonaro como "reencarnação de Emmanuel" para a farra ficar completa.
sexta-feira, 22 de setembro de 2017
Dissimulação: um dos maiores pecados dos "espíritas" brasileiros
Um dos maiores males cometidos pelos "espíritas" em toda sua trajetória, e que contribui para a crise irremediável de sua doutrina - que, mesmo calcada no Catolicismo medieval, busca, em certos momentos, aproximações estratégicas com os neopentecostais, sobretudo no que se refere à Escola Sem Partido - , é a dissimulação.
Desde a "fase dúbia" (oficialmente denominada "kardecismo") adotada nos últimos anos, em que a promessa de recuperar as bases espíritas originais foi apenas "conversa para boi dormir" dada por roustanguistas (inclusive "médiuns"!) para levarem vantagem no sabor das circunstâncias, a dissimulação foi uma caraterística inerente do "movimento espírita" brasileiro.
Pratica-se o roustanguismo mas renega-se o nome de Jean-Baptiste Roustaing. Critica-se a "vaticanização" do "movimento espírita", mas seus críticos são os que mais a praticam, devotamente. E quantos que reprovam os "imperadores Constantinos" que aparecem nas entranhas do "movimento espírita" que deveriam se olhar no espelho!
Assim como, no ensinamento de Jesus de Nazaré, fala-se que "nem todos os que dizem 'Senhor! Senhor!' entrarão no reino dos céus", nem todos os que alegam "fidelidade absoluta" e "respeito rigoroso" à obra de Allan Kardec são realmente kardecianos autênticos (rejeita-se o termo "kardecista", por ele ter sido apropriado pelos próprios deturpadores).
Pelo contrário, os piores farsantes são aqueles que arrumam desculpas imensas por seus atos e dissimulam o tempo todo para dar uma impressão de que não cometem os delitos a que comprovadamente estão associados. Eles sempre adotam procedimentos, práticas e opiniões os quais desmentem diante da pior repercussão de seus atos.
Quantas dissimulações se escondem nas palestras "espíritas" em que corre o mel das palavras que agradam e distraem muita gente? Quantas dissimulações ocorrem diante de depoimentos, artifícios e tantas atividades que os "espíritas" se empenham para esconder erros, posturas obscuras, julgamentos de valor e tantas coisas inconvenientes e até ilícitas?
É o suposto médium que cria quadros falsos mas, de contatos em contatos na alta sociedade, alicia uma crítica de arte de considerável prestígio no seu meio para atribuir "autenticidade" a obras que se vê claramente fraudulentas.
É outro suposto médium seduzindo o herdeiro de um morto usurpado numa suposta psicografia ao convidar a vítima para uma doutrinária e para acompanhar, como espectador, um ostensivo espetáculo de Assistencialismo em que muita festa é feita para doar uns mantimentos que se esgotam em três semanas, enquanto os festejos duram até um ano por cada "caridade" realizada.
MITÔMANOS
Os "espíritas" dissimulam tanto as coisas que a doutrina brasileira popularizada por Francisco Cândido Xavier virou a religião da mitomania. A mitomania é um problema psicológico que faz com que uma pessoa, querendo levar alguma grande vantagem pessoal ou se livrar de encrencas por graves erros, passa a mentir sem o menor escrúpulo.
O livro Parnaso de Além-Túmulo de Chico Xavier acabou sendo o ponto inicial desse processo de mitomania que contagiou o "médium", um dos maiores arrivistas de toda a História do Brasil, ao se tornar uma coleção de pastiches feitas pelo "médium" sob a colaboração do próprio presidente da FEB, Antônio Wantuil de Freitas, e da equipe de editores e redatores do periódico da federação, o Reformador.
Num país maluco e desinformado como o Brasil, que comete o erro grosseiro de recorrer ainda mais à religião para resolver as crises vividas pelo país nos últimos anos (um pastor, fanático evangélico, tornado parlamentar, insatisfeito de haver FMs evangélicas em todo o país, quer impor canções religiosas em absolutamente todas as rádios do país), mitomania em nome do "pão dos pobres" tem status de "verdade indiscutível".
Em nome da religião, sem excluir o caso "espírita", as pessoas são capazes de mandar a lógica e a coerência às favas, iludidas que estão pelas percepções surreais que aprendem através da mística religiosa, desde factoides sensacionalistas como o "mar se partindo" do tempo de Moisés (na verdade, era apenas uma baixa de maré) e as mediunidades fake que apelam para "sermos irmãos".
Isso é muito ruim. Criar um terreno onde a fantasia e a mistificação estabelecem supremacia diante da realidade é extremamente negativo e é compreensível que pessoas que se prendem a essas crenças religiosas sob a alegação de que estão "protegidas por energias elevadas" são as que se tornam mais violentas e odiosas diante do menor questionamento.
Em certos casos, muitos dissimulam, no caso dos "espíritas". Comentários em tom de irônica candura são feitos como "o irmão está alterado", "o amigo está obsediado, dominado por outros amigos pouco esclarecidos", dados em aparente doçura por pessoas que, no íntimo, haviam espumado de raiva e rosnado palavras de puro rancor.
Ah, o que o "espiritismo" mostra de dissimulações, desde, pelo menos, 1932, quando a deturpação da Doutrina Espírita passou a ter Chico Xavier como propagandista, quantos e tão pesados volumes de livros seriam publicadas para registrar tantos exemplos! E é assustador que, apesar disso, os "espíritas" ainda estufam o peito dizendo que praticam e respeitam a coerência e o bom senso. Mais dissimulação...
quinta-feira, 21 de setembro de 2017
Humberto de Campos Filho sofreu assédio moral por Chico Xavier?
GRAVURA DO ESCRITOR HUMBERTO DE CAMPOS PUBLICADA NO JORNAL A MANHÃ, EM 1943.
Que Humberto de Campos Filho, o jornalista e produtor de TV que herdou o nome do falecido autor maranhense, foi seduzido pelo "médium" Francisco Cândido Xavier, isso é uma verdade que só os beatos religiosos e os complacentes com o "espiritismo" brasileiro em geral não querem admitir.
Assim que morreu Dona Catarina Vergolino de Campos, viúva de Humberto, Chico Xavier, ao saber do interesse do filho pelo "espiritismo" brasileiro, até pelo lobby que a religião tinha na TV Tupi, já existente no Rio de Janeiro e em São Paulo na década de 1950, resolveu "convidar" o produtor para uma doutrinária no Grupo Espírita da Prece, em Uberaba.
Era uma "emboscada" motivada pelo pretexto da "caridade". Mas uma armadilha movida pelo maior deturpador do Espiritismo, um "médium" que reduziu o legado kardeciano a nada, rebaixando a novidade espírita a uma retomada do velho Catolicismo jesuíta medieval sob novo rótulo, que foi feita para tentar abafar processos judiciais recorrentes dos herdeiros do autor maranhense.
Chico Xavier foi um manipulador de corações e mentes dos mais habilidosos e traiçoeiros. A ele estão associadas técnicas como hipnose, Argumentum Ad Passiones (ou "apelo à emoção"), Assistencialismo (caridade fajuta que não traz resultados profundos, mas a promoção pessoal do "benfeitor") e até coitadismo ou vitimismo, já que Chico, quando duramente questionado, costumava, em sua esperteza, reagir em silêncio, posando-se de "vítima", para forçar a comoção pública.
Deturpador e oportunista, o "médium" que usurpou os grandes nomes de nossa literatura para produzir sensacionalismo, confusão e se autopromover com a bagunça que provocou, era também famoso pelo olhar maligno dos tempos de juventude, comprovada por uma foto com ele olhando de frente, publicada por O Globo em 1935. Ele foi também o que mais fez crescer e se consolidar a "vaticanização" que atingiu o Espiritismo no Brasil.
Processado pelos herdeiros de Humberto de Campos em 1944, Chico Xavier viveu seus dias de Aécio Neves e Michel Temer quando foi beneficiado pela seletividade da Justiça, que não conseguiu compreender que as "psicografias" atribuídas ao escritor maranhense destoavam claramente em estilo do acervo que o também acadêmico havia deixado em vida.
Só uma leitura mais atenta é suficiente para evidenciar as diferenças. O estilo original de Humberto de Campos era bem escrito, culto mas coloquial, com narrativa descontraída e ágil. A do "espírito Humberto" é melancólica, prolixa e rebuscada, pesada de se ler, excessivamente igrejeira e moralista, deixando muito claro um estilo que o escritor maranhense nunca seria capaz de expressar.
Embora haja eventuais plágios da obra de Humberto ou pastiches parciais de suas prosas, o que se observa na suposta psicografia trazida por Chico Xavier é que o estilo está mais para um arremedo ruim dos textos dos quatro evangelistas do Novo Testamento (Marcos, Lucas, Mateus e João) nas traduções em português que conhecemos. No conjunto da obra, quase nada de Humberto de Campos se encontra nas obras supostamente espirituais que levam seu nome.
De uma forma muitíssimo estranha, estão fora de catálogo os livros originais de Humberto de Campos. Indagamos até que ponto o lobby do "movimento espírita" no Brasil pode influir no mercado literário. Sabe-se que o "espiritismo" brasileiro é blindado pela Rede Globo, ele virou a "religião da Globo" e Chico, o "padroeiro da Globo". O poder midiático pode ter dado uma ajudinha para fazer os livros originais desaparecerem para dificultar leituras comparativas.
"ME ACEITE QUE EU SOU BONZINHO"
E tudo isso se deu porque Humberto de Campos Filho, que poderia ter mantido seu ceticismo, preferiu se render ao bom-mocismo do "médium", em um espetáculo anual, aparentemente de "caridade", que nunca trouxe resultados profundos e definitivos de transformação social, na cidade de Uberaba, no Triângulo Mineiro.
A reunião doutrinária no Grupo Espírita da Prece e a caravana ostensiva só para fazer meros donativos - uma clara demonstração de Assistencialismo e não de Assistência Social, como alardeiam os "espíritas" - , que em 1957 teve a participação de Humberto de Campos Filho como espectador e convidado, pode ter sido um grave exemplo de assédio moral, através da modalidade de apelo religioso.
No fim da doutrinária, Chico foi abraçar Humberto e, usando um tom melífluo de fala, o envolveu emocionalmente, fazendo-o chorar. Depois fez um falsete que deixou a vítima desnorteada, pensando ser a voz do pai, seduzido pela técnica de manipulação mental através do modo mais perigoso de Argumentum Ad Passiones, o "bombardeio de amor".
Considerado uma novidade em termos de estudos sobre a falácia discursiva, o "bombardeio de amor" é confundido por muitos brasileiros como uma forma saudável de acolhimento das pessoas, pelo aparente tom íntimo e generoso que tal apelo emocional traz, causando sensações de conforto, agrado profundo e alegria.
Mas especialistas em análise de discurso e de manipulação da mente afirmam que o "bombardeio de amor" (em inglês, love bombing), é um dos mais perigosos tipos de Ad Passiones, tipo de argumentação já considerado falacioso.
O "bombardeio de amor" é uma espécie de mancenilheira emotiva, uma referência à árvore mancenilheira, considerada muito bonita e de frutos deliciosos, mas altamente venenosa em toda sua estrutura, sejam as folhas, o tronco, a seiva e as frutas, trazendo efeitos mortais no organismo.
A atuação de Chico Xavier - que completou a técnica de convencimento sobre Humberto Filho com uma amostra de atividades de Assistencialismo - apresenta caraterísticas de assédio moral, como se estivesse dizendo para aquele que iria processá-lo: "Me aceite que eu sou bonzinho".
Isso é extremamente grave, e faz manchar o "espiritismo" brasileiro como um todo, porque usar o "amor" e a "caridade" como pretextos para se aceitar ações desonestas ou oportunistas é muito mais grave do que tais desonestidades e oportunismos em si, porque são meios de forçar a aceitação pública e estimular a credulidade, o deslumbramento cego e o fanatismo.
Que Humberto de Campos Filho, o jornalista e produtor de TV que herdou o nome do falecido autor maranhense, foi seduzido pelo "médium" Francisco Cândido Xavier, isso é uma verdade que só os beatos religiosos e os complacentes com o "espiritismo" brasileiro em geral não querem admitir.
Assim que morreu Dona Catarina Vergolino de Campos, viúva de Humberto, Chico Xavier, ao saber do interesse do filho pelo "espiritismo" brasileiro, até pelo lobby que a religião tinha na TV Tupi, já existente no Rio de Janeiro e em São Paulo na década de 1950, resolveu "convidar" o produtor para uma doutrinária no Grupo Espírita da Prece, em Uberaba.
Era uma "emboscada" motivada pelo pretexto da "caridade". Mas uma armadilha movida pelo maior deturpador do Espiritismo, um "médium" que reduziu o legado kardeciano a nada, rebaixando a novidade espírita a uma retomada do velho Catolicismo jesuíta medieval sob novo rótulo, que foi feita para tentar abafar processos judiciais recorrentes dos herdeiros do autor maranhense.
Chico Xavier foi um manipulador de corações e mentes dos mais habilidosos e traiçoeiros. A ele estão associadas técnicas como hipnose, Argumentum Ad Passiones (ou "apelo à emoção"), Assistencialismo (caridade fajuta que não traz resultados profundos, mas a promoção pessoal do "benfeitor") e até coitadismo ou vitimismo, já que Chico, quando duramente questionado, costumava, em sua esperteza, reagir em silêncio, posando-se de "vítima", para forçar a comoção pública.
Deturpador e oportunista, o "médium" que usurpou os grandes nomes de nossa literatura para produzir sensacionalismo, confusão e se autopromover com a bagunça que provocou, era também famoso pelo olhar maligno dos tempos de juventude, comprovada por uma foto com ele olhando de frente, publicada por O Globo em 1935. Ele foi também o que mais fez crescer e se consolidar a "vaticanização" que atingiu o Espiritismo no Brasil.
Processado pelos herdeiros de Humberto de Campos em 1944, Chico Xavier viveu seus dias de Aécio Neves e Michel Temer quando foi beneficiado pela seletividade da Justiça, que não conseguiu compreender que as "psicografias" atribuídas ao escritor maranhense destoavam claramente em estilo do acervo que o também acadêmico havia deixado em vida.
Só uma leitura mais atenta é suficiente para evidenciar as diferenças. O estilo original de Humberto de Campos era bem escrito, culto mas coloquial, com narrativa descontraída e ágil. A do "espírito Humberto" é melancólica, prolixa e rebuscada, pesada de se ler, excessivamente igrejeira e moralista, deixando muito claro um estilo que o escritor maranhense nunca seria capaz de expressar.
Embora haja eventuais plágios da obra de Humberto ou pastiches parciais de suas prosas, o que se observa na suposta psicografia trazida por Chico Xavier é que o estilo está mais para um arremedo ruim dos textos dos quatro evangelistas do Novo Testamento (Marcos, Lucas, Mateus e João) nas traduções em português que conhecemos. No conjunto da obra, quase nada de Humberto de Campos se encontra nas obras supostamente espirituais que levam seu nome.
De uma forma muitíssimo estranha, estão fora de catálogo os livros originais de Humberto de Campos. Indagamos até que ponto o lobby do "movimento espírita" no Brasil pode influir no mercado literário. Sabe-se que o "espiritismo" brasileiro é blindado pela Rede Globo, ele virou a "religião da Globo" e Chico, o "padroeiro da Globo". O poder midiático pode ter dado uma ajudinha para fazer os livros originais desaparecerem para dificultar leituras comparativas.
"ME ACEITE QUE EU SOU BONZINHO"
E tudo isso se deu porque Humberto de Campos Filho, que poderia ter mantido seu ceticismo, preferiu se render ao bom-mocismo do "médium", em um espetáculo anual, aparentemente de "caridade", que nunca trouxe resultados profundos e definitivos de transformação social, na cidade de Uberaba, no Triângulo Mineiro.
A reunião doutrinária no Grupo Espírita da Prece e a caravana ostensiva só para fazer meros donativos - uma clara demonstração de Assistencialismo e não de Assistência Social, como alardeiam os "espíritas" - , que em 1957 teve a participação de Humberto de Campos Filho como espectador e convidado, pode ter sido um grave exemplo de assédio moral, através da modalidade de apelo religioso.
No fim da doutrinária, Chico foi abraçar Humberto e, usando um tom melífluo de fala, o envolveu emocionalmente, fazendo-o chorar. Depois fez um falsete que deixou a vítima desnorteada, pensando ser a voz do pai, seduzido pela técnica de manipulação mental através do modo mais perigoso de Argumentum Ad Passiones, o "bombardeio de amor".
Considerado uma novidade em termos de estudos sobre a falácia discursiva, o "bombardeio de amor" é confundido por muitos brasileiros como uma forma saudável de acolhimento das pessoas, pelo aparente tom íntimo e generoso que tal apelo emocional traz, causando sensações de conforto, agrado profundo e alegria.
Mas especialistas em análise de discurso e de manipulação da mente afirmam que o "bombardeio de amor" (em inglês, love bombing), é um dos mais perigosos tipos de Ad Passiones, tipo de argumentação já considerado falacioso.
O "bombardeio de amor" é uma espécie de mancenilheira emotiva, uma referência à árvore mancenilheira, considerada muito bonita e de frutos deliciosos, mas altamente venenosa em toda sua estrutura, sejam as folhas, o tronco, a seiva e as frutas, trazendo efeitos mortais no organismo.
A atuação de Chico Xavier - que completou a técnica de convencimento sobre Humberto Filho com uma amostra de atividades de Assistencialismo - apresenta caraterísticas de assédio moral, como se estivesse dizendo para aquele que iria processá-lo: "Me aceite que eu sou bonzinho".
Isso é extremamente grave, e faz manchar o "espiritismo" brasileiro como um todo, porque usar o "amor" e a "caridade" como pretextos para se aceitar ações desonestas ou oportunistas é muito mais grave do que tais desonestidades e oportunismos em si, porque são meios de forçar a aceitação pública e estimular a credulidade, o deslumbramento cego e o fanatismo.
quarta-feira, 20 de setembro de 2017
Arrivismo: uma receita de sucesso?
O Brasil tem um hábito estranho. É a teimosia de aventureiros de qualquer causa se projetarem através de uma trajetória cheia de graves erros, impasses e encrencas, e depois de conquistar o que queriam, passam a bancar os "certinhos", menos por aprenderem as lições do que por saberem o que fazer para levar vantagem.
Há muitos exemplos nesse sentido, o que faz com que uma parcela de pessoas, de uma forma associadas a valores retrógrados, se aventurem em alguma causa considerada de vanguarda, buscando obter visibilidade, causar impressão e obter privilégios, além de evitar ser tragado por alguma decadência que tornasse os valores retrógrados originais obsoletos.
Esse é um tipo muito comum do que se considera ser o arrivismo, um método de ascensão social movido pelas conveniências e pelas ambições, nem sempre por métodos ou posturas corretos. É um tipo de aventureiro social que busca atingir uma meta da qual não se identifica necessariamente, mas da qual depende de um vínculo permanente para obter vantagens pessoais.
Isso não deve ser confundido com as mudanças eventuais que pessoas que antes defenderam valores ultrapassados adotam ao perceber que os valores mais avançados valem mais a pena. Mas o contexto pode discernir as pessoas que, originalmente defensoras de valores ultrapassados, mudam por verdadeiro aprendizado e outras que apenas embarcam em valores avançados para obter visibilidade e prestígio social.
No entanto, num Brasil marcado pelas acrobacias retóricas que fazem com que até direitistas se apropriando de causas de esquerda se esforcem para parecer "esquerdistas exemplares", e fazem muitos machistas violentos conseguirem conquistar novas namoradas surpreendentemente inteligentes, emancipadas e feministas, os arrivistas sempre vestem a capa daqueles que "aprenderam novos valores e mudaram de verdade".
Quantas atitudes hipócritas, que deixam passar algum posicionamento mais retrógrado, surgem de repente, fazendo o arrivista se arrepiar diante de uma ameaça de encrenca, pondo sua causa oportunista a perder. Quantos impulsos do caronista vindo da retaguarda aos "excessos" dos vanguardistas são dados, criando sérios problemas que, com muito custo, o arrivista tenta abafar e passar por cima.
O Brasil é um país em que o penetra luta para ser o convidado vip de uma festa. O país tem o vício de sempre negociar novidades com forças velhas, não tem uma tradição de romper com valores obsoletos, preferindo condicionar valores novos sempre ao agrado de forças retrógradas que querem permanecer no poder, com uma parcela delas se apropriando e buscando um vínculo tendencioso com o novo.
O arrivista tenta parecer flexível, volúvel, como um canastrão circunstancial. O canastrão é um incompetente que finge que quer aprender tudo, se dizendo pronto para qualquer aventura. E o arrivista é uma espécie de "canastrão de vanguarda", aquele que fura a fila da realidade para se aventurar numa causa em que não se identifica mas na qual deseja ter vínculo permanente por pura vantagem.
O Espiritismo foi vítima desse vício brasileiro. E criou arrivistas como Francisco Cândido Xavier, um católico ortodoxo que passou a ser, de maneira bem arrivista, um suposto guia da doutrina originária da França.
Retrógrado e ultraconservador, Chico Xavier foi o maior arrivista do Brasil, ele mesmo criando confusões, agindo errado, às vezes por influência de outrem, mas não raro sob decisão e vontade próprias, com a exata consciência de seus atos.
Ele deturpou a Doutrina Espírita de forma gravíssima, com efeitos devastadores e danosos, emporcalhando o legado espírita original e desqualificando o trabalho árduo que, no passado, foi feito por Allan Kardec. Foi algo feito, sim, com muito propósito, e não pode ser visto como acidente, porque foi feito para um público muito grande e durante muitos anos e através de muitas obras.
A deturpação do Espiritismo por Chico Xavier e seguidores, dos quais se destaca Divaldo Franco, não pode, de forma alguma, ser considerada "um errinho de nada" ou um efeito acidental de incompreensão. Se fosse realmente uma mera incompreensão, porque essa "incompreensão" foi mantida durante muito tempo e espalhada para multidões através de um grande acervo de obras?
Os dois "médiuns" já haviam sido alertados da deturpação há muito tempo. Eles mesmos "catolicizaram" o Espiritismo com muito propósito e consciência plena de seus atos. Se tivessem cometido um acidente de incompreensão, não teriam lançado tantas obras, por muito tempo e com grande repercussão, com conteúdo abertamente igrejista e moralista conservador.
Mas, como arrivistas, os "médiuns" também tentaram dissimular - o arrivista é alguém que costuma dissimular muito suas posturas, até para ocultar aspectos retrógrados de sua personalidade e seus pontos de vista - e eles tentaram expor, na aparência discursiva, a correta teoria kardeciana, como se quisessem "provar" que "aprenderam a lição".
A complacência social acaba cedendo e danoso é aquele vanguardista que dá ouvidos a um arrivista, dando-lhe visibilidade às custas de um figurão mais moderno e avançado. O "espiritismo" brasileiro, mesmo com conteúdo medieval, igrejista, mistificador, mitificador e cheio de devaneios religiosos retrógrados, conseguiu, de arrivismo em arrivismo, passar uma falsa imagem de "progressista", "científico", "racional" e "moderno", aliciando os mais modernos setores da sociedade civil.
Isso é muito ruim, porque o arrivista, num dado momento, acaba sempre freando e evitando as transformações sociais necessárias, minimizando seus efeitos e mantendo intatas as estruturas de poder vigentes. Mesmo que personalidades retrógradas possam ir à ruína, a ação de arrivistas minimiza esses danos, na medida em que permite que aventureiros das novas causas sempre apareçam para levar vantagem e fingir solidariedade ao "novo".
E é isso que, no caso do "espiritismo", cria a doce ilusão de que os próprios deturpadores atuarão na recuperação das bases doutrinárias espíritas originais. A promessa de "aprender a lição" volta à tona, diante da profunda crise vivida pelo "movimento espírita", e existem até arrivistas que forçam a barra, apelando, da boca para fora, para "não só aprender Kardec, mas viver Kardec no dia a dia!".
Sim, existem demagogos que forçam a barra em simular uma postura "plena" da causa que não se identificam. Quantos "espíritas" falam mal da "vaticanização" que eles mesmos praticam, com muito entusiasmo! Quantos deturpadores falam em "viver Kardec", e que, com sua dramaticidade oratória, muitas vezes pomposa mas em outras "mais simples", evocam aquilo que nem se dispõem a fazer, que é a recuperação das bases espíritas originais.
É sempre a mesma desculpa da raposa prometer reconstruir o galinheiro. E quantas raposas se fazem de moradoras do galinheiro, como se já tivessem nascido galinhas! Esse é o problema do arrivismo que sempre brecou as transformações sociais, mantendo o Brasil num atraso social que não só tem dificuldades de ser mantido como ameaça retroceder cancelando os poucos avanços sociais conquistados ao longo dos tempos.
terça-feira, 19 de setembro de 2017
A imagem "higienista" da mulher solteira no Brasil
Algo está muito estranho na divulgação da imagem da mulher solteira pela mídia. Uma imagem forçadamente hedonista, espetacularizada, e que se volta, praticamente, para apenas um lado da pirâmide social, o lado de baixo, nas classes populares, através de uma suposta liberdade difundida pelo mercado do entretenimento.
Recentemente, as rádios estão tocando "Tô Solteira de Novo", continuação de um antigo sucesso da funkeira Valesca Popozuda, "Agora Eu Tô Solteira", um estranho hino de solteirice que, sabemos, não cabe na vida das solteiras comuns, e é mais um exemplo de como a mídia trabalha uma imagem caricatural e espetacularizada da mulher solteira.
As pessoas deveriam parar para pensar e perguntar se uma solteira de verdade se preocuparia em ostentar este estado civil. A coisa é praticamente exclusiva no Brasil, mas não existe só no "funk", mas também no "sertanejo", onde existe o suposto empoderamento do "feminejo", com letras supostamente anti-machistas.
A imagem da solteira trabalhada por esses sucessos do entretenimento popular é tão caricata, voltada ao narcisismo, à curtição e à hipersexualização, que internautas com senso crítico muito afiado ficam perguntando se essas cantoras são realmente solteiras ou estão criando tipo para vender sensualidade.
Observa-se, também, que a imagem da mulher solteira só se dirige às classes populares, havendo um contraste entre as famosas que ficam solteiras com mais facilidade e outras que investem em casamentos estáveis, criando um duplo condicionamento do feminismo brasileiro aos valores machistas dominantes no Brasil onde feminicidas"nunca morrem".
ACORDO MACHISTA
Feminismo, no Brasil, tem que estabelecer um acordo com a ideologia machista, de forma que as conquistas da mulher brasileira sejam minimizadas, ou, quando muito, controladas pela figura masculina.
Observa-se um duplo acordo. Num deles, a mulher que não quer fazer o papel de objeto sexual e quer buscar experiências de vida que não dependam de apelos sensuais ou sexistas esteja sempre associada à figura de um marido ou namorado, geralmente um empresário ou um profissional liberal (médico, advogado, economista).
A mulher que quer "fugir" de sua imagem sexualizada, só se sensualizando conforme o contexto, mas podendo se desvincular dessa imagem a maior parte do tempo, transmitindo ideias e valores culturais mais relevantes, precisa ser "vigiada" pela figura do marido, geralmente um sisudo homem associado a um cargo de liderança e sucesso econômico.
Por outro lado, a mulher que permanece em valores machistas, seja a pobre coitada que só vê novelas, ouve "pagode romântico" e brinca de ser "mãe" com seu pequeno afilhado, ou a siliconada de glúteos avantajados que apela para um sensualismo obsessivo que, mesmo em outros assuntos, há o vínculo forçado do sexo e da sensualidade, a solteirice é permitida e o vínculo à figura do marido ou do namorado é simplesmente dispensado.
Observemos quem são as mulheres que tendem a ser casadas e as que tendem a ser solteiras com maior facilidade. A disparidade de discursos e condições é aberrante e mostra o quanto a ideia de ser solteira é desigual, pendendo mais para as classes populares, enquanto que, nas classes média e alta a ideia é enfatizar a vida de casada e a formação de uma família tradicional (marido, mulher e filhos).
No grupo das casadas, predominam atrizes de TV que se tornam referência para um público feminino de classe média. Há também modelos de grifes, sobretudo "supermodelos". Há também jornalistas de TV, ex-VJs da MTV, influenciadoras digitais ligadas à moda e outras famosas de perfil mais intelectualizado ou próximo disso e sem um apelo sensual obsessivo.
Já no grupo das solteiras, predominam subcelebridades vindas de reality shows, cantoras de gêneros popularescos, modelos siliconadas de marcas de menor expressão, musas fitness de apelo popularesco, dançarinas de ritmos como "funk" e "pagodão" e "musas" de times de futebol. Embora parte delas se autoproclame "feminista", elas são patrocinadas por empresários machistas do entretenimento "popular" ou até por dirigentes esportivos.
Essas solteiras usam um discurso pronto, previamente estabelecido e não raro contraditório. Num momento dizem que são "solteiríssimas" ou "solteiras e felizes", dizendo que "não arrumam namorado por causa do foco no trabalho (?!)", noutro se dizem "carentes" e usam o bordão surrado de que "os homens fogem de medo". Não conseguem se decidir se estão felizes solteiras ou se estão à procura de um "príncipe encantado".
DESIGUALDADE SOCIAL
A imagem "higienista" que está por trás desse mercado de sensualismo obsessivo, abordado por uma imagem caricatural da mulher solteira, emerge como um problema sério por trás dessa distribuição desigual da mídia do entretenimento entre solteiras e casadas.
Nem precisamos destacar a realidade irônica desse processo. No âmbito popularesco, mulheres que mantinham casamentos estáveis se divorciam de repente, com muita facilidade, em favor da "sensualidade". Já entre as mulheres "de elite", famosas mantém casamentos estáveis, mas aparecem quase sempre sozinhas nos eventos, sugerindo "vida de solteira" patrocinada pelos respectivos maridos.
O que está em jogo nesta distribuição desigual é que o "sistema", no qual se executa uma indústria do entretenimento difundida pela grande mídia, conservadora e mercenária, estabelece um "controle social" por trás dessa imagem da mulher solteira restrita apenas ao chamado "povão".
Há um jogo ideológico por trás, no qual o entretenimento "popular" desestimula a mulher a formar família e ter filhos, ou, tendo algum, se separa e não contrai mais novo matrimônio. A ideia é desestimular a renovação de gerações nas populações de origem negra, índia ou mestiça, criando um discurso de "liberdade" que "desobriga" as jovens mulheres que consomem música popularesca a serem mães.
Mas a perversidade não pára por aí. A ideia de evitar que casais heterossexuais se formem, combinando referências masculinas e femininas para as crianças (que praticamente crescem sem o convívio diário da figura paterna), longe de ser uma questão de "liberdade sexual", é na verdade uma forma de evitar com que a formação de casais seja uma referência nas classes pobres, evitando a solidariedade popular a partir do lar.
A imagem do homem é bombardeada pela mídia popularesca de maneira bastante negativa: bêbado, infiel, criminoso, violento, malandro, insensível. Isso é difundido largamente pela mídia policialesca, mas é reforçada pelas músicas de conflitos amorosos que são bombardeadas pelas rádios por meio dos sucessos populares.
O mais grave disso é que homens de etnia negra, índia e mestiça são alvos dessa exploração negativa de imagem, inserindo um racismo sutil nas próprias comunidades, fazendo mulheres igualmente negras, índias e mestiças se envolverem amorosamente com homens afins.
Novidades como a causa LGBT são bombardeadas nas classes populares que, pela baixa escolaridade e pela manipulação midiática e religiosa, não conseguem compreender sua natureza. Amestradas pelo cativeiro midiático de rádios e TVs e educada ideologicamente por seitas evangélicas e sua mídia associada (a Rede Record é a principal delas), as classes pobres não conseguem entender a causa LGBT que lhes chega de maneira exótica e espetacularizada.
O grande problema é que a união de pessoas do mesmo sexo, uma realidade melhor assimilada pelas classes médias, digerida de maneira confusa pelas classes populares, revela seu caráter "higiênico", porque é um amor que não gera filhos biológicos, "congelando" assim o crescimento populacional das classes pobres, não com o objetivo de evitar a superpopulação, mas antes fazer desaparecer, gradualmente, populações de origem negra e índia ou mestiças.
Isso é que está em jogo quando, nas classes mais abastadas, se estimula o casamento, até mesmo por conveniência, revelando, por outro lado, casais sem afinidade cujas esposas reclamam dos defeitos de seus maridos sisudos. Casais afins são desencorajados nas classes populares, mas, nas classes abastadas, há até o ato de "carregar casamento", desestimulando os divórcios de casais divergentes.
Diante disso, a desigual distribuição de solteiras e casadas no Brasil, uma realidade aberrante, pois, no Primeiro Mundo, isso não existe - as solteiras da Europa, por exemplo, se assemelham em perfil às casadas intelectualizadas do Brasil - e nem as solteiras dos países mais evoluídos ficam preocupadas em ostentar sua solteirice.
Lá fora, uma vez tornada solteira, a mulher toca a vida para a frente e busca novos campos de interesse, como História, Artes Plásticas, Viagens etc. Embora de vez em quando se sinta estimulada a se sensualizar, exibindo um decote no vestido durante os eventos sociais, a solteira do Primeiro Mundo não se preocupa o tempo todo em exibir uma imagem hipersexualizada.
A imagem caricatural da solteira brasileira esconde também preconceitos sociais, porque a abordagem hipersexualizada envergonha as mulheres mais abastadas. Também envolve preconceitos sociais, uma vez que a imagem da mulher solteira está associada a um lazer obsessivo e à busca do estereótipo de objeto sexual que intimida as mulheres realmente emancipadas, não só do machismo, mas da hipersexualização.
Enquanto as mulheres das classes pobres veem na solteirice trabalhada pela mídia "popular" um pretenso ideal de liberdade, as mulheres mais abastadas e instruídas se sentem constrangidas com tais abordagens, se apressando em se casarem com os primeiros homens poderosos e influentes que encontrarem em restaurantes e casas noturnas chiques.
domingo, 17 de setembro de 2017
"Espiritismo" não pratica caridade, se promovendo com a caridade dos outros
Principal justificativa dos deturpadores do Espiritismo para continuarem prevalecendo e abafarem os efeitos drásticos de seus atos, a "caridade" é tida como a sua maior qualidade. No entanto, até ela pode ser uma farsa, se observarmos bem.
Sabe-se que a chamada "caridade espírita" consiste em mero Assistencialismo. Embora os "espíritas" definam sua aparente filantropia como "Assistência Social" (a caridade que provoca transformações sociais profundas e definitivas), o que se vê, todavia, na prática, é Assistencialismo, caridade paliativa, reduzida a aspectos pontuais e provisórios ou, se efetivos, bastante superficiais e medíocres, na qual o que mais está em jogo é o prestígio e a promoção pessoal do "benfeitor".
Mas, não bastasse essa "caridade" ser mero Assistencialismo, gerando mais holofotes para os "espíritas" do que transformações sociais para os mais necessitados, na verdade essa "caridade" não é praticada pelas instituições "espíritas", mas pelos fiéis, frequentadores das "casas espíritas".
Sim, isso mesmo, o que rende acaloradas discussões nas redes sociais, sobretudo sobre "médiuns" que vivem do culto à personalidade - apesar de se autoproclamarem "símbolos máximos da humildade humana" - , não passa de uma grande perda de tempo.
Além de deturparem o Espiritismo, difundindo, em nome de Allan Kardec, ideias contrárias a seus ensinamentos, os "médiuns" são famosos por uma caridade que não praticam. Eles apenas se promovem com a caridade dos outros: médicos, professores, cozinheiros, ou donativos enviados por terceiros.
Os "médiuns" apenas se ostentam, a exemplo dos donos de agências de publicidade que não criam as próprias campanhas, mas se consideram "autores" das campanhas que empregados e outros subordinados fazem, ficando sempre com os louros dos trabalhos dos outros.
Os "médiuns" e outros palestrantes "espíritas" fazem turnês por todo o país, em certos casos pelo mundo afora, acumulando tesouros terrenos como medalhas e condecorações, vendendo livrinhos marcados por um aparato de belas palavras repleto de devaneios igrejistas e moralistas, e muitos acreditam que esses palavreadores do "movimento espírita" são símbolos máximos de caridade. Falam até em "vidas totalmente dedicadas ao amor ao próximo", o que é uma grande falácia.
O que ocorre é que o cidadão em comum é que doa seus objetos e os voluntários aderem ao trabalho mal remunerado (isso quando há alguma remuneração), se doando para alimentar a vaidade pessoal do figurão "espírita", que quase sempre está no exterior fazendo discursos para ricos e poderosos, em troca de prêmios por uma suposta caridade e pelo balé de palavrinhas enfeitadas.
Isso é muito grave, porque os ídolos do "movimento espírita" produzem uma retórica na qual eles estão associados a uma imagem de "filantropos" que fascina muita gente e cria legiões de defensores fanáticos, capazes de se envolverem em bate-bocas nas redes sociais, na defesa desesperada de seus ídolos religiosos, pouco se importando se os mais necessitados estão sofrendo ou não ou se os mantimentos doados no mês passado já se esgotaram, voltando a miséria de antes.
A coisa chega ao nível deplorável, porque os "médiuns" causaram uma série de deturpações da Doutrina Espírita, consistindo numa grave traição ao trabalho árduo e penoso que Allan Kardec desenvolveu em seu tempo.
Os "médiuns", além da traição doutrinária (algo que não é acidental, pois feito durante anos, para um grande público e em grande projeção) rompem com sua função intermediária, atraindo para si o culto à personalidade. Viram "grifes" para supostas ações mediúnicas, em muitos casos bancando os "donos" de determinadas personalidades mortas.
Não bastasse isso, a tão festejada "caridade" que está tão associada a essas "criaturas tão puras" é, na verdade, uma ação de terceiros, em muitos casos não vindo de um centavo sequer dos bolsos dos "pensadores espíritas", que, pelo contrário, ainda são pagos por empresas e por parte do dinheiro da caridade para fazer turnês e ficar fazendo belas verborragias para ricos e poderosos em estabelecimentos nobres e hotéis de luxo no Brasil e no exterior.
Ver que essa "caridade" é o maior motivo desses deturpadores é preocupante. A reputação deles acaba se alimentando com essa farsa, fazendo com que os questionamentos fossem abafados em tudo. Até as "mediunidades" fake são aceitas porque seus "médiuns" são "caridosos", pouco importando se a suposta mensagem espiritual foge drasticamente do estilo pessoal do morto em questão.
Precisamos questionar até mesmo essa "caridade". As pessoas ainda pensam a "bondade" como se estivessem pensando a vida como se fosse um conto de fadas ou uma novela da Rede Globo. Ignoram o quanto há autopromoção e arrivismo entre os deturpadores da Doutrina Espírita, que usam de todos os artifícios para se tornarem unanimidade mesmo nas suas piores irregularidades. As pessoas levam gato por lebre e não percebem.
sábado, 16 de setembro de 2017
Criticar a deturpação espírita não é expressar intolerância religiosa
SE DEPENDER DOS "ESPÍRITAS" BRASILEIROS, BOA PARTE DO CONTEÚDO DE O LIVRO DOS MÉDIUNS EXPRESSA INTOLERÂNCIA RELIGIOSA A ELES.
Estão surgindo casos de intolerância religiosa no Brasil e eles estão sendo muito mal interpretados por uma imprensa incompetente, conservadora e desinformadora e deformadora da opinião pública. Com base numa "constelação" de grandes grupos midiáticos (Globo, Abril, Folha etc) e seus "satélites" que são as páginas de fake news, as pessoas levam gato por lebre e não entendem coisa com coisa com o que passa realmente.
Os episódios que ocorrem no Brasil, na verdade, são episódios de intolerância religiosa, sim, mas sob motivação social elitista e dotada de racismo, movidos por grupos neopentecostais contra crenças religiosas afro-brasileiras e é um reflexo, na verdade, de uma luta de classes agravada depois que a sociedade mais reacionária retomou o poder, com a derrubada do governo Dilma Rousseff.
O "movimento espírita" tenta se aproveitar da situação e, mediante sua grave crise, pegar carona nos movimentos religiosos afro-brasileiros e tomar como seu o infortúnio deles. Isso é bastante insólito e tendencioso, porque o "movimento espírita" sempre se preocupou em não ser confundido com os movimentos como a umbanda e o candomblé, tidos pelos leigos como "espíritas".
Hoje até parece que o "movimento espírita" passou a gostar desta confusão e vários de seus palestrantes estão espalhando por aí que a onda de intolerância religiosa atinge os "espíritas" e ficam dizendo que as críticas severas que recebem na Internet são "manifestos de intolerância, de falta de perdão e perda da fé em Deus", na esperança de deixar o contraditório "espíritismo" brasileiro como está, na "fase dúbia" da bajulação de Allan Kardec e da apreciação de ideias roustanguistas.
O que se tem é intolerância à mentira, à falta de lógica, à contradição e à dissimulação. O conteúdo dos "espíritas" diz muito desses gravíssimos defeitos, difundidos sobretudo pelos "médiuns" que vivem do culto à personalidade e se promovem pelo Assistencialismo (que dizem ser "assistência social"). Através deles, o legado de Kardec foi rebaixado a um "outro Catolicismo", que de tão influenciado pelo jesuitismo, reduziu o "espiritismo" a uma religião medieval.
As críticas severas e bastante enérgicas que o "espiritismo" recebe se baseiam no conteúdo nem sempre agradável da seminal obra O Livro dos Médiuns, de Allan Kardec. A obra não é um doce a ser dissolvido pelos paladares igrejistas dos "espíritas" brasileiros - tanto que Francisco Cândido Xavier se apressou a lançar uma obra mais de acordo com os devaneios igrejistas, intitulada Nos Domínios da Mediunidade - e mostra pontos que desagradam os "espíritas" brasileiros.
Em muitos trechos, identificam-se caraterísticas negativas que se encaixam nas atividades e nos pontos de vista lançados pelos badalados "médiuns" brasileiros, alvo de muita blindagem por parte da grande mídia, como um PSDB da religiosidade. Textos rebuscados, ideias excêntricas à Doutrina Espírita (como os devaneios igrejistas), uso de nomes ilustres em supostas psicografias, tudo isso já havia sido alertado por Kardec como aspectos negativos da deturpação do Espiritismo.
Lendo esse livro - evita-se traduções igrejeiras como as da FEB e IDE e se prefere a de José Herculano Pires, editada pela LAKE, por ser mais honesta com o texto original - , observa-se quantos subsídios a obra de Allan Kardec oferece para apontar os gravíssimos e preocupantes defeitos da deturpação brasileira, coisa que não é algo para esquecer como errinhos de nada, porque eles envolvem responsabilidades, compromissos e riscos nunca devidamente assumidos.
Para quem está acostumado pela imagem adocicada dos "médiuns" brasileiros, promovidos como se fossem fadas-madrinhas da vida real, ler O Livro dos Médiuns é de partir o coração. Sim, porque o conteúdo se refere, direta ou indiretamente, a tudo que representa o "espiritismo" brasileiro, não de maneira elogiosa mas com críticas bastante severas, apoiadas por argumentos seguros e certeiros.
Será que os "espíritas" brasileiros acusarão Allan Kardec ou espíritos mensageiros como São Luís e Erasto de praticarem "intolerância religiosa"? Será que eles serão acusados, da mesma forma, de "falta de misericórdia"? Por outro lado, o "trabalho do bem" pode ser considerado com obras mediúnicas fake de livros e quadros de pintura?
O "espiritismo", infelizmente, sempre se aproveitou da desinformação da maioria das pessoas para levar vantagem até mesmo em suas piores irregularidades. E criticar isso não é expressar intolerância religiosa, mas intolerância à mentira, à fraude, à mistificação e à dissimulação.
Estão surgindo casos de intolerância religiosa no Brasil e eles estão sendo muito mal interpretados por uma imprensa incompetente, conservadora e desinformadora e deformadora da opinião pública. Com base numa "constelação" de grandes grupos midiáticos (Globo, Abril, Folha etc) e seus "satélites" que são as páginas de fake news, as pessoas levam gato por lebre e não entendem coisa com coisa com o que passa realmente.
Os episódios que ocorrem no Brasil, na verdade, são episódios de intolerância religiosa, sim, mas sob motivação social elitista e dotada de racismo, movidos por grupos neopentecostais contra crenças religiosas afro-brasileiras e é um reflexo, na verdade, de uma luta de classes agravada depois que a sociedade mais reacionária retomou o poder, com a derrubada do governo Dilma Rousseff.
O "movimento espírita" tenta se aproveitar da situação e, mediante sua grave crise, pegar carona nos movimentos religiosos afro-brasileiros e tomar como seu o infortúnio deles. Isso é bastante insólito e tendencioso, porque o "movimento espírita" sempre se preocupou em não ser confundido com os movimentos como a umbanda e o candomblé, tidos pelos leigos como "espíritas".
Hoje até parece que o "movimento espírita" passou a gostar desta confusão e vários de seus palestrantes estão espalhando por aí que a onda de intolerância religiosa atinge os "espíritas" e ficam dizendo que as críticas severas que recebem na Internet são "manifestos de intolerância, de falta de perdão e perda da fé em Deus", na esperança de deixar o contraditório "espíritismo" brasileiro como está, na "fase dúbia" da bajulação de Allan Kardec e da apreciação de ideias roustanguistas.
O que se tem é intolerância à mentira, à falta de lógica, à contradição e à dissimulação. O conteúdo dos "espíritas" diz muito desses gravíssimos defeitos, difundidos sobretudo pelos "médiuns" que vivem do culto à personalidade e se promovem pelo Assistencialismo (que dizem ser "assistência social"). Através deles, o legado de Kardec foi rebaixado a um "outro Catolicismo", que de tão influenciado pelo jesuitismo, reduziu o "espiritismo" a uma religião medieval.
As críticas severas e bastante enérgicas que o "espiritismo" recebe se baseiam no conteúdo nem sempre agradável da seminal obra O Livro dos Médiuns, de Allan Kardec. A obra não é um doce a ser dissolvido pelos paladares igrejistas dos "espíritas" brasileiros - tanto que Francisco Cândido Xavier se apressou a lançar uma obra mais de acordo com os devaneios igrejistas, intitulada Nos Domínios da Mediunidade - e mostra pontos que desagradam os "espíritas" brasileiros.
Em muitos trechos, identificam-se caraterísticas negativas que se encaixam nas atividades e nos pontos de vista lançados pelos badalados "médiuns" brasileiros, alvo de muita blindagem por parte da grande mídia, como um PSDB da religiosidade. Textos rebuscados, ideias excêntricas à Doutrina Espírita (como os devaneios igrejistas), uso de nomes ilustres em supostas psicografias, tudo isso já havia sido alertado por Kardec como aspectos negativos da deturpação do Espiritismo.
Lendo esse livro - evita-se traduções igrejeiras como as da FEB e IDE e se prefere a de José Herculano Pires, editada pela LAKE, por ser mais honesta com o texto original - , observa-se quantos subsídios a obra de Allan Kardec oferece para apontar os gravíssimos e preocupantes defeitos da deturpação brasileira, coisa que não é algo para esquecer como errinhos de nada, porque eles envolvem responsabilidades, compromissos e riscos nunca devidamente assumidos.
Para quem está acostumado pela imagem adocicada dos "médiuns" brasileiros, promovidos como se fossem fadas-madrinhas da vida real, ler O Livro dos Médiuns é de partir o coração. Sim, porque o conteúdo se refere, direta ou indiretamente, a tudo que representa o "espiritismo" brasileiro, não de maneira elogiosa mas com críticas bastante severas, apoiadas por argumentos seguros e certeiros.
Será que os "espíritas" brasileiros acusarão Allan Kardec ou espíritos mensageiros como São Luís e Erasto de praticarem "intolerância religiosa"? Será que eles serão acusados, da mesma forma, de "falta de misericórdia"? Por outro lado, o "trabalho do bem" pode ser considerado com obras mediúnicas fake de livros e quadros de pintura?
O "espiritismo", infelizmente, sempre se aproveitou da desinformação da maioria das pessoas para levar vantagem até mesmo em suas piores irregularidades. E criticar isso não é expressar intolerância religiosa, mas intolerância à mentira, à fraude, à mistificação e à dissimulação.
sexta-feira, 15 de setembro de 2017
Mensagem "espiritual" atribuída a Allan Kardec dá indícios de obra 'fake'
É muito pouco provável que o professor Leon Rivail, conhecido pelo pseudônimo de Allan Kardec, tenha deixado mensagens espirituais. As mensagens que foram divulgadas atribuindo-se a ele soam muito igrejeiras, e, no caso brasileiro, bastante grotescas, sendo a mais famosa, por Frederico Júnior, lançada em 1889, mostrando um suposto Kardec que pedia para valorizarmos a "revelação da revelação" (nome dado à causa do deturpador J. B. Roustaing).
O que se pode inferir, com base na personalidade rigorosamente criteriosa e objetiva de Kardec, é que ele não teria retornado à Terra nem enviado mensagens espirituais. Mesmo deixando seu trabalho incompleto, Kardec teve consciência, na fragilidade de sua doença, de ter deixado uma orientação suficiente para a humanidade apreciar sua teoria e suas ideias.
A mensagem que reproduzimos abaixo é uma "pegadinha". Ela foi publicada na França, destinada à Revista Espírita e publicada nos Anais do Espiritismo daquele país. Isso sugere que a mensagem atribuída a Allan Kardec é "autêntica" e "indiscutível", mas indícios de que a mensagem tem veracidade duvidosa, embora sutis, podem ser identificados.
O texto, no seu conteúdo, apresenta um Kardec estranho, que se proclama um "missionário" e não um professor e muito menos lembra o Kardec original que lançava ideias com o objetivo de estabelecer um debate e mesmo um questionamento, a ponto de dizer que, se a Ciência provar logicamente o equívoco de uma ideia lançada pelo Espiritismo, que se prefira a Ciência do que a Doutrina Espírita.
No texto abaixo, embora o suposto Kardec fale em "ciência", o texto soa bastante igrejeiro. Ele transforma a "ciência espírita" numa religião e Kardec, estranhamente, trata a si mesmo como se fosse um "missionário". Isso parece bonito para as pessoas, mas contraria a natureza pessoal de Kardec, que nunca se comportou como se fosse um militante religioso.
As alegações do suposto Kardec soam místicas e o Espiritismo é visto como uma religião, e o texto triunfalista foge da natureza kardeciana original, embora, sendo uma mensagem veiculada na França e não no Brasil (onde supostas mensagens espirituais não escondem seu caráter fraudulento), pareça um sutil arremedo das mensagens que Kardec veiculou em obras finais como A Gênese e a coletânea Obras Póstumas.
Embora pareça estranho para os leigos, a Revista Espírita (La Revue Spirite), periódico fundado por Kardec, escapou dos propósitos originais do pedagogo de Lyon. O Espiritismo original também foi deturpado na França, a partir de J. B. Roustaing, mas mesmo os seguidores de Kardec suavizaram seu legado ao sabor de crenças católicas, o que comprometeu a essência original da Doutrina Espírita.
Isso significa que mesmo o Espiritismo francês se deixou diluir ao sabor do Catolicismo, não com a voracidade que se observa no Brasil, mas de maneira decisiva, tanto que, no decorrer dos tempos, deturpadores como Francisco Cândido Xavier, o Chico Xavier, teriam livros traduzidos para o francês.
Vamos ao texto da mensagem do suposto espírito de Kardec.
==========
Comunicação de Allan Kardec em 30 de Março de 1924, confiada à - "La Revue Spirite" - pelos Anais do Espiritismo de Rocheford-Sur-Mer (França). N. º de julho de 1924.
"Outrora os espíritas podiam ser contados nos dedos. Escarneciam e praguejavam contra aqueles que se interessavam por essa Ciência; esses tais eram tidos por malucos e evitados com cautela; mas, hoje, vai-se fazendo luz intensa sobre o Espiritismo, porque os sábios o explicam e procuram a realidade dos fatos. Eu não disse na minha vida terrestre, que o Espiritismo havia de ser cientifico ou morreria?
E a ciência vai pouco a pouco homologando os fenômenos espíritas.
Para muita gente, nós o sabemos, esses fenômenos continuam ainda incompreensíveis, porque não se pode explicar e analisar a força que os produz, mas dia virá em que os sábios à descobrirão e provarão que, se a matéria compõe nosso corpo, existe também no ser humano uma coisa mais sutil que anima esse corpo: a alma imortal!
Com grande alegria vejo um raio luminoso aclarando alguns sábios que tendo a princípio repelido os fatos com desdém, observando-os depois com atenção, vão reconhecendo a sua realidade.
Direi, portanto, aos que ainda não compreendem o Espiritismo: estudai, observai, mas não o aceiteis senão com a vossa razão e com a ciência; é por atenção acurada na observação dos fenômenos que chega a concluir: Cela est! ("É isso!", em francês - o tradutor manteve a expressão original)
Aqueles que nos fatos espíritas só vêm ilusão e crendices da parte dos médiuns que nós animamos, estão em erro, podem também estar de má fé.
Se há médiuns mais preocupados de seus interesses que da verdade, também os há, e em maior número, que são sinceros e desinteressados e são na realidade uma força psíquica poderosa, capaz de ajudar os Espíritos a produzir fenômenos; esses são para nós preciosos auxiliares que nos permitirão atingir o triunfo de nossa obra de Luz.
Que Deus abençoe esse trabalho dos Espíritos, que vai crescendo de dia para dia neste planeta, para maior bem da humanidade. Quanto a mim, a minha missão espiritual está cumprida em parte, e dentro de alguns anos tornarei a reencarnar-me entre vós, amigos; e muitas pessoas jovens, que aqui se acham presentes, poderão reconhecer-me então pela minha obra de Espiritismo.
Essa missão terrestre eu a aceitarei com jubilo por amor de meus irmãos da Terra; e para bem a desempenhar meu espírito está se instruindo, está se iluminando nestas maravilhas estupendas e sem limites, onde há tanto que observar.
Eu estou aí haurindo poderosas forças espirituais para voltar ao serviço do progresso da humanidade terrestre, para afirmar a meus irmãos a realidade e a beleza desta vida do espírito no Espaço.
Sim, eu voltarei para trabalhar neste planeta onde lutei e sofri, mas estarei com o espírito mais forte, mais generoso, mais elevado, para aí fazer reinar mais fraternidade, mais justiça, mais paz".
domingo, 10 de setembro de 2017
A deturpação do Espiritismo e a incoerência dos deturpadores
Na crise vivida pelo "espiritismo" no Brasil, percebe-se que os próprios deturpadores sempre investem na promessa de "recuperar as bases espíritas originais", como se fosse fácil ensinar errado num dia e depois corrigir o mau ensino com a revisão de suas ideias.
Mudar ideias, corrigir, rever conceitos e desculpar-se dos erros é, em si, compreensível e, dependendo do conceito, bastante louvável. Mas não é o caso do "espiritismo" brasileiro, no qual os deturpadores, no primeiro momento, fogem com muito gosto dos ensinamentos espíritas originais e, depois, querem reparar os erros que cometeram, mesmo quando suas consequências se tornam graves.
O "espiritismo" brasileiro, por suas escolhas, acabou se reduzindo a uma forma atualizada e esotérica do antigo Catolicismo jesuíta, de bases medievais, que vigorou no Brasil durante boa parte do período colonial. Quando tentou reparar o problema gerado, foi tarde demais.
Não adianta renegar Jean-Baptiste Roustaing e herdar suas ideias. Da mesma forma, não adianta admitir alguma qualidade positiva na obra de Roustaing e depois dizer que "Espiritismo é só com Allan Kardec".
Nos últimos 40 anos, o festival de incoerências associado aos "grandes nomes" do "espiritismo" brasileiro, como Francisco Cândido Xavier e Divaldo Pereira Franco, corroborado por nomes de menor projeção como Richard Simonetti, José Medrado, Orson Peter Carrara e Alamar Régis Carvalho, mostra o quanto o "espiritismo" se reduziu a um engodo doutrinário.
Esse engodo mistura ideias espíritas originais com conceitos igrejistas. A "caridade", tão festejada, se resume a mero Assistencialismo, apesar do rótulo pomposo de "Assistência Social": uma "caridade" que ajuda pouco e só serve para a promoção pessoal do "benfeitor", endeusado por conta de concessão de sopinhas, roupas velhas e projetos pedagógicos não muito diferentes da antiquada Escola Sem Partido.
A desinformação generalizada das pessoas - que desconhece, por exemplo, que o termo "médium" significa "intermediário" e nada tem a ver com a imagem espetacularizada dos supostos médiuns marcados pelo culto à personalidade - permite que o "espiritismo" se sustente com tantas contradições, num momento apelando para o "respeito rigoroso aos postulados kardecianos originais", no outro se derramando no igrejismo mais exaltado.
O expositor "espírita", seja um "médium" ou um simples palestrante ou escritor, não pode ser compreendido como um funcionário de plantão que comete um desastroso erro num dia e, depois, tenta corrigir o que havia dito antes. Isso porque, pelas suas pretensões e responsabilidades, a contradição tem maior peso de gravidade, e se juntarmos as diversas exposições, orais ou textuais, de cada "pensador espírita", se verá uma coleção de ideias que se chocam umas com as outras.
PRETENSÃO DE PALAVRA FINAL
O expositor "espírita" tem sempre a pretensão de ficar com a "palavra final", embora sempre dê a impressão de que não pretende isso. É como aquelas pessoas que querem a posse da verdade mas, no discurso, insistem que não.
Neste caso, o expositor "espírita", que se considera "porta-voz de Jesus" e, a pretexto de transmitir mensagens "edificantes", comete vários equívocos, até pela abordagem igrejeira que expressa da Doutrina Espírita, tem um peso de responsabilidade maior para ter maior cuidado com as ideias, e, se decide se descuidar, está sujeito aos efeitos mais drásticos que o desqualificam como "pensador" do Espiritismo.
Não adianta expor um aparato de belas palavras, como se a arrumação de textos garantisse a suposta coerência de ideias e a aparente positividade das mensagens significasse consistência de ideias e conformidade com o bom senso. Quantas mentiras, quantas ideias truncadas, confusas e incoerentes se escondem sob a mais bela coreografia das palavras!...
O caso precedente de Chico Xavier, que sempre foi um católico ortodoxo fantasiado de "espírita", ou o caso posterior de Divaldo Frando, roustanguista dos mais igrejistas, mas que vende a falsa imagem de "kardeciano autêntico", revelam o quanto os alhos e bugalhos textuais causam problemas graves, fazendo com que, de forma vergonhosa, o Espiritismo brasileiro nunca seja devidamente respeitado.
A coisa se agrava quando os expositores "espíritas" sempre desejam ter a reputação de "filósofos". Isso requer uma grande responsabilidade que quase nunca é assumida, principalmente se soubermos que a função de filósofo não é a de ter a pretensão de "saber tudo", mas de transmitir ideias para análise e questionamento.
Daí ser vergonhoso ver volumes como a série "Divaldo Responde", um "clássico" da empulhação, um amontoado de textos verborrágicos, de suposta erudição e rebuscados, que só agradam mesmo a quem se apega a valores ultraconservadores e a paradigmas hierárquicos que só tinham sentido cem anos atrás.
A "fase dúbia" do "movimento espírita" vive a sua grave crise e quer corrigi-la com supostas soluções que se revelam ineficazes. Sempre a mesma promessa de "entender melhor Kardec", alimentada pela letra "desencarnada" da "correta" exposição da teoria espírita original.
Mas se, num momento, se sucumbe à tentação do igrejismo mais entusiasmado, então não adianta ensinar correto a teoria espírita, se na prática desobedece às mesmas lições. Além disso, os deturpadores da Doutrina Espírita não têm condições reais para recuperar as bases kardecianas que eles mesmos rasgaram com gosto. Não se pode fugir da responsabilidade dos piores erros.
sexta-feira, 8 de setembro de 2017
Imagem "dócil" dos "médiuns" impede que eles sejam investigados em irregularidades
O "espiritismo" não passa de um grande balé de palavras bonitas que escondem um conteúdo conservador. Uma embalagem bonita e aparentemente "limpa", mas que no seu interior esconde uma série de graves e terríveis contradições.
No Brasil, há o costume das pessoas julgarem o conteúdo pela embalagem. O jogo das aparências, sobretudo numa sociedade de hierarquias rígidas e desiguais, onde o "topo da pirâmide" fica com tudo e a "base", sem sequer o necessário, é defendido de maneira ferrenha, neurótica e extremamente apegada.
O "espiritismo" brasileiro fala tanto em desapego, mas é uma das religiões que mais sofrem de apegos muito doentios. É o caso dos supostos "médiuns", que se vê claramente deturpando o legado espírita original, mas pelos quais há um esforço obsessivo em mantê-los como representantes daquilo que justamente deturpam e traem com gosto, a Doutrina Espírita.
O Brasil é um dos países mais ignorantes do mundo. Talvez o mais, se levarmos em conta que pesquisas são apenas recortes de uma parcela da sociedade. A desinformação generalizada faz com que muitas pessoas, mesmo tidas como "esclarecidas" e "progressistas", aceitem gato por lebre e cultuem um "espiritismo" que nada tem a ver com o original francês.
O apego aos "médiuns" atinge níveis que são definidos, pela Ciência Espírita original, como processos obsessivos de "fascinação" e, em certos casos, de "subjugação", criando uma ilusão de "boas energias amorosas" que, diante da mais inofensiva contestação, se convertem em explosões de ódio, raiva e até violência.
É o que se vê em relação a Francisco Cândido Xavier e outros. A adoração cega, a "fascinação" e "subjugação" que eram alertados, com muita antecedência, por Allan Kardec e seus mensageiros, infelizmente é um vício do qual dificilmente sai das mentes de muitos deslumbrados, obsediados pela mística e pela magia que se associam aos supostos "médiuns" brasileiros.
Isso é muito terrível. A imagem dos "médiuns" brasileiros, que romperam com o caráter intermediário da função e vivem do culto à personalidade, se equipara à imagem das fadas-madrinhas dos contos de fadas infantis. O próprio entretenimento das "belas estórias", que existe nas palestras e textos "espíritas" em geral, remete a uma forma grosseiramente adulta do lazer de ouvir estórias infantis durante a infância.
Isso garante a imunidade e a impunidade dos "médiuns espíritas", que se tornam "imexíveis" como os políticos do PSDB, às vezes bem mais do que os chamados tucanos. Há casos de irregularidades em obras "mediúnicas", sejam livros, cartas e pinturas, e ninguém investiga, ou, quando se investiga, lembra o simulacro de investigação que remete a atividades recentes da Polícia Federal, do Ministério Público e do Supremo Tribunal Federal que promovem uma "justiça seletiva".
São irregularidades graves, que em país menos imperfeito dariam em acusações de falsidade ideológica e ofensa à memória de pessoas mortas. O baiano José Medrado cria um falso quadro de Cândido Portinari, intitulado "São Francisco de Assis", e o exibe como um troféu no seu programa na TV Bandeirantes, mas ele nem de longe lembra o "São Francisco de Assis" original que o pintor havia feito em 1941.
Mas os casos de Chico Xavier são notórios. O aberrante contraste estilístico que se observa em obras espirituais atribuídas aos espíritos de Humberto de Campos, Auta de Souza, Olavo Bilac, Casimiro de Abreu e tantos e tantos outros, mesmo não-famosos, em relação ao que eles eram em vida, é evidente. Imagine se a adorável poetisa Auta de Souza, no mundo espiritual, abriria mão de seu estilo feminino de lirismo infantil para "escrever" igualzinho ao "médium" que a recebeu?
Tudo isso daria cadeia, em países menos evoluídos. É charlatanismo puro, uma atitude que até Kardec reprovaria com energia. E não foi por falta de aviso que essa irregularidade ocorre livremente no Brasil, pois a contundente obra O Livro dos Médiuns já preveniu a humanidade da apropriação de nomes ilustres que tanto espíritos farsantes quanto supostos médiuns se utilizam para levar vantagem com o sensacionalismo e a mistificação.
Mas experimente iniciar alguma investigação. Lágrimas serão derramadas pelos seguidores dos "médiuns", que chorarão copiosamente só de imaginar vem um de seus adorados como réus num tribunal. A situação é preocupante, porque a obsessão reage com muita cegueira, mediante falácias como "perseguição ao trabalho do bem" a pessoas, que, na verdade, só ajudam muito, muito pouco.
Sejamos sinceros. Se os "médiuns" brasileiros tivessem realmente feito caridade, até pela pretensão de grandeza que se atribui a eles, o Brasil teria atingido níveis escandinavos de qualidade de vida, até porque se alega que a ajuda desses "filantropos" é "profunda e transformadora".
Mas a verdade é que isso é conversa para boi dormir e o que os "médiuns" fazem é mero Assistencialismo, uma caridade paliativa, pontual, sem enfrentamento real com os problemas da pobreza, uma medida que "não cura" a doença da miséria, apenas "alivia" sua dor. Além disso, o Assistencialismo se preocupa mais em promover o "benfeitor" às custas de uma "caridade" que só traz resultados medíocres para os mais necessitados.
Vergonhoso é ver que Chico Xavier fazia todo um espetáculo de ostentação, a níveis de espalhafato, em pomposas caravanas que só serviam para oferecer doações que se esgotavam em três semanas. Enquanto os mantimentos de um evento filantrópico se esgotavam das despensas das famílias carentes, ainda havia muita comemoração por aquele donativo praticado. Os resultados da "caridade" desaparecem, mas as comemorações continuam, em desrespeito ao sofrimento dos mais pobres.
Igualmente vergonhoso é ver que um fanático seguidor de Divaldo Franco, numa comunidade de ateísmo (?!) nas redes sociais, tenha insistido tanto em defender a risível imagem do suposto médium como "maior filantropo do país", quando dados concretos confirmam que ele não chegou a ajudar 1% da população de Salvador, quanto mais em níveis nacionais.
A teimosia do referido internauta, num meio em que a pós-verdade se dispõe de um exército de desculpas que promovem a supremacia do contrassenso sobre a coerência, tão comum nas redes sociais, revela a preocupação que se tem em definir a "bondade humana" apenas pelo rótulo da religião e pelo prestígio de ídolos religiosos. A miséria dos infortunados da sorte é só um detalhe.
É preciso haver mais questionamentos sobre o "espiritismo" brasileiro e que eles possam ultrapassar os limites da Internet, criando esforços para que até a grande imprensa seja, mesmo a contragosto, induzida a admitir os problemas que envolvem a doutrina igrejeira.
Se ao menos a chamada imprensa alternativa, sobretudo a mídia progressista, rompesse com a complacência obsessiva que envolve os "médiuns espíritas" - que, aliás, são protegidos da mídia mais reacionária, sobretudo as Organizações Globo - e resolvesse investigá-los, sem medo de fazer demolir, como castelos de areia, a imagem adocicada aos níveis das fadas-madrinhas, seria um belo esforço.
Afinal, enquanto as paixões religiosas inebriam as pessoas na Terra, acreditando que as mensagens fake atribuídas aos mortos mas vindos apenas das mentes dos "médiuns" são "autênticas" apenas porque mostram "lindas mensagens", nos planos espirituais os espíritos ficam assustados com as pernas-de-pau longas que a mentira "mediúnica" arruma para manter o status de "verdade absoluta".
A ilusão doentia dos "médiuns" imunes a tudo, até mesmo à coerência dos fatos, só foi possível porque as pessoas são desinformadas, se rendem fácil às tentações da paixão religiosa (tão inebriantes quanto as tentações do sensualismo) e são capazes de mentir a si mesmos dizendo que são "as mais esclarecidas e as mais realistas". Infelizes daqueles que estão presos nestas ilusões.
quinta-feira, 7 de setembro de 2017
Madre Teresa de Calcutá e a alegria com a tragédia alheia
BRUXA DO MAR (VILÃ DE TURMA DO POPEYE) E MADRE TERESA DE CALCUTÁ - Separadas ao nascer?
Um dos pontos bastante sombrios de Madre Teresa de Calcutá, oficialmente promovida a "santa" e tida como "símbolo de caridade máxima" - e, entre os "espíritas" brasileiros, um modelo para a "caridade" de Francisco Cândido Xavier - é sua estranha alegria ao saber que milhares de seus assistidos haviam morrido devido aos descuidos diversos de higiene e falta de assistência.
Segundo Madre Teresa, ao saber que 29 mil dos enfermos e miseráveis que ela acolheu na instituição Missionárias da Caridade, haviam morrido, ela não escondeu seu entusiasmo e disse que são "mais anjos" que agora "estão mais perto de Deus".
O lado sombrio de Madre Teresa foi revelado pelo físico indiano Aroup Chatterjee, que viveu em Calcutá e lá trabalhou como médico, e escreveu o livro Mother Teresa: The Untold Story, que chegou a ser intitulado Mother Teresa: The Final Verdict, e que inspirou o documentário Anjo do Inferno (Hell's Angel), do jornalista inglês Christopher Hutchens.
Segundo Chatterjee, Madre Teresa, ao saber dos 29 mil mortos entre seus alojados, afirmou que havia batizado em nome de São Padro para "deixá-los entrar no céu" e disse que "é muito bonito ver as pessoas morrerem com tanta alegria". Sobre o sofrimento humano, Madre Teresa teria dito que "o mundo ganha muito" com isso.
Outro médico, o cubano Hemley González, havia trabalhado na instituição de Madre Teresa, movido pela reputação oficialmente positiva das Missionárias da Caridade. Mas logo que foi trabalhar lá, viu o que considerou uma "violação sistemática dos direitos humanos" e um "escândalo financeiro". Ele ficou chocado com o que viu nas instalações.
Segundo ele, confirmando o que já havia sido denunciado por Chatterjee e Hitchens, as seringas eram poucas e reutilizadas (algo que nivela a "caridade" de Madre Teresa ao que muitos drogados fazem em suas vidas sociais), sendo lavadas apenas com água de torneira (que não é lá aquela limpeza que se supõe, sobretudo num país como a Índia), e os pacientes só eram remediados com paracetamol e aspirina ou, quando muito, por remédios que chegavam com prazo de validade vencido.
MADRE TERESA, "ESPIRITISMO" E CHICO XAVIER
O que faz uma retrógrada figura católica, ícone da Teologia do Sofrimento, corrente medieval do Catolicismo, ser adotada pelos "espíritas" - que, na sua natural hipocrisia, também recorrem, mais tarde, à bajulações oportunistas a figuras progressistas como Dom Paulo Evaristo Arns e sua irmã Zilda Arns - , é algo que dá para entender, se considerarmos que o "espiritismo" brasileiro se reduziu, hoje, a uma religião ultraconservadora.
O "espiritismo", sabemos, tornou-se tão conservador que só perde em referências retrógradas às seitas neopentecostais, como a Igreja Universal do Reino de Deus. Enquanto esta busca um foco maior no Velho Testamento, o "espiritismo" focaliza o Novo Testamento, mas enquanto o primeiro busca uma leitura protestante dos velhos tempos bíblicos, o segundo relê a trajetória de Jesus de Nazaré sob o ponto de vista dos fundadores da Igreja Católica, como o imperador romano Constantino.
A inclinação do "espiritismo" brasileiro ao Catolicismo medieval se deu, inicialmente, pela simpatia dada pela obra Os Quatro Evangelhos de J. B. Roustaing. Depois, a "catolicização" do "espiritismo" brasileiro se deu por questão de sobrevivência, para se aproximar da Igreja Católica que o protegeria da repressão policial que combatia os "centros espíritas" no país. Mas a medievalização se deu, para valer mesmo, com a adoção do católico ortodoxo Chico Xavier.
O próprio "médium" era, além de devoto de Nossa Senhora da Abadia, admirador do padre Manuel da Nóbrega, tanto que, como paranormal, o beato de Pedro Leopoldo afirmava ter mantido contatos amigáveis com o espírito do padre jesuíta, que, com base numa antiga assinatura, "E. Manoel" (Ermano Manoel, "irmão Manuel" em português arcaico), passou a ser conhecido como Emmanuel.
Chico Xavier, espécie de Aécio Neves da religião, pela blindagem ferrenha que recebe mesmo diante de revelações muitíssimo sombrias - entre elas, a de que sua alegada mediunidade teria sido um blefe - , contribuiu muito para o "espiritismo" brasileiro se afastar definitivamente de Allan Kardec (apesar das insistentes bajulações de seu nome) e recuperar as bases doutrinárias, isso sim, do Catolicismo jesuíta que dominou o Brasil no período colonial.
O próprio Chico Xavier revelou, mesmo sem assumir a Teologia do Sofrimento, ser adepto dessa corrente católica. Isso é comprovado com ideias que veiculava sobre a resignação ao sofrimento, ao mito da "abnegação": sofrer "sem demonstrar sofrimento", olhar a natureza nos momentos de agonia, não reclamar da vida e não contestar coisa alguma eram seus apelos, ditos pelas próprias palavras e, por vezes, atribuídas tendenciosamente aos "espíritos" que dizia psicografar.
A própria adoração a Chico Xavier amaldiçoa seus próprios seguidores. Em boa parte de seus seguidores, ocorrem tragédias envolvendo filhos e outros jovens, o que traz indícios de que o "médium" via com exotismo as mortes prematuras. Vários famosos que se tornaram devotos ou simpatizantes do "médium" viam algum filho morrer de forma prematura.
Infelizmente, num país completamente desinformado como o Brasil, Chico Xavier é muito mais blindado do que Madre Teresa, apesar do mito desta ser bem mais organizado do que aquele. Chico só passou a ter um mito "trabalhado de forma mais limpa" nos anos 1970, e ainda assim sob a assistência da Rede Globo de Televisão e inspirado no próprio exemplo do mito da madre trabalhado pelo jornalista britânico Malcolm Muggeridge.
Nos últimos anos, o "espiritismo" brasileiro comprova cada vez mais seu caráter ultraconservador. A condenação ao aborto, até mesmo em casos de estupro, e a culpabilização das vítimas, além de outros juízos de valor bastante severos, sangram a doutrina brasileira que tanto se alardeia em ser "esclarecedora", mas investe no mais sombrio obscurantismo.
E isso diz muito quando os "espíritas" acolhem com muito entusiasmo uma figura como Madre Teresa de Calcutá. A cada dia o "espiritismo" brasileiro desfaz a imagem tão confortável, porém irreal, de "doutrina progressista", revelando seu conteúdo medieval. A princípio isso está na Internet mas os fatos farão isso ser divulgado em breve na grande imprensa, apesar de toda blindagem que esta mantém à doutrina igrejeira.
Um dos pontos bastante sombrios de Madre Teresa de Calcutá, oficialmente promovida a "santa" e tida como "símbolo de caridade máxima" - e, entre os "espíritas" brasileiros, um modelo para a "caridade" de Francisco Cândido Xavier - é sua estranha alegria ao saber que milhares de seus assistidos haviam morrido devido aos descuidos diversos de higiene e falta de assistência.
Segundo Madre Teresa, ao saber que 29 mil dos enfermos e miseráveis que ela acolheu na instituição Missionárias da Caridade, haviam morrido, ela não escondeu seu entusiasmo e disse que são "mais anjos" que agora "estão mais perto de Deus".
O lado sombrio de Madre Teresa foi revelado pelo físico indiano Aroup Chatterjee, que viveu em Calcutá e lá trabalhou como médico, e escreveu o livro Mother Teresa: The Untold Story, que chegou a ser intitulado Mother Teresa: The Final Verdict, e que inspirou o documentário Anjo do Inferno (Hell's Angel), do jornalista inglês Christopher Hutchens.
Segundo Chatterjee, Madre Teresa, ao saber dos 29 mil mortos entre seus alojados, afirmou que havia batizado em nome de São Padro para "deixá-los entrar no céu" e disse que "é muito bonito ver as pessoas morrerem com tanta alegria". Sobre o sofrimento humano, Madre Teresa teria dito que "o mundo ganha muito" com isso.
Outro médico, o cubano Hemley González, havia trabalhado na instituição de Madre Teresa, movido pela reputação oficialmente positiva das Missionárias da Caridade. Mas logo que foi trabalhar lá, viu o que considerou uma "violação sistemática dos direitos humanos" e um "escândalo financeiro". Ele ficou chocado com o que viu nas instalações.
Segundo ele, confirmando o que já havia sido denunciado por Chatterjee e Hitchens, as seringas eram poucas e reutilizadas (algo que nivela a "caridade" de Madre Teresa ao que muitos drogados fazem em suas vidas sociais), sendo lavadas apenas com água de torneira (que não é lá aquela limpeza que se supõe, sobretudo num país como a Índia), e os pacientes só eram remediados com paracetamol e aspirina ou, quando muito, por remédios que chegavam com prazo de validade vencido.
MADRE TERESA, "ESPIRITISMO" E CHICO XAVIER
O que faz uma retrógrada figura católica, ícone da Teologia do Sofrimento, corrente medieval do Catolicismo, ser adotada pelos "espíritas" - que, na sua natural hipocrisia, também recorrem, mais tarde, à bajulações oportunistas a figuras progressistas como Dom Paulo Evaristo Arns e sua irmã Zilda Arns - , é algo que dá para entender, se considerarmos que o "espiritismo" brasileiro se reduziu, hoje, a uma religião ultraconservadora.
O "espiritismo", sabemos, tornou-se tão conservador que só perde em referências retrógradas às seitas neopentecostais, como a Igreja Universal do Reino de Deus. Enquanto esta busca um foco maior no Velho Testamento, o "espiritismo" focaliza o Novo Testamento, mas enquanto o primeiro busca uma leitura protestante dos velhos tempos bíblicos, o segundo relê a trajetória de Jesus de Nazaré sob o ponto de vista dos fundadores da Igreja Católica, como o imperador romano Constantino.
A inclinação do "espiritismo" brasileiro ao Catolicismo medieval se deu, inicialmente, pela simpatia dada pela obra Os Quatro Evangelhos de J. B. Roustaing. Depois, a "catolicização" do "espiritismo" brasileiro se deu por questão de sobrevivência, para se aproximar da Igreja Católica que o protegeria da repressão policial que combatia os "centros espíritas" no país. Mas a medievalização se deu, para valer mesmo, com a adoção do católico ortodoxo Chico Xavier.
O próprio "médium" era, além de devoto de Nossa Senhora da Abadia, admirador do padre Manuel da Nóbrega, tanto que, como paranormal, o beato de Pedro Leopoldo afirmava ter mantido contatos amigáveis com o espírito do padre jesuíta, que, com base numa antiga assinatura, "E. Manoel" (Ermano Manoel, "irmão Manuel" em português arcaico), passou a ser conhecido como Emmanuel.
Chico Xavier, espécie de Aécio Neves da religião, pela blindagem ferrenha que recebe mesmo diante de revelações muitíssimo sombrias - entre elas, a de que sua alegada mediunidade teria sido um blefe - , contribuiu muito para o "espiritismo" brasileiro se afastar definitivamente de Allan Kardec (apesar das insistentes bajulações de seu nome) e recuperar as bases doutrinárias, isso sim, do Catolicismo jesuíta que dominou o Brasil no período colonial.
O próprio Chico Xavier revelou, mesmo sem assumir a Teologia do Sofrimento, ser adepto dessa corrente católica. Isso é comprovado com ideias que veiculava sobre a resignação ao sofrimento, ao mito da "abnegação": sofrer "sem demonstrar sofrimento", olhar a natureza nos momentos de agonia, não reclamar da vida e não contestar coisa alguma eram seus apelos, ditos pelas próprias palavras e, por vezes, atribuídas tendenciosamente aos "espíritos" que dizia psicografar.
A própria adoração a Chico Xavier amaldiçoa seus próprios seguidores. Em boa parte de seus seguidores, ocorrem tragédias envolvendo filhos e outros jovens, o que traz indícios de que o "médium" via com exotismo as mortes prematuras. Vários famosos que se tornaram devotos ou simpatizantes do "médium" viam algum filho morrer de forma prematura.
Infelizmente, num país completamente desinformado como o Brasil, Chico Xavier é muito mais blindado do que Madre Teresa, apesar do mito desta ser bem mais organizado do que aquele. Chico só passou a ter um mito "trabalhado de forma mais limpa" nos anos 1970, e ainda assim sob a assistência da Rede Globo de Televisão e inspirado no próprio exemplo do mito da madre trabalhado pelo jornalista britânico Malcolm Muggeridge.
Nos últimos anos, o "espiritismo" brasileiro comprova cada vez mais seu caráter ultraconservador. A condenação ao aborto, até mesmo em casos de estupro, e a culpabilização das vítimas, além de outros juízos de valor bastante severos, sangram a doutrina brasileira que tanto se alardeia em ser "esclarecedora", mas investe no mais sombrio obscurantismo.
E isso diz muito quando os "espíritas" acolhem com muito entusiasmo uma figura como Madre Teresa de Calcutá. A cada dia o "espiritismo" brasileiro desfaz a imagem tão confortável, porém irreal, de "doutrina progressista", revelando seu conteúdo medieval. A princípio isso está na Internet mas os fatos farão isso ser divulgado em breve na grande imprensa, apesar de toda blindagem que esta mantém à doutrina igrejeira.